Dilma aposta no Senado como “Casa revisora” dos projetos aprovados pela Câmara que aumentam os gastos da União e prejudicam o ajuste fiscal do governo. Segundo a presidente, o Senado precisa funcionar como um “espaço de equilíbrio”, “para se refletir melhor”. “Se isso continuar [a aprovação das pautas-bomba], vai comprometer a economia além desse governo”, disse Dilma. A presidente reconheceu mais uma vez o momento difícil pelo qual passa o país, mas disse acreditar que logo o governo vai superar essa fase.
Ao lado dos ministros da equipe econômica, Joaquim Levy (Fazenda) e Nelson
Barbosa (Planejamento), Dilma pediu que os senadores
impeçam a aprovação final dessas pautas e votem a desoneração da folha de
pagamento, última medida do ajuste que ainda precisa ser apreciada pelo
Congresso. Horas
antes do jantar, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL),
comprometeu-se a votar a desoneração depois que a Casa apresentou como fatura
ao governo um pacote para desburocratizar a economia.
A chamada
“agenda Brasil” foi entregue aos ministros de Dilma com dezenas de itens, entre
eles a regulamentação da terceirização; a reforma da lei de licitações e uma
lei de responsabilidade fiscal específica para as empresas estatais. Há, ainda,
o compromisso de o Palácio do Planalto assinar um termo de ajustamento de
conduta (TAC, no jargão da administração pública) comprometendo-se a não
praticar mais pedaladas fiscais daqui por diante.
Dilma critica ‘vale-tudo’ e diz que é preciso
pensar primeiro no Brasil
Os
ministros Levy, Barbosa, Eduardo Braga (Minas e Energia) e Edinho
Silva (Comunicação Social) receberam das mãos de Renan a agenda, apesar de
terem ali diversas propostas polêmicas aos olhos de Dilma e do PT, como a
possibilidade de cobrança do Sistema Único de Saúde (SUS) por faixa de renda e
a adoção de uma idade mínima na aposentadoria.
Durante o
jantar, Dilma foi questionada sobre a pauta de Renan, mas afirmou ter recebido
apenas “um rascunho inicial” das propostas e, segundo relatos de participantes
da reunião, não se estendeu nos comentários. O
presidente do Senado foi convidado para o jantar com Dilma, mas disse a aliados
que não seria de bom tom comparecer a um encontro em que a presidente pediria
apoio à base e poderia falar da agenda apresentada por ele.
Nos
bastidores, senadores ressaltaram a ausência de Delcídio Amaral (PT-MS),
líder do governo no Senado, que alegou “problemas pessoais” para não participar
do encontro. Os
parlamentares elogiaram o cordeiro servido como prato principal, mas reclamaram
que não teve sobremesa. “Nem para adoçar o momento. Também entramos na dieta”,
brincou um dos presentes em referência ao rigoroso regime de Dilma.
Descontentamento
Apesar
das tratativas, senadores não estavam muito dispostos a enfrentar o ônus de
desafogar o governo ao barrar as pautas vindas da Câmara. Parlamentares,
inclusive do PT, o partido de Dilma, falavam em cobrar uma reforma ministerial
baseada no entendimento com a base na Câmara, hoje o principal foco de rebelião
contra o governo no Legislativo.
Isso
porque, argumentavam petistas, o Senado não pode ficar com o ônus de barrar
todas as pautas-bomba que forem enviadas pelos deputados. A responsabilidade
precisa ser dividida e, para isso, os ministros devem representar e influenciar
a base parlamentar. Os
senadores do PMDB, por sua vez, não queriam discutir reforma ministerial com a
presidente. O partido tem medo de perder pastas que o governo coloca na linha
de frente para os cortes, como Aviação Civil, Turismo e Secretaria de Portos,
hoje nas mãos do PMDB.
Fonte: Folha de São Paulo
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