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terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

Voz que autorizou entrada de acusado de matar Marielle em condomínio não é de porteiro que citou Bolsonaro, diz perícia


Vera Araújo - O Globo

Laudo obtido pelo GLOBO atesta que áudio não sofreu qualquer edição, e que Ronnie Lessa autorizou a entrada do outro acusado no condomínio

Laudo da Polícia Civil obtido pelo GLOBO concluiu que a voz do porteiro que efetivamente liberou a entrada do ex-PM Élcio de Queiroz no condomínio Vivendas da Barra, no dia do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, não é a do funcionário que mencionou o presidente Jair Bolsonaro aos investigadores da Delegacia de Homicídios (DH). O documento, assinado por seis peritos, também atesta que o áudio da portaria não sofreu qualquer tipo de edição e que a pessoa que autorizou a entrada de Élcio no condomínio foi o policial reformado Ronnie Lessa. Tanto Élcio quanto Lessa estão presos sob a acusação de terem cometido o crime.

Aentrada do Condomínio Vivendas da Barra, onde morava o PM reformado Ronnie Lessa, que está preso sob acusação de ter atirado em Marielle Foto: Pablo Jacob / Agência O GLOBO
A entrada do Condomínio Vivendas da Barra, onde morava o PM reformado Ronnie Lessa, que está preso sob acusação de ter atirado em Marielle Foto: Pablo Jacob / Agência O GLOBO


Em depoimento, no ano passado, um dos porteiros disse que Bolsonaro havia liberado a entrada de Élcio no condomínio. Depois, ele voltou atrás. Agora, a perícia no áudio da portaria, iniciada em 13 de janeiro deste ano, confirmou que foi um outro funcionário que interfonou para Lessa, morador do condomínio e vizinho de Bolsonaro. O crime aconteceu em 14 de março de 2018, por volta das 21h15. A gravação foi feita no mesmo dia, às 17h07m42s, portanto, quatro horas antes da execução.

Nos depoimentos que prestou nos dias 7 e 9 de outubro do ano passado, o porteiro pivô do caso relatou que “Seu Jair”, referindo-se a Bolsonaro, havia autorizado a entrada de Élcio no dia do assassinato. Ele também contou à polícia que o ex-PM havia pedido para ir à casa número 58, onde vivia o então deputado federal e atual presidente da República. Bolsonaro, no entanto, se encontrava em Brasília no dia, como mostrou a TV Globo.

MP também fez análise
Antes de o laudo da Polícia Civil ser produzido, o Ministério Público (MP) do Rio, num exame na gravação feito pelo próprio órgão, no dia 30 de outubro, já afirmava que a autorização para a entrada de Élcio no Vivendas da Barra fora dada por Lessa, e não por Bolsonaro. Em 4 de novembro, o colunista Lauro Jardim publicou que a Polícia Civil já sabia que o porteiro que prestara depoimento não era o mesmo que liberara a entrada de Élcio. Isso agora foi confirmado pela perícia.

Há outra diferença importante entre os dois exames técnicos. A gravação do sistema de comunicação do Vivendas da Barra analisada pelo MP foi cedida pelo síndico. Já a análise da Polícia Civil se deu sobre material apreendido na portaria do local pelos agentes após o caso vir à tona.  O porteiro pivô do caso já havia recuado, após a divulgação da análise do MP. Em depoimento à Polícia Federal, em 19 de novembro, ele disse que cometeu um erro ao anotar na planilha do condomínio que Élcio pretendia visitar a casa 58, número da residência de Bolsonaro, em vez de casa 65, onde Lessa vivia. O porteiro alegou que se equivocou. O resultado do laudo reforça suspeitas de investigadores de que o porteiro que citou Bolsonaro pode ter agido a mando de terceiros. [hipótese absurda, já que o mais idiota dos homo sapiens -  até a 'engarrafadora de vento' - sequer pensariam em usar tal manobra, pelo simples motivo de que estando Bolsonaro, então deputado federal, em Brasília, teria a atestar de forma incontestável sua presença no DF - como ocorreu, apesar de desnecessário - a Câmara dos Deputados.]

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Quatro estavam de plantão
Quando a gravação foi feita, havia quatro porteiros de serviço no turno da tarde no condomínio, inclusive o que citou Bolsonaro. As vozes dos quatro foram comparadas com o áudio analisado pela perícia do ICCE.
O ponto crucial da perícia se dá em uma conversa rápida, de poucos segundos, entre os interlocutores identificados como VM1 (voz masculina 1) e VM2 (voz masculina 2). Os peritos apontam “limitações na quantidade de material examinado”, mas afirmam que, a partir de análises acústica e biométrica, qualidades que são observadas para identificar as vozes durante o exame, o áudio questionado “possui características convergentes com a fala padrão coletada pelo porteiro Z, mais do que qualquer dos outros porteiros analisados”. Trata-se de outro porteiro de plantão e não aquele que mencionou o presidente em depoimento.
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A fala do porteiro que liberou a entrada de Élcio no condomínio dura seis segundos. De acordo com a transcrição da gravação, a pessoa que fala com Lessa segue o procedimento estabelecido pelas normas do condomínio para o acesso de visitantes. O porteiro (identificado como VM1) disca para a casa do morador — no caso, Lessa —, que atende:
VM2 (voz masculina 2): “Pronto.”
VM1 (voz masculina 1): “Portaria, boa-tarde.”
VM2: “Boa-tarde.”
VM1: “É o senhor Elson (Élcio).”
VM2: “Tá, pode liberar aí.”
VM1: “Tá okay.”
VM2: “Valeu”.
O laudo explica que o dono da voz masculina 2, Lessa, não se identifica. No entanto, os peritos analisam que, quando ele fala a expressão “pronto”, percebe-se rispidez no trato com o porteiro. O tempo da fala do acusado do assassinato de Marielle dura apenas três segundos e, segundo o exame, “não permite uma avaliação mais abrangente de suas características fonológicas e linguísticas”, como é feita com a voz do porteiro.

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Em O Globo, MATÉRIA COMPLETA

[atualizando: apesar do valor exagerado dado ao diálogo, a única serventia dele é  reforçar que  o porteiro que depôs dizendo ter sido a autorização dada pelo então deputado Bolsonaro - em posterior depoimento, voltou atrás, - ou estava mentindo ou é enrolado.

Lessa e Élcio estão presos por outros crimes - contrabando de fuzis, já que as suspeitas contra eles no tocante à morte da vereadora não são suficientes para sustentar uma prisão preventiva.]






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