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domingo, 28 de abril de 2019

Interferência inadmissível [general Felício]

Olavo de Carvalho, ex-comunista, ataca militares no governo 

Os interesses da nação estão muito acima dos interesses de um indivíduo ou de qualquer grupo, independentemente de laços de sangue ou de qualquer outra natureza. Há que se enfatizar que a moral (comportamentos e valores) do Estado é diferente da moral do indivíduo. A começar que, entre Estados, não existe amizade, apenas interesses.

Os antagonismos e obstáculos internos, que ameaçam tais interesses, não podem ser tolerados. Há que se cortar na própria carne se assim se fizer necessário. Principalmente se ocorrem sob grave crise sociopolítica e econômica, ética, moral e cívica, como a que cobre o Brasil. E, ao se cortar, não se pode deixar dúvidas a serem exploradas pela negativa oposição. A reação de parcela da população brasileira para confrontar tal crise desesperadora foi eleger um candidato que, patriota e defendendo valores conservadores, se apresentou como capaz de resgatar o governo e recolocar o país nos trilhos: Jair Bolsonaro.

Eleito, iniciou a reação esperada, montando ministério capaz, apoiado em militares e civis, patriotas e competentes. O sr. Paulo Guedes é exemplo notável de competência e amor ao Brasil. Tem um vice-presidente experiente, inteligente, preparado, com grande liderança nas Forças Armadas, que complementa a força da popularidade do presidente. O vice é barreira que o presidente deve ter para que não se exponha a qualquer hora, a cada esquina, como, por vezes, tem ocorrido, a perguntas e críticas extemporâneas, queimando sua imagem, o “mito”, construída a duras penas. É o vice o filtro e termômetro de situações que surgem a cada momento, próprias de um governo com acirrada oposição, e que devem ser neutralizadas na origem, sem atingir a figura do presidente.

Entretanto, esse tem permitido o protagonismo de seus filhos, fontes de crises, pois não agregadores, e de alguém que tem sido apresentado como o verdadeiro orientador político dos Bolsonaros, Olavo de Carvalho. Estes, segundo a imprensa, têm influído na tumultuada dança de cadeiras ministeriais. Agora, voltam-se para comprometer, auxiliando a esquerda nefasta, um dos pilares do governo que mal começou: a união entre presidente e vice-presidente. O que querem esses irresponsáveis? A derrocada do governo Bolsonaro?
O sr. Olavo, ex-comunista, arrogante e autoritário, “dono da verdade”, com discurso desabrido e, por vezes, chulo, ataca os militares no governo e, principalmente, o vice-presidente. Em seu último vídeo, apela para a desqualificação intelectual e moral dos militares ministros, e dos militares em geral, prática marxista-leninista. Ministros militares reconhecidos pelo desempenho, com total sucesso, em difíceis e duras missões internacionais.
À afirmação do sr. Olavo de que a Academia Militar nada produz, respondo que as Forças Armadas sempre estiveram presentes nos momentos de grandes inflexões históricas da nação. Os produtos da Academia são muitos, entre eles homens íntegros e preparados, patriotas, cujo partido é o Brasil. São forjados, prioritariamente, como administradores do caos, isto é, do combate. Porém, têm os conhecimentos essenciais que lhes permitem atuar politicamente quando necessário. Não se fazem de pseudointelectuais, difundindo ideias estapafúrdias que iludem os incautos, buscando interesses rasteiros.

Como exemplos de produtos da Academia, cito os atuais ministros general Santos Cruz, comandante das tropas da ONU no Haiti e comandante da primeira tropa de combate da ONU no Congo, reconhecido pela ONU e por oficiais estrangeiros como líder e possuidor de grande visão política e estratégica; e general Augusto Heleno Pereira, comandante das Forças da ONU no Haiti, sendo reconhecido, também, pela liderança e inteligência, e escolhido pelo grupo O Globo, em 2005, como expoente militar do ano.

Não se pode aceitar, com o país ainda em grave crise, com dificuldades em realizar as profundas e variadas reformas de que o Estado necessita, que atitudes irresponsáveis, de pessoas chegadas ao governo e ao presidente, criem crises continuadas a partir de animosidades aparentes ou de atritos menores, fazendo com que o presidente perca apoio popular, seu grande cacife, e, assim, facilite o trabalho da oposição esquerdista, ferrenha, infiltrada e encastelada nos Poderes do Estado.

Para tal oposição, sem pensar no Brasil e na nação, quanto pior, melhor!

Brasil acima de tudo! Deus acima de todos!


Marco Antônio Felício é General do Exército  - O Tempo

 [em seu brilhante artigo o General Felicio deixa claro que ou Bolsonaro impõe a seus filhos a diferença entre o Bolsonaro presidente e o Bolsonaro pai - diferença que DEVE ser respeitada - e expulsa, neutraliza, escarra Olavo de Carvalho ou o próprio Bolsonaro vai alimentar a turma maldita do 'quanto pior, melhor'.

Se percebe que até o cão raivoso, o presidiário petista, mesmo encarcerado, tenta fazer seus latidos serem ouvidos.]


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sábado, 6 de abril de 2019

Militares tentam mudar estilo Bolsonaro

"A gente chega e diz: 'Pô, Mourão, falou demais! (...)'. Ele reconhece, e acabou. (...) O mesmo acontece quando um de nós escorrega", diz Heleno

Quando a troca de farpas entre os presidentes da República, Jair Bolsonaro (PSL), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), ameaçou a reforma da Previdência antes mesmo de começar sua tramitação, o estado de alerta no núcleo de militares reformados que trabalha no Palácio do Planalto subiu de patamar. Não foi a primeira vez. A diferença agora é que os assessores que convivem diariamente com o presidente não têm mais dúvidas de que Bolsonaro tem causado danos a si e ao governo com seu hábito de atuar fazendo "guerrilhas". Para eles, a maneira "intempestiva" de agir, que teria origem em seu temperamento e em sua formação política, virou fonte de preocupação e de problemas cotidianos, o que põe em risco o projeto de desenvolvimento do país e a retomada do crescimento.
Os militares dizem ser essencial o presidente desistir da "prática que se mostrou exitosa na campanha eleitoral", considerando que o governo já completará cem dias na quarta-feira. O chefe da nação, ponderam, deveria promover a conciliação e a tolerância. Mas Bolsonaro mantém em pleno funcionamento sua fábrica de produzir polêmicas em série. Fontes do Planalto afirmam que o presidente não se abalou nem com o último levantamento do Ibope, divulgado no dia 20, registrando uma queda de 15 pontos em sua aprovação. Como ele demonstra desconfiança sobre a veracidade das pesquisas de opinião, segue a estratégia de agradar sua base de eleitores fiéis, que sustentam sua penetração popular.
Com a leitura de que o cenário é nebuloso, o grupo de assessores da Presidência teve muitas conversas com Bolsonaro nos últimos dias. Todos tentaram alertá-lo sobre o impacto de seu método mercurial. Dentro dos limites da hierarquia, em encontros individuais ou com vários presentes, recomendaram que o presidente mudasse seu estilo. Nessas reuniões, o presidente mostrou-se maleável e receptivo, mas voltou atrás. "Quando isso acontece, o estrago já foi feito", diz um desses assessores. Sua expectativa, entretanto, é que a última investida do núcleo militar surta efeito no gerenciamento do humor presidencial.
As ações em grupo dos militares reformados que estão na "cozinha do Planalto", definição usada para identificar os assessores mais próximos ao presidente da República, vêm sendo uma das mais fortes marcas desses cem dias de governo. Há pouco mais de uma semana, depois de dois meses de comentários do escritor Olavo de Carvalho contra esse núcleo no Twitter, o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Carlos Alberto dos Santos Cruz, respondeu. General de Divisão reformado, gaúcho, nascido em Rio Grande, de 67 anos, Santos Cruz comandou 12 mil homens no Haiti e outros 23 mil no Congo, em missões de Paz da Organização das Nações Unidas (ONU).
Em entrevista ao jornal "Folha de S.Paulo", o ministro qualificou Carvalho de "desequilibrado". Espécie de guru de Bolsonaro, Olavo de Carvalho é um dos responsáveis, por exemplo, pelas nomeações de dois ministros: Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e Ricardo Vélez Rodríguez (Educação), ambos da ala "ideológica" do governo.
Os colegas do núcleo militar no Planalto dizem que Santos Cruz não "atirou em Carvalho para matar". Teria sido "um disparo de aviso", desses que os soldados dão aos inimigos para lembrar que o território está protegido e tem dono. Não teria agido em defesa própria, mas da corporação que ele representa e do grupo que reúne outros três graduados militares na "cozinha do Planalto", além do vice-presidente da República, o general de Exército na reserva Hamilton Mourão, a quem Carvalho chamara de "idiota". No começo desta semana, Carvalho deu a tréplica: "Ele [Santos Cruz] simplesmente não presta".

A estratégia dos militares da "cozinha do Planalto" não se explica nas ciências políticas. Admiradores das histórias da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) vão encontrar suas táticas de ação no livro "Band of Brothers", escrito por Stephen E. Ambrose (1936-2002) e adaptado para uma série de TV, com produção de Tom Hanks e Steven Spielberg.
Ambrose descreve a trajetória da companhia E (Easy Company) do 2º Batalhão do 506 Regimento de Infantaria Paraquedista, que participou da invasão dos aliados à Normandia no Dia D, em 1944, data que deu início à derrocada do nazismo. As tropas precisavam vencer a guerra, mas, acima de tudo, deviam proteção ao companheiro de trincheira que lutava ao lado. Os senhores grisalhos que despacham no Palácio do Planalto se tratam como uma irmandade. "Há 40 anos nos conhecemos e não fomos criados em ambientes de fofocas. Nossas divergências são tratadas numa discussão. Cada um diz o que pensa - e acabou. Não existem disputas ou briguinhas por picuinhas", diz Augusto Heleno Ribeiro Pereira, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).
Todos eles entraram adolescentes na Escola Militar das Agulhas Negras, como cadetes. Saíram aspirantes a oficial, dando início a uma longa carreira até chegarem a generais. Os mais velhos foram instrutores dos mais novos. Há rivalidades e divergências, mas, se entrarem em guerra contra terceiros, vão se proteger e se defender. Foi o que fez Santos Cruz no episódio com Carvalho.
A defesa de Mourão feita pelo ministro não significa unanimidade a respeito da personalidade pró-ativa e loquaz do vice-presidente. Suas declarações corriqueiras muitas vezes também são fonte de problemas. Principalmente quando ele manifesta opiniões opostas às do presidente. "Aí, a gente chega e diz: 'Pô, Mourão, falou demais! Para com isso'. Ele reconhece, e acabou. É uma questão entre nós. O mesmo acontece quando um de nós escorrega", diz Heleno.
Diante dos atritos promovidos pelo presidente, Mourão, alinhado com o seu grupo militar no Planalto, tem dado outra dimensão ao cargo de vice-presidente. Na semana passada, por exemplo, atuou para mitigar os efeitos colaterais da fricção entre Bolsonaro e Maia, que se refletiu numa movimentação negativa nos mercados. Em um evento na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), na capital paulista, Mourão reafirmou os compromissos do governo com a retomada do crescimento e a estabilidade. Sua mensagem foi clara: o presidente e seus auxiliares farão de tudo para aprovar a reforma da Previdência e tentar tirar a palidez econômica do país. Naquele momento, ele não pretendia explicar o que acontecia no Palácio do Planalto.
Sua participação foi preparada em detalhes com o auxílio de outro general de Exército reformado, Gabriel Esper. Além de assessor de Paulo Skaf, presidente da Fiesp, Esper é amigo de Heleno, de quem foi colega de turma. Mourão fez uma palestra e à noite participou de um jantar com um grupo menor de empresários na casa de Skaf. "Temos que ver o governo como um filme, e não como uma fotografia. O ministro Paulo Guedes [Economia] e o presidente sabem que estão na direção certa e vão se manter nesse rumo", diz José Ricardo Roriz Coelho, presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast).
Outros empresários também saíram do jantar com Mourão e de encontros com Bolsonaro e Guedes, em Brasília, mais tranquilos. Um deles, que prefere não se identificar, chegou a dizer que a crise, vista de São Paulo, parecia mais ameaçadora do que constatou na capital federal. "Fui achando que a coisa tinha desandado, mas não. Ainda estou confiante." Enquanto Mourão e Guedes atuaram junto ao público externo, o quarto general do grupo, o ministro da Secretaria Geral, Floriano Peixoto, tentava organizar a casa com a participação de Heleno e Santos Cruz. Ele substituiu Gustavo Bebianno, que foi demitido do cargo em fevereiro. Trata-se do oitavo militar na Esplanada. Ao todo, 36% dos ministros são das Forças Armadas.
Mais antigo na carreira e, embora rejeite a qualificação, mais influente assessor de Bolsonaro, Heleno é praticamente uma unanimidade entre seus pares. Aos 72 anos, casado, pai de dois filhos e avô de três netos, fez uma trajetória brilhante e chegou a general de Exército, segundo seus colegas, consagrado por sua visão estratégica e sua capacidade de comando.
Formou-se em primeiro lugar nas academias que frequentou, um mérito que, segundo ele, nunca teria sido alcançado não fosse sua mãe, dona Edina. Ela não admitia a hipótese de o filho único ser o segundo ou terceiro da turma. Na montagem inicial do governo, Heleno, que se dedica compulsivamente ao trabalho, seria o ministro da Defesa. Pouco antes da posse, Bolsonaro preferiu que ele ficasse no Palácio do Planalto e o nomeou chefe do GSI.

