Chegou-se perto de uma crise institucional. Na guerra pública entre
poderes oscilava o pêndulo que definiria o futuro do senador tucano,
Aécio Neves. Esse destino era ao menos a justificativa oficial para a
querela. Na prática, o mote era outro. E as motivações também.
De um
lado, a evidente intromissão da Suprema Corte, com uma condenação
indevida, que não se justificava à luz da Constituição, deu combustível
aos congressistas para a resistência. Do outro, uma casa parlamentar
repleta de malfeitores aproveitava a chance do escorregão dos senhores
magistrados para advogarem em causa própria. “Hoje é Aécio, amanhã serei
eu”, disse um dos votantes a interlocutores. Argumentos a favor e
contra a mobilização multiplicaram-se desde que o STF decidiu, há alguns
dias, punir o tucano com medidas cautelares substitutas à prisão. No
caso, o recolhimento noturno do parlamentar e a proibição de exercício
do mandato. Está escrito na Carta Magna que senadores e deputados só
poderão ser presos em flagrante delito e por crime inafiançável.
Concretamente, o recolhimento noturno equivale a uma prisão preventiva
em regime semiaberto. Ou seja: como ele não pode sair de casa à noite
estaria efetivamente retido, privado de seu direito de ir e vir, antes
de uma condenação final. A medida foi considerada arbitrária não apenas
por parlamentares como também por juristas e advogados da banca privada.
Mas como a Corte é soberana ficou difícil o recuo. [vale destacar que não se trata de uma Suprema Corte formada por ministros, a exemplos das existentes em países democráticos, e, sim, de uma Suprema Corte formada por SUPREMOS MINISTROS, que eu seus devaneios se consideram deuses, portanto, portadores do dom da infalibilidade.] Assim Aécio, de mera
desculpa para a causa maior da impunidade de seus pares, se converteu
em estandarte da tropa que queria partir à briga.
No limite, o ministro
do Supremo, Luiz Fux, alertou que o descumprimento da decisão judicial
levaria ao caos político. Seu ex-colega de tribunal, Joaquim Barbosa,
seguiu no mesmo tom e disse que a revogação do ato pelo Congresso “seria
o fim da democracia no Brasil”. O clima esquentou. Na fatídica noite da
última quarta, quando a tensão chegou ao limite, a plenária dos
senadores recebeu discursos inflamados a favor do confronto – um circo
armado com muitos incendiários. O senador Fernando Collor, por exemplo,
já deposto da presidência e também às voltas com as investigações da
Lava Jato, bradou em alto e bom som contra os procuradores-gerais da
República, chamando-os de “canalha”, “calhorda” e “sujeitinhos à toa”. O
peemedebista Jader Barbalho acusou o Judiciário de sonhar com a
ditadura enquanto o aliado Renan Calheiros, ex-presidente do Senado e
detentor de 17 inquéritos por desvios, falou em “estado policialesco”
vivido no Brasil.
A reação corporativista e multipartidária abarcou até
mesmo petistas, rivais históricos do tucanato. Defendiam, naturalmente, a
própria pele. Reclamavam do Legislativo sendo “achincalhado” pelo
Judiciário, de um “atentado à democracia”, mas o que queriam mesmo era
impor na marra um freio às investigações e punições. Prevaleceu o bom
senso. Por mais de 50 votos a tentativa de rever as deliberações do STF
teve a votação adiada. Uma bem armada articulação de bastidores se
desenvolveu horas antes. A presidente do Supremo, Cármen Lúcia, havia se
reunido com os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado,
Eunício Oliveira, para selar a paz temporária e apaziguar os ânimos.
O
plano: uma votação que ocorre no próximo dia 11 dentro do STF sobre
medidas cautelares virou agenda providencial para uma saída diplomática.
Provavelmente, no caso de parlamentares, as tais medidas cautelares
passarão a ser submetidas ao Congresso. Superada a polarização, o
levante daqueles que almejavam a impunidade terá de ser aplacado. No
pêndulo de Aécio a tendência ainda lhe é favorável. Ele deverá se
livrar, ao menos por enquanto, do pesado castigo. Dentro do Partido, uma
discussão banal e custosa se desenvolve sobre a sua saída prematura do
comando da sigla. Energia gasta à toa. A sucessão está para ocorrer, de
uma maneira ou de outra, em breve. Mas o tucanato, para não fugir à
regra, adora uma briguinha por nada.
Fonte: Editora IstoÉ - Carlos José Marques, diretor editorial da Editora Três
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