A disposição de sair à rua e protestar mantém-se firme, a julgar pelo
público presente na avenida Paulista neste domingo. Já na avaliação da
população brasileira, o quadro para Dilma Rousseff só fez piorar de
abril para cá: 71% julgam ruim ou péssimo o seu governo; 8% o consideram
ótimo ou bom; 66% querem o impeachment.
Na prática o "Fora, Dilma" já ocorreu, pois a presidente deixou de
governar. É uma náufraga à deriva em meio aos escombros do primeiro
governo. Agarra-se a qualquer objeto que flutue lançado pelos bucaneiros
que sustentam sua existência simbólica, enquanto despojam o segundo
navio e acotovelam-se pelo timão. Dilma é útil aos piratas porque para ela e seu partido convergem os feixes das frustrações na República.
A condição material de vida da população vai piorar ainda mais nos
próximos 12 meses. O monstro da corrupção na Petrobras e em outros ramos
do Estado ficará mais visível. Esses poderosos vetores concorrerão para
a cristalização da impopularidade da presidente e do PT. É confortável, para aliados e adversários presos no labirinto de seu
egoísmo, manter uma carcaça presidencial sobre a qual recai por inércia a
culpa pelos estragos. Todos os outros atores podem se distanciar da
responsabilidade,
enquanto pilham o que resta da máquina do Executivo e oneram o futuro do país.
Nestes últimos dias a opinião pública se iludiu um pouco mais a respeito
do caráter sacrossanto do impeachment. Arraiga-se a impressão de que
haveria óbices incontornáveis na legislação para responsabilizar o
presidente da República. Não os há. A lei dos crimes de responsabilidade –nos itens sobre probidade e gestão
orçamentária e financeira– é ampla o bastante para facultar a abertura
do processo. O que existe é uma confluência de interesses políticos,
cuja menor preocupação é preservar um mandato obtido nas urnas, a
bloquear o caminho por enquanto.
Fonte: Folha de São Paulo, Vinicius Mota
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