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quarta-feira, 30 de novembro de 2022

Lula falsifica números ao dizer que vai herdar um país falido - O Estado de S. Paulo

J. R. Guzzo

Poucos presidentes brasileiros receberam a economia nacional numa situação de ordem como ele vai encontrar 

O desemprego no Brasil caiu para 8,3% no último trimestre, fechado em outubro é a menor taxa para este período nos oito últimos anos, e um recuo decisivo em relação aos 14,5% que foram alcançados no auge da pandemia e do “fique em casa”.  
Os números do desemprego vêm caindo de forma constante, a cada vez que são divulgados pelo IBGE; não se trata, portanto, de um episódio passageiro, e sim de um movimento econômico definido. Não se trata, também de fenômeno isolado – toda a economia brasileira está com indicadores francamente positivos. [IMPORTANTE: todos os dados até 31 de outubro de 2022, são consequência direta das ações do governo BOLSONARO - já os contados a partir de 1º novembro 2022, passaram a sofrer as interferências NEGATIVAS decorrentes do fato do molusco petista ter se tornado presidente eleito. Desde 1º novembro 2022 todos os indicadores passaram a se destacar pelo negativo.]
 
A arrecadação federal em outubro bateu um novo recorde – mais de R$ 205 bilhões, num total superior a R$ 1,8 trilhão para todo o ano de 2022 que deverá fechar com mais de R$ 2 trilhões em receita para os cofres da União. A inflação subiu com o resultado da eleição, [efeito molusco] mas vai fechar o ano abaixo dos índices dos Estados Unidos, Alemanha e outros modelos de virtude econômica
As exportações, pelos números dos nove primeiros meses de 2022, mostram um novo recorde – podem ficar por volta de 20% acima das vendas externas no ano passado. O agronegócio continuou a crescer, com ou sem covid. O balanço de pagamentos é positivo, mais uma vez. As reservas brasileiras em moeda forte estão acima dos 325 bilhões de dólares.
O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva em Brasília; petista negocia PEC da Transição com Congresso
O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva em Brasília; petista negocia PEC da Transição com Congresso Foto: Wilton Junior/Estadão - 28/11/22 [este gesto com a mão direita, diz tanto...tem tantos significados, sem um dele AFANAR.]
Esta é a situação econômica que Lula vai receber a situação real, e não a falsificação que ele em geral apresenta ao público, dizendo que herdou um país falido e que não tem culpa por nenhum dos problemas que aparecerem em seu governo.  
Como vão estar esses números daqui a quatro anos – ou daqui a seis meses? 
Poucos presidentes brasileiros receberam a economia nacional numa situação de ordem como ele vai encontrar; tem a obrigação, no mínimo, de fazer igual.  
Os sinais que Lula tem dado, porém, são de indiferença ou de hostilidade com o que existe de positivo na economia; deste que saiu o resultado da eleição não faz outra coisa a não ser exigir mais dinheiro para gastar.  
Os R$ 2 trilhões que o governo federal vai arrecadar em 2022 não são suficientes. Lula quer uma “PEC” de R$ 200 bilhões, [a PEC PRECIPÍCIO] ou sabe lá quanto, por fora do teto de gastos, para fazer o único tipo de governo que conhece – aumentar, e concentrar ainda mais, a renda da máquina do Estado.
 
J. R. Guzzo, colunista - O Estado de S. Paulo

terça-feira, 27 de setembro de 2022

Missão de observação da OEA é recebida por Bolsonaro, que ironiza: ""Eles vêm observar o que?"

Bolsonaro ironiza missão da OEA que vai observar disputa eleitoral no País

Em discursos, levanta suspeitas infundadas de possíveis fraudes, sem nunca ter apresentado provas ou indícios de irregularidades [Carl Sagan, astrônomo = Ausência de evidência não é evidência de ausência.” - que equivale a:  Não é porque não há provas de algo que esse algo não é verdade."]

O presidente Jair Bolsonaro (PL) ironizou nesta segunda-feira, 26, a missão da Organização dos Estados Americanos (OEA) que vai observar o processo eleitoral no Brasil. "Eles vêm observar o que?", disse o candidato à reeleição a apoiadores, no Palácio da Alvorada. O chefe do Executivo também voltou a defender uma contagem paralela de votos e afirmou que seus apoiadores no País são "no mínimo 60%".
"Eu vou estar agora com o chefe dos observadores que vêm observar as eleições aqui. Eu vou perguntar: 'vêm observar o quê?'", disse o presidente, antes de se encontrar nesta manhã com Rubén Ramírez Lezcano, que chefia a Missão de Observação Eleitoral da OEA. As declarações do candidato à reeleição foram publicadas nesta tarde em um canal no YouTube mantido por seus apoiadores. [a pergunta "Eles vêm observar o que?", nos parece e completamos perguntando:  'quais as consequências da  OEA ou de alguns dos demais observadores declararem que houve fraude? 
se a OEA ou algum integrante da turma de dezenas  de especialistas, afirmar que houve fraude, Bolsonaro - que será com as bênçãos de DEUS, vencedor no  primeiro turno -  não será empossado?
O empenho em impedir a reeleição do 'capitão do povo', é tamanho, por parte de algumas autoridades, entre elas, sem limitar, três ministros e uma ministra, todos do STF,  que nos lembra a frase proferida por Carlos Lacerda, nas eleições presidenciais de 1950: “O Senhor Getúlio não deve ser candidato, se for candidato não deve ser eleito, se for eleito, não deve tomar posse, se tomar posse não pode governar”.]

Bolsonaro também voltou a atacar as urnas eletrônicas. "A gente tem que contar os votos", afirmou. O presidente tem agido para desacreditar o sistema eleitoral brasileiro. Em discursos, levanta suspeitas infundadas de possíveis fraudes, sem nunca ter apresentado provas ou indícios de irregularidades. Em julho, o chefe do Executivo chegou a reunir embaixadores estrangeiros no Palácio da Alvorada para questionar a confiabilidade das urnas. "Tem muita gente inteligente por aí, o número de pessoas que conseguiram o entendimento do que está em jogo nós somos hoje em dia no mínimo 60% no Brasil", declarou. Na semana, durante viagem a Londres, no Reino Unido, para o funeral da rainha Elizabeth II, Bolsonaro já havia dito que se não ganhar a eleição no primeiro turno, com no mínimo 60%, "algo de anormal" terá acontecido no TSE, que é o órgão responsável pela contagem dos votos na eleição.

OEA
O presidente se reuniu hoje com o chefe da missão da OEA no Palácio do Planalto. A seis dias do primeiro turno, a entidade começou a avaliar a disputa eleitoral no Brasil e também deve manter contato com outros candidatos, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), além de partidos políticos e observadores locais.

"Hoje nós tivemos a oportunidade de falar com o presidente da República Federativa do Brasil e com parte do gabinete do senhor presidente", disse Lezcano, a jornalistas, sem dar detalhes sobre o teor da conversa com Bolsonaro. "Nós mantivemos uma reunião muito cordial. Estamos levantando todos os depoimentos dos diferentes candidatos", respondeu o chefe da missão da OEA, quando questionado sobre os ataques do chefe do Executivo às urnas eletrônicas.

Lezcano afirmou que a OEA vai divulgar um relatório sobre o primeiro turno das eleições. "Nós estamos iniciando a nossa Missão de Observação Eleitoral. Vamos, a partir de agora, uma série de reuniões com os candidatos. Convidamos todos os candidatos a mantermos reuniões. Também com os partidos políticos, com as instituições do governo, como o TSE, entre outros, com as organizações da sociedade brasileira, com observadores locais", detalhou o chefe da missão da OEA, que é ex-ministro das Relações Exteriores do Paraguai.

"O mais importante é a transparência", declarou Lezcano, que deve viajar para São Paulo nesta quarta-feira, 28. A missão da OEA chegou ao Brasil na última sexta-feira, 23, e conta com 55 especialistas. Lezcano disse que deve se reunir com Lula quando houver um espaço na agenda do ex-presidente, que lidera as pesquisas de intenção de voto.

Política - Correio Braziliense


quinta-feira, 8 de julho de 2021

Em reunião no Planalto, militares discutiram protestos e "comunismo" no país - [senador Aziz: na "régua" de Vossa Excelência, seus familiares presos por envolvimento com corrupção, estão do lado BOM ou do podre?]

[senador Aziz: na "régua" de Vossa Excelência, seus familiares  presos por envolvimento  com corrupção, estão do lado BOM ou do podre?]

Encontro ocorreu um dia antes de as Forças Armadas publicarem nota com críticas ao senador Omar Aziz, presidente da CPI da covid-19

 [O preço da liberdade é a eterna vigilância. As Forças Armadas do Brasil certamente estão vigilantes como sempre estiveram e estarão. A maldita esquerda sempre tentará acabar com a nossa  SOBERANIA e a LIBERDADE = NÃO CONSEGUIRÃO.]

Um dia antes de assinar uma nota com fortes críticas contra o senador Omar Aziz (PSD-AM), presidente da Comissão Parlamentar (CPI) da Covid, os comandantes das Forças Armadas participaram de uma reunião no Palácio do Planalto com o presidente Jair Bolsonaro. Sem alarde, o encontro foi realizado na terça-feira (6/7) e foi palco definitivo para definir o alinhamento político dos militares com o governo.

A pauta da reunião estava definida como um balanço dos 30 meses de governo. Mas foi bem além e tratou de protestos pelo país que miraram o presidente Jair Bolsonaro no fim de semana e os riscos de o número de manifestantes nas ruas aumentar e pressionar o Congresso. A tendência é que, a partir de agora, as Forças Armadas não se furtem de se manifestar politicamente em prol do Executivo e de seus interesses.

Além de ministros como Braga Netto, da Defesa; André Mendonça, advogado-geral da União; e Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional; estavam presentes o comandante do Exército, general Paulo Sérgio; da Marinha, Almir Santos; e da Força Aérea, Carlos Baptista Júnior; e integrantes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).

Imagens reproduzidas na reunião criticaram os protestos e ressaltaram a presença de símbolos comunistas nos atos. O texto descrito pelo narrador fazia referência a uma suposta tentativa de instalar o comunismo no país, remetendo a alegações usadas para instaurar o golpe militar de 1964.

Um dos vídeos é de um militante bolsonarista que se infiltrou nas manifestações que ocorreram na Avenida Paulista. Se dizendo ex-militante da União da Juventude Socialista (UJS), o homem filmou os protestos, bandeiras de partidos e acusou os participantes de vestirem verde e amarelo e portarem a Bandeira do Brasil para descaracterizar símbolos usados em atos pró-Bolsonaro.

Um infiltrado mostra a manifestação da esquerda! E não é um leigo no assunto! É um ex-cara pintada, que manifestou na esquerda e militou no PCdoB, até o dia que acordou e percebeu o monte de coisas erradas! É a leitura de alguém que estava do lado de lá, até alguns anos atrás!

Em uma das fotos publicadas pelo Planalto no Flicker, aplicativo de fotos, é possível ver trechos do vídeo sendo reproduzidos no telão, enquanto os ministros olham fixamente para a imagem, e parecem preocupados com o que estão vendo. De acordo com fontes no governo, a reunião ministerial foi precedida de encontros menores e conversas particulares com o presidente.

 

Montagem mostra ministros e militares assistindo a vídeo sobre manifestações contra Bolsonaro. (foto: Reprodução)
 

Política - Correio Braziliense


segunda-feira, 22 de março de 2021

STF na contramão do Direito, da ética e do País - Carlos Alberto Di Franco

O Estado de  S. Paulo - Opinião

Agora só falta prender o responsável pela maior operação anticorrupção da História do Brasil

Não me canso de reafirmar meu respeito ao Supremo Tribunal Federal (STF) enquanto instituição essencial da República. No entanto, as instituições não são abstrações. Encarnam-se nas pessoas que a compõem. 
A credibilidade da Corte depende, e muito, das atitudes dos seus integrantes. É a base da legitimidade. Perdida a credibilidade, queiramos ou não, abre-se o perigoso atalho para o questionamento da legitimidade.  O STF, infelizmente, não tem contribuído para fortalecer a sua credibilidade. É hoje, lamentavelmente, uma das instituições com maior rejeição. E isso é um grave risco para a democracia. 
 
Meu artigo é um alerta angustiado. Já passou da hora de os ministros descerem do Olimpo dos deuses e fazerem uma séria e honesta autocrítica. A sociedade está farta de inúmeras decisões do STF. E a instituição, goste ou não, está mergulhando numa gravíssima crise de imagem. 
 
