O
coronel Eugene de Kock reconheceu ter participação em mais de 100 assassinatos
e em casos de tortura. Ele disse ser um 'assassino do Estado'
O
ministro sul-africano da Justiça concedeu nesta sexta-feira liberdade
condicional a Eugene de Kock, um coronel sul-africano da
polícia do apartheid conhecido como o “assassino
número um” do regime, responsável por sequestros, torturas e assassinatos
de opositores – reporta a rede BBC. "No
interesse da reconciliação nacional, decidi colocar De Kock em liberdade condicional",
declarou o ministro Michael Masutha, acrescentando que as condições para sua
libertação não serão divulgadas.
Eugene de Kock, em imagem 1999, durante seu julgamento
(AFP)
De Kock foi condenado em 1996 a
duas penas de prisão perpétua e a 212 anos de prisão por seu trabalho no comando de uma unidade antiterrorista
da polícia, que reprimia os ativistas contrários ao regime
segregacionista da África do Sul. O ex-coronel reconheceu mais de 100 atos de assassinato, tortura e fraude diante
da Comissão para a Verdade e a Reconciliação (TRC, na sigla em inglês), que se estabeleceu em 1995 para
esclarecer e, em alguns casos, perdoar os que confessaram crimes durante o
apartheid, um regime que durou entre 1948 e 1994.
A TRC concedeu a ele anistia por
muitos de seus crimes, incluindo os atentados com bomba e doze assassinatos de
militantes contrários à segregação, mas a negou pelo assassinato de
cinco homens em 1992, ao considerar que as vítimas não tinham nenhuma relação
com a guerrilha antiapartheid e que os atos não tinham, portanto, nenhuma
justificativa política.
Assim, De
Kock continuou na prisão. Durante seu julgamento, classificou a si mesmo como
um "assassino de Estado" e
forneceu muitos detalhes sobre muitas
atrocidades cometidas por sua unidade secreta, justificando seus atos no
fato de que cumpria ordens políticas.
O debate
sobre os crimes do regime do apartheid se reavivou nos últimos dias na África
do Sul, à espera da decisão do ministro da Justiça. Para muitos, os
assassinatos, sequestros e torturas de De Kock eram crimes muito odiosos para
ser perdoados. Outros opinavam, no entanto,
que o ex-oficial da polícia era, além de um prisioneiro arrependido, um bode
expiatório para os muitos criminosos do apartheid que nunca foram punidos.
Fonte:
Agência
France-Presse
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