Entre
2001 e 2014, 1.715 policiais militares foram assassinados no Rio, mostra estudo
inédito da Secretaria de Segurança Pública
Levantamento
feito pela Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro mostra que entre 2001 e 2014 1.715
policiais militares foram assassinados, em serviço ou durante suas
folgas. No mesmo período, 9 mil PMs ficaram feridos
em assaltos, emboscadas ou confrontos com criminosos. A partir do
levantamento, a secretaria calculou a taxa anual de
homicídios para cada grupo de mil policiais e concluiu que desde 2012 o
índice vem aumentando.
O enterro do cabo da PM do Rio
Rogério Pereira da Silva, de 39 anos, em fevereiro. Ele foi morto em confronto
(Foto: Arion Marinho/Parceiro/Agência O Globo)
Em 2014, bandidos mataram 96 policiais (18 no trabalho e 78 de folga). Como o efetivo da corporação era de 48,5
mil militares, a taxa de homicídio foi de 2 mortos a cada grupo de mil agentes.
Apesar do agravamento desde 2012, o resultado de 2014 não é o pior do período
pesquisado. Os anos mais críticos foram 2003
(com 176 assassinatos) e 2004 (com 161), com índice acima de 4
assassinatos a cada grupo de mil policiais –naqueles anos, o efetivo
da corporação era de 37,5 mil homens.
A
pesquisa mostra ainda que um PM tem
quatro vezes mais chances de perder a vida durante a folga. Nos últimos 14
anos, 1.375
foram assassinados nos dias de descanso contra 340 mortos em serviço.
O grande risco para um PM não fardado é
ser rendido por assaltantes. Mesmo que não reaja, ele
possivelmente será morto se o bandido descobrir sua identidade.
Entre os
18 policiais mortos no trabalho em 2014, oito estavam
lotados em Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) instaladas em favelas
cariocas, antes dominadas por traficantes de drogas. Em dezembro passado, ÉPOCA revelou
como os bandidos passaram a montar emboscadas contra os militares das UPPs,
numa tática de guerrilha. Os criminosos também usam menores de idade na linha
de frente. Adolescentes de apenas 15 anos viraram gerentes do tráfico.
Em cinco anos, os policiais
brasileiros mataram 11.197 pessoas. Mais
do que os policiais americanos mataram nos últimos 30 anos.
No ano passado, mais de 50 mil
pessoas foram vítimas de homicídio doloso (quando há intenção de matar) no país –
um acréscimo de 1,1% em relação ao ano anterior. O agravamento da
insegurança e a violência policial têm raízes parecidas: segundo o sociólogo
Michel Misse, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e
especialista em segurança pública, as polícias brasileiras não foram concebidas
para conduzir investigações. Incapaz de solucionar os casos de homicídio, o
poder público não consegue criar políticas criminais que reduzam o problema. “Há uma concepção de combate, de punição.
Não uma concepção de investigação”, afirma Misse. [ao comparar o número de bandidos mortos pela polícia
brasileira nos últimos 30 anos com os mortos pela polícia americana em igual
período e omitir o número ínfimo de policiais americanos mortos por bandidos
nos trinta anos da pesquisa, o trabalho
revela seu objetivo básico: criminalizar a conduta da polícia brasileira.
Reforça sua intenção quando alega que
a polícia brasileira mata para não ser treinada para investigar.
Inexplicavelmente, atribui que os
bandidos procuram matar os agentes por receio de serem mortos. Esquece que o
bandido ao cometer o roubo ou qualquer outro ato criminoso é quem provoca a
ação policial.
E quando reage obriga a polícia a
usar a força necessária para se defender – vale o axioma: entre a mãe de um
policial chorar e a mãe do bandido, que a do bandido chore.]
Essa
postura policial prejudica também os agentes. No último ano, 369 policiais foram mortos em
serviço. Em 2009, foram 186. A letalidade da polícia gera reação
semelhante dos bandidos: “No Brasil, há a
suspeita, por parte dos criminosos, de que eles podem morrer caso se
entreguem”. Por isso, preferem o confronto. Segundo Misse, para melhorar a
segurança, é importante modernizar a polícia. E despi-la de seus aspectos
militares.
ÉPOCA – A polícia brasileira, em cinco anos, matou mais que a americana em 30. Qual a explicação para essa taxa de letalidade?
Michel Misse – A polícia brasileira é uma polícia construída para o combate. Há uma concepção de combate, de punição. Não uma concepção de investigação. A Polícia Militar é a principal, embora não a única, responsável por esses dados. Ela não fazia esse tipo de trabalho, até o regime militar – foi quando virou uma força de policiamento ostensivo. O problema é que ela carregou seus aspectos militares, inadequados para o trabalho de investigação, que deveria ser próprio da polícia.
ÉPOCA – A polícia brasileira, em cinco anos, matou mais que a americana em 30. Qual a explicação para essa taxa de letalidade?
Michel Misse – A polícia brasileira é uma polícia construída para o combate. Há uma concepção de combate, de punição. Não uma concepção de investigação. A Polícia Militar é a principal, embora não a única, responsável por esses dados. Ela não fazia esse tipo de trabalho, até o regime militar – foi quando virou uma força de policiamento ostensivo. O problema é que ela carregou seus aspectos militares, inadequados para o trabalho de investigação, que deveria ser próprio da polícia.
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