A decisão monocrática do ministro Edson Fachin que anulou as condenações de Lula da Silva decididas na 13.ª Vara de Curitiba pelo então juiz Sergio Moro, no âmbito da Operação Lava Jato, e tornou o ex-presidente elegível não poderia deixar de causar um terremoto político e um tsunami de indignação moral.  
Como disse, oportunamente, a professora Catarina Rochamonte, colunista do jornal Folha de S.Paulo, trata-se daquele que é tido como chefe do chamado petrolão, que o ministro Gilmar Mendes, antes da sua conversão garantista, considerou “o maior escândalo de corrupção de que se tem notícia”. Também “não se tem notícia de uma transmutação de valores como a de Gilmar Mendes, que, de entusiasta da Lava Jato, passou a fazer da destruição da mesma sua prioridade e obsessão”, frisou a colunista. 
 
Fachin, misteriosa e surpreendentemente, resolveu ressuscitar argumentos já analisados (e rebatidos) à exaustão sobre a competência da 13.ª Vara para julgar as ações contra Lula. Para sustentar sua decisão inexplicável afirmou que as ações contra Lula não tratavam especificamente da Petrobrás, foco central da Operação Lava Jato de Curitiba. No entanto, o próprio ministro incluiu em sua decisão trechos da denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal no caso do triplex, em que está claríssima a ligação entre os favores recebidos pela empreiteira OAS e nomeações e contratos da Petrobrás. Essa relação foi reconhecida em todas as instâncias nas quais Lula foi condenado – na primeira instância, pelo juiz Sergio Moro e no Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4), como voto do relator João Pedro Gebran Neto sendo seguido pelos demais membros da Oitava Turma. Por fim, o Superior Tribunal de Justiça, que manteve a condenação de Lula, também analisou os questionamentos sobre a competência para julgar o caso e concluiu que não houve irregularidade alguma ao se realizar o julgamento na 13.ª Vara e pela Oitava Turma do TFR-4. 
 
Em nota, Fachin disse que a questão já havia sido debatida diversas vezes no Supremo, mas só agora reuniu condições de ser julgada corretamente. Ele assumiu o caso em 2017, depois da morte do ministro Teori Zavascki. Foram necessários quatro anos para decidir “corretamente” sobre um assunto que ele havia decidido outras tantas vezes de modo diverso? Nenhum problema. Faz tempo que a Corte deixou de lado os fatos e o Direito e se embrenhou no campo de um ativismo de ocasião. O STF é hoje a principal fonte de insegurança jurídica no País. 
 
Mas a coisa não parou por aí. Fachin errou feio ao anular os processos contra Lula, mas tão evidente quanto o fato de as denúncias e sentenças desses processos desmentirem sua argumentação é o fato de que, concorde-se ou não com essa decisão, uma vez anulados os processos, qualquer recurso impetrado dentro deles também se torna nulo. 
 
Mas aí, caro leitor, aparece no horizonte o ministro Gilmar Mendes. Após segurar o caso por quase dois anos e meio, graças a um pedido de vista, o ministro sentiu forte comichão e decidiu pautar o tema Moro na famosa Segunda Turma do STF. Em voto longo e carregado de parcialidade (afinal, é desafeto público de Moro), Mendes dedicou-se à demolição da reputação do ex-juiz, no que chamou de “maior escândalo judicial da nossa História”, e, apesar de dizer que nem seria necessário usar as supostas mensagens atribuídas ao ex-juiz e aos procuradores da Lava Jato, mencionou seu conteúdo com grande generosidade. 
 
O fecho de ouro foi dado pelo ministro Nunes Marques, escolhido pelo presidente Jair Bolsonaro para o STF. Pediu vista. Um artifício para adiar a provável degola do ex-juiz Sergio Moro e dar mais um empurrãozinho na Lava Jato rumo ao abismo diligentemente preparado num enorme acordão. Não faz muito, terminei um de meus artigos com um comentário premonitório: Lula absolvido e Moro condenado. A narrativa começa a ser construída. Agora só falta prender o responsável pela maior operação de combate à corrupção da nossa História. Caminhamos céleres rumo à ditadura do Judiciário. Acho difícil, muito difícil, que a imensa maioria da sociedade brasileira, honrada, trabalhadora e sacrificada, aceite engolir um sapo de tamanhas proporções. 
 
Carlos Alberto Di Franco, jornalista - e-mail: difranco@ise.org.br - O Estado de S. Paulo

domingo, 8 de novembro de 2020

Eleições e redes sociais - Por Denis Lerrer Rosenfield

Blog do Noblat 
 

A polarização ideológica cessa de ser eficaz quando um candidato de centro entra como contendor 

As eleições americanas saíram do cardápio de quatro anos atrás, assim como das últimas eleições brasileiras. Se nessas e naquelas a política do ataque e do uso intensivo das redes sociais foram a tônica preponderante, a situação agora mudou completamente. O novo presidente eleito, Joe Biden, é um político moderado, sem o dom da palavra, chegando a gaguejar, e o seu emprego das redes sociais foi em muito inferior ao de seu adversário.