Na função que inclui a responsabilidade pela segurança do presidente, é difícil encontrar Heleno, no Brasil ou no exterior, longe do chefe. Na garagem do Palácio do Planalto, de segunda a sexta-feira, às 8h, como manda o protocolo, Heleno, o porta-voz da Presidência, Otávio Santana do Rêgo Barros, o chefe do cerimonial, Carlos Alberto Franco França e dois assessores do gabinete presidencial que acompanham Bolsonaro há tempos, também remanescentes de organizações militares, recebem o presidente.
A reunião das 9h, uma tradição que remonta ao tempo dos presidentes militares, agora começa às 8h, com um relato do noticiário e uma descrição da agenda do dia. Cabe ao general Rêgo Barros, de 59 anos, um dos mais jovens e ainda na ativa, descrever o que foi escrito e publicado nas últimas horas. Normalmente, o presidente não gosta do que ouve e lê na mídia. Prefere a "comunicação direta" das redes sociais e das "lives" que faz semanalmente. Assim como alguns dos mais próximos da Presidência, Bolsonaro considera que a mídia faz oposição ao seu governo e que os jornalistas, em maioria, são ideologicamente de esquerda.

A comunicação social continua sendo um dos pontos mais sensíveis da atual gestão. Antes de Rêgo Barros assumir o cargo, não havia um profissional para falar oficialmente em nome do governo. Ao mesmo tempo, não havia coordenação para a comunicação de assessores e ministros. A avaliação é que Rêgo Barros, um general com personalidade de "monge budista", atenuou um pouco essa tensão. Ele chegou com a benção do ex-comandante do Exército Eduardo Villas Bôas, com quem trabalhara chefiando o Centro de Comunicação Social do Exército (CCComsex). Contou também com o aval de Heleno, a quem Villas Bôas passou a assessorar. Aos 67 anos, VB, como é conhecido, é visto como um dos mais influentes líderes da Força nas últimas décadas.
"Nos próximos dias vamos anunciar o plano de comunicação do governo", diz Santos Cruz. Desde antes da posse, ele e sua equipe se debruçam sobre os contratos de publicidade, tentam administrar a Empresa Brasileira de Comunicação (EBC) e respondem pelo Programa de Parcerias e Investimentos (PPI). "Dizem que o governo tem poucas realizações para mostrar neste curto período. Como poucas?", pergunta. Cita como exemplos de trabalhos do Executivo os projetos da reforma da Previdência e da Segurança, este capitaneado por Sérgio Moro, ministro da Justiça e Segurança Pública. "Não são pouca coisa", afirma Santos Cruz.
Ao comparar duas de suas missões mais conhecidas, a de ministro e a de comandante de tropas no Congo, diz que cada lugar tem suas peculiaridades. Admite, porém, que em um confronto aberto há uma vantagem: "Quase sempre se sabe de onde vem os disparos. No governo, nem sempre". Às terças-feiras, os 22 integrantes do primeiro escalão se reúnem com Bolsonaro. Quase sempre um deles faz uma palestra sobre um tema específico. Depois das explanações, podem ser feitas perguntas inscritas previamente com o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM). Responsável pela máquina administrativa do governo e pela coordenação política, Onyx, que preferiu não conceder entrevista ao Valor, viu seu poder ser fatiado pelos militares.
Com uma coordenação política falha e com o projeto de agradar a seus eleitores, Bolsonaro passou a atacar os parlamentares, fazendo uma distinção entre "velha política" e "nova política". Em seu discurso, a "velha política" é apresentada como uma usina de mazelas. Já a "nova política" é um poço de virtudes. "Falta clareza institucional ao papel do presidente da República", diz Carlos Melo, cientista político e professor do Insper. Sua análise é similar à de assessores presidenciais ouvidos pelo Valor. "Bolsonaro ignora o papel de arbitragem, de ser o último a falar e de aglutinar." O resultado, diz Melo, é uma falta de clareza na sociedade e no Congresso Nacional sobre o que pensa e deseja o presidente. "Ele cria uma tensão improdutiva e desnecessária, perde o foco do que é importante. A política é a arte de agregar, não de dividir", afirma o cientista político.
O confronto entre grupos nitidamente definidos é permanente no governo. Há a turma dos "ideológicos", formada por Ernesto Araújo, Damares Alves (ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos) e Vélez Rodríguez. A eles se juntam os filhos do presidente, em especial o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e o vereador Carlos Bolsonaro (PSL-RJ). Eles têm uma trincheira própria e, com apoio de Olavo de Carvalho, enfrentam os militares e respondem por muitas das controvérsias do Planalto. "Eles são do grupo obscurantismo ostentação", diz o deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP), referindo-se à agenda conservadora que eles pregam.
O processo de desgaste de Vélez Rodríguez à frente do Ministério da Educação ganhou força após Bolsonaro admitir que as coisas "não estão dando certo" no MEC. Para dar um rumo à pasta, o presidente nomeou o tenente-brigadeiro Ricardo Machado Vieira como secretário-executivo da pasta. Fontes do Planalto dizem que, apesar de ser o segundo na hierarquia, ele deve ser o responsável pelo funcionamento da engrenagem, de fato. Com a indicação de Machado Vieira, Bolsonaro repetiu, em outros moldes, a fórmula que usa no governo. Também patrocinado por Carvalho e endossado pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro, Ernesto Araújo, num primeiro momento, causou boa impressão em diferentes setores do governo. À medida que Araújo explicitava suas ideias, porém, passou a deixar o núcleo militar preocupado. Com o aval do presidente, a área também passou a ser supervisionada por eles.
Nesta semana, projetos da área da política externa ajudaram a engrossar o caldo do último embate entre o núcleo militar, olavistas e filhos do presidente. O Valor apurou que Bolsonaro já havia sido convencido de que, em sua visita a oficial a Israel, deveria abandonar a proposta de mudar a embaixada do Brasil, no país, de Tel Aviv para Jerusalém. A polêmica mudança é considerada improdutiva pela diplomacia brasileira. A visão de muitos no Itamaraty é a de que ela serviria para agradar ao eleitorado bolsonarista evangélico e para ajudar politicamente o premiê Binyamin Netanyahu, que disputa uma difícil reeleição marcada para terça-feira. Na véspera do desembarque de Bolsonaro, chegou-se a uma solução, anunciada no voo: a embaixada do Brasil ficaria onde está, mas o governo abriria um escritório de negócios em Jerusalém. Ninguém gostou. Netanyahu esperava a mudança, e a Autoridade Palestina condenou "nos termos mais fortes" a decisão brasileira. O desagrado, temem alguns militares e parte da equipe econômica, logo se refletirá nas exportações de carne que têm no mercado árabe o maior comprador.
Por Monica Gugliano,  Eu & Fim de Semana  -  Valor Econômico
 

quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

De Guerreiro@edu para Bolsonaro


Na Venezuela deveremos tirar a meia sem tirar o sapato, o Itamaraty fez isso com a Argentina e no Suriname 

Senhor presidente,
Fui empregado do Itamaraty durante 45 anos, seis dos quais como ministro das Relações Exteriores do general João Figueiredo (1979-1985). Ouvi o que o senhor disse em Davos, esperando que o governo da Venezuela "mude rapidamente". Por cá, tenho ouvido a mesma coisa, pois o presidente Nicolás Maduro arruinou o paísEscrevo-lhe para sugerir que nossa diplomacia trate a crise desse país com quem temos 2.000 quilômetros de fronteira seca tirando as meias sem tirar o sapato. Para as pessoas comuns isso parece impossível, mas no Itamaraty sabemos fazê-lo.

Tenho horror a falar de qualquer coisa, sobretudo de mim. Na Casa corre o chiste segundo o qual eu sou capaz de dormir durante meus próprios discursos. Costumo adormecer os outros, mas, mesmo acordado, falo pouco.  Quando sugiro que tiremos a meia sem tirar o sapato, lembro que a hostilidade verbal de seu governo em relação a Nicolás Maduro já foi explicitada. Nossas precauções devem se relacionar com o dia seguinte a uma eventual queda do bolivarianismo. O que advirá? Isso ninguém sabe. Tomara que não aconteça nada e que os venezuelanos resolvam a própria crise. [oportuno lembrar que na Guerra do Golfo, a do Bush pai, havia todas as condições para Saddam Hussein ser derrubado, só que havia dúvidas e muitas se o caos não se instalaria - apesar do seu governo sinistro, Saddam, era o equilibrio na região.

Óbvio que o filhote de Chavez é menos que nada quando comparado ao Saddam - que não valia nada - mas, sua queda de forma rápida trará problemas gravíssimos para toda a América do Sul, notadamente para o Brasil, cuja fronteira dificulta, melhor dizendo, impede qualquer controle dos venezuelanos que desesperados virão para o Brasil para dividir nossa miséria com a deles - que é maior que a nossa.

O Brasil com mais de 12.000.000 de desempregados não tem a menor condição de receber alguns milhões de venezuelanos famintos e desempregados.

E sempre os europeus que estão a milhares de quilômetros da fronteira Brasil x Venezuela, ou seja do problema,  estarão a pregar, a exigir, que o Brasil seja solidário e some nossas necessidades à miséria dos venezuelanos.

Maduro precisa ser excluído, neutralizado, mas, com uma boa análise (sem demorar demais na análise) de todas as implicações.]

Em 1965, o Brasil apoiou a intervenção militar americana na República Dominicana, mandou tropas para uma força multilateral de paz e chegou a comandá-la. Mesmo assim, veja a frequência com que se fala das nossas missões militares recentes no Haiti e no Congo.  Da República Dominicana, fala-se pouco. O que começou como uma operação destinada a evacuar cidadãos americanos transformou-se numa ocupação, e a tropa brasileira ficou por lá durante 18 meses. Até hoje a diplomacia americana discute o processo de decisão que levou o presidente Lyndon Johnson a invadir o país. De qualquer forma, a Dominicana fica a 2.000 quilômetros das nossas fronteiras.

O Itamaraty tirou a meia sem tirar o sapato em 1982, quando o general argentino Leopoldo Galtieri invadiu as ilhas Malvinas, ocupada pelos ingleses desde 1833. O general achava que os Estados Unidos ficariam neutros e a primeira-ministra inglesa, Margaret Thatcher, absorveria o golpe. Não aconteceu uma coisa nem a outra.
Se o Brasil apoiasse Galtieri seria sócio de uma aventura. Se apoiasse a Inglaterra, alimentaria um ressentimento que duraria gerações. Ficamos no fio da navalha, apoiando o direito argentino à posse da ilha e dissociando-nos da invasão. Lembro-me que o general Figueiredo foi a Washington e disse ao presidente Ronald Reagan que o Brasil não admitiria um ataque ao continente argentino. Ele não ocorreu, até porque não foi necessário.

