Assim como nos protestos de março e abril, Wellington Elias, 52, chegou
de Osasco, na Grande São Paulo, pela manhã e, com a ajuda do filho,
montou seu aparato de som na esquina da Paulista com a rua Pamplona. Microfone funcionando, começou seu discurso: "Nunca um governo roubou tanto na história da humanidade. Fora Dilma! Fora PT!!".
A primeira interrupção foi de Clodoaldo Gomes, funcionário de um
shopping no Campo Limpo: "Está errado, você tem que começar contando
quem começou essa bagunça toda, que foi o PMDB. Desde o fim da ditadura
que estão roubando". Elias se emendou, e já estava falando dos políticos de forma geral,
quando uma aposentada enrolada numa bandeira do Brasil o interrompeu de
novo: "Mas vê se fala do Renan Calheiros. Esse sim é o grande traidor.
Estava com Collor antes, lembra? Agora está com quem? Com esses bandidos
do PT. Ataca ele!".
Confuso, Elias recomeçou o discurso, agora fazendo críticas também ao senador.
"Está diferente esse protesto, sim. As pessoas já não estão bravas só
com a Dilma, elas não querem saber mais é do modo como estão fazendo
política lá em Brasília", disse Elias à Folha. Ainda que gritos anti-Dilma e anti-PT tenham prevalecido ao longo do
dia, desta vez a pauta dos protestos ampliou-se para atingir outras
forças políticas, a Justiça e a possibilidade de alguma saída consensual
para a crise. "Nós não queremos acordão. Será como acabar tudo em pizza. O juiz Sergio Moro tem
que fazer seu trabalho, o [procurador-geral Rodrigo] Janot também.
Queremos que coloquem todo mundo que roubou na cadeia", disse o
engenheiro Luis Gerardi, que empunhava cartaz em cartolina amarela onde
se lia: "Partido Sergio Moro".
A imagem do juiz paranaense foi evocada por muitos manifestantes. Estava
em cartazes que diziam: "Moro é o cara" e "#jesuismoro" (eu sou Moro),
assim como em camisetas que exibiam o cartaz do filme "Super-Homem", com
sua cara colada em cima do rosto do protagonista. Já o rosto do líder do Senado aparecia em cartazes em outra montagem, com a foto do cabelo de Dilma sobre uma imagem sua.
MANDIOCA E META
Desde o começo da tarde, os carros de som dos movimentos organizadores
do ato soavam o "rap da mandioca" ("Eu tô saudando a mandioca") e o "rap
da meta" ("Vamos deixar a meta aberta, quando atingirmos a meta, vamos
dobrar a meta"), que evocam discursos recentes da presidente. Em um deles, decorado com mandiocas, instalou-se um pequeno forró, em
que pessoas dançavam ao som das músicas e tiravam "selfies" ao lado da
raiz. Quem tentou publicar fotos nas redes sociais reclamou do sinal de
internet. "Foi o PT, aposto, só para que a marcha não fosse divulgada",
disse a corretora Francisca Mendes, que queria postar a foto ao lado da
filha Patricia, ambas vestidas com a camiseta da seleção brasileira.
Fonte: Folha de São Paulo
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