Defesa de Cerveró recua e retira Dilma do rol de testemunhas
Menos de duas horas depois de solicitar à Justiça Federal do Paraná que
intime a presidente Dilma Rousseff (PT) como testemunha de defesa na
ação penal contra o ex-diretor de Internacional da Petrobras Nestor
Cerveró, a defesa do executivo recua e pede a substituição do nome da
petista no rol de interrogados.
Em nova petição apresentada na tarde desta segunda-feira, 26, o advogado
Edson Ribeiro, que defende o ex-diretor, pede que Dilma seja
substituída por Ishiro Inagaki, de Tóquio.
Na defesa prévia apresentada no início da tarde, Ribeiro alegava a
incompetência do juiz Sérgio Moro para julgar a ação. "A denúncia
oferecida pelo Ministério Público Federal narra fatos e condutas
pretensamente ocorridos na Cidade do Rio de Janeiro, Estado do Rio de
Janeiro, evidenciando-se a manifesta incompetência desse MM. Juízo para
processar e julgar a presente demanda", afirma o defensor no documento.
Além disso, ele afirmava que houve cerceamento da defesa, pois até hoje
não teve acesso à íntegra da delação premiada de Paulo Roberto Costa, e
pedia a absolvição sumária do réu e a rejeição da denúncia "em razão da
inexistência de suporte probatório mínimo com consequente extinção do
processo sem resolução do mérito". Por fim, o defensor afirmava que
"caso não se entenda pela extinção do processo, com ou sem resolução do
mérito, requer sejam intimadas as testemunhas indicadas no rol em
anexo".
No rol original de testemunhas constavam a presidente e os
ex-presidentes da Petrobras José Sergio Gabrielli e José Carlos de
Lucca, que dirigiu a estatal na década de 1990 e atualmente é presidente
do Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP).
Defesa de Cerveró coloca Dilma em lista de testemunhas de defesa e depois exclui
Advogado diz que decisão de retirar a presidente da lista de testemunhas partiu do próprio ex-diretor da Petrobras
A defesa do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, preso no Paraná,
arrolou a presidente Dilma Rousseff como testemunha de defesa no
processo em curso na Justiça Federal no Paraná e, horas depois, desistiu
da iniciativa. De acordo com o advogado Edson Ribeiro, responsável pela
defesa protocolada nesta segunda-feira, 26, a decisão de retirar a
presidente da lista de testemunhas partiu do próprio Cerveró. Os dois
chegaram ao entendimento de que Dilma, como presidente do Conselho de
Administração da Petrobras até 2010, não teve participação na
contratação de navios-sonda. Foram esses contratos as supostas fontes
das propinas pagas a Cerveró, conforme a denúncia do Ministério Público
Federal (MPF).
O ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli também foi
arrolado como testemunha no processo e foi mantido na lista. No
documento anexado aos autos nesta segunda-feira, o advogado de Cerveró
listou oito testemunhas que deseja serem ouvidas nos autos. Além de
Dilma e Gabrielli, foram listados o ex-presidente da Petrobras José
Carlos de Lucca e o atual presidente da Organização Nacional da
Indústria do Petróleo (Onip), Eloy Fernández y Fernández, entre outros.
Dilma foi retirada e, no lugar dela, foi indicado um dos representantes
de uma das empresas dos navios-sonda, Ishiro Inagaki, segundo Edson
Ribeiro. — Chegamos à conclusão de que Dilma não tinha o que falar — afirmou o advogado.
A presidente, como testemunha de defesa arrolada nos autos, seria
obrigada a depor, segundo fontes do Judiciário ouvidas pelo GLOBO. Dilma
só ficaria desobrigada se a defesa decidisse retirá-la da lista de
testemunhas, o que acabou ocorrendo. O depoimento deveria ser ajustado
entre a presidente e o juiz do caso, Sérgio Moro, como uma definição
prévia de dia, hora e local. Além disso, Dilma teria o direito de fazer a
opção de depor por escrito. Se essa fosse a escolha, juiz e partes
formulariam as perguntas a serem respondidas pela testemunha.
A Secretaria de Imprensa da Presidência informou que o Palácio do
Planalto não fez contato telefônico com a defesa de Cerveró para que
houvesse a mudança de posição. O Planalto não respondeu às perguntas
sobre a posição de Dilma a respeito da inclusão – e posterior exclusão –
na lista de testemunhas de defesa do ex-diretor da Petrobras. O advogado Edson Ribeiro também afirmou não ter sido procurado por
ninguém ligado ao Planalto. A decisão de incluir Dilma partiu
exclusivamente da defesa jurídica, segundo Ribeiro. – Cerveró tinha de assinar hoje outras duas petições e, então, falou
que não havia necessidade de incluir Dilma na lista de testemunhas. Não
há nenhum fato político na decisão de excluir o nome da lista – afirmou.
Além de listar a presidente da República e o ex-presidente da
Petrobras como testemunha de defesa, outra estratégia do advogado de
Cerveró foi pedir o sobrestamento da ação penal enquanto não tiver
acesso à integra do depoimento prestado pelo ex-diretor de Abastecimento
Paulo Roberto Costa, que fez acordo de delação premiada. Edson Ribeiro
também afirmou na defesa que o consultor da empreiteira Toyo Júlio
Camargo, outro delator do esquema, prestou depoimentos em "condições de
pressão extrema" e que, por essa razão, a delação deveria ser excluída
dos autos. Tanto Costa quanto Camargo detalharam indícios de que Cerveró
recebeu propina de contratos da Petrobras.
A defesa ainda alegou incompetência da Justiça Federal no Paraná para
cuidar do caso, uma vez que os fatos teriam ocorrido no âmbito da sede
da Petrobras, no Rio. Edson Ribeiro pediu a transferência do processo
para o Tribunal de Justiça do Rio. Ele também defendeu a absolvição
sumária do cliente e a extinção do processo. "Não se pode responsabilizar criminalmente alguém pelo simples fato
de ser citado como possível autor de um delito, sem qualquer amparo
probatório", afirmou o advogado. "Não há suporte probatório mínimo que
autorize a imputação de qualquer das condutas ao defendendo.
Entendimento contrário representa incontáveis violações à Constituição e
ao Estado Democrático de Direito", completou.
A defesa de Cerveró já sinalizou que o ex-diretor, no depoimento que
prestará à Polícia Federal (PF), vai atribuir a Dilma e a Gabrielli
responsabilidades por supostas irregularidades na Petrobras, como a
compra da refinaria de Pasadena, no Texas. Dilma presidia o Conselho de
Administração na ocasião da compra. Em março do ano passado, atribuiu a
um "parecer falho" de Cerveró a decisão de aprovar a compra da
refinaria. O Ministério Público Federal (MPF) denunciou Cerveró à Justiça por
lavagem de dinheiro, crime contra o sistema financeiro nacional e
corrupção. Ele é suspeito de receber propinas para viabilizar contratos
na estatal. Juntamente com o operador do PMDB no esquema, Fernando
Baiano, também denunciado, Cerveró teria recebido propinas de US$ 40
milhões, conforme a denúncia. O ex-diretor está preso preventivamente
por suspeita de movimentação de seu patrimônio e lavagem de dinheiro.
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