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segunda-feira, 1 de abril de 2019

Como fui torturado

O horror nas palavras do escritor brasileiro mais lido no mundo


Por Paulo Coelho
No dia 28 de maio de 1974: um grupo de homens armados invade meu apartamento. Começam a revirar gavetas e armários —não sei o que estão procurando, sou apenas um compositor de rock. Um deles, mais gentil, pede que os acompanhe “apenas para esclarecer algumas coisas”. O vizinho vê tudo aquilo e avisa minha família, que entra em desespero. Todo mundo sabia o que o Brasil vivia naquele momento, mesmo que nada fosse publicado nos jornais.

[comentário: este texto é mais uma prova irrefutável, da competência e brilhantismo do escritor Paulo Coelho, em vários campos da literatura, incluindo o da ficção.]
Sou levado para o Dops (Departamento de Ordem Política e Social), fichado e fotografado. Pergunto o que fiz, ele diz que ali quem pergunta são eles. Um tenente me faz umas perguntas tolas e me deixa ir embora. Oficialmente já não sou mais preso: o governo não é mais responsável por mim. Quando saio, o homem que me levara ao Dops sugere que tomemos um café juntos. Em seguida, escolhe um táxi e abre gentilmente a porta. Entro e peço para que vá até a casa de meus pais —espero que não saibam o que aconteceu.
No caminho, o táxi é fechado por dois carros; de dentro de um deles sai um homem com uma arma na mão e me puxa para fora. Caio no chão, sinto o cano da arma na minha nuca. Olho um hotel diante de mim e penso: “não posso morrer tão cedo”. Entro em uma espécie de catatonia: não sinto medo, não sinto nada. Conheço as histórias de outros amigos que desapareceram; sou um desaparecido, e minha última visão será a de um hotel. Ele me levanta, me coloca no chão do seu carro e pede que eu coloque um capuz.
O carro roda por talvez meia hora. Devem estar escolhendo um lugar para me executarem —mas continuo sem sentir nada, estou conformado com meu destino. O carro para. Sou retirado e espancado enquanto ando por aquilo que parece ser um corredor. Grito, mas sei que ninguém está ouvindo, porque eles também estão gritando. Terrorista, dizem. Merece morrer. Está lutando contra seu país. Vai morrer devagar, mas antes vai sofrer muito. Paradoxalmente, meu instinto de sobrevivência começa a retornar aos poucos. Sou levado para a sala de torturas, com uma soleira. Tropeço na soleira porque não consigo ver nada: peço que não me empurrem, mas recebo um soco pelas costas e caio. Mandam que tire a roupa. Começa o interrogatório com perguntas que não sei responder. Pedem para que delate gente de quem nunca ouvi falar. Dizem que não quero cooperar, jogam água no chão e colocam algo no meus pés, e posso ver por debaixo do capuz que é uma máquina com eletrodos que são fixados nos meus genitais.
Entendo que, além das pancadas que não sei de onde vêm (e portanto não posso nem sequer contrair o corpo para amortecer o impacto), vou começar a levar choques. Eu digo que não precisam fazer isso, confesso o que quiser, assino onde mandarem. Mas eles não se contentam. Então, desesperado, começo a arranhar minha pele, tirar pedaços de mim mesmo. Os torturadores devem ter se assustado quando me veem coberto de sangue; pouco depois me deixam em paz. Dizem que posso tirar o capuz quando escutar a porta bater. Tiro o capuz e vejo que estou em uma sala à prova de som, com marcas de tiros nas paredes. Por isso a soleira.
No dia seguinte, outra sessão de tortura, com as mesmas perguntas. Repito que assino o que desejarem, confesso o que quiserem, apenas me digam o que devo confessar. Eles ignoram meus pedidos. Depois de não sei quanto tempo e quantas sessões (o tempo no inferno não se conta em horas), batem na porta e pedem para que coloque o capuz. O sujeito me pega pelo braço e diz, constrangido: não é minha culpa. Sou levado para uma sala pequena, toda pintada de negro, com um ar-condicionado fortíssimo. Apagam a luz. Só escuridão, frio, e uma sirene que toca sem parar. Começo a enlouquecer, a ter visões de cavalos. Bato na porta da “geladeira” (descobri mais tarde que esse era o nome), mas ninguém abre. Desmaio. Acordo e desmaio várias vezes, e em uma delas penso: melhor apanhar do que ficar aqui dentro.
Quando acordo estou de novo na sala. Luz sempre acesa, sem poder contar dias e noites. Fico ali o que parece uma eternidade. Anos depois, minha irmã me conta que meus pais não dormiam mais; minha mãe chorava o tempo todo, meu pai se trancou em um mutismo e não falava.  Já não sou mais interrogado. Prisão solitária. Um belo dia, alguém joga minhas roupas no chão e pede que eu me vista. Me visto e coloco o capuz. Sou levado até um carro e posto na mala. Giram por um tempo que parece infinito, até que param – vou morrer agora? Mandam-me tirar o capuz e sair da mala. Estou em uma praça com crianças, não sei em que parte do Rio de Janeiro.
Vou para a casa de meus pais. Minha mãe envelheceu, meu pai diz que não devo mais sair na rua. Procuro os amigos, procuro o cantor, e ninguém responde meus telefonemas. Estou só: se fui preso devo ter alguma culpa, devem pensar. É arriscado ser visto ao lado de um preso. Saí da prisão mas ela me acompanha. A redenção vem quando duas pessoas que nem sequer eram próximas de mim me oferecem emprego. Meus pais nunca se recuperaram.
Décadas depois, os arquivos da ditadura são abertos e meu biógrafo consegue todo o material. Pergunto por que fui preso: uma denúncia, ele diz. Quer saber quem o denunciou? Não quero. Não vai mudar o passado. E são essas décadas de chumbo que o presidente Jair Bolsonaro depois de mencionar no Congresso um dos piores torturadores como seu ídolo – quer festejar nesse dia 31 de março.
(Este texto foi escrito por Paulo Coelho para publicação nas edições impressa e digital do jornal The Washington Post. Sua reprodução em outros veículos foi autorizada pelo autor.)