Um ano depois do caso das Malvinas, pousou em Brasília um avião americano com o diretor da CIA, William Casey. Ele trazia um recado para Figueiredo: os Estados Unidos planejavam uma invasão do Suriname e queriam nosso apoio, inclusive com tropas.
O governo local era esquerdista, tinha ajuda cubana e perseguia a oposição. Conseguimos dissuadi-lo, dizendo-lhe que deixassem o Suriname por nossa conta. Figueiredo fez saber a Reagan que a condição de país limítrofe determinava que quaisquer efeitos negativos repercutiriam em primeiro lugar sobre nossos próprios interesses.

Nunca contei essa história, mas ela foi revelada no diário de Reagan. Outro dia reclamei com ele da indiscrição. Como ensinou o Barão do Rio Branco, diplomata não sai por aí cantando vitórias.  Perdoe-me a impertinência, mas o último presidente que pensou em mover tropas na nossa fronteira norte, para a Guiana Inglesa, foi Jânio Quadros.

Com meu profundo respeito
Ramiro Saraiva Guerreiro

Elio Gaspari - Folha de S. Paulo

 

sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

Ideias do ministro Santos Cruz

Santos Cruz quer “portas abertas” para a imprensa em seu gabinete e diz que a transparência é fundamental para se descobrir rápido casos de corrupção

O ministro Carlos Alberto dos Santos Cruz acha que houve uma falha geral da sociedade brasileira, inclusive da imprensa, que não viu em tempo os absurdos de corrupção que ocorreram no Brasil. Ele acredita que as instituições deveriam ter dado o alerta antes, diante de tantos sinais de que algo estava errado. Ele diz que da parte dele está preparado para manter diálogo franco com movimentos sociais, imprensa, políticos. Avisou que o governo vai punir tanto a invasão de propriedade do MST quanto o grileiro que ocupar terra pública.
Santos Cruz teve uma carreira impressionante no Exército, no Brasil e no exterior. Viveu oito anos fora do país, nos Estados Unidos, na Rússia, na África. Comandou na ONU forças de paz e tropas em ofensiva de guerra. Durante a operação militar no Congo, dava entrevistas frequentes para as grandes redes de televisão do mundo. Órfão desde muito cedo, e sem qualquer parente nas Forças Armadas, ele é a prova da capacidade de formação de quadros do Exército brasileiro. A escrivaninha e a mesa de trabalho do gabinete da Secretaria de Governo estavam ocupadas por papéis quando entrei lá para entrevistá-lo. Ele se entende naquele amontoado de pastas dos muitos assuntos que está estudando. Tem notado nas suas análises dos documentos muitos sinais de desperdício. É inevitável pensar que aquela mesma sala foi ocupada por Geddel Vieira Lima para quem, naquela quarta-feira, a Procuradoria-Geral da República havia pedido 80 anos de prisão.— Como ninguém viu? R$ 51 milhões circularam pelo país, foram sacados, transportados até chegar no apartamento. Como ninguém viu? — pergunta ele.
O fato de ter tido uma formação militar e estar agora num cargo de negociação com políticos e com a sociedade não o preocupa: — Não tem problema nenhum. Você tem princípios de educação, conversar com pessoas, escutar, ter consideração, princípios de vida que a gente utiliza em qualquer situação. Infelizmente, a prática política foi deturpada como um jogo de interesses.

Ele diz que o dia a dia dessa conversa com bancadas e partidos será exercido com a Casa Civil. Sob o seu comando está também a Secom, responsável pela comunicação. Ele não pensa no momento em fechar a EBC, Empresa Brasileira de Comunicação, que tem duas televisões. Está estudando como reduzir os custos e o número de pessoal: — Na relação com a imprensa, quero abertura total, porta aberta, porque é a única forma de conseguir que não se tenha a surpresa que tivemos nos últimos 10 anos.
A surpresa a que ele se refere são os casos de corrupção: — Foram valores escandalosos, inimagináveis, tudo isso machucando a população. Achei que a imprensa talvez tenha falhado, outros órgãos também.
Ele diz que a falha foi a imprensa ter demorado a ver o que estava acontecendo. O jornalismo, segundo ele, precisa fazer uma revisão, entender que também é responsável em evitar que novos escândalos de corrupção aconteçam, mantendo-se vigilante: — Só a imprensa divulgando tudo com muita publicidade, acessando todas as contas, todos os planos de trabalho, todas as licitações, toda aplicação de dinheiro, quem é que está usando dinheiro público.
O ministro Santos Cruz diz que as portas da Secretaria estão abertas também para todos os segmentos sociais, mas avisa que não concorda com a invasão de terras pelo MST. Perguntei se ele estava falando de terra improdutiva:
— Improdutiva no conceito de quem? O problema é quem classifica. [trecho na integra no vídeo a partir dos 9']
 Entrevista do General Santos Cruz para Miriam Leitão da GloboNews
À frente da Secretaria de Governo de Jair Bolsonaro, o general da reserva Carlos Alberto dos Santos Cruz, fala de seus desafios na função. Uma delas será a articulação junto ao Congresso Nacional. Fala também sobre o MST, grilagem de terras, relação entre União e os Estados, desperdícios de dinheiro público entre outros assuntos importantes. 