Trump é um político destemido, demagógico que parece acreditar em tudo o que diz por maiores que sejam suas mentiras, em flagrante contradição consegue mesmo. Não recua diante de nada. Se se pode dizer que a sua derrota se deve em muito à pandemia, não é menos verdadeiro dizer que sua comunicação social pandêmica não convenceu os seus eleitores. Suas ginásticas verbais e digitais, em muito semelhantes às do presidente Bolsonaro, foram ineficazes. Quando pessoas adoecem e morrem, não há argumentos, por mais engenhosos que sejam, que possam mascarar a realidade. [uma coisa é certa: apesar da grande possibilidade do democrata ser eleito - o que ocorrendo provará elevada deficiência neuronal do leitor norte-americano - não acreditamos que sejam tão idiotas ao ponto de cogitarem responsabilizar Donald Trump pela pandemia.] A sorte, neste sentido, do presidente brasileiro consiste em que a próxima eleição presidencial não está logo ali, havendo dois longos anos pela frente. No caso dos EUA, o mundo real tomou o lugar do “mundo” digital.

Em redes sociais, o presidente Trump tem mais de 100 milhões de seguidores. Certo deste apoio acreditou em poder menosprezar a imprensa e a mídia tradicionais, mormente representada pela televisão. Não cansava de atacá-las, crendo disto extrair os maiores benefícios, mobilizando seus apoiadores, em boa parte fanáticos. Joe Biden muito longe se situava neste quesito, tendo feito uma campanha muito mais tradicional. Tinha se tornado quase um dogma que eleições, doravante, se ganhariam ou perderiam nas redes sociais. Ora, as eleições americanas mostram a falácia de tal afirmação. O número de seguidores digitais não se traduziu por votos, muitos dos quais utilizaram o meio mais tradicional: correios, como se estivéssemos no século XIX. O país do Google, da Microsoft, da Apple, do Facebook entre outros não cessa de ser o país da imprensa, das redes de televisão, do rádio e dos correios.

A política do ataque, designando o adversário como um inimigo a ser aniquilado, não produziu os resultados esperados. Note-se que o discurso de extrema direita de Trump foi utilizado para combater um candidato moderado, acostumado à prática do diálogo e da articulação política, não se encaixando no perfil do candidato de esquerda, “socialista”, “comunista”. Para Trump, o concorrente ideal teria sido Benny Sanders, contra quem sua demagogia teria tido melhores condições de ser bem-sucedida. Contra um político de centro foi ineficaz. Não conseguiu alcançar a polarização almejada. Eis mais um ensinamento da eleição americana: a polarização ideológica entre extrema direita e esquerda cessa de ser eficaz quando um candidato de centro entra como contendor, sabendo manter-se nesta posição.

A cena democrática não foi capturada por um discurso demagógico, de extrema direita, que desconfia e menospreza as suas instituições. A tentativa de Trump de judicializar o processo eleitoral, a mobilização de seus seguidores mais fanáticos e a busca do confronto estão fadadas ao fracasso. As instituições americanas são sólidas e o que mais prezam os seus cidadãos é a segurança jurídica e a estabilidade institucional, fontes mesmas do seu progresso enquanto nação. Quando da controvérsia eleitoral entre Bush e Al Gore, a propósito da contagem dos votos da Flórida, por mais indefinida que tenha sido a situação, a Suprema Corte interveio, declarou o resultado final e a vida política e social voltou ao normal. O recomeço tomou o seu curso e a sociedade americana voltou ao trabalho e à sua normalidade. Estabeleceu uma linha divisória. [não podemos olvidar que o presidente Donald Trump ainda não reconheceu a suposta vitória do democrata;

Cabe lembrar que a apuração das eleições estão judicializadas, e como bem reconhece o ilustre articulista a Suprema Corte decidiu sobre o conflito entre Bush e Al Gore, intervenção que pode se repetir.]

O tensionamento agora desejado por Trump certamente terá vida curta, por situar-se para além da democracia e dos valores americanos. Eis o limite da demagogia e do uso intensivo das redes sociais.

Blog do Noblat - VEJA - Denis Lerrer Rosenfield,  professor de Filosofia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul