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segunda-feira, 24 de julho de 2023

Expulsão partidária de suspeito de hostilizar Moraes foi precipitada - Alexandre Garcia

Vozes - Gazeta do Povo 

Política 

Próximo dia 25 é dia do caminhoneiro e também dia do colono. Em Santa Cruz do Sul (Rio Grande do Sul) eu assisti, no domingo, a um desfile que durou mais de duas horas, com uma quantidade gigantesca de caminhões, demonstrando o poder do motorista de caminhão. 
Por que foi no domingo? 
Porque durante a semana os motoristas vão estar na estrada. 
Eles não têm tempo de parar para comemorar. 
Aproveitaram o domingo para isso. A grande função desses homens e mulheres é, na cabine dos caminhões, transportar a maior parte da riqueza do país. Fica aqui o meu abraço.
É dia também do colono, do imigrante. A primeira leva de alemães chegou aqui em 1825. 
Depois vieram os italianos. Depois, os poloneses, os japoneses. 

Essa é a mescla maravilhosa que formou este país. Vivemos agora uma época em que querem nos separar por cor da pele, por etnia, por sei lá o quê... Tem outra também. O presidente Lula falou em Cabo Verde, agradecendo a produção no Brasil por 350 anos de escravidão. A frase saiu muito, muito estranha.

Mas nós somos uma mescla de tudo. Do indígena que aqui estava quando Cabral chegou, do europeu, do africano, do asiático.  
Uma mescla do mundo. É um país que tem uma raça transgênica e ainda cai na conversa de gente que diz que não pode plantar transgênico. Quando nós somos a prova de que dá certo a mistura.
 
Educação norte-americana ensina valores fundamentais
Eu falava ontem com um brasileiro que mora na Flórida (Estados Unidos) e está muito feliz seus filhos estarem nas escolas de lá. Ele fala: "a diferença é que meus filhos estão aprendendo para a vida; estão aprendendo disciplina, organização, cumprimento de leis, respeito aos compromissos, aos horários".  
A gente aqui é meio bagunçado. Os Estados Unidos tem praticamente a mesma idade do Brasil e é a primeira potência do mundo.
 
Uma expulsão precipitada
Antes mesmo de qualquer julgamento, de qualquer prova, de qualquer coisa mais forte, o PSD já expulsou o Roberto Mantovani Filho, que está envolvido na acusação de ter xingado o ministro Alexandre de Moraes
Exatamente o mesmo ministro que, lá no plenário do Supremo Tribunal Federal, disse para todo mundo ouvir que quem não quiser ser satirizado, ser criticado, que não entre na vida pública. 
Mantovani entrou no partido em 2016. Em 2004 ele foi candidato a prefeito apoiado por Lula, porque tinha como vice um candidato do PT.

O advogado de Mantovani me disse que entregou à Polícia Federal um vídeo de 10 segundos muito importante daquele episódio. [e os vídeos das câmeras do aeroporto de Roma o que mostram sobre o bate-boca?]

A volta do toma-lá-dá-cá
O presidente Lula esta negociando sete ministérios e quatro estatais com o Progressista, o União Brasil e o Republicanos. 
Virou notícia porque nos quatro anos anteriores a gente não ouvia falar disso, de negociação para entregar ministérios para partido político.

Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


quinta-feira, 27 de abril de 2023

Dividir para subjugar - Brasil copia o pior do racialismo americano - Gazeta do Povo

Vozes - Alexandre Garcia


“A batalha dos Guararapes”, de Victor Meirelles: Em 1648, portugueses, africanos e índios se uniram para expulsar os holandeses do Brasil.| Foto: Wikimedia Commons/Domínio público

Antes de viajar, o presidente Lula sancionou uma lei aprovada pelos nossos representantes e publicada no Diário Oficial de segunda-feira, dia 24; portanto, já está em vigor. 
Ela altera o chamado Estatuto da Igualdade Racial, mas é exatamente o contrário, ela nos divide. Isso porque faz o IBGE gravar qual é a nossa raça e qual é a nossa etnia, e as empresas têm de colocar na ficha do empregado qual é a raça dele, por exemplo.
 
