Vista assim do alto, a
renúncia da presidente e mais cinco diretores da Petrobrás horas depois de ter sido
acertado um cronograma com a Presidência da República que previa a saída para
daqui a um mês pode parecer ato de
retaliação. Algo como um troco à proposta de Dilma
Rousseff de estender a fritura de cada um dos executivos, de Graça
Foster em particular, e ainda adequá-la à sua conveniência de encontrar uma
saída o menos traumática possível para nomear nova diretoria e ainda acertar os
números do balanço trimestral da companhia.
O gesto não deixa de dar margem a
essa interpretação. Inclusive
porque, guardadas todas as proporções, lembraria a
atitude da ex-ministra da Cultura Marta Suplicy, não obstante as diferenças
abissais entre ambas. De propósitos e temperamentos. Algo, no entanto, une as duas: o limiar da
desmoralização. Em Marta pesou a
política; para Graça, de acordo gente próxima a ela, a fronteira de
inadmissível ultrapassagem é a família.
Depois de tentar se demitir várias vezes e ter os
pedidos recusados pela presidente, Marta
tomou a decisão unilateral quando viu o ministro da Casa Civil, Aloizio
Mercadante, sugerir a renúncia coletiva
do ministério numa tentativa, segundo ela, de transformá-la de
demissionária em demitida. Ciente de seu
desgaste, Graça Foster pediu para sair no meio da crise. Ela chegou a
combinar com Dilma Rousseff duas datas:
uma logo após as eleições, outra logo após a posse no segundo mandato.
Ambas adiadas por solicitação da presidente.
Até que ocorreu o episódio da divulgação do balanço não auditado da
Petrobrás com aquele dado sobre a perda de R$ 88 bilhões em ativos.
Os cálculos não estariam completos e Graça teria se
precipitado ao autorizar a divulgação e Dilma, "furiosa", decidiu demiti-la. Seja como for, a
executiva que aceitara atender aos apelos de amizade, na hora de ser descartada,
não recebeu apreço em contrapartida. Ficou mal na história. Com pecha de
incompetente e precipitada, para todos os efeitos imposta pela amiga. Mas, ainda assim, aceitou frequentar o limbo
por mais um mês. Para resolver um problema da presidente. Ali no ambiente do
Palácio do Planalto deve ter-lhe parecido que 30 dias a mais ou a menos talvez não fizessem diferença. Brasília não é seu hábitat.
Mas o Rio de Janeiro é. Enquanto Graça Foster pegava o
avião de volta para a cidade, um grupo de manifestantes fazia um "panelaço" nas proximidades de
sua residência, em Copacabana. Numericamente insignificantes, cerca de 30
pessoas. Simbolicamente, suficientes para criar constrangimento a quem, tendo
feito carreira como servidora e não no embate duro da política, não está
acostumada a ouvir frases como "Ô
Graça Foster, o seu vizinho tem vergonha de você" nem a se expor a
processos de desmoralização pública.
No entender de quem entende de Graça Foster, a preservação pessoal e o resguardo
familiar pesaram mais na decisão que o acordo da
lealdade de mão única da presidente Dilma.
Todos juntos. A explicação para cinco dos seis
diretores da Petrobrás terem acompanhado a presidente na renúncia é um acordo
anterior de que ninguém ficaria ou sairia isoladamente. Fossem quais fossem os
motivos.
Fábula. Ao governo interessará, quem sabe, construir a
narrativa de que a renúncia de Graça Foster estava combinada com a presidente
Dilma.
O problema é que para que essa
versão seja verossímil, o Planalto já deveria ter na manhã de ontem um nome escolhido para
substituí-la na presidência da Petrobrás.
O prejuízo político é
do Planalto. Mais um.
Fonte: O Estado de São Paulo - Dora Kramer, colunista
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