Alto lá! Não culpem Levy por
pensar como pensa e agir com coerência. Ele não mercadejou o próprio passe. Estava em
sossego como executivo bem pago do Bradesco. Fez à presidente Dilma Rousseff o
favor de aceitar o convite para ser ministro da Fazenda, ganhando menos do que
ganhava. E para quê? Para virar saco de pancada dos
supostos aliados de Dilma?
E sem que ela o defenda? Por que
não batem nela? Nelson Barbosa, ministro do Planejamento, foi o primeiro a apanhar. Disse lá qualquer coisa que
desagradou a Dilma. Acabou obrigado a se corrigir. Depois
foi Eduardo Braga, ministro das Minas e Energia. Caiu na armadilha de responder a perguntas na base do “se”.
Uma vez
que dissera que não há racionamento de energia à vista, foi confrontado pela
pergunta óbvia: “E se não chover o
suficiente?” Se não chover o suficiente o racionamento
será inevitável, respondeu Eduardo. Alguém mais esperto escaparia
com a resposta clássica: “Não posso
raciocinar sobre hipóteses”. O
racionamento ganhou manchete de jornal. Eduardo levou um carão do seu colega
Aloizio Mercadante, chefe da Casa Civil. Abandonou Brasília em silêncio.
Então chegou a vez de Levy. Como
Dilma preferiu ir à posse do xamã Evo Morales, presidente da Bolívia,
Levy voou a Davos, na Suíça. À vontade no Fórum Econômico Mundial, admitiu que o Brasil possa atravessar uma
leve e breve recessão. Tamanho cuidado com as palavras de pouco adiantou. A poderosa senhora, que se julga uma economista de primeira,
mandou Levy substituir “recessão” por
“retração”.
Mas não
ficou só nisso. Em entrevista ao jornal britânico “Financial Times”, Levy afirmou
que “está ultrapassado” o modelo de
seguro-desemprego no Brasil. Ah, para quê... Foi logo mexer com o social, área que Dilma garantira durante a
campanha ser intocável. Não mudaria nem que a diabo tossisse. Diabo, não. Vaca. O diabo foi citado
em outro contexto. Por ela ou por Lula, não lembro agora. Nem quero me socorrer
do Google.
Dilma (ou Lula) faria o diabo
para vencer a eleição presidencial. E assim foi. Pintou, bordou e mentiu sem dó. Ganhou por pouco. De volta ao “ultrapassado” modelo de
seguro-desemprego. O Ministério da Fazenda emitiu nota dizendo que a declaração
de Levy tivera como objetivo “ampliar o debate pela modernização das regras
desse benefício”. Dilma não considerou suficiente.
Mandou
que o ministro Miguel Rossetto, da Secretaria Geral da presidência da República
soltasse nota chamando o seguro-desemprego de “conquista
civilizatória”. Algo que, certamente, tem a ver com “pátria educadora”, novo slogan do
governo. Levy engoliu a nota a seco.
Está dando para fazer o que planejou. E até com rapidez. Quanto a Dilma... Emudeceu. Retornou à clandestinidade. Parece
envergonhada. Afinal, entregou o comando da economia a um
banqueiro que assessorou a campanha de Aécio Neves (PSDB-MG).
Seguiu a receita de Lula, que ao se eleger pela
primeira vez, escalou um banqueiro do
PSDB para o comando do Banco Central. No Ministério da Fazenda pôs Antonio Palocci,
que não entendia de economia, mas que era do PT. Ocorre que Dilma não é Lula. Não tem o carisma dele, nem a habilidade, nem a liderança,
nem o cinismo para culpar seus adversários por qualquer erro. Lula faz
política com prazer. Dilma detesta. Lula afaga os aliados até quando os
contraria. Dilma espanca. Lula governou com o gogó. Dilma usa o
gogó para repreender auxiliares. Pode dar certo? Não sei. Divertido está.
Não tem preço ver
petistas da gema estupefatos. Sem voz. Como Dilma.
Fonte: G 1
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