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quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

NÃO FARIAM COM MOURÃO O QUE FAZEM COM BOLSONARO - Sérgio Alves de Oliveira



Com absoluta certeza, a esquerda ainda não providenciou o impeachment de Jair Bolsonaro porque está conseguindo governar e impor os seus valores , através dos outros Dois Poderes que controla, o  Legislativo (Congresso Nacional), e o Judiciário (Supremo Tribunal Federal), que “trabalham” em conluio, contra o Presidente.


A existência, ou não, de “crime de responsabilidade”, do Presidente da República, ensejadora de eventual impeachment,do ponto de vista  “jurídico”, seria absolutamente irrelevante,uma vez que o julgamento do “impedimento” ,pelo Congresso, é   de ordem puramente “política”. Nesse caso, o fundamento “jurídico” se confunde com a vontade “política” dos parlamentares. Seria o Poder Legislativo Federal que  “inventaria” um fato qualquer, motivo do impedimento, e aplicaria o (seu)“direito” e a (sua)  “lei”, sobre ele.


Mas apesar  de não haver a necessidade de impichar Bolsonaro, porque a esquerda governa livremente  sem ele, fazendo as leis conforme melhor lhe aprouver, sempre  com o “aval” do Supremo Tribunal Federal  (veja-se o exemplo do tal “Juiz de Garantias”), certamente essa esquerda  se “borra” de medo  em vista do personagem que teria que assumir no lugar de Bolsonaro, se impichado ele fosse, exatamente como antes já aconteceu, nos impedimentos  de  Collor de Mello, em 1992, e Dilma Rousseff, em 2016, onde os respectivos Vice-Presidentes assumiram (Itamar Franco e Michel Temer), ou seja, o Vice-Presidente  atual, Hamilton Mourão, que não se trata de nenhum  militar “faz-de-conta”,ou “fake news”, como Bolsonaro, que viveu a maior parte da sua vida, não como “militar”, mas como “político”, com inúmeros  mandatos de Deputado, na Câmara Federal, com certeza adquirindo  aí inúmeros vícios dessa nefasta “convivência”, dentre os quais a prática do “bate-boca”,tão comum  entre  políticos,mas  raro entre  militares.    


Portanto, na ótica da esquerda, assim como está fica muito bom. Ela “governa”, comodamente,  pensando não  correr qualquer risco de ser impichada do “mapa” , e ao mesmo tempo implementando todas as condições requeridas  para frustrar o Governo Bolsonaro e retornar ao poder nas eleições de 2022. É só por isso que não  provocará o impeachment  do  Presidente. Assim é muito mais garantido e seguro.

Resumidamente: Mourão saiu da “tropa”, da “caserna”, recentemente; Bolsonaro da política, deixando  para trás  a vida militar, da caserna, há muito tempo.  Em polêmicas declarações antes das eleições de outubro de 2018, o General Hamilton Mourão deixou muito claro que se dependesse dele não toleraria  nem a metade das “sacanagens” que hoje estão fazendo com o Presidente  Bolsonaro, que não está conseguindo governar, nem se “impor” perante a  oposição. [notamos na matéria sob comento, um certo, digamos, desalento, do ilustre Sérgio no que toca o ritmo e ordem das reformas tão necessárias.

Por mais nobre que seja a causa não se pode abrir vários front simultaneamente -  Hitler, um grande estrategista, se enrolou quando abriu várias frentes de batalha, o que além de ocasionar derrota na frente Leste, também trouxe resultados negativos na Normandia - e no caso do Brasil, na guerra buscando priorizar opções, arrumar a casa, arrumar a economia, reduzir a fome,  justificou que 2019 fosse dedicada à primeira e única  frente: ECONOMIA,  com resultados em uma melhora, ainda tímida, da economia.
Apesar dos boicotes, verdadeiras sabotagens, a melhora surgiu e é crescente. 
 Bolsonaro não tem pressa - em termos políticos é jovem , salvo algum imprevisto que só a  DEUS pertence - pode perfeitamente evitar correrias, atropelos e consolidar suas bases.
A esquerda não oferece perigos - óbvio que pela sua estreita vinculação com as serpentes é sempre bom mantê-la a vista  e, se necessário neutralizá-la , seguir os ensinamentos do 'jararaca', a mais traiçoeira de todas as serpentes, especialmente quando tem dois pés e nove dedos.]


Portanto, as únicas  alternativas que restariam  para impedir  o retorno da esquerda ao poder nas eleições de 2022, independentemente do resultado das eleições municipais de 2020, seria exatamente o “impeachment”,tanto o “formal”, conforme a Constituição, contra Bolsonaro, quanto o (impeachment)  “informal”, autorizado  pelo artigo 142 da Constituição, contra os que procedem de forma a boicotar e inviabilizar totalmente   um dos Poderes Constitucionais, o Poder Executivo, uma das hipóteses previstas  da chamada (erroneamente) intervenção militar/constitucional”.



Sérgio Alves de Oliveira - Advogado e Sociólogo




Dicotomia - O Estado de S.Paulo

Zeina Latif

O aumento do consumo não é para todos. São 17 milhões de desocupados e desalentados

O mercado financeiro é só alegria. A bolsa bate recordes, impulsionada por juros baixos e a boa perspectiva de crescimento para 2020. O mercado de capitais registra expressivo aumento na emissão de dívida das empresas por conta do (necessário) encolhimento do BNDES – iniciado por Joaquim Levy quando ministro da Fazenda de Dilma – e das condições favoráveis para a captação de recursos internamente. Foi um ano muito positivo para indústria de fundos, que se beneficiou do corte dos juros pelo Banco Central. Os investidores celebram os ganhos obtidos no ano.

A euforia, no entanto, não é integralmente compartilhada pelo setor produtivo, até porque o mercado de capitais reflete as perspectivas do “grupo de elite”, e não da totalidade das empresas. Apesar da melhora nos indicadores, a confiança dos empresários continua abaixo da linha d’água de 100 pontos, indicando pessimismo de uns tantos. Muitas empresas enfrentam dificuldades financeiras e de acesso ao crédito. No varejo, as vendas estão próximas dos patamares pré-crise, enquanto a produção da indústria está 15% abaixo. O primeiro se beneficia da volta do crédito ao consumidor, enquanto o segundo sofre com a baixa competitividade em relação aos importados.

O sensível aumento do consumo não é para todos. Os desocupados e desalentados, que totalizam mais de 17 milhões de pessoas, não foram chamados à festa e alimentam a desigualdade, que sobe desde 2015. A inflação seguiu baixa, a exemplo dos últimos anos, mas o custo da cesta básica (entre R$ 325 e R$ 474 em outubro) é elevado, empurrando muitos para baixo da linha de pobreza. Em 2018, eram 13,5 milhões vivendo na miséria (renda mensal per capita abaixo de R$ 145 ou US$ 1,90 por dia no critério de paridade do poder de compra), o que significa 6,5% da população; um salto em relação aos 4,5% de 2014.

Esse quadro explica a divisão do País quando o assunto é a aprovação do governo. Bolsonaro tem apoio das classes mais privilegiadas, enquanto as mais populares desaprovam sua gestão. O crescimento econômico mais robusto contratado para 2020 talvez ajude a reduzir essas dicotomias presentes entre setores e entre indivíduos. A conferir. E o ritmo poderá ser muito lento tendo em vista o retrocesso nos indicadores sociais nos últimos anos.Segmentos da economia pouco produtivos não irão se beneficiar satisfatoriamente do melhor momento econômico, reforçando o quadro de lenta recuperação do mercado de trabalho. Além disso, a crise prolongada causou deterioração da qualidade da mão de obra, reduzindo a empregabilidade de muitos.

É preciso trabalho para que 2020 não seja uma brisa, mas sim o início de um futuro mais próspero e justo. O ano de 2019 foi de importantes avanços, mas também de oportunidades perdidas. Em que pese a aprovação de uma potente reforma da Previdência e a gestão responsável das contas públicas, confirmou-se o temido cenário de uma fraca agenda de reformas no segundo semestre. O governo encaminhou tardiamente ao Congresso novas medidas de ajuste fiscal. Há várias matérias tramitando, mas falta estratégia política, definindo prioridades e fazendo a lição de casa na articulação. Governar não é só enviar matérias ao Legislativo.

Assistimos à venda de ativos pelas estatais, mas não à privatização das empresas. A capitalização da Eletrobras, que deveria ser prioridade do governo, patina.[a patinação não é por incompetência do Executivo e sim por intervenções do Judiciário.
Vivemos em um país em que um projeto de lei aprovado por 300 deputados e 50 senadores - robusta maioria - em torno dos  60% nas duas casas - pode ser suspenso por uma decisão monocrática, liminar de um ministro do STF.] O marco legal de telecomunicações foi aprovado, mas ainda se aguarda o do saneamento, que ficou para 2020. Faltou empenho do governo. Na infraestrutura, foram realizados 27 leilões de concessão, mas a lei das concessões e parcerias público-privadas sofreu ataques de segmentos do próprio governo e ficou para 2020. Enquanto isso, nada se avançou na reforma tributária, apesar da grande disposição de lideranças na Câmara. Foi também um ano praticamente perdido na abertura da economia e na educação.

Que em 2020 sejamos mais ambiciosos e consigamos diminuir a dicotomia. Estamos todos no mesmo barco.

Zeina Latif, economista - XP Investimentos - O Estado de S. Paulo


É a dupla Maia - Guedes - Carlos Alberto Sardenberg

Coluna publicada em O Globo - Economia 26 de dezembro de 2019

Governos anteriores faziam privatizações por necessidade, para arranjar trocados ou se livrar de empresas inviáveis


A Bolsa chega ao final de dezembro batendo recordes seguidos. A valorização passa dos 30% no ano – perdendo, na década, apenas para 2016, quando o valor
das ações subiu quase 40%, na animação com a queda da administração desastrosa de Dilma Roussef.  Foi pura expectativa política. Em 2016, a economia brasileira afundava ainda mais, passava pelo segundo ano de recessão forte. Como a Bolsa poderia subir tanto? Só na base da esperança, que não se confirmou. Quer dizer, se o critério tivesse sido apenas sair da recessão, então a coisa deu certo. 


O PIB cresceu em 2017, mas apenas 1% – e empacou nessa casa nos três anos seguintes, incluindo este, que deve terminar com outro pífio crescimento de 1,16%, segundo o Boletim Focus, que resume a opinião dos analistas de fora do governo.
Ou seja, esses números não justificariam os recordes seguidos da Bolsa. Seria a política de novo? O último Ibope do ano mostra o presidente Bolsonaro com 38% de ruim/péssimo e 29% de bom/ótimo. Está no negativo, portanto. [quanto em termos de 0,00000001% é adicionado ao PIB  se o presidente tiver acima de 50% de bom/ótimo?]

 
Não são apenas os números. O presidente e seus filhos geram crises seguidas. Reparem, não se trata apenas de reagir mal às crises, o que fazem muitos líderes políticos. Trata-se também de cria-las, destruindo aliados, atacando jornalistas e distribuindo grosserias para líderes internacionais. Para culminar o ano – nesse departamento – a situação do senador Flavio Bolsonaro piora a cada dia e justamente sob acusação de corrupção e mal uso de dinheiro público. Combater isso era um dos principais motes de campanha.  Então, como o ambiente econômico pode estar virando o ano sob expectativas positivas? Há números apoiando essas expectativas: a inflação roda em torno ou abaixo dos 4% anuais; vem assim faz tempo e não há sinal de alta estrutural. Os juros despencaram – a taxa básica, aquela definida pelo Banco Central chega ao final de 2019 com 4,5% ao ano, tendo iniciado o período em 6,5%.  


Para 2020, ninguém espera alta da taxa, alguns acham mesmo que deve cair.
Isso já chegou ao mercado. Em dezembro, até o dia 18, segundo pesquisa do Valor, as taxas do crédito imobiliário variaram entre 7,3% ao ano e 8,29%. Além de baixas, a pequena diferença entre as taxas mostra competição mais acirrada entre os grandes bancos.  Também caíram os juros em outros setores, principalmente naqueles em que o crédito tem garantias executáveis, como em automóveis. Já está valendo o cadastro positivo. Em resumo, pode-se contar por vários meses à frente com inflação baixa e juros em queda, o que estimula consumo e investimentos.  Há também expectativas positivas em relação a concessões e privatizações e ao avanço de reformas. Como isso pode acontecer com um presidente tão inadequado e despreparado para o cargo?  A explicação está na aprovação da difícil reforma da Previdência – resultado de uma combinação tácita entre a equipe do ministro Paulo Guedes, que entregou e negociou um sólido projeto, e o Congresso Nacional, que comprou a reforma.

 
Eis o ponto: pela primeira vez temos uma equipe econômica inteiramente liberal e ortodoxa. Governos anteriores, por exemplo, faziam privatizações por necessidade, para arranjar uns trocados ou para se livrar de empresas inviáveis. Paulo Guedes privatiza por convicção de que é o setor privado que gera riqueza, não o Estado. Este, quando não atrapalha, quando não perde dinheiro público, já está muito bom.Portanto, quando o mercado acredita nas expectativas positivas está, na verdade, entendendo que essa combinação política entre Guedes e Maia continua funcionando.


