Blog Prontidão Total NO TWITTER

Blog Prontidão Total NO  TWITTER
SIGA-NOS NO TWITTER
Mostrando postagens com marcador retórica. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador retórica. Mostrar todas as postagens

sábado, 8 de abril de 2023

O medo. - Percival Puggina

Ao saber da chacina ocorrida em Blumenau pensei naquela constatação proporcionada pela História: as sociedades dominadas por algum processo revolucionário foram, antes, submetidas pelo medo. Coagidas por ele, pelo terror, abrigaram-se sob seus algozes. Vale para cidadãos em relação ao Estado e vale para os moradores de áreas dominadas pelo tráfico em relação às respectivas facções criminosas.

A sociedade brasileira vive assim. A criminalidade atormenta nosso cotidiano. Bandidos, quando por azar são presos e levados à audiência de custódia, retornam dali para sua tenebrosa faina. Em muitos casos, nem a lei permite prendê-los porque protege melhor os fora-da-lei do que zela pelos cidadãos de bem. Estes, além de tungados pelo crime e achacados pelo Estado (vem aí mais um aumento de impostos), são vítimas de um tratamento discriminatório por parte dos intelectuais de foice, martelo e estrela, que o veem como causa de todos os males.

Os meios de comunicação fazem coro ao coitadismo do bandido-padrão da retórica hoje oficial no país: o “menino” que rouba um celular e “apanha da polícia”
 A polícia é maltratada nas manchetes. 
A situação, de tão recorrente, se tornou típica. Criminosos recebem polícia à bala. Após violenta troca de tiros, morrem dois policiais e dez bandidos. Pronto! As manchetes destacarão a injustiça do placar! Ora, bandido que atira contra a polícia só é visto como vítima por quem é tão bandido quanto ele.
 
O Brasil é o único país do mundo onde os réus só cumprem pena de prisão após “trânsito em julgado da sentença condenatória”. 
E os processos podem ser postergados até a prescrição. Por que? Porque o Congresso Nacional, em sucessivas legislaturas, incorpora em seu plenário congressistas com problemas na Justiça em número suficiente para barrar iniciativas que revertam qualquer dessas aberrações
.
Então, desarma-se a vítima. Propõe-se o desarmamento das polícias, sua desmilitarização e normas para inibir sua atuação. 
Propõem-se, insistentemente, políticas de desencarceramento e de liberação das drogas. O ambiente cultural romantiza a vida criminosa, rompem-se os laços familiares e, nas famílias (como nas escolas), os códigos de boa conduta. 
Ensina-se nas faculdades de Direito que o bandido é potencialmente bom, a sociedade objetivamente má e sua justiça, vingativa. 
Apaga-se na vida social a simples menção a Deus.
 
O medo prospera. Quando o terror se instala, os fracos clamam pelo Estado, vocacionado para a omissão e a leniência. E fecha-se o cerco. Pense comigo: quais os crimes que hoje, no Brasil, suscitam a mais obstinada e célere persecução penal judicial, sem contraditório, ampla defesa e devido processo? Pois é... São os voláteis e subjetivos crimes de opinião, típicos dos regimes revolucionários. Ou não?
[em nossa opinião, só a militarização das escolas, garantirá que tragédias como a de Blumenau e outras não se repitam.]

Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


sábado, 8 de outubro de 2022

Em 24 horas, o que o NYT disse ser fake news da extrema direita foi confirmado como verdade - Gazeta do Povo

VOZES - Madeleine Lacsko

Comércio Brasil-China

Não foi notícia aqui no Brasil, mas fez o maior barulho nos Estados Unidos uma “barrigada” do respeitado New York Times. A história é mais importante do que esse fato em si, que diz respeito apenas aos Estados Unidos. Ela mostra como o viés de confirmação pode nos levar a tomar decisões ruins, inclusive nas áreas em que temos preparo para tomar as melhores decisões.

https://media.gazetadopovo.com.br/2020/11/26110031/the-chinese-national-flag-1752046_1280-crop-20201126130011-660x372.jpg?w=1200&fit=crop&crop=focalpoint&fp-x=0.55&fp-y=0.67&fp-z=1.4

Bandeira da China.| Foto: Pixabay

Quem enxerga a imprensa com ceticismo provavelmente vai pensar que matou a charada de cara. “Eles são esquerdistas e quiseram puxar a sardinha para a própria brasa” será algo frequente na imaginação. Só que as coisas são mais complicadas.
Falar sobre interferência chinesa ou sobre o poder do Partido Comunista Chinês é figurinha carimbada de ativistas. Alguns deles têm razão e outros simplesmente inventam, é difícil distinguir uma coisa da outra.