Eu não sei como é que vão descobrir isso, porque os exames que têm sido feitos aleatoriamente no Brasil, com sangue de brasileiros, mostram que nós somos uma mistura insuspeitada. 
Há quem ache ser sueco, mas é asiático, é africano... 
Nós somos uma grande mistura, uma bendita mistura que deu certo, que pegou o melhor de todas as genéticas sanguíneas da África, da Ásia, da Europa, do Oriente Médio, do continente brasileiro, da América do Sul... mas agora vamos ter de escrever de que raça nós somos. Isso é racismo, é cópia dos americanos, é papagaiada que adoramos copiar do neomarxismo americano.
 
E para que isso? Para dividir, muito simples. Divide et impera – “divide e subjuga”, porque a divisão enfraquece uma nação unida, acaba com a união de todos, como a união que tivemos para expulsar os holandeses. Índios, africanos e portugueses se uniram em brasileiros para expulsar os holandeses, formaram o exército brasileiro em 1648, e assim tem sido. 
Eu passei toda a minha mocidade sem notar que tínhamos cores diferentes, mas agora não, estão impondo isso. 
E, com toda essa ênfase nas aparências, esquecem o verdadeiro valor, que é o caráter da pessoa, o seu conhecimento, a sua capacidade de agir, os seus méritos em tudo, e não a aparência. 
A aparência é só a casquinha, o mínimo. 
É incrível, mas foi a lei que nossos representantes fizeram.
 
Lula termina uma passagem muito esquisita por Portugal
O presidente da República está saindo de Portugal para a Espanha.  
A passagem dele por aqui foi muito estranha, nas entrevistas que deu atrapalhou-se na língua, fingia até que não entendia português quando não queria responder, e tiveram de criar uma série de agendas, como troca de condecorações e prêmios, para justificar essa permanência dele aqui em Lisboa.

As duas nações têm de viver muito próximas. Portugal é a porta aberta da Europa para o Brasil e está sendo uma grande porta aberta para brasileiros que vêm trabalhar por aqui, mas também houve a reação do partido Chega, que não quis saber de alguém com a biografia de Lula em Portugal e se manifestou com toda a força contra a presença do presidente do Brasil.

Também por aqui repercutem as imagens do Palácio do Planalto que foram pouco a pouco reveladas no Brasil, e que deixaram todo mundo intrigado para saber o que foi que realmente aconteceu, aumentando a necessidade de deputados e senadores investigarem.  Foi algo grande demais para se deixar nas mãos de uma delegacia de polícia ou da Procuradoria-Geral da República.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


sábado, 18 de fevereiro de 2023

Jogando no tumulto - J. R. Guzzo

Revista Oeste

 O Banco Central é a única coisa da administração federal em que Lula não manda, e ele não se conforma que seja assim

Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central | Foto: Montagem Revista Oeste/Wikimedia Commons/Raphael Ribeiro/BCB 

Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central | Foto: Montagem Revista Oeste/Wikimedia Commons/Raphael Ribeiro/BCB

A guerra enraivecida que o presidente Lula faz neste momento contra o Banco Central é um escândalo a céu aberto. 
Lula, para se falar português claro e na ordem direta, está agindo para destruir as instituições, essas mesmas instituições tão sagradas para o Supremo, o Congresso e tanta gente mais — pois, queiram ou não queiram, o Banco Central é uma instituição brasileira, encarregada de cuidar da estabilidade da moeda nacional e independente do Poder Executivo por força de lei. A moeda é um bem público; não pertence, como Lula está querendo, aos que mandam no governo, e muito menos a ele. 
Tem de estar protegida de interesses políticos, ideológicos e pessoais — de novo, tudo o que Lula não quer. A autonomia do Banco Central não é um capricho da “direita”, uma exigência do “mercado” ou uma invenção de Jair Bolsonaro para agradar os “ricos”. É uma peça institucional do Estado e uma conquista do povo brasileiro — em vez de ficar com o valor do seu dinheiro entregue aos desejos do presidente da República, o cidadão tem o seu patrimônio material resguardado por um órgão independente, que não presta obediência à política e nem serve à demagogia dos políticos
Lula, o PT e a esquerda querem acabar com isso.
O presidente, em sua ira, não está manifestando uma discordância quanto à política de juros, ou a outras questões de gestão econômica que fazem parte das tarefas legais do Banco Central. Também não está, como diz hipocritamente o seu Sistema, “propondo um debate” sobre o assunto. Está dizendo, simplesmente, que uma instituição brasileira deve ser eliminada — ou ser amputada de sua característica mais importante, o que dá exatamente na mesma. 
Segundo o Supremo, e segundo repetem todos os dias as diversas polícias ideológicas de seu governo, isso é proibido
não se pode agredir as “instituições”, nem pregar “animosidade” contra elas. Mas Lula não apenas faz as duas coisas, como espalha ódio e distribui insultos a quem discorda de sua posição. 
 
Acusa o Banco Central de causar a miséria no Brasil. Diz que a autonomia é “uma bobagem”. Chamou o presidente do banco, que jamais lhe fez mal algum, de “esse cidadão”. Que raio de “debate” existe nisso tudo? Seu Ministério da Verdade acusaria de espalhar fake news, ou no mínimo de “desinformação”, quem dissesse que o órgão encarregado da estabilidade da moeda é responsável pela pobreza — ou pela política econômica. 
E que tal dizer, por exemplo, que a autonomia da justiça é uma “bobagem”? Na mesma linha: por que Lula não chama a atual presidente do STF de “essa cidadã”?
Onde está a valentia que exibe contra adversários que não podem se defender?

Lula está pouco se lixando para os pobres. Quer um governo que distribua dinheiro barato para os amigos e compre a sua permanência no poder

O Banco Central, no momento, é a única coisa da administração federal que funciona com alguma racionalidade e competência; é por isso, e por nenhuma outra razão, que a inflação fechou 2022 abaixo dos 6% ao ano e continua sob controle. 
Também é a única em que Lula não manda, e ele não se conforma que seja assim. 
Como um sultão africano ou um ditadorzinho bananeiro, quer mandar em tudo. Mais: quer mandar já. O mandato do atual presidente termina daqui a dois anos, e aí Lula vai poder nomear quem quiser, mas ele não quer esperar até lá; exige um Banco Central que obedeça de imediato às suas ordens. Em condições normais, um chefe de governo sério estaria agradecendo a política monetária que mantém a taxa de juros em 13,75% ao ano — o que é muito impopular, mas contém a alta de preços e a degradação do real. 
Mas as condições não são normais, e nem o chefe de governo é sério. Lula e o seu entorno mais escuro acham que país sem inflação é “país de direita” ou de “ricos” algo tão estúpido quanto objetivamente falso. É o exato contrário
A maior vítima da inflação e a primeira a sentir os seus efeitos é a população pobre, que vê o pouco dinheiro que tem no bolso perder o valor e não dispõe de meios para se defender disso. E daí? Lula está pouco se lixando para os pobres. Quer um governo que distribua dinheiro barato para os amigos e compre a sua permanência no poder. O resto que se exploda. 
 
Lula e a esquerda insistem em dizer que o presidente do Banco Central não foi eleito por ninguém; não poderia, portanto, mandar em nada. É um argumento cretino. Os ministros do STF também não são eleitos, e ninguém está exigindo que eles deixem de ter autonomia. E então: Lula vai dizer que o ministro Alexandre de Moraes não pode tomar as decisões que toma? Ou vai se esconder alegando que o Supremo é “diferente?” 
O Supremo não é diferente — é o que a lei diz que ele deve ser. 
O Banco Central também não é diferente de coisa nenhuma. 
Tem independência em relação ao governo porque a lei brasileira diz que tem de ser assim. Essa lei foi aprovada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo presidente da República em 2021. Em agosto de 2021, por 8 votos a 2, o STF decidiu que ela é constitucional. 
 
Qual é, então, o problema? O problema é que Lula, desde o seu primeiro dia no governo, joga tudo na promoção do tumulto — e dos seus interesses pessoais, que ele julga favorecidos pelo tumulto que cria. Essa desordem, por sinal, é um dos principais motivos para que os juros não baixem. Lula, de propósito, faz declarações abertamente irresponsáveis sobre a economia — quando não são feitas por ele, essas agressões vêm da incompetência primitiva da sua “equipe econômica”, ou da treva pura hoje instalada na direção do PT.  
A inflação, naturalmente, já estaria a caminho da disparada, com a campanha destrutiva feita pelo presidente e por seu Sistema contra a estabilidade da economia brasileira. 
É para segurar, na medida do possível, a alta de preços e a desvalorização do real que “esse cidadão” mantém os juros nos 13,75%. (Outro dos seus graves delitos, para o PT e a mídia, é a suspeita de que votou nas últimas eleições vestindo uma camiseta com as cores verde e amarela da bandeira nacional.)
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, durante sessão
solene do Congresso Nacional que comemorou os 130 anos 
de atividade do Tribunal de Contas da União, 
Brasília (DF), 15/2/2023 | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Lula não tem um projeto de governo para o Brasil. Tem um plano de destruição de tudo aquilo que veio antes dele — não só do governo Bolsonaro, mas também do governo Michel Temer e do que sobrou dos governos de Fernando Henrique.  

O Banco Central faz parte desse plano, mesmo porque uma de suas funções é cuidar dos US$ 320 bilhões das reservas internacionais do Brasil. Eis aí uma questão-chave do projeto de demolição geral — Lula quer doar parte desses bilhões para as suas ditaduras amigas de Cuba, Venezuela, Nicarágua etc., e para isso precisa de algum haddad ou mercadante prestando obediência a ele no comando do Banco Central.  
O presidente parece não se importar com o que a opinião pública acha disso, ou do fato de que a única obra do seu governo é um gasoduto na Argentina, ou de morar com dinheiro do pagador de impostos num hotel de luxo, porque acha que o Palácio da Alvorada não é adequado para as exigências do seu conforto. 
Por razões ancoradas nos julgamentos políticos que faz hoje, Lula acredita que só tem a ganhar com um Brasil em estado de desmanche; fica mais agressivo sempre que se formam situações difíceis, e estima que a agressividade joga a favor da sua manutenção no poder
O Banco Central é um elemento fundamental para um país que queira viver em ordem, dentro da normalidade e com respeito à lei. 
Não serve para o plano-mestre do presidente da República — ou para algo que dá toda a impressão de ser isso.

Leia também “Um governo de más notícias”

J. R. Guzzo, colunista - Revista Oeste


terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Os tentáculos brasileiros da rede de corrupção de Isabel dos Santos - VEJA



Por Ernesto Neves, Thiago Bronzatto 

A angolana aproveitou a ditadura do pai para ficar bilionária; uma investigação revelou um vasto esquema de propinas

Ao longo das últimas duas décadas, a angolana Isabel dos Santos, de 46 anos, circulou pelo mundo coberta de rapapés e cercada de celebridades. Dona de uma fortuna avaliada em 2,1 bilhões de dólares, ela recep­cio­na­va famosos em festas sun­tuo­sas a cada edição do Festival de Cannes. Trocava beijinhos com músicos e artistas em Londres e circulava por São Paulo e Rio de Janeiro, onde cultivava amigos como a socialite paulistana Ana Paula Junqueira, com quem assistiu à Copa de 2014, e Helcius, o filho playboy do cirurgião plástico Ivo Pitanguy. Nas redes sociais, Isabel se apresentava, modestamente, como a mulher mais rica da África, empreen­dedo­ra visionária que se fez pelo próprio esforço. O que só é verdade se por empreendimento se entender um apetite voraz por forrar as próprias (e inúmeras) contas bancárias com dinheiro vindo do setor público na forma de desvios, mamatas, notas fiscais falsas e rios de propina.

A devastadora investigação realizada por um consórcio de 120 jornalistas nos subterrâneos dos negócios de Isabel, batizada de Luanda Leaks, revelou, em mais de 715 000 documentos, como ela converteu a ditadura do pai, José Eduardo dos Santos, que governou Angola entre 1979 e 2017, em uma inesgotável fonte de renda. Isabel e seu marido, Sindika Dokolo, 47 anos, repartiram o butim de riquezas de um país abundante em petróleo e diamantes: ela saqueou a indústria do óleo, ele se dedicou a ordenhar negócios com pedras preciosas. Dokolo é dono, em sociedade com a estatal diamantista angolana, da joalheria suíça De Grisogono. Com muitos e frequentes empurrõezinhos de papai, Isabel também teve acesso privilegiado a empreendimentos altamente lucrativos no varejo, nas telecomunicações, na construção civil e no setor financeiro. Segundo o relatório, o casal tem participação em mais de 400 empresas espalhadas por 41 países, 94 delas offshores ba­sea­das em paraísos fiscais. Chamada de “princesa” por causa da coruscante rotina de bilionária, Isabel, sempre sangrando os cofres de Angola — onde 70% da população vive com menos de 2 dólares por semana —, lista em seu patrimônio uma cobertura em Mônaco, um palácio em uma ilha particular em Dubai e três mansões em Kensington, bairro exclusivo de Londres e seu endereço mais permanente.

Além de ser grande acionista da Unitel (que já teve participação na Oi brasileira), Isabel, na clássica reedição da raposa no galinheiro, foi colocada pelo pai por dezessete meses na presidência da Sonangol, a estatal de petróleo angolana. De saque em saque, no dia em que foi demitida ainda autorizou a transferência de 38 milhões de dólares para uma consultoria de amigos. O dinheiro evaporou. A pujança financeira de Isabel se entrelaça com o Brasil a partir das relações entre Santos e o PT. Logo que Lula assumiu a Presidência, angolanos eram convivas frequentes na mansão em Brasília alugada por empresários amigos para promover festas e negócios — aquele casarão que foi palco da derrocada do ministro Antonio Palocci, usuário de uma das suítes. O próprio Palocci, no capítulo de sua delação premiada chamado “Negócios em Angola”, revelou que o PT recebera 64 milhões de reais em propinas da Odebrecht de modo a ampliar o crédito do BNDES para o financiamento de obras no país africano.


A Odebrecht viria a se tornar sócia da Sonangol e a maior empresa privada de Angola. O próprio Lula esteve lá, em 2014, para destravar pagamentos que o governo local devia à empreiteira. Mais: o marqueteiro João Santana contou à Justiça que trabalhara para reeleger José Eduardo dos Santos em 2012 — campanha financiada por 50 milhões de dólares da onipresente Odebrecht. Trançando os pauzinhos na Sonangol, Isabel se tornou dona de 6% das ações da portuguesa Galp, do setor de energia, e se beneficiou enormemente de um malfadado projeto dela com a Petrobras para tirar combustível de óleo de dendê, no qual a brasileira enterrou nada menos que 270 milhões de dólares.

O reino encantado de Isabel começou a ruir em dezembro, quando o presidente João Lourenço que sucedeu a Santos e declarou guerra à corrupção — abriu inquérito para apurar seus negócios, congelou os bens da família e exigiu a devolução de 1,1 bilhão de dólares aos cofres públicos. Indignada, ela deu entrevistas denunciando “perseguição política” e “caça às bruxas”. “Minha fortuna nasceu com meu caráter, minha inteligência, educação, capacidade de trabalho, perseverança”, escreveu Isabel nas redes sociais. Depois da avalanche de provas da Luanda Leaks, o convite para dar palestra no Fórum Econômico de Davos foi retirado e os amigos famosos sumiram. Longe da badalação, a princesa de Angola isolou-­se em sua mansão londrina e espera a poeira baixar. Se baixar.

Publicado em VEJA, edição nº 2671, de 29 de janeiro de 2020
 
 

sábado, 23 de janeiro de 2016

Ninguém está imune ao zika



Um novo mapa de dispersão do vírus pelo mundo mostra que países ricos também estão ameaçados. Isso pode ajudar na luta contra a doença 

O vírus zika segue sua escalada.  Ele é suspeito de causar boa parte dos 3.611 casos de microcefalia em  bebês no Brasil desde outubro de 2015, segundo o levantamento mais recente do Ministério da Saúde. No dia 17 de janeiro, a Organização Pan-Americana da Saúde, braço da Organização Mundial da Saúde na região, declarou que 18 países, praticamente toda a América Latina, já detectaram casos de infecção pelo vírus. 

O invasor chegou até a América do Norte. Durante a última semana, apareceram notificações de casos nos Estados Unidos. Foram duas gestantes em Illinois, outra com suspeita de zika na Califórnia e três pessoas diagnosticadas na Flórida. Esses casos se somam aos primeiros registrados no início do mês: uma mulher no Texas e um bebê que nasceu com microcefalia no Havaí. Por enquanto, todos são de pessoas que trouxeram o vírus de outros países. Mas um novo estudo, elaborado por um grupo internacional de pesquisadores, sugere que é questão de tempo até que o vírus comece a se disseminar dentro dos Estados Unidos e, possivelmente, da Europa. “O vírus zika é uma ameaça global de saúde que não afetará apenas países em desenvolvimento, mas também nações ricas”, afirma o médico canadense Isaac Bogoch, especialista em doenças infecciosas tropicais do Hospital Geral de Toronto e um dos autores do estudo, publicado na semana passada na revista científica britânica The Lancet.

Para fazer a projeção, os cientistas americanos, canadenses e britânicos cruzaram o número de viajantes que partiram de aeroportos localizados em regiões do Brasil onde a presença do vírus é significativa com as condições climáticas e socioeconômicas de outras regiões do planeta. Esses dois últimos fatores ajudam a traçar a probabilidade de existir espécies de mosquitos que transmitem a doença: o Aedes aegypti, que prefere os trópicos, e o Aedes albopictus, mais comum em áreas temperadas, como parte do território americano, o sul da Europa, o norte da China e o Japão. Um levantamento realizado no ano passado pelo mesmo grupo de pesquisadores sugere que metade da população do planeta vive em áreas onde as duas espécies de mosquito se proliferam e estão, portanto, sob o risco de sofrer com doenças transmitidas pelos mosquitos.

Entre setembro de 2014 e agosto de 2015, cerca de 10 milhões de passageiros partiram das regiões do Brasil mais atingidas pela doença. É possível que, até maio de 2015, quando os primeiros casos foram notificados na Bahia e no Rio Grande do Norte, o vírus zika já circulasse pelo país, ainda que silenciosamente. Nesse período, a maioria dos viajantes, 65%, rumou para outros países da América, 27% viajaram para a Europa e 5% para a Ásia. O fluxo de viajantes é uma boa maneira de estimar o potencial de o vírus se alastrar. É dessa maneira que o vírus deve ter entrado no Brasil, em 2014.

>> Como se proteger do zika vírus

Um levantamento do Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo (USP) sugere que é provável que o vírus tenha vindo com algum viajante do Chile ou de países da Ásia, locais onde havia circulação do zika. Esses pontos de partida foram mais frequentes em 2014 do que a África, onde o vírus foi identificado pela primeira vez em 1947. Desde então, acredita-se que o zika tenha se espalhado pela Ásia, onde sofreu mutações antes de chegar à América. “Pelos números, é mais provável que o vírus tenha vindo por alguém infectado na Ilha de Páscoa, que pertence ao Chile”, diz Felipe Salvador, um dos autores do estudo da USP. A publicação do primeiro genoma completo do zika, no início do mês, a partir do material genético encontrado em quatro pacientes do Suriname, mostrou que o vírus da América é mais parecido com o asiático do que com o africano.

O potencial de o vírus zika se transformar em um problema de saúde pública também nas nações ricas pode acelerar o caminho até uma vacina, a melhor maneira de barrar a epidemia. O Ministério da Saúde divulgou estar em contato com laboratórios internacionais, para que eles colaborem com instituições brasileiras. “Os surtos nos Estados Unidos e na Europa devem ser menores porque as condições são mais adversas para os mosquitos”, afirma o epidemiologista britânico Moritz Kraemer, da Universidade de Oxford, um dos autores do modelo de dispersão do zika. “Mas se espera que a atenção internacional ajude nos esforços para chegar a uma vacina.”


 Fonte: Revista Época