Disse que o país foi governado quase 14 anos pelos que achavam que a invasão era o método de começar o assentamento, mas até hoje há pessoas pela estrada: — Peraí, se você tinha o poder da caneta, orçamento, obrigação do executivo e não resolveu, significa que eles (os sem-terra) eram usados como massa de manobra.
Lembrei que este governo entregou a demarcação de terra indígena para ruralista e fala em combater o que chama de indústria de multa do Ibama. Perguntei se isso não seria visto como um sinal de incentivo à grilagem: — É um absurdo essa interpretação, completamente equivocada. A lei é para todos. Não interessa se é para o movimento ou para o grileiro. Senão vira baderna.
Sobre sua trajetória pessoal, o ministro contou que estudou em escola simples, de madeira, mas com excelentes professores. Que nada recebeu de herança dos pais, exceto o essencial: “prateleiras cheias de livros.”
Miriam Leitão, jornalista - O Globo

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Cabe veto a projeto que premia má gestão municipal

Câmara e Senado anteciparam o Natal dos clãs políticos que demonstram absoluta incapacidade de administrar a maioria das prefeituras, sejam ricas ou pobres. Na quarta-feira, deputados federais referendaram uma iniciativa dos senadores que concede uma espécie de anistia prévia à má gestão pública.  Aprovaram um projeto de lei complementar que isenta de punições prefeitos que não souberam, ou não quiseram, impedir o aumento das despesas com pessoal acima do limite fixado na Lei de Responsabilidade Fiscal. Existe um teto de gastos com o funcionalismo, o equivalente a 60% da receita corrente líquida. A ultrapassagem deixa o governo infrator sujeito a várias penalidades.

O que a Câmara e o Senado fizeram, na prática, foi liquidar com o espírito da lei sobre responsabilidade fiscal, premiar os maus gestores e punir prefeitos que têm se dedicado a equilibrar as contas. Não é exagero afirmar que o objetivo foi aplainar o caminho de vários políticos às eleições municipais de 2020.  Se oito em cada dez dos 5.570 municípios estão insolventes, não é somente por causa da longa recessão. O Ministério da Fazenda mostra que a indigência administrativa de 52% das prefeituras não lhes permite sequer apresentar dados básicos sobre compromissos assumidos. Para uma inflação de 3,4% no ano passado (IPCA), houve um aumento médio de 6,8% no custo da folha de pessoal. Ampla maioria das cidades depende dos repasses federais e estaduais para abrir as portas da prefeitura todo dia e pagar ao funcionalismo no final do mês. É o caso da baiana Novo Triunfo, a 360 quilômetros da capital, onde o índice de desenvolvimento humano é inferior ao do Congo, na África. Ainda assim, há iniciativas legislativas para permitir a criação de novos municípios.

Entre a elite política municipal, os mais favorecidos com o generoso presente natalino são os prefeitos de capitais que extrapolaram nos gastos. O Rio se destaca. A cidade nada investiu com recursos próprios no ano passado, e sobrevive com caixa suficiente apenas para duas semanas de despesas, uma situação similar à das capitais mais pobres, como Teresina e Palmas.

É do Rio, também, a liderança na irresponsabilidade fiscal, com despesa de pessoal equivalente a 76,2% da receita corrente líquida — muito acima do limite da lei. Caso oposto ao de São Paulo, que conteve as despesas com servidores em 44%.  A crise nacional explica parte dos problemas, mas não justifica má gestão. A mensagem que os legisladores transmitem à sociedade é que o fracasso administrativo é perdoável, o êxito punível. Resta ao presidente Michel Temer vetar o projeto e impedir a desastrosa manobra política. Não importa se está na contagem regressiva para deixar o Planalto. Deve fazê-lo até por coerência, pois seu governo conseguiu tomar medidas certas em defesa do equilíbrio fiscal.

[Temer não vai vetar;  a sanção ao aumento salarial  dos MEMBROS  do Poder Judiciário e MP é a prova mais eloquente de que ele segue a política do 'quero que se f...'.


 

quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Bolsonaro enfrenta resistências

Vantagem de 54 milhões de votos não impede que as barganhas sejam sugeridas, mesmo sem haver clima para falar de cargos

O presidente eleito Jair Bolsonaro começou a ter uma vaga ideia do que vem pela frente nas reuniões com os partidos políticos que começou a fazer. Não que não soubesse, pois quem passou 28 anos como parlamentar, a maioria dos quais como deputado federal em Brasília, sabe bem como a banda toca.  Mas talvez esperasse que os 54 milhões de votos que teve na corrida presidencial lhe dariam uma vantagem na negociação com o Congresso. Provavelmente darão, mas não impedem que as barganhas sejam sugeridas, mesmo sem haver clima para falar de cargos, como explicou o deputado Fábio Faria, do PSD, que esteve com Bolsonaro ontem.

Alguns pelo menos tentaram, o que fez com que um comentário dominasse as conversa com assessores mais próximos: “A facilidade com que pedem um porto é impressionante”, disse um deles, não acostumado a essas negociações.  Bolsonaro está tentando quebrar o presidencialismo de coalizão da maneira como o conhecemos nos últimos 24 anos, iniciado nos governos de Fernando Henrique e exacerbado e desvirtuado nos governos petistas e no de Temer.  Foi nos dois governos tucanos que o presidencialismo de coalizão teve papel importante, destacado pelo cientista político Sérgio Abranches, inaugurando uma prática política que não era explícita, mas subentendida.

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sexta-feira, 30 de novembro de 2018

A bancada militar

Generais vão ocupar pastas importantes no governo Bolsonaro, e as ligações com a caserna também influenciaram a escolha de outros ministros



O presidente eleito Jair Bolsonaro não pode ser acusado de estelionato eleitoral. Em agosto passado, durante a campanha, ele disse que colocaria “um montão de militar” no governo caso fosse eleito presidente da República. Agora, a menos de um mês de assumir o cargo, está cumprindo a promessa e fazendo dos generais a maior e mais poderosa bancada da futura administração. Até o fechamento desta edição, Bolsonaro ainda não havia escalado toda a sua equipe, mas é certo que nenhum partido político terá o protagonismo reservado aos seus antigos companheiros de caserna.

Além do vice-presidente eleito, Hamilton Mourão, o núcleo governista abrigará pelo menos outros quatro generais da reserva: Augusto Heleno (chefe do Gabinete de Segurança Institucional), Fernando Azevedo e Silva (ministro da Defesa), Carlos Alberto Santos Cruz (secretário de Governo) e Maynard Santa Rosa (secretário de Assuntos Estratégicos), o único do quarteto que não terá status de ministro. O retrato é claro: os militares nunca acumularam tanto poder desde o fim da ditadura — e, agora, chegam ao Planalto pelo voto.

Durante a corrida presidencial, o capitão da reserva explicou assim a sua predileção por companheiros de Exército: “Acho difícil corromper um general. Não é incorruptível, mas muito mais difícil que esses últimos ministros que passaram por aí”. No desenho atual, o generalato tem primazia até mesmo dentro do Palácio do Planalto, que terá apenas dois ministros civis em suas dependências, ambos com funções esvaziadas. O deputado reeleito Onyx Lorenzoni (DEM-RS) chefiará a Casa Civil, e o advogado Gustavo Bebianno, a Secretaria-Geral da Presidência. Nas administrações petistas, a Casa Civil era sinônimo de poder, e por ela passaram nomes como José Dirceu e Antonio Palocci, ambos condenados à prisão na Operação Lava-Jato, e a própria ex-­presidente Dilma Rousseff. Na gestão Bolsonaro, a pasta será desidratada. Lorenzoni vai dividir as atribuições de articulador político com o general Santos Cruz, que comandou missões de paz da ONU no Congo e no Haiti, e compartilhará as funções de coordenador da máquina administrativa com o general Mourão.

Os generais já participavam da campanha presidencial, capitaneando discussões sobre o programa de governo de Bolsonaro. Com a vitória nas urnas, foram chamados a ocupar postos estratégicos da futura administração. No novo núcleo governista, o general Augusto Heleno é quem tem mais prestígio com Bolsonaro, sendo consultado sobre cada militar cotado para cargos de primeiro escalão. A ideia inicial era que Heleno comandasse o Ministério da Defesa, mas o presidente preferiu a chefia do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que fica no próprio Palácio do Planalto e tem sob o seu guarda-chuva a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), órgão que pretende fortalecer. “A Abin é o grande produtor de informações elaboradas para o governo. Informação é poder. E inteligência é a informação elaborada. Portanto, inteligência é um instrumento indispensável”, disse a VEJA. Com a ascensão dos militares, a área de inteligência voltará a ganhar musculatura.
“Acho difícil corromper um general. Não é incorruptível, mas muito mais difícil que esses últimos ministros que passaram por aí”

O general Mourão também quer ter mais protagonismo do que sugere a posição de vice-presidente. Se conseguir, será uma reviravolta e tanto. Durante a campanha, Bolsonaro chegou a ordenar que o vice saísse de cena, depois de o general ter dado declarações que repercutiram mal entre os eleitores. Mas agora o presidente eleito estuda repassar a Mourão a tarefa de coordenar a máquina administrativa. A primeira missão será já em janeiro, quando Bolsonaro passará por cirurgia de retirada da bolsa de colostomia e, segundo os médicos, deverá ficar duas semanas em repouso. Nesse período, o comando do país será de Mourão.

No entorno civil de Bolsonaro, há certo desconforto com a desenvoltura do vice e também um clima de desconfiança contra tudo e contra todos. Na quarta-­feira 28 à noite, Carlos Bolsonaro, filho do presidente eleito e seu maestro no universo digital, escreveu a seguinte mensagem numa rede social: “A morte de Jair Bolsonaro não interessa somente aos inimigos declarados, mas também aos que estão muito perto. Principalmente após sua posse! É fácil mapear uma pessoa transparente e voluntariosa”. Carlos não explicitou a quem se destinava a mensagem, mas ela bastou para mostrar a intensidade do clima de suspeitas.
 
Até aqui, a maior surpresa na bancada dos generais foi a escolha de Carlos Alberto Santos Cruz para comandar a Secretaria de Governo. Com cara de poucos amigos, ele parece ter sido convocado para intimidar deputados e senadores que cogitam propor ao governo a troca de apoio no Congresso por cargos, emendas e outras benesses. Diz Flávio Bolsonaro, senador eleito: “Aquele parlamentar que ainda não entendeu que a forma de fazer política mudou vai ficar para trás”. Os partidos torceram o nariz para a escolha, sob a alegação de que Santos Cruz é inexperiente na área. A tropa de Bolsonaro rebate fazendo um exótico paralelo entre política e ação militar: diz que o general comandou tropas da ONU em missões em países mais conflagrados do que o Congresso brasileiro. 
 
MATÉRIA COMPLETA Publicado em VEJA de 5 de dezembro de 2018, edição nº 2611 
 

segunda-feira, 19 de março de 2018

Segurança nas mãos certas - Militares ganham cada vez mais protagonismo em meio a crise da segurança

Missão de Paz no Haiti, iniciada em 2004, é o ponto de inflexão para o Exército, que se tornou mais operacional. O protagonismo foi retomado na gestão Temer, que, ao recriar o GSI, garantiu espaço para os generais 

A intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro foi o ápice de um movimento que já se evidenciava na gestão Michel Temer: a retomada do protagonismo dos militares na vida política nacional. A partir de um gabinete no quarto andar do Palácio do Planalto, com uma vista privilegiada do Congresso Nacional, o gremista Sérgio Etchegoyen, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), é figura central nesse tabuleiro. Esmera-se, no entanto, para afastar os holofotes, afirmando que não vai competir politicamente com ministros palacianos atuantes. Mas não se engane: o militar mais próximo de Temer é o mais forte comandante do GSI dos últimos 16 anos.

Há quem se recorde do general Alberto Cardoso, que ocupou o mesmo cargo nas gestões de Fernando Henrique Cardoso. Mas o tucano criou, em 1999, o Ministério da Defesa, um órgão civil para comandar as três forças. Hoje, segundo especialistas, a pasta está cada vez mais militarizada na hierarquia. Até mesmo o cargo de ministro é ocupado por um oficial militar, o general Joaquim Silva e Luna. Duas semanas atrás, em entrevista exclusiva ao Correio, Silva e Luna justificou a maioria fardada na pasta. “Eu já encaminhei para o Ministério do Planejamento um estudo feito, uma carreira de analista de defesa com todos os níveis. Faz o concurso, ingressa, começa como analista e galga todas as posições, mesma coisa que a carreira civil, com remuneração e tudo definido. Por que o Ministério da Defesa tem tantos militares aqui dentro? Porque senão não funciona. Todo mundo que está aqui dentro é cedido, civil e militar”, disse Luna. 

Etchegoyen mantém o mesmo tom diplomático quando fala de si e do amplo espectro de atribuições que exerce. Garante que tudo o que faz está previsto no organograma do GSI, Temer apenas foi demandando, paulatinamente, ações efetivas em episódios específicos. “O que existe hoje é a atenção ao papel institucional que cabe ao GSI. Ou seja, se antes isso não era feito, não sei por que não era. Não sou o assessor mais importante de defesa, nem o mais importante de segurança, mas sou o imediato”, afirma Etchegoyen, citando os despachos constantes pela manhã quando Temer chega ao Planalto.

O superministro militar tem a fala calma, mas é capaz de se transformar ao defender os próprios pontos de vista. Foi assim quando viu o nome de seu pai, o general Leo Etchegoyen, ser incluído, post mortem, na lista dos militares citados pela Comissão da Verdade como responsáveis por atos de tortura durante a ditadura. Protestou, abriu um processo e não engoliu o fato, alegando que o pai não tivera direito à defesa. A reação foi ajudada pelo fato de Dilma ter uma relação conflituosa com os militares, que culminou com a extinção do GSI.
 
Ideologia
“Creio que Etchegoyen é refém do passado por causa do pai. Há outros oficiais assim. É difícil para eles. O mais comum é uma atitude defensiva e um ódio exacerbado aos grupos de esquerda, amplificado pela Comissão da Verdade. Mas a oposição é mais que ideológica, é pela honra da família”, afirmou um funcionário do Ministério da Defesa.

Durante a gestão da petista, Etchegoyen foi assessor de Planejamento do Ministério da Defesa, um dos três nomes que despachavam diretamente com o ministro Nelson Jobim. Ganhou pontos preciosos ao contribuir na elaboração da Estratégia Nacional de Defesa. Acabou aproximando-se de Temer após o impeachment e assumiu o GSI. “Ele sempre passou a imagem de um homem duro. Surpreendentemente, após o início do governo, começou a movimentar-se com desenvoltura e habilidade política. Não há dúvidas que, hoje, Etchegoyen é um militar bem mais maleável”, resumiu uma liderança importante da hierarquia militar.

Nenhuma surpresa para aquele que é considerado o mais preparado intelectualmente de sua geração. Tanto que este foi um dos fatores que o fizeram levar vantagem na promoção ao grau máximo do oficialato do Exército. Ele disputava com o general Santos Cruz, comandante das forças da ONU no Congo. Santos Cruz tem no preparo operacional o seu forte, tanto que foi escolhido por um dos principais organismos internacionais para comandar tropas de paz em uma região tensa e conflagrada. “Etchegoyen venceu a batalha pela capacidade intelectual que possui”, resumiu um consultor da área.

O ministro do GSI também beneficia-se de um novo momento vivido pelo Exército. E, nesse pulo do gato, não foi ele o protagonista e sim, o polêmico general Heleno, crítico dos governos petistas e eleitor declarado de Jair Bolsonaro (PSL-RJ). Militares importantes, da ativa e da reserva, lembram o perfil de Heleno, classificando-se como um “general combatente e não um gravatinha”. Comandou a Amazônia, serviu no gabinete do ministro do Exército Leônidas Pires Gonçalves, o que permitiu que acompanhasse de perto a transição política.
 
Mas a pedra de toque foi ter sido o primeiro comandante das tropas no Haiti. “O Haiti é um divisor de águas no Exército Brasileiro. Obrigou os militares a se profissionalizarem. Antes era um Exército pouco operacional, cujo maior evento no dia a dia da tropa era o desfile de 7 de setembro”, resume um oficial. A missão no Haiti foi iniciada em 2004 e durou 13 anos, até outubro de 2017.

Dilma
Em entrevista ao Correio, no início da tarde da última quinta-feira, Etchegoyen evitou comentar se Dilma relevou o papel dos generais ao extinguir o GSI: “Eu tenho levado a minha vida olhando para frente. No momento que o GSI foi recriado, passamos a ser demandados”. Para ele, não há protagonismo. As competências do GSI já existiam, mas eram subutilizadas. "O presidente resolveu usar toda a capacidade que o GSI tem”, completou.

Sobre o próprio protagonismo, mais uma vez, Etchegoyen o rejeita: “Eu não me vejo nesse protagonismo. O motivo é bem simples: nunca trabalhei para ter esse protagonismo e nunca fiz as coisas que dizem que eu fiz”. Ele refere-se, por exemplo, à indicação para a direção-geral da Polícia Federal. Na época da troca anunciada de Leandro Daiello, atribuía-se ao general a torcida pelo nome do delegado Rogério Galloro, o que apenas se confirmou com demissão de Fernando Segovia. “Não há um personagem da República que tenha ouvido eu comentar sobre preferências de nomes para a Polícia Federal. Não faz sentido”, disse Etchegoyen. “Meu projeto é terminar a minha tarefa aqui, ir embora para casa, cuidar dos meus netos, pescar, escrever, fazer o que eu gosto de fazer. Isso é a minha vida. Eu não tenho um projeto que esteja baseado em ter que produzir um fato político que me sustente para isso ou para aquilo”, afirmou.

Antes de se despedir, o general tenta reforçar um papel secundário nas últimas decisões da Esplanada: “Vocês conhecem o ministro Jungmann (Defesa), vocês acham que alguém tem capacidade de influenciar quem ele tem que escolher? Já me colocaram em tanto lugar dizendo coisas que eu não disse. Acho que as pessoas estão confundindo assessoramento que é dado ao presidente com o campo político que não é meu”. E conclui: “Seria outra leviandade sentar ao lado do presidente e discutir campo político, minha vida inteira foi defesa e segurança, planejamento estratégico, é o que estou fazendo aqui, isso tenho respondido. Eu vou dar mais um passo e entrar no assessoramento político ao presidente e disputar com Padilha, Moreira Franco, Maia? Não caibo nesse papel”.
 
Correio Braziliense