Tiririca anunciou que vai deixar vida pública por "desilusão" com a política, mas se esqueceu de citar casos em que comprou bilhetes aéreos, com dinheiro da Câmara, para ele e assessores viajarem a locais em que se apresentou como humorista
[Tiririca anuncia renúncia para o final do seu mandato - final de 2018 - e faz seus eleitores de palhaço, 'esquecendo' de informar que usou dinheiro da Câmara para eles e assessores viajarem para apresentar shows humorísticos (aliás, Tiririca - o 'palhaço honesto' - fazer seus eleitores de palhaço é merecido... afinal para votar nele tem que ser palhaço.
A propósito, Tiririca pode fazer todos de palhaço mais uma vez: é só renunciar a renúncia.
A renúncia é um ato unilateral que independe de aceitação ou não e se ela não gerar direitos para terceiros, pode ser renunciada pelo renunciante até no último minuto do último dia do seu mandato - a do Tiririca não gera, já que espertamente ele apresentou a renúncia com validade para o final do seu mandato e com isso impede que seu suplente reivindique assumir o mandato).]
Capaz de conquistar 1,3 milhão de votos em São
Paulo, o deputado federal Tiririca (PR) foi eleito colocando-se como uma
resposta do eleitorado ao fim dos privilégios das autoridades, dos
desvios de dinheiro público e das dinastias políticas. Enquanto
candidato, argumentou que estava cansado de ouvir falar dos assaltos aos
cofres públicos e da impunidade. Ele queria mudança. Os eleitores
acreditaram. A promessa elegeu o palhaço, uma figura sem experiência que
se dizia interessada em desbravar o Congresso e economizar o dinheiro
da população.
Tiririca,
52 anos, é casado há duas décadas com a humorista Nana Magalhães, de
38, com quem tem Tirullipa, seu único filho e também humorista. No
Tribunal Superior Eleitoral, diz que “lê e escreve”, e declarou
patrimônio de R$ 531.913,67, em 2014. Quatro anos antes, quando foi
candidato pela primeira vez, afirmou que não tinha bens. Havia deixado a
televisão e o circo, onde eventualmente se apresentava com o célebre
personagem, para morar num apartamento funcional em Brasília. Eleito em
2010, montou um gabinete enxuto, disse que dezenas de assessores não
tinham serventia em sua equipe. Entretanto, deu os salários mais altos
da categoria para os seis ajudantes, cerca de R$ 15,3 mil brutos, e
nunca mais falou de política.
Até 2014, quando
repetiu o discurso do último pleito e, novamente, conseguiu um lugar ao
sol. Mais precisamente na sombra do gabinete 637 do Anexo IV da Câmara.
Nos sete anos em que permaneceu como parlamentar, Tiririca nunca usou
seu nome de batismo: Francisco Everardo Oliveira Silva. Quase nunca
faltou às sessões plenárias, mesmo não gostando de se sentar no espaço
reservado aos parlamentares. Ficava na área dos acompanhantes e dos
assessores, às margens do salão, escoltado por Loianne Oliveira de
Almeida Lacerda e Igor Alves da Cunha, os assessores mais próximos.
Tiririca
nunca tinha usado a tribuna do plenário para discursar. Até a semana
passada, quando resolveu anunciar o desligamento da política e criticar
os colegas que havia prometido combater. O primeiro e único discurso do
palhaço como parlamentar foi, basicamente, uma crítica ao que ele chamou
de “a velha política”. Tiririca bradou que havia desistido das urnas,
disse que a “vida boa” dos políticos causava “uma vergonha muito grande”
tanto nele quanto em seus eleitores. Foi ouvido e timidamente aplaudido
por uma dúzia de parlamentares, que respiraram aliviados quando o
desapontado cearense afirmou que “não falaria mal de ninguém”.
“Cansado
dos abusos cometidos nesta Casa”, ele disse que desistiu da política.
Falou como se nunca tivesse bebido a água dos privilegiados. Não citou
as vezes que comprou bilhetes aéreos para seus compromissos como palhaço
— e não como parlamentar, o que seria permitido — nem apresentou
qualquer justificativa para a exagerada quantidade de vezes que a
equipe, especialmente Loianne, viajou nos últimos anos. Em agosto,
Tiririca comprou passagens para Ipatinga (MG), a R$ 2.746,52 — valor
reembolsado pela Câmara. O bilhete foi emitido no dia 11, um dia antes
de o humorista se apresentar na cidade. O caso se repetiu em setembro,
quando ele comprou o trecho entre Recife e Fortaleza e, na agenda, tinha
shows em Caruaru e em Juazeiro do Norte. Gastou mais R$ 377,70.
Viagens
dos assessores também coincidem com as datas dos shows do humorista,
como a que Loianne Oliveira fez em 6 de abril, quando foi para Ilhéus,
na Bahia, onde Tiririca se apresentou dois dias depois. Com a cota
parlamentar do deputado, foram pagos R$ 2.098,80 das passagens. O
palhaço se apresentou em uma festa voltada a universitários. Entre
novembro e janeiro, Loianne gastou R$ 38.833,44 em bilhetes aéreos
reembolsados pela União, muitas vezes em itinerários pertinentes com os
shows do chefe.
Também ocorreu de o assessor
Igor Alves da Cunha ser enviado a São Paulo dias antes de outro show do
parlamentar. A viagem ocorreu em 6 de junho, e Tiririca se apresentou na
região em 9, 10 e 11 daquele mês. Da mesma forma, João Paiva Junior,
outro assessor, foi do Rio de Janeiro a Brasília, em 6 de outubro,
gastando R$ 934,40. Poucos dias depois, Tiririca subiu aos palcos
fluminenses para uma apresentação privada.
O Correio
tentou entrar em contato com o parlamentar e a equipe. A reportagem
ligou para Igor, Loianne e para os três celulares do parlamentar, além
de entrar em contato com o gabinete. Igor respondeu pedindo que a
reportagem ligasse para Loianne, que, segundo ele, “é a jornalista”. “Se
quiser publicar sem resposta, pode publicar”, afirmou.
Correio Braziliense
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