Só pode ser isso. O pessoal acha mesmo que Bolsonaro delega toda a economia para Guedes. [ o presidente Bolsonaro sempre deixou claro que economia seria com o Guedes = Posto Ipiranga. O presidente tem a palavra final sobre criação de impostos.]
Mas aqui e sobretudo lá fora, há uma bronca evidente com o extremismo de direita de Bolsonaro, que se manifesta em vários episódios, sem contar a falta de educação. A questão é saber se os investidores , especialmente os internacionais, vão prestar mais atenção nisso ou nas boas oportunidades de negócios. Possivelmente, vão combinar intenção de investimento com pressão em favor de determinadas causas. A ver.


Carlos Alberto Sardenberg - jornalista


O mundo é redondo - Nas entrelinhas

“As exportações pelos estados setentrionais do Brasil tendem a crescer regularmente, com a ferrovia norte-sul e o chamado Arco Norte, incluindo portos da Bahia, de Pernambuco, do Maranhão e do Amazonas”

Em 12 de abril de 1961, a bordo da Vostok 1, Yuri Gagarin se tornou o primeiro homem a ser lançado no espaço. A nave media apenas 4,4 metros de comprimento por 2,4m de diâmetro, e pesava 4.725 quilos, com dois módulos, um para acomodar os equipamentos e tanque de combustível, e o outro era a cápsula onde o cosmonauta realizou a proeza de ser o primeiro humano a ver que o nosso planeta é redondo: “A Terra é azul! Como é maravilhosa. Ela é incrível!”, exclamou Gagarin, durante a única volta que deu em órbita. Aos 27 anos, ele havia sido selecionado entre 19 pilotos submetidos a testes físicos e psicológicos rigorosíssimos. Tinha somente 1,57m de altura e pesava 69kg, ou seja, seu porte físico acabou sendo um diferencial para a seleção, como acontece com submarinistas e jóqueis.

Quando entrou na nave, fez um comentário como se fosse o último: “Em poucos minutos, possivelmente, uma nave espacial irá me levar para o espaço sideral. O que posso dizer sobre estes últimos minutos? Toda a minha vida parece se condensar neste momento único e belo. Tudo o que eu fiz e vivi foi para isso!” Naquele mesmo ano, ainda criança, levado por minha mãe ao Monumento dos Pracinhas, no Rio de Janeiro, tive a oportunidade de ver o Gagarin. A imagem que trago na memória não é a do seu porte físico, é a da multidão, e não a do seu sorriso cativante, que aparece em todas as fotos, classificado pelo poeta russo Evguêni Evtuchenko (1932-2017) como o mais bonito do mundo.

Isso é conversa de comunista, dirão os terraplanistas, numa dupla demonstração de ignorância: Evtuchenko e o então presidente da Rússia, Boris Yeltsin, lideraram os protestos que resultaram no fim da União Soviética e do chamado “socialismo real” no Leste Europeu. Não morra antes de morrer, seu livro em prosa publicado no Brasil pela Record, em 1999, relata a crise que levou ao colapso o sistema soviético, depois do sequestro de Mikhail Gorbatchov pelos militares, que tentaram dar um golpe de Estado contra a perestroica. Foi um tiro pela culatra. Seu poema Babi Yar, nome de um desfiladeiro nas imediações de Kiev, que relata o massacre de 35 mil judeus peCazaquistãolos nazistas, em setembro de 1941, serviu de inspiração para a 13ª Sinfonia de Chostakóvitch, cuja força lírica também foi uma crítica ao antissemitismo soviético.

O voo de Gagarin durou exatos 108 minutos, a uma altura de 315km a partir da superfície, em uma velocidade de 28 mil km/h. O cosmonauta se manteve em contato com a Terra por rádio e telégrafo. Na volta ao planeta, os cientistas soviéticos erraram o cálculo da trajetória de aterrissagem da nave, fazendo com que Gagarin caísse no Cazaquistão — a mais de 320km do local previsto. Depois da aterrissagem, sozinho, precisou esperar que a equipe o resgatasse. O erro acabou sendo mais uma prova do sucesso pleno da primeira missão espacial humana.

Lembrei-me de Gagarin por causa de um vídeo do físico norte-americano Carl Sagan, que circulou nas redes às vésperas do ano novo, numa dessas recidivas virais da internet, pois trata-se de um programa de tevê de 1980, de divulgação científica, intitulado Cosmos. O físico morreu em 1996, aos 62 anos. Nele, explica como alguns gregos antigos já haviam descoberto, através da simples observação, que a Terra é uma esfera. Eratóstenes, um estudioso grego, que dirigiu a famosa Biblioteca de Alexandria, viveu entre os anos de 276 a.C. e 195 a.C. Utilizando apenas “varas, olhos, pés, cérebro e o prazer de experimentar”, observou a sombra de duas colunas, uma colocada em Siena e outra em Alexandria, ambas no Egito.

Complexidade
Ele notou que em Siena, no dia do solstício de verão, ao meio-dia, o Sol ficava em seu ponto mais alto e a coluna lá instalada não projetava nenhuma sombra. Diferente daquela de Alexandria, que produzia uma pequena mancha no chão. Sagan explica então que, se a Terra fosse achatada, ambas estruturas produziriam sombras iguais. Mas, como o planeta é esférico, o sombreamento varia. Sagan mostra como o estudioso descobriu a angulagem entre as duas colunas a partir de suas sombras. O valor aproximado foi de sete graus. Com esse valor em mãos, o matemático fez um cálculo de equivalência, já que sabia a distância entre as duas cidades: quase 800 quilômetros. Fazendo as contas, ele chegou à medida de 40 mil quilômetros como a circunferência do planeta. Errou aproximadamente por 75 quilômetros, distância 4,4 vezes menor do que o erro de cálculo sobre o local de aterrissagem de Gagarin.


Ontem, ao se despedir como comentarista da Folha de S. Paulo, o historiador Luiz Felipe de Alencastro, professor da Universidade de Paris — Sorbonne e da Fundação Getulio Vargas, chamava a atenção para a força gravitacional da economia chinesa sobre os eixos de logística e territoriais brasileiros. Ao reduzir de 48 para 35 dias a viagem entre os portos do nordeste da China e Roterdã, a navegação comercial entre a Europa e o Extremo Oriente pelo Oceano Ártico, iniciada em 2013, levou à modernização do Canal de Suez (2015) e do Canal do Panamá (2016). Por essa razão, as exportações pelos estados setentrionais do Brasil tendem a crescer regularmente, sobretudo quando for concluída a ferrovia norte-sul e o chamado Arco Norte, incluindo portos fluviais e marítimos da Bahia, de Pernambuco, do Maranhão e do Amazonas.

“Pela primeira vez, desde a criação do Estado do Grão Pará e Maranhão, concebido em 1621 como entidade autônoma da América Portuguesa, no contexto da política filipina envolvendo as quatro partes do mundo, o comércio externo, e, essencialmente, o comércio marítimo, rearticula a geografia econômica da totalidade do território nacional”, destaca Alencastro. Detalhe: desde a circunavegação do globo por Fernão de Magalhães, já se sabia que a Terra é redonda e interligada pelos oceanos. Há duas consequências práticas do deslocamento do eixo do nosso comércio do Ocidente para o Oriente: primeiro, a relação comercial do Brasil com a China, que já é o nosso principal parceiro comercial, aumentará ainda mais de importância; segundo, como resultado, pode haver mais apreciação do câmbio, aumento das importações de bens industriais e desindustrialização. Ou seja, o Brasil precisa de uma política de comércio exterior que aumente a complexidade da nossa economia, isto é, a diversidade e a sofisticação da estrutura produtiva brasileira.

 Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - Correio Braziliense


Ano melhor do que aquele que passou - Míriam Leitão

O Globo

A crise foi tanta nos últimos anos que o Brasil reduziu as expectativas. Hoje já se contenta com alta do PIB na casa dos 2,5%

As análises dos bancos para 2020 trazem uma coleção de dados otimistas, ainda que a projeção para o crescimento seja de apenas 2,5%. [2,5% não é o PIBÃO dos tempos do general Médici, mas, é superior aos 0,8% previsto por alguns 'pessimistas'. 
O importante a tendência, crescente, de aumento do PIB e a queda, acelerando, do desemprego.
Apesar de alguns considerem para um número indiscutível de desempregados - abaixo dos 12% e caindo ( pouco acima dos 11.000.000 de desempregados) - a existência de mais de 17.000.000 de desalentados =  condição básica para ser um desalentado é ser um desempregado.
Talvez a regra seja diferente para aqueles petistas que perderam as mamatas - mesmo assim, são desempregados.]  Esse número é melhor do que o dos últimos três anos, mas o Brasil, se o atingir, estará ainda assim crescendo menos do que a média do mundo. Os bancos avaliam que o ano começa sem alguns dos riscos que assustaram a economia mundial em 2019, e com a previsão de crescimento maior no Brasil. Há mais otimismo em relação a determinados setores, como o da indústria do petróleo, que deve crescer acima de 6% com a entrada em operação de quatro novas plataformas.

