Acordo de delação prevê que Cerveró deixe a prisão e devolva mais de R$ 17 milhões
Em delação premiada, o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró afirmou que a presidente afastada Dilma Rousseff não só tinha conhecimento de todos os detalhes sobre a compra da refinaria de Pasadena, nos EUA, como também deveria saber que políticos do PT recebiam propina da Petrobras. O relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Teori Zavascki, tornou a delação pública nesta quinta-feira. Os depoimentos estavam guardados até ontem em caráter sigiloso e abastecem vários inquéritos que tramitam no tribunal sobre a Lava-Jato.
O acordo de delação prevê que Cerveró deixe a prisão no próximo dia 24 e devolva mais de R$ 17 milhões aos cofres públicos em razão dos crimes cuja autoria assumiu durante as investigações da Operação Lava Jato. “Dilma Rousseff tinha todas as informações sobre a Refinaria de Pasadena”, disse o depoente. A delação também atesta “que Dilma Rousseff acompanhava de perto os assuntos referentes à Petrobras; que Dilma Rousseff, inclusive, tinha uma sala na sede da Petrobras no Rio de Janeiro; que Dilma Rousseff frequentava constantemente a Petrobras, usando essa sala, no Rio de Janeiro; Que Dilma Rousseff conhecia com detalhes os negócios da Petrobras”, diz o depoimento, prestado em 7 de dezembro de 2015.No entanto, Cerveró pondera que não teve conhecimento de nenhum pedido de propina feito por Dilma. “Que o declarante supõe que Dilma Rousseff sabia que políticos do Partido dos Trabalhadores recebiam propina oriunda da Petrobras; que, no entanto, o declarante nunca tratou diretamente com Dilma Rousseff sobre o repasse de propina, seja para ela, seja para políticos, seja para o Partido dos Trabalhadores. Que o declarante não tem conhecimento de que Dilma Rousseff tenha solicitado, na Petrobras, recursos para ela, para políticos ou para o Partido dos Trabalhadores”, diz a delação.
No depoimento, Cerveró diz que entre março de 2005 e março de 2006 o projeto de aquisição da refinaria passou pela análise das áreas técnicas da Petrobras até ser aprovado pelo Conselho de Administração, que era presidido por Dilma – que, na época, também era ministra de Minas e Energia. O depoente contou que o processo de aprovação foi feito às pressas, de forma pouco usual.
Cerveró também disse ao Ministério Público Federal “que não corresponde à realidade a afirmativa de Dilma Rousseff de que somente aprovou a aquisição porque não sabia dessas cláusulas”, referindo-se às condições da compra da refinaria. O ex-diretor ponderou que não sabe de nenhuma irregularidade no processo de aquisição de Pasadena. Em julho de 2014, o Tribunal de Contas da União (TCU) concluiu que a compra da refinaria de Pasadena causou um prejuízo de US$ 792,3 milhões à Petrobras. Cerveró discorda da avaliação do tribunal.
O depoente também afirmou que recebeu propina no valor de US$ 1,5 milhão. Parte desse dinheiro teria sido repassada ao ex-senador Delcídio Amaral (sem partido-MS). A delação também conta que Delcídio pressionou Cerveró o outro ex-diretor da Petrobras, Renato Duque, para receber propina para financiar sua campanha para o governo de Mato Grosso do Sul. Em troca da participação em obras de Pasadena, a UTC teria concordado em repassar R$ 4 milhões a Delcídio. O depoente supõe que Dilma sabia disso. “Que Delcídio do Amaral conversava diariamente com Dilma Rousseff, porque estava em campanha para o governo do estado do Mato Grosso do Sul, que isso faz o declarante crer que Dilma Rousseff sabia do adiantamento de propina a Delcídio do Amaral pela UTC”, diz o depoimento.
Em outro trecho da delação, um depoimento prestado em 19 de novembro do ano passado, Cerveró relatou um encontro entre o ex-senador Delcídio Amaral e a presidente afastada Dilma Rousseff. Ele ficou sabendo disso por meio de Edson Ribeiro, que já foi seu advogado. Nesse encontro, Dilma teria dito a Delcídio que ela cuidaria dos meninos, ou seja, do próprio Cerveró e de Renato Duque, ex-diretor de serviços da Petrobras.
Segundo Cerveró, Edson Ribeiro contou que Delcídio "havia lhe dito que tinha tido uma reunião com a Presidente da República, Dilma Rousseff, e ela dissera ao Senador que não se preocupasse porque ela 'cuidada dos meninos', referindo-se ao declarante (Cerveró) e Renato Duque".
O caso é citado no depoimento de Cerveró. Segundo ele, seu filho lhe disse que Delcídio e Edson Ribeiro "estavam oferecendo todo o apoio ao declarante (Cerveró), com a condição de que Delcídio do Amaral e o Banco BTG Pactual não fossem envolvidos pelo declarante nos casos". Além disso, "na visão do declarante, o que eles queriam é que ele figurasse numa posição análoga à de Marcos Valério no mensalão, suportando a prisão por alguns anos em troca de ajuda financeira e eventuais auxílios políticos para melhorar sua situação".
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