A concessão generalizada de auxílio-moradia,
auxílio-alimentação e auxílio-saúde faz com que 26 tribunais estaduais
de Justiça gastem cerca de R$ 890 milhões por ano com esses pagamentos.
Na última folha salarial publicada, 13.185 juízes dos TJs (mais de 80%
do total) tiveram o contracheque inflado por esses benefícios ou itens
similares.
O Estadão Dados mediu pela primeira vez o impacto dos
“penduricalhos” nos contracheques do Judiciário graças à publicação
detalhada e padronizada de dados salariais, determinada pelo Conselho
Nacional de Justiça (CNJ). Dos TJs estaduais, apenas o do Amapá ainda
não abriu a caixa-preta da folha de pagamentos. Com os auxílios, juízes
obtêm um ganho de até 30% em relação ao salário básico. No Mato Grosso
do Sul, por exemplo, o salário médio é de R$ 28,2 mil, e os benefícios
recebidos garantem um acréscimo médio de quase R$ 8,4 mil.
As médias, porém, ocultam os casos mais extremos. Em
novembro, 69 juízes de nove Estados receberam mais de R$ 10 mil a título
de auxílio. Por ter caráter de “verba indenizatória”, e não de salário,
esses recursos não são levados em conta no cálculo do teto de
vencimentos dos magistrados, de R$ 33.763, nem são descontados quando o
limite é atingido.
Além dos R$ 890 milhões, há outros custos na folha, de
caráter eventual. Em novembro, eles somaram R$ 9 milhões. Os salários
básicos, sem contar os extras, consomem quase R$ 6 bilhões por ano. Por
causa dos auxílios e outros extras, um terço dos juízes estaduais teve
rendimento líquido superior ao teto. No topo do ranking, um contracheque
de R$ 227 mil, em Rondônia.
O auxílio-moradia começou como vantagem restrita – uma
“ajuda de custo, para moradia, nas comarcas em que não houver residência
oficial para juiz, exceto nas capitais”, segundo a Lei Orgânica da
Magistratura. Em 1986, a restrição às capitais foi abolida. O que era exceção passou a ser regra. Leis estaduais
estenderam o pagamento a todos os integrantes de determinados TJs. O
Supremo Tribunal Federal (STF) garantiu o benefício a todos os juízes
federais e, depois, a todos os TJs estaduais e aos ramos militar e
trabalhista do Judiciário. Há ações que reivindicam o “direito” também
aos juízes aposentados.
Atualmente, três em cada quatro juízes estaduais recebem
auxílio-moradia, independentemente da cidade onde trabalham e do fato de
possuir ou não residência própria. Apenas o auxílio-alimentação atinge
uma parcela maior: 78%. Na semana passada, o ministro Luiz Fux, do STF, negou
seguimento a uma ação popular contra decisão sua de autorizar pagamento
de auxílio-moradia a juízes, promotores e conselheiros de tribunais de
contas. Foi Fux, em decisão provisória de 2014, quem estendeu o
benefício a todos os juízes federais, mesmo os que atuam na cidade de
origem. Para o ex-presidente do STF e do CNJ Carlos Ayres Britto,
não faz sentido excluir os auxílios do cálculo do teto. “Sempre entendi,
em meus votos, que teto é um limite máximo, não admite sobreteto,
ultrapassagem. Na medida em que há claraboia nesse teto, perde-se a
noção.”
Todos os tribunais estaduais foram procurados pela reportagem. Os 19 que
responderam até a conclusão desta edição (SP, DF, CE, PR, MS, MA, MG,
PI, TO, AM, ES, RR, BA, SE, RO, SC, PA, RS e GO) ressaltaram que os
pagamentos dos salários estão dentro do teto constitucional e que demais
auxílios e indenizações constam de legislações estaduais ou resoluções
do CNJ, e, portanto, são legais.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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segunda-feira, 18 de dezembro de 2017
Tribunais de Justiça gastam R$ 890 milhões com benefícios para juízes
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