Blog do Noblat - Veja


 

Permanência de Marcola em presídio de Brasília vira queda de braço política

Virou uma queda de braço a polêmica sobre a permanência de Marcos Camacho, o Marcola, no presídio federal de Brasília. Em reunião com a bancada de deputados e senadores do DF, na última sexta-feira, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, foi categórico: não vai voltar atrás. Acha que os temores de aumento da violência na capital do país são infundados. Recuar agora significaria um enquadramento às críticas do governador Ibaneis Rocha (MDB), que reclamou da transferência do criminoso apontado como líder do PCC, com condenações que somam mais de 300 anos. 

O problema não é dentro do presídio, onde há condições de mantê-lo em situação de isolamento, mas nos arredores da Papuda. Policiais civis experientes avaliam que, com a chegada de Marcola a Brasília, toda uma estrutura do crime organizado se instalará na capital do país. Advogados, familiares, comparsas e bandidos que se mantêm na facção criminosa atuam onde o líder cumpre pena. Com certeza, o trabalho da equipe de segurança pública do DF vai aumentar. E muito. [comentando: ótimo que o trabalho aumente - quando a Polícia trabalha o número de prisões aumenta;
a PM e PC não devem aceitar que o Ibaneis,  que por falta de competência está aumentando a INsegurança Pública no DF, use as deficiências daquelas corporações (com destaque para a falta de efetivo) para justificar sua incompetência.
A Saúde também piora a cada dia.
O trânsito idem.
A Educação que deu um alento com o inicio da 'militarização das escolas', agora voltou a zero, já que a militarização encalhou.]
 
Bem do lado do presidente
Parece provocação. Em meio ao debate sobre a instalação do líder do PCC Marcos Camacho, o Marcola, no presídio federal de Brasília, criminosos explodiram caixas eletrônicos no Hotel Golden Tulip, ao lado do Palácio da Alvorada. Policiais civis suspeitam de participação de integrantes de facções criminosas. Sinal de que não falta ousadia a bandidos. [coisa antiga e sabida: faltou polícia a bandidagem aumenta - o efetivo policial do DF, civil e militar, é inferior ao dos anos 90.]

