Ministro acredita (ou faz que acredita) que a forma apaga o conteúdo
Essência do vazamento é seu conteúdo
Uma semana depois da divulgação das conversas do juiz Sergio Moro com o
procurador Deltan Dallagnol pelo site The Intercept Brasil,
consolidou-se a linha de defesa do governo segundo a qual o que houve
ali foi um crime. Trata-se de uma magnífico exercício de autoengano. Foi praticado um
crime na forma, mas a essência do episódio está no seu conteúdo. A
divulgação dos Pentagon Papers, em 1971, decorria de um indiscutível
crime contra a segurança nacional dos Estados Unidos, pois os documentos
que contavam a ação americana no Vietnã eram secretos e foram roubados.
A Suprema Corte dos Estados Unidos derrubou a tentativa do governo de
proibir a sua divulgação.
[destaque necessário: FATOS:
- violar sigilo telefônico e de comunicações telemáticas é crime, segundo a legislação brasileira em vigência, deve ser obedecida - obedecer as leis não é uma opção e sim um DEVER;
- a Constituição Federal estabelece que provas adquiridas por meios ilícitos não são válidas;
- até o presento momento, não existe provas ou mesmo indícios de que as conversas são autênticas, podem ter sido forjadas;
- ainda que não fosse crime violar, roubar, conversar privadas, ainda que as conversas sejam autênticas, o conteúdo das mesmas não apresenta nada que possa indicar que ocorrem fraudes no processo que condenou o ladrão Lula e outros bandidos.
O processo do triplex se destacar por ser o processo mais analisado do Brasil, quiçá do mundo - todas as instância do Judiciário comprovam que tudo transcorreu dentro da legalidade.]
[destaque necessário: FATOS:
- violar sigilo telefônico e de comunicações telemáticas é crime, segundo a legislação brasileira em vigência, deve ser obedecida - obedecer as leis não é uma opção e sim um DEVER;
- a Constituição Federal estabelece que provas adquiridas por meios ilícitos não são válidas;
- até o presento momento, não existe provas ou mesmo indícios de que as conversas são autênticas, podem ter sido forjadas;
- ainda que não fosse crime violar, roubar, conversar privadas, ainda que as conversas sejam autênticas, o conteúdo das mesmas não apresenta nada que possa indicar que ocorrem fraudes no processo que condenou o ladrão Lula e outros bandidos.
O processo do triplex se destacar por ser o processo mais analisado do Brasil, quiçá do mundo - todas as instância do Judiciário comprovam que tudo transcorreu dentro da legalidade.]
Governantes inventam (e fingem que acreditam) coisas incríveis. O
governo petista e seu comissariado desqualificavam o conteúdo das
colaborações de alguns de seus companheiros e cúmplices com a Lava Jato
de Sergio Moro denunciando a forma como os procuradores obtinham as
confissões (encarcerando os suspeitos). Em junho de 2015 a presidente
Dilma Rousseff disse: “Não respeito delator”. O autoengano petista custou o mandato a Dilma e a liberdade a Lula, bem como aos ex-ministros José Dirceu e Antonio Palocci.
Um ano depois da fala de Dilma, Sergio Moro lembrou a Deltan Dallagnol que a Lava Jato estava há “muito tempo sem operação”. (Dias depois foi para a rua a Operação Arquivo X.) Na mesma conversa, o
juiz ofereceu ao procurador o nome de uma “fonte séria” que “estaria
disposta a prestar a informação”. (Não devia ser séria porque oferecia
informações que não se materializaram sobre o filho de Lula. Além disso,
não topou falar.) À época não se sabia que o juiz Moro e o procurador
Dallagnol tinham tamanha fraternidade. Sabe-se agora, graças ao The
Intercept Brasil. Em 2015 autoenganavam-se empreiteiros e petistas. Hoje, quem acredita
(ou faz que acredita) que a forma apaga o conteúdo é o ministro Moro.
Em novembro de 1971 a filósofa Hannah Arendt publicou um artigo
intitulado “Mentindo na Política: Reflexões sobre os Papéis do
Pentágono” e nele cuidou do mecanismo do autoengano. Ela disse o
seguinte: “O autoengano pressupõe que a distinção entre a verdade e a falsidade,
entre a realidade e a fantasia, desaparece numa cabeça que se desligou
dos fatos. No campo político, onde o segredo e a dissimulação sempre
desempenharam um importante papel, o autoengano é o perigo por
excelência: o enganador autoenganado perde todos os contatos, não só com
seu público, mas com o mundo real”.
BALCÃO DA LANCHONETE
Frase colhida num balcão de lanchonete:
“Quando ele gravava, podia. Agora que grampearam ele, é crime”.
AUSTERIDADE
O filho de um alto morubixaba de Brasília resolveu viajar para o Rio.
Seu pai, avarento e austero, disse-lhe que fosse de ônibus.
Ele foi, seguido pelo carro dos seguranças.
ORDEM NO PALÁCIO
Alguém precisa avisar ao presidente Bolsonaro que não deve receber
quadros do segundo escalão do governo sem o conhecimento dos ministros a
quem eles são subordinados.
Às vezes isso é feito em nome de velhas amizades, mas o amigo pensa que está com a bola cheia e acaba segurando fio desencapado.
BOLO SEM CEREJA
A saída do regime de capitalização do projeto de reforma da Previdência tirou a cereja do bolo que a banca ajudou a assar.
Ela continuará apoiando a reforma, mas chorará em segredo. Até mesmo porque é duvidoso que a mutilação tenha sido uma boa ideia.
RECORDAR É VIVER
Nos 30 anos da repressão aos estudantes que estavam na praça da Paz
Celestial, os organizadores das manifestações de Hong Kong deverão
calibrar a radicalização de suas palavras de ordem.
oje sabe-se que Deng Xiaoping decidiu acabar com o acampamento e
reorientar o governo em abril. Os estudantes acharam que tinham pista
livre e radicalizaram. Em maio Deng chamou a tropa e deu sinais de que
derrubaria. Em junho baixou o chanfalho.
Na política chinesa, três meses equivalem a uma fração de segundos em outras terras.
CONTA DA PETROBRAS
Vem aí uma conta pesada para a Petrobras. Assim como fizeram, com
sucesso, os investidores americanos, alguns fundos brasileiros
prejudicados pelas malfeitorias ocorridas na Petrobras, querem ser
indenizados.
Por enquanto, a conta (parcial) está em R$ 58 bilhões.
A burocracia da empresa e a União empurram o caso com a barriga e hoje
há uma disputa para se saber se o processo deve ser submetido à Câmara
de Arbitragem ou mandado para a Justiça. O caso está no Superior
Tribunal de Justiça (STJ), onde a relatora Nancy Andrighi já se decidiu
pela arbitragem. Se essa tese prosperar a sentença pode sair ainda neste
ano.
Elio Gaspari, jornalista - O Globo - Folha de S. Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário