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quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Os fatores que evitaram o maior desastre em 2020 - O Estado de S. Paulo

Celso Ming

São quatro as razões que evitaram a queda de dois dígitos do PIB brasileiro

E o pior não aconteceu. No segundo trimestre, em plena pandemia, as projeções para o desempenho da economia do Brasil foram terríveis. Algumas chegavam a indicar um mergulho do Produto Interno Bruto (PIB) de quase 10% para todo o ano. As novas previsões falam de uma queda de 4,4%                        Essa é a última projeção do Banco Central, que coincide com a do mercado, como consta no Boletim Focus desta semana.

São quatro as explicações para esse tombo menos acentuado.
A primeira delas é a de que o Tesouro despejou R$ 322 bilhões em auxílios emergenciais para a população (66 milhões de pessoas), recursos que permitiram uma sustentação da demanda de bens essenciais – especialmente alimentos, medicamentos e moradia – durante o isolamento social necessário para combater a covid-19. Foi uma demanda que permitiu que a atividade econômica não entrasse em colapso. O efeito colateral foi o avanço inesperado da inflação, que, no entanto, tende a ser limitado.

O segundo grande fator de sustentação da economia foi o excelente desempenho do agronegócio. Como mostram as últimas projeções do IBGE e da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção física de grãos na safra de 2020/21 deverá ter um aumento de 3,5%, para alguma coisa em torno dos 266 milhões de toneladas. Os preços também ajudaram, seja pelo aumento da demanda interna de alimentos, como mencionado acima, seja pela forte importação da China

A alta do dólar em reais também trabalhou na mesma direção. O impacto desses resultados no PIB ainda é relativamente baixo porque a agropecuária pesa apenas 5,6% na renda nacional. O maior estrago aconteceu no setor de serviços (mais de 70% do PIB), especialmente nas viagens, no turismo, nos grandes eventos, no ensino, na saúde, no ramo dos bares e restaurantes e em grande parte no comércio varejista. Salvaram-se as vendas pela internet e os escritórios, graças aos serviços prestados em casa, o home office.

As avarias macroeconômicas foram enormes: investimentos adiados, obras paralisadas, um desemprego de 14,3% da força de trabalho e de outros 5,5% no desalento (desistiram de procurar emprego) e, mais que tudo, o alastramento do rombo fiscal e o avanço da dívida pública. Até agora, o governo não mostrou como vai enfrentar as exigências da lei do teto dos gastos nem como vai reequilibrar as contas públicas em 2021. Nem mesmo o Orçamento de 2021 foi aprovado.

As apostas se concentram agora na recuperação da atividade econômica, que já começou a mostrar as caras no último trimestre deste ano. O maior trunfo está na aplicação da vacina. 
Cinco instituições internacionais já mostraram que superaram a terceira e decisiva fase de testes
Instituto Butantã espera começar a vacinar ainda em janeiro e a Fiocruz tem planos para iniciar a aplicação das doses no fim de fevereiro. [se impõe o registro de que a vacina produzida pelo Butantã ainda não superou a FASE 3 de testes. É a única vacina que ainda não foi autorizada por nenhuma das agências de controle - nem a da própria China.]
É provável que, já no primeiro semestre de 2021, boa parcela da população tenha sido atendida. Mas não será preciso esperar até que a maior parte da população tenha sido imunizada contra o novo coronavírus para contar com avanços na economia.

E há, também, sinais de excelente recuperação da economia mundial, especialmente da China e da Europa, também fortemente influenciados pela distribuição das vacinas. São fatores que indicam bons resultados na balança comercial do Brasil, especialmente ancorados pelo novo recorde de produção de commodities agrícolas. A perspectiva de que a vacina esteja próxima e o afastamento da ameaça de novas ondas da pandemia, no Brasil e no resto do mundo, podem mudar corações e mentes. E esse novo ânimo tende a ser a melhor energia para revitalizar a atividade econômica.

