No despacho em que derrubou a ordem do magistrado de Roraima, Rosa havia empilhado argumentos jurídicos —“A proteção ao refugiado é regra solidamente internalizada no ordenamento jurídico brasileiro”—, ao lado de razões humanitárias —“Fechar as portas'' equivaleria a ''fechar os olhos'' para o drama social que levou 40 mil venezuelanos a se abrigar no Brasil. A decisão de reabrir as portas foi sensata. Falta agora abrir os olhos das autoridades brasileiras, ainda semicerrados. Há no gerenciamento da crise dos refugiados muito gogó e pouco método.
[razões humanitárias justificam prejudicar brasileiros sejam prejudicados para favorecer de estrangeiros?
A situação dos venezuelanos é trágica, necessitam de ajuda humanitária. Só que um país com mais de 13.000.000 de desempregados - sem contar alguns milhões de 'desalentados' (o desalentado está em pior situação que o desempregado, este ainda tem esperança de conseguir um emprego, o desalentado perdeu até a esperança), economia andando para trás, pode prestar tal ajuda.
Cada emprego que um venezuelano consegue é mais um brasileiro que permanece desempregado, faminto, morando nas ruas.
O Brasil está obrigado, até mesmo por razões religiosas, de caridade, a auxiliar os venezuelanos; mas, esta obrigação permanece se para cada venezuelano ajudado - ainda que propriamente - é mais um brasileiro a permanecer, ou ingressar, na situação de miséria?
Para complicar o já dificil, parte dos ajudados - ainda que uma minoria - passou a cometer crimes contra cidadãos brasileiros, em solo brasileiro.]
Há dois meses, em visita a Roraima, Temer desfilou para as câmeras num abrigo de refugiados venezuelanos. Declarou: “Estamos mostrando ao mundo este sentido humanitário que o Brasil traz consigo.” Em verdade, o improviso federal e episódios como o surto de ódio deste sábado revelam ao planeta que o amor dedicado pelo Brasil aos seus vizinhos desesperados não é coisa para amadores. Um crime praticado por quatro venezuelanos serve de pretexto para tocar fogo no sonho de centenas. Neste domingo, Temer reúne ministros no Jaburu para rediscutir o exemplo que o Brasil dá ao mundo.
Em nota divulgada neste sábado, o governo de Roraima martelou novamente a tecla que Rosa Weber parecia ter desativado: “A solução para a crise migratória só acontecerá quando o governo federal entender a necessidade de fechar temporariamente a fronteira…” O texto cobrou providências que Brasília prometera adotar no início do ano. Por exemplo: “Realizar a imediata transferência de imigrantes para outros Estados e assumir sua responsabilidade de fazer o controle de segurança fronteiriça e sanitária”.
O governo federal não age, apenas reage. Confrontado com a crise humanitária, faz por pressão o que deixa de realizar por precaução. Temer só esteve em Roraima porque o governo estadual bateu bumbo, exigindo socorro. A engrenagem da União foi mobilizada para atingir três objetivos: fortalecer a presença federal na fronteira, para colocar ordem na chegada; fazer um censo dos venezuelanos; e distribuir os refugiados entre os Estados, tentando aproximá-los de oportunidades de trabalho. A chegada continua desordenada. Não há vestígio dos dados que revelariam o perfil dos refugiados. E a interiorização caminha em ritmo de jabuti tetraplégico.
Durante mais de uma década, sob Lula e Dilma Rousseff, o governo brasileiro bateu palmas para os malucos de Caracas —Chávez e Maduro— dançarem. Nessa época, vigorava em Brasília a diplomacia das empreiteiras, levadas à Venezuela com o dinheiro barato do BNDES. Sobraram os escândalos, o calote no bancão companheiro e a ruína que despeja venezuelanos como detritos no quintal dos países vizinhos.
Lula e Dilma continuam oferecendo demonstrações de que são capazes de tudo, menos de dizer meia dúzia de palavras sobre o desastre venezuelano. Sempre que tem oportunidade, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, solidariza-se com o regime de Nicolás Maduro. Quanto aos 40 mil refugiados que escorreram para o Brasil, ainda não se ouviu do PT uma manifestação de solidariedade. E Temer, outra herança do petismo, faz o pior com os refugiados da melhor maneira que pode.
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