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domingo, 9 de julho de 2023

Reforma tributária aprovada não baixa imposto nenhum e nem ataca o problema fiscal do País - O Estado de S.Paulo

J. R. Guzzo

Pacote de novas regras empurra uns tributos daqui para lá, muda nomes e reparte os trilhões de forma diferente

Temos, enfim, a reforma tributária que o governo queria. 
Começou, como em geral começa tudo que tem alguma coisa a ver com Lula, com uma queima monstro de dinheiro público R$ 5 bilhões em “emendas Pix”, liberadas em cima da hora, para comprar votos no bazar do plenário da Câmara. (É a única preocupação do presidente Arthur Lira e da maioria dos deputados: fatiar o orçamento, levar cada um o seu e o resto que se exploda.) 
 Acabou com mais um pacote de novas regras para o pagamento de impostos – que mais uma vez, como se faz há 500 anos, foi decidido sem que ninguém desse a mínima atenção aos interesses, ou sequer à opinião, dos brasileiros que estão condenados a pagar até o último tostão desses impostos todos.
 
O Brasil precisava de uma reforma tributária? Precisava. Poucos países do mundo tem um sistema de impostos tão estúpido quando o brasileiro – obra direta dos sagrados sacerdotes que produziram a Constituição de 1988 e das gerações de deputados que vêm aprovando, uma depois da outra, todas as leis que criaram essa situação fiscal demente. 
O Brasil precisava da reforma que acabou aprovada? 
Aí já é outra conversa. O que dá para falar é que a única reforma fiscal que faz nexo neste país onde quem ganha R$ 2.000 por mês, e mal consegue comer, já tem de pagar imposto de renda – é uma reforma para baixar os impostos. 
Serão R$ 3 trilhões de arrecadação neste ano de 2023. 
Alguém acha que é pouco? Só Lula.
A lei agora aprovada não baixa coisa nenhuma. Empurra uns impostos daqui para lá, muda nomes e reparte os trilhões de forma diferente.
Pode, até, gerar um pouco mais de sanidade no sanatório geral que está aí, embora os tributaristas, analistas e “especialistas” chamados para nos instruir nas mesas redondas da mídia digam coisas tão diferentes umas das outras que fica difícil entender se vai piorar ou despiorar, como diziam os jornalistas até Lula assumir a Presidência. 
O fato indiscutível é que não foi feita, e nem passou pela cabeça de ninguém, a mínima tentativa de tratar do único problema fiscal que realmente existe no Brasil: o gasto sem controle do governo. 
A despesa pública não é fixada segundo a capacidade que a população tem para pagar os impostos. 
É o contrário. 
O imposto é que tem de acompanhar o gasto público.
 
Para um país pobre como o Brasil, com um PIB inferior ao valor de mercado da Apple, hoje batendo nos 3 trilhões de dólares, o resultado é a concentração alucinada de renda e o desastre social que vem daí. 
A justiça, por exemplo, custa R$ 100 bilhões por ano; o Congresso mais 14 bi, e assim por diante. 
O Brasil não tem dinheiro para pagar isso tudo.

J. R.Guzzo, colunista - O Estado de S.Paulo


sábado, 15 de abril de 2023

Em busca do retrocesso perpétuo - Revista Oeste

J. R. Guzzo

Lula, o PT e a esquerda têm de segurar o Brasil na miséria, na ignorância e no atraso; ou é desse jeito, ou não existem. É daí que vêm os votos que lhes permitem estar no governo