CB.Poder - Correio Braziliense


 

Missa pela ditadura tem generais, viúva de Ustra e críticas a Caetano

Canção "É proibido proibir" é alvo da homilia do bispo; Joseita Ustra foi assediada por admiradores de seu marido


Uma missa realizada na noite deste 31 de março, ontem, em celebração ao golpe militar contou com as presença de três generais, de Joseita Brilhante Ustra viúva do coronel Brilhante Ustra e sobrou para Caetano Veloso na homilia do bispo dom José Francisco Falcão, da Arquidiocese Militar.

Joseita foi assediada pelos presentes no início e no final da missa. Fez elogios ao governo Bolsonaro em uma dessas conversas.
“Ele está indo muito bem”.

Estavam presentes os generais Paulo Chagas (que disputou o governo do Distrito Federal), Rocha Paiva (que foi amigo de Ustra e integra a Comissão de Anistia) e o deputado federal do PSL general Eliéser Girão (RN). Algumas pessoas foram de verde e amarelo.

Ao tratar de disciplina e hierarquia o bispo disse que até mesmo as liberdades têm suas restrições. E citou uma canção de Caetano Veloso, “É proibido proibir”.
E tem um imbecil que nos anos 70  cantou que é proibido proibir. Gostaria de dar  veneno de rato para ele.
No final, o bispo chamou ao altar os oficiais que obtiveram promoção ontem. A missa foi na Paróquia Militar de São Miguel Arcanjo, em Brasília.

Revista VEJA


Dos males, por ora, o menor: só um escritório em Jerusalém. Viés ideológico

O Brasil, por ora ao menos, vai apenas abrir um escritório de representação em Jerusalém. Não anunciou a transferência da embaixada brasileira de Tel Aviv para a cidade que Israel diz ser sua capital indivisível. Do ponto de vista político, é o saldo principal da viagem de Jair Bolsonaro ao país. Na prática, não faz sentido. Isso traduz o que um certo Bolsonaro chamaria de "viés ideológico" nas relações internacionais.

Está abaixo do que pretendia a campanha eleitoral do meio encrencado Benjamin Netanyahu, que anunciou no Twitter a decisão como uma vitória, dizendo esperar que seja o primeiro passo para a transferência da embaixada. Assim, vamos lá: por enquanto, dos males possíveis, deu-se o menor. Mas não subestimem a capacidade dessa gente de fazer besteira.


[ Não deixe de ler a íntegra do Post Gêniosdo poder já compraram briga com 68,7% do nosso superávit comercial - que permite avaliar os prejuízos que a opção errada do presidente Bolsonaro trará ao Brasil.

É duro ter de concordar com o mostrado no Post, mas, pelo menos por enquanto, não há como sustentar qualquer discordância.

Alguns excertos:

... " Por óbvio, não são os compradores e vendedores da Autoridade Palestina que dizem respeito ao caixa brasileiro, mas os dos países árabes — ou, mais amplamente, muçulmanos, já que há outro comprador importante do Brasil nesse grupo: o Irã. O Brasil teve um saldo comercial no ano passado com os iranianos de US$ 2,228 bilhões. Vendeu US$ 2.267,93 e comprou US$ 39,92. Em janeiro e fevereiro, o saldo positivo já é de US$ 251,85 milhões" ...

..."Mas algo de muito errado se passa com uma tropa que arruma, a um só tempo, confusão com os árabes, com os iranianos e com os chineses sem olhar para contas. Lembre-se do jantar grotesco na embaixada brasileira em Washington. Nesse último caso, dizer o quê? O Brasil vendeu para o "Perigo Amarelo" US$ 64.205,65, comprou US$ 34.730,03, com superávit de US$ 29.475,62. O superávit total do país foi de US$ 58,298 bilhões — a China, pois, representou mais da metade. Nos dois primeiros meses, a conta em nosso favor está em US$ 617,66 milhões." ... ]
Por óbvio, não são os compradores e vendedores da Autoridade Palestina que dizem respeito ao caixa brasileiro, mas os dos países árabes — ou, mais amplamente, muçulmanos, já que há outro comprador importante do Brasil nesse grupo: o Irã. O Brasil teve um saldo comercial no ano passado com os iranianos de US$ 2,228 bilhões. Vendeu US$ 2.267,93 e comprou US$ 39,92. Em janeiro e fevereiro, o saldo positivo já é de US$ 251,85 milhões.... - Veja mais em https://reinaldoazevedo.blogosfera.uol.com.br/2019/04/01/genios-do-poder-ja-compraram-briga-com-687-do-nosso-superavit-comercial/?cmpid=copiaecola


