Demétrio Magnoli
Há um projeto subversivo em curso, de ruptura da ordem democrática
[Excelente artigo;
Cabe algumas considerações:
o plano de ruptura democrática existe, só que não é do presidente Bolsonaro, e sim, da esquerda - que desde 1917 tenta, repetiu em 35, 64 e sempre fracassou e fracassará em mais esta tentativa - se ousar, tentar executar.
NINGUÉM tenta um 'plano de ruptura democrática' com fundamento na Constituição Federal, assim o que o presidente Bolsonaro cogita é de, se forçado pelos golpistas, usar os recursos que o artigo 142 da CF fornece - recursos que também estão disponíveis aos chefes dos demais Poderes da República.
Quem promoveu modificações na forma de emprego das FF AA, via artigo 142 da CF, foi o ex-presidente FHC, em 99, via Lei Complementar 97, inclusive estabelecendo que o emprego das FF AA a pedido dos Poderes Judiciário e Legislativo deverá ser apresentado ao presidente da República, que decidirá em consonância com diretrizes estabelecidas pelo Chefe do Poder Executivo.]
A liberdade de manifestação pacífica é um dos pilares constitucionais da ordem democrática. O artigo 142 não constitui licença para derrubá-lo. Na hipótese de eclosões de violência em manifestações públicas, a lei permite o recurso à polícia, não aos soldados. Nos meses quentes que antecederam o impeachment, a extrema-direita evocava o artigo 142 para pregar uma “intervenção militar constitucional”. Hoje, o presidente atualiza aquele discurso, explicitando sua meta política.
No Chile, Sebastián Piñera convocou os militares para reprimir manifestantes, rompendo um tabu estabelecido no fim da ditadura de Augusto Pinochet. Tudo que conseguiu foi uma derrota humilhante. No fim, desculpou-se perante os cidadãos, suspendeu o toque de recolher, reformou seu governo e ofereceu um novo pacto social. Bolsonaro aposta no caos. De fato, está dizendo que, ao contrário de Piñera, provocaria um desenlace diferente: a história — de 1964, de 1973 — repetida.
Merece exame a ensaiada coreografia da operação. Segundo a história oficial, um sujeito indeterminado postou o vídeo, que Bolsonaro removeu, desculpando-se com o STF. Na sequência, Carlos, o 02, atribuiu a postagem ao próprio presidente, enquanto Filipe Martins, o assessor internacional, reiterava seu conteúdo: “o establishment não gosta de se ver retratado, mas é o que ele é — um punhado de hienas”. Tradução: o “leão” expressava sua convicção profunda, alertando os seus para o perigo — mas, sitiado pelas “hienas”, foi obrigado a recuar. Moral da história: sem a ruptura, as “hienas” triunfarão.
O populismo nasce dentro da democracia, mas a envenena aos poucos, corroendo as instituições que a protegem, até instalar um “autoritarismo eletivo”. A dinâmica — tão clara na Rússia, na Turquia, na Hungria e na Venezuela — não se aplica ao bolsonaro-olavismo. Por aqui, a seita extremista que forma o núcleo do governo sonha com uma cisão radical: a “história repetida”.
“Acho que vira a página”, sugeriu Hamilton Mourão. O vice simula não entender que essa “página” nunca vira. A subversão da democracia, a conclamação à anarquia militar, é o único e verdadeiro programa de governo de Bolsonaro.
Demetrio Magnoli, jornalista - Opinião - O Globo
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