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quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

O cheque para Michelle e as memórias da era Collor

Não tem cabimento um assessor parlamentar dar um cheque para a madrasta de um deputado



Hoje o jornal “O Estado de S. Paulo” mostra que um ex-assessor de Flávio Bolsonaro (PSL) na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro deu um cheque de R$ 24 mil para Michelle Bolsonaro, futura primeira-dama do país.  Não há explicação razoável para essa transação. A implicação óbvia é que a família Bolsonaro usou o poder público – personificado pelo assessor – para fins pessoais. Essa é a definição de corrupção usada por órgãos como o Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional e Transparência Internacional.  Ao desviar recursos públicos para pagar despesas da família Collor, PC Farias e seu sócio também cometeram corrupção. (Sobre o governo Collor, o livro de Marco Antonio Villa é leitura obrigatória.)

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A transação suspeita envolvendo o ex-assessor de Flávio Bolsonaro foi revelada em um relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), feito a pedido do Ministério Público Federal, e disponibilizado para “O Estado de S. Paulo”.  Cabe ao Coaf fazer basicamente duas coisas: “receber, examinar e identificar as ocorrências suspeitas de atividades ilícitas e também “comunicar às autoridades competentes para a instauração dos procedimentos cabíveis nas situações em que o Conselho concluir pela existência, ou fundados indícios, de crimes de ‘lavagem’, ocultação de bens, direitos e valores, ou de qualquer outro ilícito”. Assim como diversos outros órgãos de controle, o Coaf foi fortalecido nos últimos vinte anos. (Já escrevi com Matthew Taylor sobre este ponto.)

A investigação revela que Fabrício José Carlos de Queiroz, o ex-assessor parlamentar, movimentou, em 2016, cerca de R$ 1,2 milhão de reais. Isso era incompatível com sua renda mensal de R$ 21.100 (R$ 12.600 como policial militar, R$ 8.500 como assessor parlamentar).  Queiroz surgiu na investigação de todos os assessores parlamentares da Alerj por conta da Operação Furna da Onça, que revelou pagamentos mensais corruptos para deputados estaduais. São 21 nomes suspeitos de movimentações financeiras irregulares além de Queiroz. [ótimo:  cabe provar a ilegalidade da movimentação financeira realizada por Fabricar  José e, se comprovada, descobrir as razões da entrega do cheque para a  primeira-dama.
Na sequência - o objetivo principal é uma tentativa desesperada de comprometer Bolsonaro - se comprovar a ilegalidade do pagamento, tipificar o crime cometido por Michelle e provar que Bolsonaro sabia e/ou foi beneficiário do ilícito.
Por enquanto, há apenas a movimentação de um recurso que pode ter as mais diversas explicações - sejam legais ou ilegais, morais ou imorais.]  

Flávio Bolsonaro tomará posse no Senado Federal no início do ano que vem. Menos ativo no Twitter do que seus dois irmãos e pai, até 12h de 6 de dezembro Flávio não havia se pronunciado sobre o caso nas redes sociais. De acordo com O Estado de S. Paulo, a assessoria do senador eleito disse que Flávio “construiu uma relação de amizade e confiança” com Queiroz ao longo de dez anos e “não tem informação de qualquer fato que desabone” a conduta do ex-assessor.
A acusação é gravíssima e exige explicações imediatas dos envolvidos.


Sérgio Praça - Revista Veja

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