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domingo, 17 de dezembro de 2017

A volta do príncipe

Como será a nova vida do empreiteiro Marcelo Odebrecht, um dos homens mais ricos do País, que depois de 30 meses preso vai trocar uma cela de 12 metros quadrados pela prisão domiciliar em sua mansão

Na próxima terça-feira 19, um dos homens mais ricos do Brasil, o empreiteiro Marcelo Odebrecht, dono de uma fortuna de R$ 13,1 bilhões, vai deixar a cadeia na Carceragem da Polícia Federal de Curitiba, onde passou os últimos 30 meses. Enfurnado numa cela de 12 metros quadrados, junto com outros presos da Lava Jato, dormindo num beliche de cimento frio, com um buraco no chão para fazer as necessidades fisiológicas, ele vai deixar o inferno para voltar a viver no paraíso que sempre foi seu habitat natural desde que nasceu, há 49 anos. Marcelo passará os próximos dois anos e meio em prisão domiciliar na sua mansão de Cidade Jardim, com 3 mil metros quadrados de área construída, avaliada em R$ 30 milhões. Mesmo com o uso de tornozeleira eletrônica, ele poderá circular livremente pelas dezenas de suítes, despachar no escritório com 300 metros quadrados, e desfrutar da ampla área de lazer, com uma piscina majestosa, cercada por mata nativa, vizinha ao Parque Burle Marx.

Suas prioridades, num primeiro momento, serão resgatar a relação com a família e recolher documentos que comprovem as denúncias que fez à Justiça no acordo de delação premiada. “Marcelo sempre foi um homem da família. Quando dirigia a Odebrecht, saía do trabalho e ia para casa. Como ficou afastado das filhas por quase três anos, quer retomar a relação com elas. Quanto aos papeis que prometeu entregar ao juiz Sergio Moro, ele terá agora tempo livre para ir atrás da documentação”, disse seu advogado, Nabor Bulhões.

Mas nem tudo serão flores para o empreiteiro. Nos dois anos em meio em que permanecerá em prisão domiciliar, Marcelo Odebrecht não poderá sair de casa quando bem entender. Só com autorização da Justiça. E mesmo assim, monitorado pela Polícia Federal, para cumprir atividades de necessidade básica, como ir ao médico, dentista. Também não poderá receber todas as visitas que desejar. Empreiteiros e testemunhas ligadas à Lava Jato, por exemplo, estão expressamente proibidas de frequentar a mansão dos Odebrecht. Configuram exceções parentes até quarto grau e quinze pessoas acima de qualquer suspeita que ele terá de relacionar à Justiça. Viajar nem pensar. Nem para uma cidade vizinha, quanto mais para o exterior. O passaporte encontra-se apreendido. Em situações de emergência, Odebrecht precisará recorrer ao Judiciário, que analisará caso a caso.

O empreiteiro amargará ainda restrições profissionais. Até 2025, em razão do acordo celebrado com a Justiça, ele está impedido de exercer qualquer função executiva na Odebrecht, como também de praticar qualquer atividade empresarial. Mas quando começar o período de regime aberto, em 2020, Marcelo pretende ser mais ativo na atuação na holding Kieppe, onde detém 5% das ações, e pensa em criar uma empresa que preste serviços para outras organizações, inclusive para a própria Odebrecht. Para isso, ele deseja construir uma aliança com os primos Francisco Peltier de Queiroz Filho e Emilio Odebrecht Peltier de Queiroz, que detêm outros 10% da Kieppe. Nessa holding, Marcelo tem direito a uma retirada mensal de R$ 10 milhões. O problema será voltar para a Odebrecht. Na segunda-feira 11, uma semana antes de Marcelo deixar o presídio, seu pai Emilio, que ainda é o acionista principal, emitiu um documento determinando que nenhum membro da família poderá ocupar cargos de direção na empresa. Foi a maneira que ele encontrou para barrar qualquer pretensão de Marcelo em voltar algum dia para a empreiteira. Para Marcelo, tratou-se de um “golpe”. Na sexta-feira 15, Emílio anunciou que está deixando o cargo de presidente do conselho da Odebrecht, função que passou a exercer após a prisão do filho em 2015. O patriarca rompeu com o filho quando ele foi para a cadeia e lá resolveu fazer delação e pagar R$ 8,5 bilhões num acordo de leniência. 

Emílio discordou de tudo. Brigou a ponto de não querer recebê-lo assim que ele sair da cadeia. Para se ter dimensão do tamanho da contenda familiar, nos últimos dias, o patrono refugiou-se numa ilha de sua propriedade no Sul da Bahia. Só para não ter que passar o Natal com o filho em São Paulo.  Acionista de um império que faturava R$ 130 bilhões por ano, Marcelo viveu uma vida de conto de fadas. Por isso, sempre foi considerado “o príncipe” dos empreiteiros. Assim, os 914 dias em que passou na cadeia, acusado de superfaturar obras para a Petrobras e corromper autoridades, foram um tormento para ele. O pior foi ficar longe da mulher Isabela e, sobretudo, das três filhas adolescentes. Daí a prioridade agora de se reconectar com a família.

Tormenta durou 30 meses
Marcelo conheceu o terror da cadeia em junho de 2015. Fazia um frio insuportável em Curitiba. Logo que chegou ao cárcere, se recusava a responder a perguntas de policiais e até do juiz Sergio Moro, que determinou a preventiva. Achava que não permaneceria mais do que uma noite preso. Contava com a ajuda da ex-presidente Dilma Rousseff, corrompida por ele, para deixar a cadeia. Ela bem que tentou. Em vão. Logo percebeu que iria mofar atrás das grades e o tempo foi dobrando seus joelhos. Depois da condenação, viu que ficaria muitos anos sem ver as filhas. Foi o que mais pesou na decisão de fazer o acordo com a Justiça. Foi determinante também para a delação premiada o constrangimento pelo qual passava a mulher Isabela todas as quartas-feiras quando ia visitá-lo na cadeia. Zelosa, ela levava-lhe comidas e frutas variadas. Marcelo, que se recusava a se alimentar das quentinhas servidas no cárcere, dividia os quitutes com os demais presos.  O desconforto acaba nesta terça. A bordo de um jatinho fretado pela Odebrecht, Marcelo vai deixar Curitiba no final da tarde com destino a São Paulo. Uma nova jornada lhe aguarda. Entre tantas amarras judiciais, uma coisa é certa: sua vida jamais será a mesma. Jamais.

O castelo majestoso
A mansão de Marcelo Odebrecht no bairro de Cidade Jardim, na divisa com o Parque Burle Marx, em São Paulo, tem 3.000 metros quadrados de área construída:
– São dezenas de suítes com hidromassagem
– Só o escritório possui 300 metros quadrados
– A piscina, cercada por uma área de mata natural, é exuberante

R$ 30 milhões é a avaliação da propriedade, uma das mais caras da cidade


Revista Isto É 



 

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