JR Guzzo
Sessão "presencial"
De volta às atividades para mais um ano legislativo, e agora sob nova gerência, a Câmara do Deputados dá a impressão de que vai examinar – pelo menos examinar – a possibilidade de reabrir o estabelecimento para sessões “presenciais”, a palavra da moda para definir se alguma coisa está sendo feita de verdade ou não. Uma reunião “presencial”, por exemplo, é uma reunião que realmente acontece, com a presença de seres humanos. Uma reunião “não presencial” pode ser qualquer coisa. Em geral não é nada: não requer a presença de pessoas de carne e osso, e tem funcionado desde o início da epidemia de covid como um excelente recurso para a simulação de atividade.
Sob a nova direção de Arthur Lira (PP-AL), Câmara dos Deputados discute a retomada das sessões presenciais apesar da pandemia de Covid-19. Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados
A Câmara, e mais um monte de gente, está sem trabalho “presencial" há quase um ano; os senhores deputados estiveram entre os primeiros brasileiros a fugir do serviço e se converter à religião do “#fique em casa”. Mantiveram intactos, é óbvio, os seus salários, benefícios, passagens aéreas, apartamentos “de função”, funcionários dos gabinetes, carros, motoristas e cada tostão que o regulamento permite. Em troca, vão de vez em quando para a frente do computador e ali apertam uma tecla qualquer para
cumprir com suas obrigações parlamentares. [sobre a religião do "#fique em casa", não podemos deixar de citar outra categoria fervorosa = professores.
Grande parte dos professores do estado do Joãozinho, após quase um ano de cumprimento integral da política do não comparecimento às escolas, (ficar em casa é outra coisa, afinal com o advento dos celulares, dar aula virtual é possível de qualquer ponto do Brasil.)se declarou em greve para não voltar ao trabalho presencial, real. Tais indivíduos integram a categoria dos
professores mercenários.
Temos duas categorias de professores: - os mercenários = aqueles que são professores, ou estão, apenas pelo salário que, convenhamos, já foi melhor. Permanecem na profissão com um único objetivo = uma aposentadoria mais favorável.
- Felizmente, grande parte dos professores são os DEDICADOS, os que tem vocação para ensinar e que honram a máxima: PROFESSOR, a PROFISSÃO QUE FORMA TODAS AS OUTRAS. Que pode ser sintetizada: A profissão de professor é a mais importante de todas, porque ele forma do médico ao engenheiro, passando pelos cientistas, nenhuma atividade é tão essencial a uma sociedade como a educação. É por isso também que o professor tem de ser cada vez mais valorizado e respeitado como um mestre.
Estes, obviamente, trabalham por um salário, necessidade presente, mas são movidos principalmente pela dedicação e amor pela arte de ensinar.Estes, em sua maioria, até durante a pandemia, tentaram reduzir os efeitos maléficos da absurdo fecha tudo.]
Parece estar em discussão, agora, uma proposta para a Câmara voltar às sessões "presenciais”, ou seja, voltar ao trabalho. Nem é preciso dizer que a ideia foi recebida a pedradas por deputados que militam na "Confederação Nacional da Quarentena pelo Tempo que for Necessário". Segundo eles, não haveria condições de garantir a “segurança sanitária” de suas excelências. É mais uma prova, entre tantas que aparecem na vida diária, do sistema de castas que governa este país de forma cada vez mais absoluta – para quem está em cima, como os deputados, tudo, sempre; para quem está em baixo, como 90% da população, nada, nunca.
A mensagem dos deputados que exigem “sessões virtuais” para si próprios – e de todos os mandarins que pensam como eles – é a seguinte: quem tem de trabalhar que vá para o diabo que o carregue. Eles que se virem e continuem trabalhando dia e noite para garantir o nosso delivery.
Talvez seja melhor, para o seu próprio bem, que os senhores deputados e congêneres não continuem mais muito tempo fora do trabalho. Já não aparecem no local de serviço há um ano. Se quiserem ficar em casa mais um ou dois, ou sabe-se lá quantos, vão deixar o público se acostumar de vez com a sua ausência. Não é uma boa ideia.
JR Guzzo, jornalista - Gazeta do Povo - VOZES
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