Desde
dezembro, presidente tem preferido se manifestar por notas oficiais
Em meio a uma série de medidas impopulares, a
presidente Dilma Rousseff completa hoje 30 dias sem dar entrevistas. É o
maior período que ela ficou sem responder a perguntas de jornalistas desde maio
de 2013, quando passou 31 dias sem falar à imprensa. A última entrevista de
Dilma foi no dia 22 de dezembro do ano passado. Naquele dia, a presidente
ofereceu o café da manhã anual aos jornalistas que acompanham o dia a dia do
Planalto. Na ocasião, falou por cerca de uma hora e meia. [até
que devemos entender ao silêncio da presidente; Dilma tem uma dificuldade
genética com as palavras, mesmo na língua portuguesa, especialmente em
apresenta-las de forma ordenada, encadeada.
E, somos sabedores que uma entrevista coletiva apresenta o inconveniente
de tornar necessário ao entrevista ordenar o teor de cada resposta, sem
misturar os temas e para a atual presidente isso representa um problema
insolúvel.
O recurso é se valer das notas oficiais – não são redigidas por ela e não
permitem o contraditório.]
Desde
então, a presidente não se manifestou publicamente
sobre temas que têm mexido com a vida dos brasileiros, como as medidas anunciadas no fim de 2014
endurecendo as regras para pagamento da pensão por
morte, do auxílio doença, do seguro desemprego e do seguro defeso. Muito
menos sobre a escolha de ministros polêmicos, como o do
Esporte, o pastor George Hilton, do PRB. Dilma também não falou sobre o aumento de
impostos, da gasolina, nem sobre o reajuste nas tarifas de energia em até 40% — tampouco sobre o apagão
desta semana. Outro tema que ela evitou falar
foi sobre o desempenho no Enem, quando
meio milhões de jovens zeraram a redação.
Na última
entrevista, o interesse maior ainda era sobre a
montagem do Ministério do segundo mandato, pois até então haviam sido
anunciados somente quatro nomes: Joaquim Levy (Fazenda), Nelson Barbosa
(Planejamento), Alexandre Tombini (Banco Central) e Armando Monteiro Neto
(Desenvolvimento). A situação da presidente da Petrobras, Graça Foster, também
estava na ordem do dia.
Desde
dezembro, a presidente tem preferido se manifestar por notas oficiais. Foi assim para anunciar os 39 ministros do
segundo governo. Também foi por nota que Dilma condenou a execução do
brasileiro Marco Archer, na Indonésia, no último sábado. Desde 1º de dezembro
de 2014, a Secretaria de Imprensa da Presidência (SIP) divulgou 13 notas com
decisões ou declarações de Dilma.
Segundo a
secretaria, “a falta de entrevistas desde
o Natal se explica pelo recesso da presidente no fim do ano e os despachos
internos com os novos ministros”. A assessoria disse ainda que, ao longo de
2014, Dilma concedeu 44 entrevistas, sem contar coletivas como candidata à
reeleição. Neste começo de governo, Dilma
nem sequer retomou o programa semanal de rádio “Café com a Presidente”, que apresentava políticas de governo e era
distribuído às emissoras interessadas. O programa existe desde o primeiro
governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. De acordo com a secretaria,
o programa será reformulado.
Fundação do PT divulga boletim com críticas à política econômica de
Dilma - Texto
diz que a presidente adota, no segundo mandato, estratégia ‘conservadora e
ortodoxa’
Um dia
depois de o Ministério da Fazenda anunciar um pacote de aumento de impostos, a Fundação Perseu
Abramo (FPA), do PT, divulgou um boletim com análise de
conjuntura na qual afirma que a presidente Dilma Rousseff, no início deste
segundo mandato, adota estratégia “bastante
conservadora e ortodoxa na política econômica”. O documento ainda coloca em
dúvida os efeitos do “ajuste recessivo”
para alcançar os efeitos desejados. A Fundação Perseu Abramo foi criada em 1996
pelo PT para promover estudos e debates.
Ela recebe
pelo menos 20% dos recursos do Fundo Partidário destinados ao PT, de
acordo com a Lei dos Partidos Políticos.
“O problema é que, diante da
continuidade de um mundo em crise e da desaceleração abrupta do mercado interno
(último motor de crescimento da economia nacional que ainda funcionava), a
possibilidade desses ajustes aprofundarem as tendências recessivas da economia
nacional não é desprezível”, afirma o texto.
O documento não é assinado. Procurada, a assessoria de
imprensa da fundação disse que ele foi
escrito pelo economista Guilherme Mello, que trabalha para a fundação.
Mello é doutor em Economia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e
pesquisador do Centro de Estudos de Conjuntura da instituição. Economistas,
Dilma, o ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) e o presidente da fundação,
Marcio Pochmann, também passaram pela Unicamp.
O Boletim
Diário de Conjuntura 236, divulgado ontem, faz
uma análise sobre o pacote de aumento de impostos, que visa ampliar a
arrecadação em R$ 20 bilhões; as mudanças de regras de
benefícios sociais como o seguro-desemprego, que devem significar um corte de
R$ 18 bilhões; o retorno de
cobrança de Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre automóveis;
e o corte de gastos correntes.
Segundo a
análise feita pela fundação, o conjunto de medidas adotadas pelo governo neste
início do segundo mandato de Dilma “indica
uma clara inflexão na estratégia da política econômica”. Ainda de acordo
com o documento, o governo Dilma abandonou a agenda de incentivo à
competitividade das empresas, como desonerações tributárias.
A escolha de Joaquim Levy, de
perfil mais liberal, para o
Ministério da Fazenda incomodou as alas mais à esquerda
do PT. Ele colaborou com a campanha do
candidato do PSDB, Aécio Neves, para presidente da República. Apesar
do desconforto com as medidas impopulares, integrantes da corrente majoritária
petista afirmam que elas são necessárias e lembram que o mesmo foi feito pelo
ex-presidente Lula em seu primeiro mandato, quando o ministro da Fazenda era
Antonio Palocci. — O PT é um partido democrático, tem várias opiniões, e não
necessariamente essa (da fundação) é a do conjunto do partido. Ele (Levy) é um
especialista em finanças públicas, se ele está defendendo isso (aumento de
imposto), é porque acha necessário para recompor o caixa do governo — disse
Alberto Cantalice, vice-presidente do PT.
Fonte: O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário