As digitais do tesoureiro
Investigações se aproximam de João Vaccari Neto a partir da inclusão da empreiteira Schahin no inquérito da Lava Jato. O petista seria o elo com a empresa suspeita de ter integrado o esquema de desvio de recursos da Petrobras para irrigar os cofres do PT
Na terça-feira 27, a Polícia Federal abriu
dez novos inquéritos contra empreiteiras citadas no Petrolão. São
suspeitas de conluio em licitações e pagamento de propina a políticos e
executivos. Dentre elas, atrai especialmente a atenção da força-tarefa
da Operação Lava Jato o grupo Schahin. Fundado pelos imigrantes sírios
Salim e Milton Taufic Schahin, o grupo se originou numa corretora de
valores, evoluiu para empreendimentos imobiliários e hoje atua em todos
os setores estratégicos da economia, como telecomunicações, produção e
transmissão de energia, infraestrutura portuária e até exploração de
petróleo do pré-sal.
O CERCO SE FECHA
Ligação do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, com empreiteira
investigada no esquema da Petrobras complica ainda mais sua situação
Ligação do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, com empreiteira
investigada no esquema da Petrobras complica ainda mais sua situação
Uma das estrelas petistas mais próximas dos
irmãos Schahin é o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, que, agora,
corre sério risco de virar réu na Justiça Federal do Paraná. Com base na
recente delação do ex-gerente de Engenharia da Petrobras Pedro Barusco e
em depoimentos de outros investigados, como o ex-diretor internacional
da estatal Nestor Cerveró, que foi preso no início do mês, a PF suspeita
que o grupo Schahin tenha integrado o esquema de desvio de recursos da
Petrobras e de outras obras públicas para encher os cofres do PT. Os
contratos da Petrobras com o grupo empresarial preveem o arrendamento
de plataformas e navios-sonda de exploração em águas ultraprofundas. No
total, a Schahin teria recebido US$ 15 bilhões pelos contratos.
Indícios levantados pela PF sugerem que o dinheiro desviado percorreu
uma rota internacional complexa, escoando por meio de mais de uma
centena de contas bancárias distribuídas em quase 50 offshores em uma
dezena de diferentes paraísos fiscais, como Panamá, Suíça, Ilhas Virgens
Britânicas, Ilhas Marshal, Cayman e Luxemburgo. “A engenharia
financeira criada pelo grupo Schahin para os contratos com a Petrobras é
uma espécie de cebola, com várias camadas até o seu núcleo. Para chegarmos aos verdadeiros
controladores, precisamos descascá-la camada por camada”, afirma um dos
delegados envolvidos na investigação.
ELES JÁ SABIAM
Segundo o ex-gerente de serviços da Petrobras Pedro Barusco (acima),
o tesoureiro do PT, João Vaccari, tinha uma boa relação com o grupo Schahin.
Pivô do mensalão, Marcos Valério (abaixo) contou ao MP que um empréstimo de R$ 6 milhões
Segundo o ex-gerente de serviços da Petrobras Pedro Barusco (acima),
o tesoureiro do PT, João Vaccari, tinha uma boa relação com o grupo Schahin.
Pivô do mensalão, Marcos Valério (abaixo) contou ao MP que um empréstimo de R$ 6 milhões
Só no Panamá, o grupo Schahin
criou ao menos nove offshores. Uma delas é a Turasoria S.A.,
proprietária do navio-sonda SC Lancer, arrendado à Petrobras. No
contrato social da Lancer, são indicados como sócios José Jannarelli,
Lilian de Muschett e Kenji Otsuki. Em 2013, o nome de Muschett apareceu
no escândalo envolvendo o premiê da Espanha, Mariano Rajoy. Ela figurava
em empresas fantasmas criadas pelo ex-tesoureiro do PP espanhol Luis
Bárcenas para lavar dinheiro de corrupção. Otsuki, por sua vez, já foi
citado como “homem da propina do Banco Schahin” pelo corretor Lucio
Bolonha Funaro, também citado no caso do mensalão.
Em Dellaware, nos EUA, o grupo Schahin mantém outras duas offshores, a
Soratu Drilling LLC e a Baerfield Drilling LLC, controladoras de outras
sondas arrendadas à Petrobras. Extratos bancários, obtidos por ISTOÉ,
revelam que essas empresas receberam recursos da conta nº 232222-04 que o
Banco Schahin mantinha no Clariden, na Suíça. Em 2011, a entidade
financeira foi vendida pelo grupo ao BMG. Posteriormente, uma
investigação sigilosa do Banco Central apontou que a Schahin desviou US$
110 milhões de contas dos clientes para o banco Clariden e que os
recursos desapareceram. Agora, suspeita-se que o dinheiro foi usado para
alavancar empréstimo de US$ 1 bilhão dos Schahin junto ao Deutsche Bank
para o arrendamento dos navios-sonda para a Petrobras.
Funaro, que possui uma antiga disputa judicial com o grupo Schahin,
promete arrolar a Petrobras numa ação contra o grupo em Nova York. Na
CPI que investigou a Petrobras em 2009, ele também denunciou a “relação
umbilical” dos Schahin com Vaccari e os fundos de pensão Previ, Petros e
Funcef. A oposição tentou investigar o caso, mas não conseguiu. Na
última Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar crimes contra a
Petrobras, no ano passado, deputados do PPS e do PMDB mineiro
apresentaram requerimentos para audiências sobre os contratos da Schahin
com a estatal. Mas os requerimentos foram sumariamente engavetados
pelos governistas. A blindagem sobre os negócios da Schahin também
impediu que avançassem todas as tentativas de denúncias recentes,
inclusive de gente ligada ao PT.
No final de 2012, o publicitário Marcos
Valério procurou um acordo tardio de delação premiada para tentar
reduzir sua condenação no processo do mensalão. Ofereceu ao MPF
denúncia-bomba de que a cúpula do PT teria recorrido a um empréstimo de
R$ 6 milhões do Banco Schahin para comprar o silêncio de um empresário
de Santo André que ameaçava envolver Lula, José Dirceu e Gilberto
Carvalho na morte do ex-prefeito Celso Daniel. Segundo Valério, a ajuda
de Schahin rendeu ao grupo os gordos contratos de arrendamento de sondas
à Petrobras. Em abril do ano passado, para tentar preservar o mandato
parlamentar e evitar a expulsão do PT, o então deputado federal André
Vargas envolveu o nome da Schahin com o casal Paulo Bernardo e Gleisi
Hoffmann em negociatas na hidrelétrica de Itaipu. Coincidência ou não,
Gleisi foi tesoureira da usina e até dias atrás Vaccari tinha assento no
conselho de administração.
Além das sondas e plataformas, a Schahin também faturou
com obras de gasoduto e até da reforma do Centro de Pesquisas da Petrobras
com obras de gasoduto e até da reforma do Centro de Pesquisas da Petrobras
Mesmo execrado do partido e sem mandato,
Vargas ainda guarda o que sabe para usar num eventual processo. Cerveró,
por exemplo, entregou só uma ponta do iceberg de segredos da relação
PT-Schahin-Petrobras. Contou que a estatal começou a negociar com a
empresa a partir de 2006, para suprir a demanda por plataformas FPSOs e
navios-sonda de exploração em águas ultraprofundas. Explicou que a
primeira parceria foi firmada com a japonesa Mitsui e que a Schahin
entrou como “investidora”. A PF e o MPF querem entender por que uma
empresa líder mundial do setor precisaria se associar a um grupo
brasileiro sem expertise e em situação financeira precária. A suspeita
dos investigadores é de que a Schahin tenha entrado como intermediária
para viabilizar o pagamento de propina ao PT.
De 2006 até hoje, os contratos de
arrendamento se multiplicaram. Em 2008, foram adquiridos dois
navios-sonda, e outro no ano seguinte. Em 2011, a estatal arrendou mais
duas plataformas e, em 2012, fechou negócio para mais três navios-sonda.
A maioria desses contratos, obtidos por ISTOÉ, é remunerada por hora,
mesmo quando os navios não estão em uso. Além das sondas e plataformas, a
Schahin também faturou com obras de gasoduto e até da reforma do Centro
de Pesquisas da Petrobras (Cenpes).
Esta obra foi citada pelo
ex-gerente Pedro Barusco como exemplo da “boa relação” entre Vaccari e o
grupo Schahin. Na delação premiada, Barusco revelou uma “troca de
propinas” com o tesoureiro do PT. Disse que precisava receber um
“crédito” dos Schahin pela obra do Cenpes e, como devia para Vaccari,
resolveu fazer uma permuta, pela qual o tesoureiro herdaria a propina do
ex-gerente. Procurada, a Schahin se limitou a responder que “desconhece
os termos do noticiado inquérito”.
AS OFFSHORES DA SCHAHIN PELO MUNDO
Fonte: ISTOÉ Independente
Fotos: Paulo Araújo/Agencia O Dia/AE; MARCELO PRATES/HOJE EM DIA/AE
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