Dos males, por ora, o menor: só um escritório em Jerusalém. Viés ideológico ... - Veja mais em https://reinaldoazevedo.blogosfera.uol.com.br/2019/04/01/dos-males-por-ora-o-menor-so-um-escritorio-em-jerusalem-vies-ideologico/?cmpid=copiaecola

1964 E A LIBERDADE DE OPINIÃO

Você pode pensar o que quiser sobre a Proclamação da República e sobre a Revolução de 30. 

Quase ninguém sabe o que aconteceu no dia 10 de novembro de 1937 (golpe de Estado com que Getúlio Vargas instituiu o Estado Novo e implantou uma ditadura de Congresso fechado, censura, tortura e repressão que durou até 1945). 

Você tem total liberdade de opinião sobre a Revolução Francesa, pode reverenciar a Revolução Bolchevique, chorar nos túmulos de Lênin, Fidel e Chávez.  

Mas não se atreva a divergir da narrativa dominante sobre o que aconteceu no Brasil no dia 31 de março de 1964. Não se atreva!

Em consonância com essa vedação, a OAB encaminhou à ONU um documento que denuncia “a tentativa do Presidente e de outros membros do governo de modificar a narrativa histórica (!) do golpe que instaurou [no Brasil] uma ditadura militar”. A citação entre aspas foi buscada no site do instituto Vladimir Herzog, cossignatário da denúncia. Com mínimas variações, consta de todas as matérias sobre o assunto publicadas nas últimas horas. Nelas está afirmado haver uma “narrativa histórica” que, a juízo dos denunciantes, não pode ser modificada. Trata-se de algo nada científico, principalmente numa ciência social, mas perfeitamente descritivo de uma prática que se vai tornando corriqueira. É como se a História fosse um campo de liberdade criativa semelhante à do vovô que conta aos netinhos estórias de quando “era uma vez”. [comentário 1: a OAB e o Instituto Valdimir, não andam muito bem de raciocínio, parece que lhes falta noção;

o tal 'instituto', cúmplice da escorregada da OAB no trato do direito até que merece uma certa 'comiseração', haja vista não ser o DIREITO a sua seara;
quanto a OAB é absurdo que cometa erro tão elementar: quanto tentava impedir que milhões de brasileiros exercessem seu direito soberano de comemorar o evento que sepultou, mais uma vez, os planos de maus brasileiros em transformar nossa Pátria Amada em satélite da URSS, aquela associação de advogados cometeu um erro elementar:
- se valeu do 'mandando de segurança' para combater o exercício de um direito do presidente da República - promulgar atos administrativos -, falha esta que levou o ministro Gilmar Mendes a sequer conhecer do pleito da OAB.]
 
O que de fato pode ocorrer, e frequentemente ocorre quando um mesmo fato histórico envolve posições antagônicas, são interpretações diferentes. Na minha experiência, interpretações históricas implicam honestidade intelectual e são muito mais precisas, ainda que divergentes, do que as “narrativas” dominantes em tantas salas de aula no Brasil. Exemplo recentíssimo: a grande campeã do Carnaval carioca de 2019 – tendo aderido a uma narrativa desonesta, pondo-se a serviço de um projeto político e ideológico espezinhou na avenida vultos admiráveis da nossa história, como o Duque de Caxias e a Princesa Isabel. Por quê? Porque isso convém à ideologia do conflito. Mas foi pura mistificação.

Assim, é extremamente arrogante e dogmática a intenção de estabelecer, sobre determinado acontecimento, uma “narrativa” cláusula pétrea, imexível, inequívoca e unívoca, mesmo quando muitos dos que vivenciaram aqueles dias, testemunhas do ambiente, das circunstâncias e dos eventos, atendo-se aos fatos, têm interpretações divergentes.
Felizmente não há, no Brasil, uma Reitoria Brasileira de Pontos de Vista, ou uma Corregedoria Geral de Perspectivas, ou uma Agência Nacional Reguladora de Opiniões. 
Isso é orwelliano demais para meu apreço pela liberdade.
 
Pericial Puggina (74), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. 

Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.