Existe um limite para a distorção e o erro. Esse caso ultrapassou todos. O resultado, em vez de favorecer a retórica progressista, lança sérias dúvidas sobre ela. Mais que isso, existe a parte do negócio. 
Por mais que opiniões sejam tendenciosas, a perda de credibilidade coloca o negócio da informação em risco. 
Não estamos falando de uma rede social de um jornalista ou de um veículo independente, mas de uma empresa gigantesca e sólida que precisa de confiabilidade e atravessou governos dos mais diversos matizes políticos.

Muitos reclamam de tendências políticas que se manifestam na checagem de fatos. Só que isso não funcionaria caso as checagens fossem todas furadas e malfeitas. É muito amador. O enviesamento de que se reclama é que os fatos checados acabam beneficiando mais um lado do que outro. De determinado campo político tudo é submetido a escrutínio. De outro campo político, só se desmente aquilo que interessa a essa ideologia.

Individualmente, as checagens são legítimas. As pessoas reclamam é da tendência na escolha dos temas ser relacionada à cor ideológica do veículo que faz. Se você é de direita, já tem muito claro na sua mente quem são os veículos de esquerda que agem assim. E, se você for de esquerda, já tem muito claro na mente quais os veículos de direita agem assim.

O caso concreto do New York Times trata de uma temática recorrente nas redes sociais, a interferência do Partido Comunista Chinês em eleições de outros países. É um campo minado. Tudo o que toca em China é de apuração extremamente difícil para ocidentais. Em primeiro lugar, temos a barreira do idioma. Depois temos a barreira cultural, já que conhecemos efetivamente muito pouco sobre a China.

Além disso, o país é uma ditadura com um sofisticado sistema de controle social. Os ocidentais que vivem lá nem sempre estão dispostos a se meter em controvérsias e sofrer consequências, ainda mais por coisas que podem considerar menos importantes.

Veja Também:
Linkedin faz experimento com 20 milhões de usuários sem que eles saibam
Queridinho dos políticos e da imprensa, Twitter é bolha progressista

Por outro lado, essa falta de informação acaba, como se diz na internet, construindo um triplex na mente das pessoas. Falar sobre interferência chinesa ou sobre o poder do Partido Comunista Chinês é figurinha carimbada de ativistas. Alguns deles têm razão e outros simplesmente inventam, é difícil distinguir uma coisa da outra.

Voltemos à publicação do New York Times. Ela é sobre uma empresa de software chamada Konnech. A empresa começou a ser acusada na internet de ter ligações com o Partido Comunista Chinês e ter vazado para ele dados pessoais de 2 milhões de mesários das eleições dos Estados Unidos. Não há uma informação clara que diga se esses dados vazados foram utilizados nem como poderiam ser utilizados. A história era apenas essa, de que a empresa vazou para o governo da China os dados pessoais de 2 milhões de mesários.

Os Estados Unidos vivem um inferno astral desde a invasão do Capitólio. Além disso, falar que China e Rússia interferem nas eleições norte-americanas é um dos pratos preferidos do nicho de teorias conspiratórias. Num primeiro momento, pode parecer que é mais do mesmo. Alguém aleatório aparece falando que China ou Rússia interferiram nas eleições, inventa uma teoria maluca e um monte de gente adere. Poderia ser. É preciso jornalismo profissional para saber se é isso ou não.

Alguma etapa foi pulada. Nesses tempos de polarização e informações frenéticas nas redes, milhões de pessoas compram o livro pela capa. Ocorre que quem fez isso dessa vez foi o New York Times. Diferentemente de milhões de cidadãos, ele sofre consequências desse tipo de conduta.

No dia 3 de outubro, o jornal publicou a seguinte reportagem: “Como uma pequena empresa de eleições se tornou um alvo de teorias da conspiração”. “Nos dois anos desde que o ex-presidente Donald J. Trump perdeu sua candidatura à reeleição, os teóricos da conspiração submeteram mesários e empresas privadas que desempenham um papel importante nas eleições a uma enxurrada de alegações estranhas de fraude eleitoral”, dizia o artigo.

“Mas os ataques à Konnech demonstram como os negacionistas de extrema-direita das eleições também estão dando mais atenção a empresas e grupos novos e mais secundários. Suas alegações muitas vezes encontram um público online receptivo, que então usa as afirmações para levantar dúvidas sobre a integridade das eleições americanas”, sentenciou o New York Times.
O excesso de certezas é confortável, mas também é um inimigo implacável. As coisas são o que são, não o que parecem ser. Fica o alerta para todos nós.

Nos Estados Unidos, há muito mais empresas que participam das eleições do que no Brasil. Estamos falando da meca do liberalismo econômico. Entre as empresas que fazem parte do processo também há as de pequeno porte e muitas tocadas por estrangeiros. É um modelo muito diferente do brasileiro, que tem uma cultura eleitoral mais estatista e controladora. Trata-se de um caso emblemático para repensar prós e contras da abertura total para a participação de particulares e, principalmente, particulares estrangeiros, em processos de governo.

Não tenho uma resposta pronta, mas o caso fez com que eu tenha inúmeras perguntas na ponta da língua. O New York Times fez um artigo focado em teorias conspiratórias de extrema-direita, perseguições de trumpistas a quem participa do processo eleitoral e no drama pessoal do CEO da Konnech, que recebeu ameaças de morte no ambiente digital e foi obrigado a se esconder com a família.

Horas depois da publicação, o CEO da Konnech, Eugene Yu, foi preso a pedido da promotoria de Los Angeles pela forma como lidou com os dados dos mesários das eleições dos Estados Unidos. O contrato da empresa dele exigia que as informações fossem armazenadas no país, mas se descobriu que elas foram enviadas à China. É importante deixar bem claro que a investigação não levantou qualquer suspeita de manipulação do processo eleitoral. Mas as autoridades dos Estados Unidos consideram que, para garantir a integridade do processo, é necessário garantir que tudo seja íntegro.

“Esta investigação está preocupada apenas com as informações de identificação pessoal dos funcionários eleitorais. Neste caso, a suposta conduta não teve impacto no apuramento dos votos e não alterou os resultados eleitorais. Mas a segurança em todos os aspectos de qualquer eleição é essencial para que todos tenhamos plena fé na integridade do processo eleitoral”, declarou o promotor de Los Angeles George Gascón. Ele emitiu um comunicado oficial sobre o ocorrido e os prováveis desdobramentos das investigações.

O excesso de certezas é confortável, mas também é um inimigo implacável. As coisas são o que são, não o que parecem ser. Fica o alerta para todos nós.

Madeleine Lacsko, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


quinta-feira, 1 de setembro de 2022

Lula e suas ‘mancadas do bem’ - Revista Oeste

Silvio Navarro

Discursos do ex-presidente candidato viram dor de cabeça para a esquerda e forçam o consórcio de imprensa a maquiar manchetes

No último sábado, 20, os organizadores da campanha de Lula à Presidência arriscaram mais uma vez um gesto que tem tirado o sono dos seus aliados: entregar um microfone nas mãos do petista. O evento reuniu 4 mil pessoas no Vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo. É possível notar a apreensão no semblante da plateia, como tem ocorrido quando ele pede para discursar. As falas, mais uma vez, caíram muito mal. “Quer bater em mulher? Vá bater em outro lugar, mas não dentro da sua casa”, disse. “Quando quero conversar com Deus, não preciso de padres ou de pastores. É assim que a gente tem que fazer para não escutar mentiras.”

O palavrório do fim de semana se soma a uma verdadeira sucessão de barbeiragens que Lula tem cometido nos últimos meses. A afirmação de que Jair Bolsonaro “não gosta de gente, só gosta de policial”, dita no fim de abril, ainda não foi contornada com a categoria. A frase ainda azedou o clima da comemoração do 1° de Maio, preparada pela CUT (Central Única dos Trabalhadores), para o dia seguinte. Lula teve de abrir a festa pedindo desculpas.

No mesmo dia, até o escritor Paulo Coelho, um dos cabos eleitorais do petista na lista de famosos, se manifestou: “Se Lula continuar com essa incontinência verbal. E se não investir em comunidades sociais de maneira inteligente e profissional, vai permitir que o atual inquilino do Planalto tenha sérias chances de reeleição”, escreveu no Twitter.

Na última semana, foram publicadas dezenas de notas em colunas do consórcio da imprensa sobre os “deslizes” do petista. A avaliação dos aliados é que Lula “não tem mais filtro”. Os comícios têm sido selecionados a dedo e são cada vez mais raros. Oficialmente, a campanha informa que Lula tem poupado a voz.

A fala desastrosa sobre agressão às mulheres que incendiou as redes sociais no fim de semana foi dita no mês em que há uma campanha do governo Bolsonaro em curso sobre os 16 anos da Lei Maria da Penha. A ministra da Mulher, Cristiane Britto, tem participado de rodadas de entrevistas no rádio e na TV para falar sobre novas ferramentas para o registro de denúncias on-line criadas na atual gestão.

A bancada feminina também tem se queixado da frequência com a qual ele se refere à virilidade, aos 76 anos. “Estou com tesão de 20”, costuma dizer publicamente. [quando alguém fala demais sobre possuir em abundância certas qualidades, especialmente quando é um mentiroso compulsivo, é motivado por NÃO TER o que apregoa, patologicamente, possuir em abundância.]   A avaliação delas é que a expressão soa como machista.

Outro ponto delicado é a defesa do aborto. A mensagem inicial, que agradava à militância, era assim: “Aqui no Brasil, a mulher não faz o aborto porque é proibido, quando na verdade deveria ser transformado numa questão de saúde pública e todo mundo ter direito e não ter vergonha”.

A retórica causou estrago no eleitorado evangélico. Precisou ser substituída às pressas por essa versão na carta de intenções de governo: “O Estado deve coordenar uma política pública de cuidados e assegurar às mulheres o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos, políticas essenciais para a construção de uma sociedade mais igual”.

As muitas formas de fechar uma Igreja
De todas as mancadas, o que mais preocupa o PT atualmente é o vaivém com o eleitorado evangélico. As igrejas apoiam majoritariamente a reeleição de Bolsonaro. Nesse segmento do eleitorado, a principal figura é a primeira-dama, Michelle, estrela da campanha deste ano. Pastores também estão bastante ativos nas redes sociais, o que irrita a esquerda. Mas, ao levar essa insatisfação para o palanque, Lula aumentou o incêndio.

“Eu não sou candidato de uma facção religiosa. Sou candidato do povo brasileiro” (Minas Gerais, 17 de agosto)

Os partidos que formam a coligação com o PT pediram à Justiça Eleitoral nesta semana a retirada de postagens em redes sociais que vinculem a esquerda ao fechamento de igrejas protestantes. Os alvos são deputados ligados a igrejas, especialmente Marco Feliciano (PL-SP), que é pastor da Assembleia de Deus Ministério Catedral do Avivamento.

“O deputado vem proferindo publicamente falas desinformadoras a respeito das consequências para os fiéis da religião evangélica caso o Partido dos Trabalhadores vença a eleição presidencial (…) ao propagar as falas, sem apresentar qualquer embasamento ou fundamento, trazendo ainda dados que não conferem com os oficiais, fere a imagem e a honra do partido.”

Feliciano respondeu em entrevistas. “Reitero firmemente que tenho muito receio que um governo encabeçado por Lula persiga os evangélicos. A base são inúmeras declarações públicas do ex-presidiário, disse. “Existem muitas formas de fechar uma Igreja. Uma delas é calando os pastores ou obrigando religiosos a terem condutas antibíblicas. A igreja fisicamente estará aberta, mas na prática estará fechada.”

[Lula é ateu, a esquerda também, assim como o comunismo e outras coisas semelhantes; o descondenado apoia Ortega que, - a exemplo de outros países comunistas, progressistas, esquerdistas = ateus =  - persegue os cristãos. CONFIRA.]  

Uma das cartadas usadas pelos adversários de Lula é mostrar que é aliado do ditador Daniel Ortega, que fechou templos na Nicarágua. “O amigo de Lula anda prendendo padres e fechando igrejas”, disse o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do presidente.[A ESQUERDA GOVERNANDO.] Nicarágua, aliás, era um dos nomes que Bolsonaro escreveu na palma da mão durante a entrevista ao Jornal Nacional, da Rede Globo.

Uns bons drinques
Na segunda-feira 22, Lula novamente provocou ruídos, dessa vez com as Forças Armadas e com diplomatas. Ele participava do lançamento do livro do seu fotógrafo particular, Ricardo Stuckert, que o acompanha há duas décadas.

“O Itamaraty será aquilo que o governo decidir o que ele seja”, afirmou. “Como as Forças Armadas serão, como todas as instituições do Estado serão, aquilo que o governo quiser que sejam”

Na sequência, esticou mais a corda em relação ao Itamaraty. “Quem define é o Estado e é através de políticas do governo que o Itamaraty pode agir mais ou agir menos”, disse, ao afirmar que há excesso de conservadorismo na chancelaria. “Se você tem um governo que não define que política você quer, que não te dá orientação, é muito mais fácil ficar na embaixada servindo de drinque ou ir à embaixada dos outros tomar drinque”.

Não bastasse a sucessão de frases problemáticas, o petista ainda tem de conviver com a patrulha da cartilha politicamente correta da esquerda. Uma reportagem da Folha de S.Paulo publicada nesta semana lista o que é tratado como “escorregões”. O jornal cita menções à criação do “Ministério do Índio e da Índia” — diz que o correto seria “dos povos indígenas” — e do termo “escravo” quando se tratar de causa racial — deveria ser substituído por “escravizado”.

Bater em mulher
Há ainda pressões que beiram o ridículo, como a que tenta convencer o petista a ceder à linguagem neutra “todes” e parar de contar piadas sobre nordestinos. Pernambucano, Lula usa essas piadas em referência própria. Até o consumo de carne, como a tradicional frase que ele repete — “Os pobres vão poder comer picanha” —, virou problema com os vegetarianos.

Paralelamente, cabe ao consórcio de imprensa tentar minimizar o estrago. Se de um lado as frases de Jair Bolsonaro são consideradas “más intenções”, as de Lula são tratadas como “deslizes”, “gafes” e “escorregões”. É possível prever, por exemplo, como a fala sobre “bater em mulher” seria publicada se partisse de Bolsonaro. O site do PT mantém um arquivo com uma cronologia do que diz configurarem atitudes misóginas e homofóbicas do presidente. Sobre a recente fala de Lula, contudo, não publicou uma linha.

Fato é que restam pouco mais de 30 dias para o primeiro turno das eleições. É uma corrida curta. Se Lula continuar falando de improviso, até os institutos de pesquisa vão acabar desistindo dele até outubro.

Foto: Reprodução/Folha de S.Paulo

Leia também “Pesquisa estimulada”

Silvio Navarro, colunista - Revista Oeste


domingo, 30 de janeiro de 2022

Marco Aurélio: "Há uma incongruência o presidente da República sendo compelido a comparecer à PF"

Ministro aposentado do Supremo diz não ver motivo para o inquérito que investiga Bolsonaro por vazamento de informações sigilosas e ressalta que caso precisar ser tratado com "temperança"

O ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello classificou como “uma incongruência” o presidente da República, Jair Bolsonaro, ser “compelido” a comparecer a depoimento na Polícia Federal. O chefe do Executivo foi intimado pelo ministro Alexandre de Moraes, da Suprema Corte, a prestar esclarecimentos, na sexta-feira (28), na investigação sobre a divulgação de inquérito sigiloso que apura o ataque hacker aos sistemas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ele, no entanto, não compareceu. [felizmente, o presidente Bolsonaro com devido amparo legal, não compareceu ao ato que pretendiam forçá-lo a participar e com isso impediu a efetivação da incongruência.]

"O presidente da República, de início, tem direito a prestar depoimento, ajustar com o juiz e optar por prestar o depoimento por escrito. Penso que isso precisa ser tratado a partir de entendimento, temperança. Não se trata de um envolvido qualquer”, argumentou Marco Aurélio. “Há uma incongruência o presidente da República sendo compelido a comparecer à Polícia Federal. O que precisamos é buscar o entendimento, com a colaboração do presidente. Deveria ter sido ajustado com o ministro Alexandre, ou então optando para pedir para prestar o depoimento por escrito. Aí, teria de remeter a ele as perguntas que seriam formuladas."

Marco Aurélio disse que não viu motivo para a instauração do inquérito. “Eu atribuí tudo, àquela altura, a um arroubo de retórica, porque ninguém coloca em dúvida o nosso sistema de urnas eletrônicas. Ele apenas se manifestou. E nós estamos em uma democracia, muito embora as opiniões não nos agradem”, ressaltou. “Não é motivo, a meu ver, para instaurar um inquérito para o presidente da República. Seria gastar munição de alto calibre.”

O ministro aposentado destacou que a postura de Bolsonaro acaba provocando crises. “Não sei qual é o efeito eleitoral disso junto àqueles que possam sufragar", afirmou. "Vai ser um ano complicado. É preciso dar um desconto, não se pode levar tudo a ferro e fogo. Tudo é potencializado como se fosse o fim do Brasil. Ele colocou em dúvida, paciência. Deixe que os cidadãos em geral julguem a fala dele.”

Conforme enfatizou Marco Aurélio, o sistema eleitoral “é muito seguro, muito avançado”. “A vontade do eleitor é preservada. É tempo de tirar o pé do acelerador, tanto para o presidente quanto para o colega ministro”, acrescentou.
 
 
Política - Correio Braziliense
 

quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

A tentação reacionária de banir o Telegram - Guilherme Fiuza

É assim a nova utopia reacionária: você pode usar uma premissa de depuração para escolher quais verdades você deixará circular

 O Tribunal Superior Eleitoral iniciou uma manifestação de hostilidade à rede social Telegram. Segundo o presidente do TSE, Luís Roberto Barroso, trata-se de um ambiente que tem sido utilizado para a propagação de informações falsas e teorias da conspiração. O TSE diz ter “parcerias” com as principais plataformas de internet para o controle de conteúdo indesejável e não quer que haja exceções. O TSE e seu presidente devem estar achando que estão numa colônia da ditadura chinesa.

A tentação de banir o Telegram do país só pode vicejar em mentes que tenham perdido por completo os referenciais de democracia. Estão confiando demais na retórica indigente do suposto combate a “fake news”, “onda de ódio”, etc. para embargar e suprimir o que der na telha, fazendo política a céu aberto com esse disfarce mal-ajambrado.

Vamos contribuir com essa utopia reacionária: por que não banir também o WhatsApp? Ali circula de tudo – até informação falsa extraída do perfil do próprio TSE, alegando que o projeto da instituição do voto auditável significaria o retorno a cédulas de papel. 
É ou não é terrível um ambiente suscetível a desinformações desse tipo?
 
Proíbam o Telegram e o WhatsApp. Mas não só eles. Há uma praça, numa grande cidade brasileira, onde pessoas se reúnem para dizer que o assalto à Petrobras não existiu e todos os bilhões de reais devolvidos foram apenas uma caridade dos ladrões
Por essa praça, passam milhares e milhares de pessoas todos os dias – um contingente expressivo de cidadãos permanentemente expostos a disparates desse tipo. A patrulha da verdade não vai interditar essa praça?

Mas o problema não termina aí. Algum tempo atrás, falou-se muito de um cidadão que trazia ideias estranhas – e nesses casos todo cuidado é pouco. Seu nome era Graham Bell. Como não foi detido a tempo, ele deixou por aí um aparelho perigoso – que tornava a comunicação muito mais rápida que as cartas levadas de navio ou em lombo de burro. Resultado: passou a ser possível a uma única pessoa passar trotes rapidamente para diversas outras afirmando, por exemplo, e jurando de pés juntos, que o sistema das urnas eletrônicas no Brasil é invulnerável. Como transigir com um risco de desinformação desta monta?

As “parcerias” que o TSE diz ter firmado com as principais plataformas de internet todos sabem de que tipo são e elas se estendem a toda uma rede de zeladores da verdade celestial. Com o auxílio das milícias checadoras – o braço armado do gabinete do amor – operam o banimento, por exemplo, de uma mãe que perdeu o filho jovem com um AVC pós-vacina de covid.  
Essa mãe contratou uma investigação clínica que atestou a causalidade, reconhecida pela autoridade de saúde do seu estado. 
Passou a usar as redes para tentar ampliar o conhecimento sobre efeitos adversos e foi banida.

É assim a nova utopia reacionária: você pode usar uma premissa de depuração para escolher quais verdades você deixará circular. O Telegram tem um mundo de informações e dados de todos os tipos ciência, filosofia, arte, política com toda a escala de precisão/imprecisão, confiabilidade/suspeição, boa-fé/má-fé que caracteriza qualquer ambiente livre. Para os delitos, existem as leis. Para os reacionários, não existe remédio.

Guilherme Fiuza, colunista - Metrópoles 

Este texto representa as opiniões e ideias do autor.


quinta-feira, 19 de agosto de 2021

ESTA DEVERIA SER A NOTÍCIA; O RESTO É NARRATIVA - Perrcival Puggina

Solidariedade aos que têm tolhida a liberdade de opinião.

O jornalismo brasileiro vive tempos funestos. A notícia morreu; viva a narrativa!

Sempre fui leitor de jornais. Minha mãe alfabetizou-me aos quatro anos, sentado no chão, lendo manchetes do velho Correio do Povo. Minhas primeiras lembranças de informação jornalística remontam ao ano seguinte, acompanhando a demorada contagem dos votos da eleição presidencial de 1950, com a derrota do brigadeiro Eduardo Gomes, candidato da minha família, e a vitória de Getúlio Vargas. Nunca mais deixei de ler jornais. Num pluralismo sadio, havia muita diferença entre eles. Eram assinados ao gosto do freguês.