Celso Ming, colunista  - O Estado de S. Paulo

 

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

STF quer plano para vacinação - Pressão pela vacina - Merval Pereira

 O Globo

O governo, que pensava ter escapado de apresentar um plano de vacinação contra a COVID-19 exigido pelo Tribunal de Contas da União (TCU), alegando questões burocráticas, agora não tem mais desculpas. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski deu um mês, a partir da decisão final do plenário virtual, para que apresente um plano de vacinação que “deve seguir critérios técnicos e científicos pertinentes, assegurada a maior cobertura vacinal possível, no limite de suas capacidades operacionais e orçamentárias".

[perguntas do piso - o povo - ao supremo ministro Lewandowski:  atendendo mais uma vez petições de partidecos sem votos, sem programa, sem noção e sem futuro - o ministro Lewandowski que não precisou de votos para se tornar ministro do STF -  determinou que em um mês o governo federal apresente um plano de vacinação contra a covid-19.

Qualquer plano, ainda que meia boca, precisa no mínimo das seguintes informações:

- qual vacina será usada? - a marca é essencial, já que ela permite conhecer preços, prazos de entrega, condições de armazenamento, etc;

- quando a vacina estará disponível e a quantidade mínima inicial que poderá ser adquirida? elaborar um plano de vacinação exige que se saiba prazos e quantidades;

- Quais serão as condições referentes a transporte, armazenagem?  a vacina genérica chinesa - que produziu a segunda batalha de Itararé - pode ser armazenada até em geladeiras domésticas e a da Pfizer exige em torno de 70º negativos.

As questões acima não encerram a necessidade, e pertinência, de respostas para outras que surgirão - de igual ou maior importância durante a elaboração do plano.

Ministro Lewandowski: elaborar um plano sobre o que não existe é tarefa impossível, ainda que haja o máximo empenho na tentativa de sua execução. Esses partidecos é que precisam ser punidos com o rigor máximo para encerrarem as tentativas de sobrecarregar o Poder Judiciários com questões bobas, inúteis, que chegam a ser cômicas e com um único objetivo: atrapalhar o Poder Executivo.] 

Ao que tudo indica, o governo não tem nem mesmo um projeto de plano, pois, ao ser exigido pelo TCU, a Advocacia-Geral da União (AGU) valeu-se de uma alegação tecnocrática para se esquivar de apresentá-lo. Alegou que a decisão do TCU está equivocada, pois o tribunal não deveria ter listado a Casa Civil ao lado do Ministério da Saúde como um dos órgãos responsáveis pelo planejamento da vacinação.

Essa atribuição, de acordo com a AGU, é exclusiva do ministério, e por isso o governo pediu que o Tribunal alterasse a decisão. A AGU alega que seria “uma ingerência da Casa Civil nas competências institucionais próprias do ministério da Saúde”. Essa alegação esdrúxula não foi levada em conta pelo TCU, que deverá se reunir brevemente para rejeitá-la. [até o TCU busca protagonismo e aproveitamos tal busca para lembrar uma forma eficiente para atrair holofotes: - investigar  as contas de todos os órgãos dos 3 Poderes da República, para identificar e punir  mau uso do dinheiro público, mordomias e corrupção = identificar e expor os responsáveis pelos desmandos nos gastos públicos é a forma mais eficiente de atrair holofotes sobre qualquer instituição da República.]

Mesmo com o uso do “data venia”, não é aceitável que o governo se escude em uma suposta falha burocrática para deixar de cumprir seu dever, que era o de apresentar um plano detalhado do planejamento para compra, produção e distribuição das doses da vacina. O TCU pedia também informações sobre a logística da vacinação, supostamente uma especialidade do ministro Eduardo Pazzuelo. [sendo recorrente: a logística está atrelada as características da vacina adquirida = a marca.]

As mesmas exigências foram feitas ontem pelo ministro Ricardo Lewandowski, analisando ações de partidos políticos sobre a atuação do governo em relação à vacina Coronavac, do laboratório chinês Sinovac que estará sendo produzida no Brasil pelo Instituto Butantã em São Paulo. [sendo óbvio: estará = futuro que se vincula a existência da vacina, cuja produção depende da aprovação da Anvisa, que depende da conclusão da fase 3 de testes.] Os partidos pedem ainda que o governo seja obrigado a anunciar o plano de vacinação nacional, para obrigá-lo a não vetar a vacina chinesa, que está sendo testada também no Brasil.

