Escândalos de corrupção envolvendo o presidente e seus companheiros são tão fortes que obscurecem todo o resto
O governo
de Bill Clinton continua imbatível na história recente dos EUA. Durante seus
oito anos foram criados 23 milhões de empregos, superando com folga os 16
milhões da era Ronald Reagan, que já fora de excepcional desempenho econômico.
Mas Barack Obama, que visita o Brasil nesta semana, também tem boas lições a
oferecer nesse quesito.
Seus
números foram bem menores — 11,3 milhões de empregos — mas ele partiu da pior
condição possível. Os Estados Unidos passavam pela Grande Depressão. No
primeiro ano de Obama, 2009, o PIB caía quase 3%, e a taxa de desemprego era de
10%. O PIB virou já em 2010 (expansão de 2,5%) para emplacar sete anos seguidos
de crescimento. Com isso, a taxa de desemprego desabou para o nível mínimo de
4,5%. De quebra, Obama reduziu o déficit público de 10% do PIB para menos de
3%. Aumentou o gasto público no combate à recessão e voltou a controlar quando
a economia privada começou a andar com suas próprias pernas.
Donald
Trump é bem capaz de estragar muitas coisas — voltar a estourar o déficit, por
exemplo — mas, por ora, a economia americana segue crescendo em bases sólidas e
puxando um momento de expansão mundial. Ou seja,
o Brasil deu sorte de novo. Os países ricos crescem sem inflação, de modo que
seus bancos centrais não precisam elevar muito a taxa de juros. A China segue
garantindo seus 6,5% anuais de elevação do PIB e outros emergentes, como a
Índia, vão bem. Não é por acaso que as exportações brasileiras mostram
desempenho recorde. Há demanda e preço no mundo.
Isso
explica parte da atual recuperação da economia brasileira. A outra parte, mais
importante, depende das condições internas, entre as quais, o desempenho do governo.
Nos EUA, a presença do Estado na economia e os controles governamentais são bem
menores que no Brasil. Ainda assim, a liderança do presidente faz uma enorme
diferença, como se viu na política anticrise de Obama. Sua reeleição, que
muitos consideravam impossível, foi o prêmio por esse desempenho.
Tudo isso
para dizer que as relações governo/economia se dão nos dois sentidos, para o
bem e para o mal. O governo Temer, por exemplo, virou completamente a política
econômica, e isso na direção correta. Conseguiu
vitórias importantes no Congresso — como a aprovação do teto de gastos, da
reforma trabalhista e da nova taxa de juros de longo prazo — que terão impactos
positivos nas contas públicas e na economia real. Cortou gasto público onde
podia cortar, melhorou a gestão de estatais (Petrobras, por exemplo) e iniciou
um programa de privatizações.
Isso
ajudou na saída da recessão e início do processo de recuperação. Melhoraram os
índices de confiança e as expectativas, tudo isso indicando a credibilidade da
equipe econômica liderada pelo ministro Henrique Meirelles e pelo presidente do
BC, Ilan Goldfajn.
Assim
como a política econômica da era Dilma levou a desastre, seu desmonte permitiu
a recuperação.
Por que,
então, a desaprovação ao governo Temer é quase unânime? Uma
resposta: os escândalos de corrupção envolvendo o presidente Temer e seus
companheiros são tão fortes que obscurecem todo o resto. Pior. A mancha da
corrupção faz com que as pessoas desprezem a mudança econômica pessoal. Por
exemplo: é real a queda da inflação, dos juros e a consequente melhora no poder
aquisitivo das famílias. Mas, perguntadas, em pesquisas, as pessoas, em maioria
expressiva, dizem desaprovar as políticas de juros e inflação do governo Temer.
É verdade
que a recuperação apenas se inicia e o desemprego, embora em queda, permanece
muito elevado. São fatores de desconforto econômico. De todo
modo, as pesquisas que medem índices de confiança mostram claramente que os
consumidores estão mais confiantes em relação à sua situação econômica atual,
mais animados em relação aos próximos meses e revelam maior disposição de
compras. Vendas de carros, por exemplo, estão em alta.
Resumindo:
as pessoas percebem que melhorou, mas não atribuem isso ao governo Temer,
porque é o governo da corrupção. Isso vira
o jogo. Se o governo Temer, via equipe econômica, sustentou a recuperação, a
onda de corrupção retira credibilidade e, pois, capacidade de ação desse mesmo
governo.
Pior. É
até capaz que a mancha de políticos corruptos contamine a agenda de reformas,
algo do tipo “se vem do governo Temer, não presta”.
Isso será
um assunto certo na campanha do ano que vem.
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