Desastrosamente, nem nos tempos em que houve censura à imprensa vi mesmice semelhante à que percebo hoje. A boa e velha notícia, produto multiforme das ações humanas, razão de ser das empresas de comunicação e ganha pão dos jornalistas através dos séculos – pasmem – virou narrativa!

Todas as matérias passam por essa reciclagem. A informação se converteu em esforço de convencimento do público.

Os filósofos sabem que essa é a fase mais primária do discurso. Dispensa a retórica, a dialética e a análise. Quando, em programas ou textos mais longos, a narrativa se encontra com a análise, surge outro gravíssimo desvio – a fake analysis. Ela é aquele primor do sofisma, proporcionado por “especialistas” valorizados exatamente pelo comprometimento com a narrativa em curso.

O fenômeno ganha dimensões pandêmicas. As exceções são raras e não estão nos grandes grupos de comunicação, que se afiguram combinados, ensaiados, orquestrados, no repertório e na execução. Mesmo perante um ato jurídico disforme, como aquele em que se estruturam os dois inquéritos sucessivos abertos no STF contra os “atos antidemocráticos”, esses veículos se submetem à regência da narrativa, seguem-lhe a batuta e silenciam contra as anomalias. O Granma, jornal cubano, faz a mesma coisa.

Ao solicitar o bloqueio de toda monetização de alguns youtubers e canais digitais, o ministro corregedor–geral da Justiça Eleitoral escreveu que de fato existe uma rede vasta, organizada e complexa para contaminar negativamente o debate político e estimular a polarização" (1). E ninguém redigiu uma linha a respeito!

Ninguém saiu da narrativa para ensinar que a polarização é elemento natural do ambiente político. Não é invenção, não é surto, não é crime, nem algo perigoso.

Temível é a política de um pólo só, como estou vendo acontecer desde quando os poucos conservadores ativos no Brasil perceberam não estar solitários e levaram à loucura o pólo até então hegemônico. O que houve no Brasil foi uma ruptura da hegemonia. 

         Essa deveria ser a notícia. O resto é narrativa.

Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

domingo, 12 de julho de 2020

'Milícias digitais são terroristas verbais que se utilizam da internet para atacar as pessoas e destruir as instituições', afirma ministro - Guilherme Amado

Revista ÉPOCA

'Não é culpa do Supremo que o mundo hoje olha para o Brasil atônito como tratamos a pandemia', critica Barroso

Em entrevista à coluna, Luís Roberto Barroso afirmou que autoridades que peçam fechamento do STF estão cometendo crime de responsabilidade

Os inquéritos das fake news e dos atos antidemocráticos estão sendo suficientes para coibir e, eventualmente, punir os crimes contra o STF?
Sobre os inquéritos, eles não estão sob minha relatoria e eu prefiro não falar. Sobre as fake news e sobre os comportamentos antidemocráticos eu quero falar, porque acho que há uma consideração importante. Nós defendemos a liberdade de expressão. Eu não me preocupo particularmente com críticas ao Supremo. Acho que quem vai para o espaço público tem que estar preparado para ouvir crítica justa, injusta, construtiva ou não. Eu lido com tranquilidade com isso mesmo quando leio barbaridades a meu próprio respeito. Portanto, estar no espaço público é estar sujeito a crítica. E até acho  que a expressão particular de que o Supremo é tão ruim que precisa ser fechado, eu não concordo, mas acho que ela faz parte da liberdade de expressão. 

Nem todos concordam, mas eu acho. Mas, agora, a articulação efetiva e concreta para fechar uma instituição democrática prevista na Constituição, eu acho que isso, sim, você pode desarticular. E, se um agente público se manifestar nesse sentido, eu acho que é crime de responsabilidade. Há coisas que um particular pode fazer, mas quem jurou respeitar a constituição não pode. As democracias têm que ter o direito e o dever de legítima defesa, não devem ficar inertes quando estão sendo atacadas. O Congresso Nacional revogou medidas do presidente da República, elas foram revogadas e a Constituição foi cumprida. O STF derrubou decisões do governo, houve choros e ranger de dentes, é certo, mas o que o Supremo decidiu valeu e a Constituição foi cumprida. Portanto, embora haja muitas vezes uma retórica criticável, a verdade é que não houve atos concretos de desrespeito, seja ao Congresso, seja ao Supremo, fora essa retórica. No que diz respeito à defesa da democracia e defesa de direitos fundamentais, acho que o Supremo se saiu muito bem. E acho que, na epidemia, o Supremo prestou um belo serviço ao país. Faço uma defesa veemente do Supremo, que fez bem ao país. Não é culpa do Supremo que o real foi a moeda que mais desvalorizou. Não é culpa do Supremo que o mundo hoje olha para o Brasil atônito com a maneira como nós tratamos a pandemia. É preciso ter a compreensão dos fatos como eles são.