Lewandowski deu 30 dias, a partir da decisão do plenário virtual que julgará o caso entre 4 a 11 de dezembro. Se o voto do relator for aprovado pelo plenário, o governo terá, a partir daí, o prazo fixado ontem para apresentar ao STF "um plano compreensivo e detalhado acerca das estratégias que está colocando em prática ou que pretende desenvolver para o enfrentamento da pandemia, discriminando ações, programas, projetos e parcerias".

O ministro do STF Ricardo Lewandowski ponderou que, diante da possibilidade concreta de que as diversas vacinas, em breve, completarão com sucesso os respectivos ciclos de testes, mostrando-se eficientes e seguras (...) “constitui dever incontornável da União considerar o emprego de todas elas no enfrentamento do surto da Covid-19, não podendo ela descartá-las, no todo ou em parte, salvo se o fizer - e sempre de forma motivada - com base em evidências científicas sobre a sua eficácia, acurácia, efetividade e segurança, bem assim com fundamento em avaliação econômica comparativa dos custos e benefícios".

Os dois movimentos, do TCU e do STF, destinam-se a obrigar o governo a não se submeter à vontade pessoal do presidente Bolsonaro, que se declarou contrário à compra da vacina desenvolvida na China, mesmo que ela fosse aprovada pela Anvisa, a agência brasileira que controla os medicamentos. As reações foram tão contundentes que Bolsonaro deixou de insistir no assunto, mas a Anvisa teve uma atuação discutível na suspensão dos testes da vacina devido à morte de um dos vários voluntários brasileiros. O caso, porém, foi de suicídio, e nada tinha a ver com a eficiência da vacina, tanto que em 24 horas os testes foram retomados. [foi cumprido um protocolo válido em todos os testes de vacinas realizados no planeta Terra]. Mesmo assim, Bolsonaro chegou a insinuar que a vacina poderia ter produzido efeitos colaterais que levara o voluntario à morte. Diante de um ministério da Saúde e de uma Anvisa totalmente dominados pelo presidente, os órgãos de controle, como TCU e Supremo, estão exigindo o planejamento para a vacinação em massa, sempre o apoio científico para as decisões. 

Merval Pereira, jornalista - O Globo

 

quarta-feira, 21 de outubro de 2020

A querela da vacina - Folha de S. Paulo

Opinião 

Polarização sobre obrigatoriedade é prematura e ameaça política de imunização     

Antes de poder contar com uma vacina para deter a Covid-19, o Brasil precisa imunizar-se contra a politização da saúde pública. Na marcha atual de insensatez liderada pelo presidente Jair Bolsonaro, quando uma das centenas de vacinas em desenvolvimento se provar segura e eficaz poderá encontrar resistências descabidas pela frente.

Bolsonaro precipitou-se ao lançar de público uma discussão sobre tornar ou não obrigatória uma vacina que nem mesmo existe. Não é a primeira vez, e decerto não será a última, que atrapalha autoridades de saúde na condução técnica da reação à pandemia, como em suas investidas contra o distanciamento social e a favor da cloroquina. [impõe registrar que o distanciamento social foi inútil, ridículo, valendo o mesmo para o isolamento.

A única medida que realmente deve ser estimulada é o uso da máscara.

Quanto à cloroquina sofreu um boicote sistemático - mas elevado número de infectados pela coronavírus se curaram com o uso do trio + ivermectina + azitromicina e ivermectina.

A ivermectina, foi usada por muitas pessoas como preventivo e não contraíram a doença - coincidência? ou não?].

O debate fora de hora polarizou-se porque o Planalto ensaiou minar a confiança no imunizante patrocinado pelo Executivo paulista. O próprio governador João Doria (PSDB) dá mostras de que pretende faturar politicamente a vacina a ser fabricada pelo Instituto Butantã, em parceria com a Sinovac, e se aventurou anunciando que deseja torná-la obrigatória.

Não é coisa que se defina a esta altura dos ensaios clínicos. Alguns dos preparados em teste já se mostraram seguros para uso humano, mas nenhum demonstrou ainda eficácia nem o grau de imunização que poderá conferir, informação decisiva para traçar o tipo de campanha necessária para obter o melhor benefício coletivo. A questão da obrigatoriedade se torna secundária, ademais, diante das evidências de que o público brasileiro se inclina fortemente por aceitar a imunização. Pesquisa nacional Datafolha feita em agosto constatou que 89% dos entrevistados pretendiam vacinar-se contra o coronavírus.

Estudo científico publicado nesta terça-feira (20) na revista Nature Medicine ouviu 13.426 pessoas em 19 países, em junho, sobre confiança na futura imunização. Na média, 71,5% se disseram muito ou um tanto inclinados a tomar a vacina, e o Brasil aparece muito bem no painel, com 85,4% de adesão, atrás somente da China (88,6%). Apesar das sementes de dúvida plantadas pelo presidente, o Ministério da Saúde, após omissão inicial, anunciou por fim que vai incorporar a vacina Sinovac/Butantã no Programa Nacional de Imunizações e fechou acordo para a compra de 46 milhões de doses. Fez o que se deve fazer.

O país apresentou até aqui níveis elevados de cobertura imunizante porque o Sistema Único de Saúde realiza trabalho logístico e de comunicação reconhecido internacionalmente como excelente. Se o governo federal desonrar essa tradição, caberá a estados e municípios levar adiante as campanhas de conscientização, melhor recurso para inspirar confiança.

Opinião - Folha de S. Paulo


sábado, 18 de julho de 2020

Escravidão Voluntária - Guilherme Fiuza

Ok, você quer acordar desse sonho macabro. Mas ainda não é agora. Primeiro você vai ter que sonhar que viu João Dória anunciando com um laboratório chinês a vacina para o coronavírus. Isso um dia depois de ser convidado a explicar por que comprou câmeras frigoríficas para cadáveres que não poderão ser guardados nelas. Pesadelo é pesadelo. A vacina chinesa do governador de São Paulo terá a participação do Instituto Butantã – que seguiu a linha do Imperial College de Londres e soltou projeções arbitrárias sobre a epidemia. Tudo para que o governador pudesse dizer, na ponta de um lápis imaginário, quantas vidas estava salvando com a quarentena totalitária. Nem a OMS, nem cientista nenhum no mundo tem essa fórmula. Mas sonho ruim é assim mesmo, só serve para empapar o lençol de suor.

E não adianta virar para o outro lado, porque vai vir um especialista crispado, enchendo a tela da TV, te dizer que há novos casos de coronavírus no Brasil porque o lockdown precisa ser mais asfixiante. Você vai gritar – e ninguém vai ouvir, como em todo pesadelo – que esse especialista é um irresponsável. Que ele está afirmando algo que a ciência desconhece. Que a comparação entre o Reino Unido e a Suécia joga essa certeza no lixo. Que esses tarados da quarentena burra expurgaram de suas equações delirantes o fator de contágio doméstico, atestado pela própria OMS.

Tudo em vão. Por mais que você berre, a sua voz não sai. Ninguém te ouve. E volta o apresentador funesto à tela da TV para dizer que a culpa é do velhinho que foi à padaria. Aí você grita que isso é uma leviandade, que em Nova York o grupo dos que circularam apresentou muito menos infecção que o grupo dos confinados. Você se esgoela para dizer que, depois de deflagrada a pandemia, a ideia de que a humanidade ia ficar trancada em casa deixando o vírus do lado de fora era uma miragem. Uma miragem terrível. Mas, e daí? Você queria um pesadelo com miragem bucólica?

Entre flashes difusos de Bruno Covas soldando as portas do comércio e recitando planilhas de urnas funerárias e sacos para cadáveres, surge um personagem que você não conhecia. Estamos tomando a liberdade de entrar no seu sonho para apresentá-lo: é Berbel, o Feiticeiro Multimídia, que está vendo o filme completo passando na sua cabeça e veio te ajudar a entendê-lo. Ouça as palavras de Berbel: “Bastou um único comando – fique em casa – para o mundo inteiro parar ao mesmo tempo. E disseram que o vírus veio ajudar o ser humano a dar mais valor a si mesmo e ao semelhante que está ao seu lado. Mensagens lindas começaram a circular na internet sobre a oportunidade valiosa de aprender a viver com menos, de não precisar sair para trabalhar. Caberia aos governos finalmente exercer a bondade e prover o pão para os que não têm.”

Continue ouvindo Berbel, o Feiticeiro Multimídia: “No confinamento proliferaram lições sobre os males do capitalismo e o despertar para uma nova realidade onde não pensaremos mais em dinheiro, só em vidas. Chega de mercado – cada um produz seu próprio sustento. A Terra estava mesmo precisando respirar, e agora os mares e rios estão limpos pela quarentena. Tudo natural, a não ser o chip que vão colocar em você para te vacinar. E através desse chip, uma autoridade mundial, tipo uma OMS turbinada, vai te monitorar para cuidar de você. Final feliz.”

Não entendeu o recado do Feiticeiro Berbel? Sem problemas, traduzimos para você. Ele te disse o seguinte: se o seu sonho não é se tornar um silvícola chipado... Acorda! Antes que seja tarde.

Guilherme Fiuza, jornalista - Vozes - Gazeta do Povo 


terça-feira, 16 de junho de 2020

Escravidão voluntária - Vozes - Gazeta do Povo

Guilherme Fiuza



Ok, você quer acordar desse sonho macabro. Mas ainda não é agora. Primeiro você vai ter que sonhar que viu João Dória anunciando com um laboratório chinês a vacina para o coronavírus. Isso um dia depois de ser convidado a explicar por que comprou câmeras frigoríficas para cadáveres que não poderão ser guardados nelas. Pesadelo é pesadelo. A vacina chinesa do governador de São Paulo terá a participação do Instituto Butantã – que seguiu a linha do Imperial College de Londres e soltou projeções arbitrárias sobre a epidemia. Tudo para que o governador pudesse dizer, na ponta de um lápis imaginário, quantas vidas estava salvando com a quarentena totalitária. Nem a OMS, nem cientista nenhum no mundo tem essa fórmula. Mas sonho ruim é assim mesmo, só serve para empapar o lençol de suor.


E não adianta virar para o outro lado, porque vai vir um especialista crispado, enchendo a tela da TV, te dizer que há novos casos de coronavírus no Brasil porque o lockdown precisa ser mais asfixiante. Você vai gritar – e ninguém vai ouvir, como em todo pesadelo – que esse especialista é um irresponsável. Que ele está afirmando algo que a ciência desconhece. Que a comparação entre o Reino Unido e a Suécia joga essa certeza no lixo. Que esses tarados da quarentena burra expurgaram de suas equações delirantes o fator de contágio doméstico, atestado pela própria OMS.

Tudo em vão. Por mais que você berre, a sua voz não sai. Ninguém te ouve. E volta o apresentador funesto à tela da TV para dizer que a culpa é do velhinho que foi à padaria. Aí você grita que isso é uma leviandade, que em Nova York o grupo dos que circularam apresentou muito menos infecção que o grupo dos confinados. Você se esgoela para dizer que, depois de deflagrada a pandemia, a ideia de que a humanidade ia ficar trancada em casa deixando o vírus do lado de fora era uma miragem. Uma miragem terrível.

Mas, e daí? Você queria um pesadelo com miragem bucólica? Entre flashes difusos de Bruno Covas soldando as portas do comércio e recitando planilhas de urnas funerárias e sacos para cadáveres [confira no vídeo], surge um personagem que você não conhecia. Estamos tomando a liberdade de entrar no seu sonho para apresentá-lo: é Berbel, o Feiticeiro Multimídia, que está vendo o filme completo passando na sua cabeça e veio te ajudar a entendê-lo. Ouça as palavras de Berbel:
“Bastou um único comando – fique em casa – para o mundo inteiro parar ao mesmo tempo. E disseram que o vírus veio ajudar o ser humano a dar mais valor a si mesmo e ao semelhante que está ao seu lado. Mensagens lindas começaram a circular na internet sobre a oportunidade valiosa de aprender a viver com menos, de não precisar sair para trabalhar. Caberia aos governos finalmente exercer a bondade e prover o pão para os que não têm.”


Guilherme Fiuza, jornalista - Vozes - Gazeta do Povo


sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

O vírus de cada dia - Nas entrelinhas

Por enquanto, o maior problema em relação ao coronavírus no Brasil continua sendo seu impacto no comércio com a China, como acontece com a maioria dos países”

A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgou, ontem, um estudo sobre o comércio internacional de mercadorias nos países do G20, cujo fluxo continuou recuando no quarto trimestre de 2019, “com as exportações e importações caindo para os níveis mais baixos em dois anos”. O comunicado cita o coronavírus como um problema para as trocas entre os países, com chances reais de contaminar os resultados do primeiro trimestre de 2020.

O papa Francisco levou um susto era uma indisposição —, com suspeita de uma gripe, num país que está à beira do pânico por causa da epidemia de coronavírus. Depois do Irã, a Itália abriga o maior número de casos fora da China. Na América Latina, o Brasil é o primeiro país a ter um caso confirmado de coronavírus, um homem que havia chegado da Itália. A Organização Mundial de Saúde ainda não declarou uma pandemia, mas admite que o risco aumentou e elevou o estado de alerta.

São 132 casos suspeitos no Brasil, em São Paulo (55), Rio Grande do Sul (24), Rio de Janeiro (9), Santa Catarina (8), Paraná (5), Distrito Federal (5), Minas Gerais (5), Ceará (5), Rio Grande do Norte (4), Pernambuco (3), Goiás (3), Mato Grosso do Sul (2), e Paraíba, Alagoas, Bahia e Espírito Santo, com um caso suspeito cada. O Ministério da Saúde trabalha na prevenção, mas já admite que os casos podem chegar a 300 e estuda medidas para enfrentar uma epidemia. Uma delas é antecipar a vacinação contra a gripe, para facilitar o diagnóstico de coronavírus. O carnaval foi um período propício à transmissão de doenças infectocontagiosas, por causa das multidões em circulação e contato físico direto.

Nas redes sociais, circulam informações de toda ordem, desde o áudio do carioca que se acha um super-homem por sobreviver a todas as mazelas da cidade até decálogos de prevenção que receitam de chá de erva-doce a vitaminas, além de lavar as mãos e higienizá-las com álcool gel. O mais sensato é só compartilhar informações oficiais das autoridades de saúde. Nos centros de pesquisa, como Fiocruz e Instituto Butantã, cientistas participam da corrida mundial para desenvolver uma vacina ou encontrar um medicamento eficaz contra a doença. O Brasil tem uma larga experiência de combate a epidemias, mas também coleciona  fracassos, como a volta da febre amarela e a resiliência da dengue.

Uma empresa de biotecnologia com sede nos Estados Unidos anunciou que uma vacina produzida em tempo recorde entrou em fase de testes, outra prometeu novidades em razão de seus ensaios clínicos. Na China, universidades e centros de pesquisa especializados, coordenados pelo Centro Chinês de Controle e Prevenção de Doenças, trabalham para produzir remédios e vacinas. Austrália, Suíça, Itália, França, Japão, Coreia do Sul e Reino Unido também correm em busca de um medicamento adequado. Hoje, esse pode ser o melhor negócio do mundo.

Golpismo
Por enquanto, o maior problema em relação ao coronavírus no Brasil continua sendo seu impacto no comércio com a China, como acontece com a maioria dos países. Para o governo brasileiro, porém, isso funciona também como aquela tempestade que desaba quando uma manifestação esvaziada ou show sem apelo popular vai começar: uma boa desculpa para o fracasso dos organizadores. A economia brasileira patina por outros motivos. Os principais são o nosso deficit fiscal, a interrupção das reformas e o diversionismo político de Bolsonaro.


Passado o carnaval, o assunto em pauta na política é a negociação entre o Palácio do Planalto e o Congresso sobre as emendas impositivas ao Orçamento da União. Havia um acordo para derrubada dos vetos do presidente Bolsonaro a emendas da ordem de R$ 30 bilhões, em troca da devolução de R$$ 11 bilhões. O Palácio do Planalto, por meio de seus negociadores, comeu mosca na negociação; depois, resolveu melar o acordo.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - Correio Braziliense