O clima de “agora vai” é tão forte que na mensagem que encaminha seu relatório sobre 2020 a XP Investimentos diz que o “avião está na cabeceira pronto para decolar”. A crise foi tanta nos últimos anos que o Brasil reduziu as expectativas. Hoje já se contenta com alta do PIB na casa dos 2,5%. Nenhuma decolagem se dá com voo tão baixo. “À nossa frente o horizonte está limpo e aberto. Os preparos necessários já foram feitos.” Começa assim o texto da XP. O Brasil tem um volume considerável de preparos necessários e não feitos antes que se possa falar em decolagem. É mais torcida do que análise. O Itaú ressalta no seu cenário que o ano começa sem duas ameaças, a da guerra comercial China-EUA e do Brexit desordenado. O Bradesco já não aposta que o risco da guerra comercial tenha ficado para trás. De fato, a ciclotimia da relação entre as duas potências torna difícil garantir que não haverá outros momentos de incerteza. E se agora há um mandato político claro para o primeiro-ministro Boris Johnson sair da União Europeia, os efeitos sobre a economia britânica e outros países ainda não estão controlados. E, como lembra o banco, a eleição americana vai acirrar a polarização. O mundo deve continuar sendo um ponto de dúvida no cenário.

A projeção é de um crescimento mundial de 3,1%, com estabilidade no comércio global. Como diversos países reduziram taxas de juros em 2019, o estímulo monetário poderá ajudar essas economias em 2020. Segundo o relatório do Itaú, pode haver mais apetite por risco da América Latina em 2020, apesar das incertezas no Chile, que estará votando uma Constituinte, e da Argentina, que tentará sair do córner cambial e do nível de atividade em que se encontra. As previsões são de que a recessão vai continuar por lá.

A expansão do crédito no Brasil é apontada por todos os analistas como um efeito direto da queda das taxas de juros nos últimos anos, com inflação controlada e uma fonte de dinamismo para este ano. O processo já vinha acontecendo no ano passado e vai continuar. Segundo o Bradesco, as vendas de veículos devem crescer 7,2%. Eletrônicos e bens de consumo também devem se beneficiar dos juros baixos. É sempre bom lembrar que as taxas caem, em diversas linhas, mas para níveis ainda muito altos se comparados a qualquer país do mundo.

O Bradesco também prevê que a indústria extrativa vai crescer puxada pelo petróleo. O grande desafio será fazer os leilões de concessão e formatá-los de tal forma que não sejam a decepção que foram os leilões do pré-sal em 2019. Mas a projeção de alta de 6,3% na produção de petróleo vem de quatro plataformas que entrarão em operação este ano, colhendo-se investimentos feitos anteriormente. A extração de minério de ferro deve crescer comparada aos últimos anos em que houve os desastres de Mariana e de Brumadinho.

O mercado imobiliário vai continuar sua recuperação, iniciada em 2019, e de forma mais disseminada pelo país. É a previsão mais comum no mercado financeiro. Por outro lado, não há centro de estudo de banco que preveja que o desemprego cairá de forma mais forte. Será uma redução gradual. O próprio governo prevê que ficará acima de 10% até 2022. Um desemprego tão alto por tanto tempo cria um clima social de instabilidade. [o Brasil resistiu por anos a um desemprego crescente, taxa em alta, e resistirá a um desemprego em queda, ainda que a taxas modestas.
Resistiu por anos  a um círculo vicioso e em 2020 se consolida o já iniciado círculo virtuoso.]
A produção de grãos deve ter um crescimento modesto, de 1,6% na previsão da Conag, mas com alta de 4,7% na soja, que é a principal cultura. O complexo carnes vai continuar se beneficiando da crise do suprimento de carne suína na China, abrindo possibilidades para o produto brasileiro. Tudo analisado, a previsão é de um ano melhor do que 2019, mas ainda com taxas muito modestas de crescimento, alto índice de desemprego ainda remanescente, e muitas reformas para melhorar o ambiente de negócios no Brasil.


Míriam Leitão, jornalista - coluna em O Globo, com Alvaro Gribel,  de São Paulo

Lula preso valia mais politicamente que Lula livre - Merval Pereira

O Globo

Chances renovadas

O novo ano começa como os últimos, com esperanças de que o país recupere sua capacidade de crescimento econômico. As perspectivas desta vez são melhores do que já foram, especialmente porque o governo, eleito pelo voto popular, mantém seu projeto reformista, avalizado pela aprovação da reforma da Previdência. O governo Temer, um intervalo entre o petismo e o bolsonarismo, chegou a ter o controle político do Congresso, mas perdeu a chance de aprovar a reforma da Previdência devido à crise desencadeada pelo diálogo gravado com o empresário Joesley Batista. [e as denúncias, até hoje não provadas, apresentadas pelo ex-PGR Rodrigo enganot;
a propósito, as delações dos açougueiros de Anapólis, irmãos Batista, já foram homologadas?]

Temer teve que trocar o apoio que tinha no Congresso pela manutenção de seu cargo, perdendo força para aprovar as reformas. Hoje, temos pela primeira vez um Congresso renovado que comprou a ideia de que é preciso reformar estruturalmente o país, e um governo que mantém o objetivo de aprovar as reformas tributária, administrativa, do pacto federativo. O parlamentarismo branco faz com que o Congresso module as reformas propostas pelo Executivo, às vezes avançando, principalmente na economia, em outras as adequa a seu perfil, como no pacote anticorrupção. Sempre, porém, tem havido progressos.

O Supremo Tribunal Federal (STF) assumiu para si garantir a governabilidade do país, num estranho pacto entre os Três Poderes que não reflete obrigatoriamente o pensamento da maioria de seus pares.  Como quando seu presidente Dias Toffoli blindou a presidência da República sustando a investigação sobre o suposto esquema de lavagem de dinheiro envolvendo o hoje senador Flavio Bolsonaro quando era deputado estadual no Rio e tinha o famigerado Queiroz como seu assessor de confiança. O calcanhar de Aquiles do governo.  [2019 mudou para 2020, mas, o nosso presidente Bolsonaro continua tendo um CPF e o senador Flávio, seu filho, um outro CPF;
Também, até o presente momento, existe indícios contra um ex-assessor do hoje senador e a suspeita de envolvimento do parlamentar com possível, e ainda não provada, irregularidades.]
Toffoli teve que voltar atrás e aderir à decisão da maioria que avalizou a atuação do antigo Coaf e da Receita Federal. Apesar dos êxitos na área econômica e da popularidade do ministro Sérgio Moro, identificado pela opinião pública com o combate à corrupção e ao crime organizado, a presidência de Bolsonaro consegue reduzir suas próprias conquistas com a obsessão de aniquilar a esquerda e produzir embates quase diários para manter a polarização com o PT. [ o PT está em avançado processo de implosão e os seus pseudos líderes - combinando com os objetivos do partido perda total, os seus líderes são todos envolvidos com a Justiça:
- a cabeça da serpente é um duplamente condenado, em liberdade temporária, e com vários outros processos em curso e que resultarão em novas condenações;
- a vice líder responde a processos penais e é questão de tempo ser condenada.
Assim, o perda total é praticamente uma carta fora do baralho.

Quanto a esquerda o BEM COMUM impõe sua eliminação, aliás, um processo que está ocorrendo nas mais importantes nações do mundo.]
Assim como Lula já definiu como seus alvos principais os ministros Guedes e Moro, justamente as áreas mais bem sucedidas do ministério, também Bolsonaro empenha-se em colocar-se mais uma vez como o antiPT, na suposição de que esse é seu principal ativo político. As crises políticas que alimenta podem representar obstáculos intransponíveis a qualquer momento. Bolsonaro pode também estar equivocado, mantendo a chama acessa do lulismo, que até o momento não se mostra capaz de mobilizações populares como antes da prisão do ex-presidente.
Lula preso valia mais politicamente que Lula livre.         

Uma certeza
É impossível no momento saber exatamente como seu deu a fuga de
Carlos Ghosn, ex-presidente da Nissan, do Japão para Beirute, no Líbano. Desconfia-se de que governos estrangeiros ajudaram de alguma maneira na fuga. Mas uma coisa parece certa: dentre eles, não está o governo brasileiro. Apesar dos esforços do ministro da Economia Paulo Guedes, amigo de Ghosn, que apelou primeiro ao ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araujo. Não tendo sido atendido, Guedes foi a Bolsonaro. Conseguiu que se comprometesse a visitar o empresário brasileiro quando estivesse em Tóquio na reunião do G-20, em junho. O máximo que fez foi falar ao telefone com Ghosn, que se encontrava em prisão domiciliar.

O executivo foi convidado duas vezes para dirigir a Ford. A primeira em 2006, e ele exigiu acumular a direção executiva com a presidência do conselho de administração, que era presidido por Bill Ford Jr. Não deu certo.
Em 2008, na grande crise econômica, o então presidente Obama procurou-o pessoalmente para oferecer-lhe o dobro de seu salário na Nissan para presidir a Ford, que estava à beira da falência. Mais uma vez Carlos Ghosn recusou.

Merval Pereira, colunista - O Globo 


Apertem os cintos - O Estado de S.Paulo

William Waack

Ninguém gosta de turbulência, mas não é uma grande causa de queda de avião

A maior lição de humildade para integrantes da minha profissão é o já clássico livro Superprevisões – a arte e a ciência de antecipar o futuro”, publicado em 2016 por Philip Tetlock e Dan Gardner. Uma das célebres conclusões da obra, apoiada em mais de 20 anos de material empírico, é a de que jornalistas (especialmente os de televisão) acertam na média menos prognósticos do que um chimpanzé atirando dardos numa parede onde estão escritas respostas para perguntas como “qual será o preço do barril do petróleo no fim do ano?(a taxa de acerto aleatória está em torno de 18%).

Claro que previsões só têm validade se respeitarem um limite de tempo – é fácil acertar a previsão “o mundo vai acabar”; a questão é acertar quando. Com toda humildade vamos, então, a alguns prognósticos para temas que devem ocupar espaço no noticiário. Donald Trump deve perder o voto popular nas eleições de novembro (Hillary Clinton já o havia derrotado por 3 milhões de votos em 2016), mas conseguirá se reeleger. Os eleitores anti-Trump já vivem em colégios eleitorais democratas como Nova York ou Califórnia. Portanto, seu voto é “desperdiçado” e a verdadeira batalha é em colégios eleitorais menores, no Meio-Oeste, onde dificilmente Trump decepciona os mesmos eleitores que lhe garantiram a vitória quase quatro anos atrás.

Brexit deve chegar a um acordo comercial com a União Europeia, que terá dois grandes desafios. Um deles é razoavelmente previsível: Angela Merkel não conseguirá segurar sua frágil coligação, complicando a difícil questão de como dar um “reset” na relação com a Rússia, uma forma que o presidente francês vem propondo para redefinir o papel da Europa frente ao que foi (e promete continuar sendo) o fenômeno Trump + populistas (vão continuar fortes). Se parecer melhor, o prognóstico é mais do mesmo.

Vale também para a grande relação geopolítica do século, entre China e Estados Unidos, na qual a guerra comercial é apenas uma manifestação de uma pergunta para a qual ninguém até agora conseguiu produzir uma resposta convincente: o surgimento de uma super potência como a China, contestando o papel hegemônico dos Estados Unidos, será pacífico ou acompanhado (como historiadores clássicos sugerem) por confronto militar? Mas não é nada difícil prever que a China se tornará (se já não é) a principal potência das telecomunicações, com sérias consequências para o resto do mundo.

Protestos, descontentamentos e turbulência devem prosseguir na América Latina. A frustração e as manifestações mais ou menos violentas não escolheram ou pouparam perfis ideológicos dos diversos governos, no que parece ser uma expressão de ampla insatisfação de populações que “percebem” seu atraso relativo frente ao resto do mundo e consideram que seus mandatários não são capazes de dar respostas convincentes e em prazo rápido a demandas populares.

E o Brasil? Meu prognóstico é mais do mesmo. A economia vai andar melhor, o que é pouco para o grande desafio de um País aprisionado na armadilha da renda média. A onda disruptiva de 2018 partiu-se em suas diversas correntes, o que promete um cenário político “estável” no fracionamento das forças políticas e, portanto, na incapacidade de um só grupo se afirmar como dominante. O esforço de levar adiante reformas será grande e caminhará de forma lenta tanto pela notória resistência oferecida pelas corporações que tomaram o Estado brasileiro mas, em boa medida, também pela opção política do governo de não consolidar uma base tipo “tropa de choque” no Congresso.

Será turbulento. Apertem os cintos e um bom voo para todos nós em 2020. Turbulência não costuma derrubar avião.
 
William Waack, jornalista - O Estado de S. Paulo