Se não tivesse havido adiamento, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) teria conseguido executar as eleições no prazo de outubro normalmente?
A principal razão do adiamento foi uma razão ligada à saúde pública. Todos os médicos epidemiologistas, sanitaristas e infectologistas que consultamos se manifestaram no sentido de que não era conveniente a realização das eleições em outubro, porque a curva da doença ainda não estaria totalmente estabilizada. A expectativa é que a partir de setembro a curva comece a cair e nós teríamos algumas semanas até a realização das eleições. A pandemia impossibilitou as pessoas que vão trabalhar nas eleições de viajarem aos locais de treinamento, o que retardou os testes do TSE. Nós esperamos que  esses testes possam se realizar.  com mais essas semanas que ganhamos com o adiamento das eleições.

(.....)

A que se deve essa mudança?
Acho que alguns dos principais anunciantes mundiais estão se recusando a fazer publicidade em mídias sociais justamente por acharem que havia uma certa leniência com comportamentos associados a discursos de ódio, discursos racistas, discursos de supremacia branca. Coisas que são completamente inaceitáveis no mundo contemporâneo, nas sociedades civilizadas. Há uma onda mundial positiva de enfrentamento de notícias fraudulentas e de enfrentamento de campanhas de ódio e de campanhas racistas. As plataformas já agora se deram conta de que tem um problema reputacional em elas serem associadas a essa degeneração da democracia. Sendo assim, todas se mostraram cooperativas e nós pensamos a mesma coisa em relação a evitar a censura, mas coibir os compartimento ilegítimos. E já temos uma estratégia.

Qual é?
Em primeiro lugar, contar com as plataformas tecnologias e com meios tecnológicos de desabilitar contas criminosas e parar robôs. Em segundo lugar, contamos com a imprensa profissional, que sabe separar fato de opinião, que se move por preceitos éticos e que possa fazer o filtro dessa bobagens que circulam nas redes, ao lado dos checadores de fato. E, por fim, contamos com a conscientização da sociedade.  Temos uma campanha contra fake news já engatilhada e que deve entrar no ar nas próximas semanas.

(.....)
Como esclarecer que é importante combater a notícia falsa independentemente de ideologia? 
Mostrar que é algo ruim, seja vindo da direita, seja da esquerda?
Eu tenho a teoria de que a integridade vem antes da ideologia. Portanto, em primeiro lugar, as pessoas têm o dever de serem corretas, honestas. No enfrentamento da corrupção, eu mesmo digo que não tem corrupção de direita ou de esquerda, porque a integridade vem antes dessas escolhas ideológicas. E evidentemente isso vale também para campanhas fraudulentas. Uma das campanhas que o TSE pretende fazer é justamente para pessoas não disseminarem notícias fraudulentas ou notícias sem checar a autenticidade. O Brasil precisa de um choque de Iluminismo e um choque de integridade também. O que eu destacaria como muito importante no combate às fake news é uma preocupação que todos temos de não instituir um sistema de censura, seja uma censura feita pelo TSE, pública, digamos assim, seja feita pelas próprias redes sociais, uma censura privada. Portanto, o uso de perfis falsos, os impulsionamentos artificiais, os robôs, porque este é um controle que tem como fazer com meios tecnológico sem intervir no conteúdo. No conteúdo acho que tem que interferir por exceção e não por regra, quando viole os termos de uso dessas empresas, que impedem manifestações de ódio, incitação ao crime, manifestações racistas. Nós precisamos combater sob pena de degeneração da democracia. Essas milícias digitais são terroristas verbais que se utilizam da internet para atacar as pessoas e para destruir as instituições e não para travar o bom combate de ideias, que é para isso que temos a internet unindo as pessoas nessa ágora eletrônica. É para disputarem o argumento, não para terem comportamentos criminosos e destrutivos.

Juridicamente, a gente tem base legal para punir quando se torna crime?
Não há uma tipificação específica de fake news, de circulação de notícias fraudulentas. Mas existe a criminalização da calúnia, da injúria, da difamação, do racismo, portanto, os mecanismos convencionais. Mas não tem definição legal precisa do que sejam fake news. Você pode enquadrar em diferentes tipos penais, mas não há um tipo penal fake news.

Acesse Revista Época para ler MATÉRIA COMPLETA