Fachada das casas de palafitas à beira do rio, na periferia de São Luís do Maranhão, onde não existe saneamento básico para a população. Foto de 2009, final do governo Lula | Foto: Celso Junior/Estadão Conteúdo/AE
Fachada das casas de palafitas à beira do rio, na periferia de São Luís do Maranhão, onde não existe saneamento básico para a população. Foto de 2009, final do governo Lula | Foto: Celso Junior/Estadão Conteúdo/AE
 As coisas no Brasil de hoje, e na maior parte destes anos 2000, ficam mais fáceis de entender se você partir de uma constatação básica: o programa de destruição que Lula, o PT e a esquerda vêm aplicando contra a população brasileira quando estão no governo tem um método. 
Não é apenas a roda da fortuna e do azar, que trazem para os países subdesenvolvidos, junto com a maré enchente e a maré vazante, a incompetência, a desonestidade orgânica e a pirataria do dinheiro público as marcas mais óbvias dos quase 14 anos em que eles estiveram na presidência da República. 
O Brasil, certamente, deu azar nesse período. Foi governado por gente integralmente inepta, sem qualquer qualificação para dirigir sequer um carrinho de picolé a começar pelo próprio Lula, o mais exibido de todos na sua incompetência sem cura. Mais: foi governado por parasitas que nunca trabalharam na vida, não de verdade; passaram suas existências simulando atividade no serviço público, na universidade ou em coisas assim, mas nunca foram capazes de produzir um único parafuso. 

Sua obsessão, o tempo todo, foi arrumar empregos bem pagos (empregos, não trabalho) na máquina estatal, onde estão até hoje, aos milhares e para sempre. Mais do que tudo, roubaram como nunca se roubou no Brasil ou no mundo — comandaram o maior sistema de corrupção jamais visto na história humana, provado na justiça com confissões, documentos e devolução voluntária de dinheiro roubado. Tudo bem: você está cansado de saber que é assim. O problema é que a soma de tudo isso não é o pior. O pior é que o Sistema Lula age desta maneira porque não pode agir de outra — se fizer diferente do que tem feito vai cair morto, direto, e o instinto de sobrevivência simplesmente não admite que isso venha a acontecer.

Lula perdeu em todos os Estados brasileiros, sem falhar um, onde há mais progresso e menos pobreza; ganhou em todos os Estados, também sem falhar um, onde há mais subdesenvolvimento e mais miseráveis

(...)

O fato é que, em três meses de governo, o Sistema “L” não perdeu uma única oportunidade, nem uma que fosse, de deixar o número de pobres no Brasil igual ao que é hoje, ou se possível maior. Sua realização mais agressiva, até o momento, foi a anulação do novo marco do saneamento, que começou enfim a permitir, de 2020 para cá, que um número maior de brasileiros tivesse mais esgotos e mais água encanada. O saneamento básico é um dos maiores escândalos sociais do Brasil: por culpa única e direta da esquerda nacional e de sua maior aliada política, a elite que mantém toda uma parte da população em situação equivalente à de escravidão, 100 milhões de pessoas não têm esgoto até hoje neste país, e 35 milhões não têm nem mesmo água encanada. É isso: em pleno século XXI, 2.000 anos depois da Roma antiga ter resolvido seus problemas de água e de esgoto, 50% da população brasileira não tem uma rede sanitária elementar. Em muitos lugares é bem pior — em Belém, a segunda maior cidade da Amazônia com seus 1,5 milhão de habitantes, quase 90% dos habitantes não têm esgoto. Isso mesmo: quase 90%. O Brasil é assim por um motivo óbvio e indiscutível. Até a nova lei, só as empresas estatais, controladas pelos milionários que mandam na política dos lugares mais subdesenvolvidos do Brasil, em consórcio com o PT, podiam operar no setor — elas, com as suas pencas de empregos públicos e os seus negócios de pai para filho. O resultado objetivo da ação exclusiva das estatais na área sanitária são os 100 milhões de brasileiros que vivem sem esgoto até hoje. Seria possível citar algum outro culpado por essa tragédia? Quem? Exemplo: há décadas a água e os esgotos no Pará, para todos os efeitos práticos, são propriedade privada da família Barbalho e da estatal que lhes serve. Deu nisso — só 13% da população de Belém tem esgotos. Multiplique-se agora essa situação pelas regiões mais atrasadas do país, com exceção de Alagoas, onde a nova lei funcionou de modo exemplar. Não pode dar outra coisa.

(...)

Tão ruim ou pior é o ataque de Lula e do seu governo contra a nova Lei do Ensino Médio — a primeira esperança concreta de alguma melhoria efetiva na monstruosa educação pública do Brasil. A lei foi aprovada pelo Congresso Nacional em 2017, após 20 anos de discussão; para não haver qualquer desculpa, foram dados mais cinco anos de prazo até sua entrada em vigor, e a aplicação iria começar no atual ano escolar. Entre outros benefícios óbvios, passou-se a incentivar o ensino da matemática, das ciências exatas e das disciplinas que dão mais chance para os jovens no mercado de trabalho. Mais: não são obrigados a fazer nada do que não queiram; apenas foi dada a eles a chance da escolha, pela primeira vez na vida. O PT e os sindicatos de professores, é claro, sempre foram furiosamente contra qualquer mudança; exigem que fique tudo como sempre foi. Seu argumento é demente. Dizem que as novas regras interessam “às empresas” e ao “capitalismo”; não podem valer, portanto, apesar de se tratar de uma decisão do Congresso, transformada em lei. 

(...)

A destruição da Lei de Cabotagem é outra agressão grosseira ao interesse da maioria da população. O Brasil tem mais de 8.500 quilômetros de costas que podem ser navegadas, mas não são. Na prática, até agora, era como se houvesse uma lei dizendo: “A navegação de cabotagem é proibida no Brasil”. Era assim por uma razão muito simples e muito safada: só podiam fazer esse serviço navios que foram construídos em “estaleiros nacionais”, ou seja, quase ninguém podia. O transporte de mercadorias em distâncias superiores a 1.200 quilômetros, ou por aí — do porto de Santos ao porto do Recife, por exemplo —, é muito mais eficaz e mais barato se for feito por mar. Isso não interessa, nem um pouco, aos aproveitadores que vivem em volta do PT. No ano passado foi aprovada pelo Congresso, como nos casos anteriores, uma lei abrindo o setor, no ritmo mais moderado que se poderia adotar, para as transportadoras brasileiras — elas ganharam o direito de fretar navios estrangeiros, ou fabricados no exterior, para navegar no litoral do seu próprio país. O efeito imediato disso seria o aumento de empregos, de renda, de lucros, de investimento e de oportunidades. Lula, naturalmente, foi contra: anulou também essa lei, com um ato de vontade. E a Lei das Estatais? Aprovada ainda no tempo de Michel Temer, ela dificultava a pilhagem das empresas públicas pelos políticos — algo de interesse direto e imediato para quem não tem nada. Foi um dos primeiros avanços que Lula destruiu, com o apoio da Câmara dos Deputados; se o Senado confirmar, ele terá cerca de 600 empregos de marajá para entregar ao PT-PCdoB-Psol ou para vender ao “centrão”.

Luiz Inácio Lula da Silva cumprimenta o presidente do Senado, 
Rodrigo Pacheco, ao lado do vice-presidente, Geraldo Alckmin, 
e de parlamentares aliados | Foto: Divulgação/Ricardo Stuckert 
[e pensar que o senador estridente foi, por algum tempo, 
considerado o paladino na luta contra a corrupção.]

Lula disse há pouco que quer criar uma “classe média”, doando dinheiro do Tesouro Nacional aos “pobres”. O Brasil não tem uma dívida pública?, perguntou ele. Então: por que não pode aumentar essa dívida e “acabar com a pobreza?” Parece idiota, e é idiota; mas também é intencional. Doar dinheiro público não vai acabar com pobre nenhum; se acabasse não haveria pobres no mundo, não é? O que todos eles querem, mesmo, é um Brasil miserável, pois é disso que vivem. É possível que você tenha notado que a esquerda brasileira foi parando de usar a palavra “reacionário” — sua definição, durante décadas, para quem tinha uma opinião diferente. Notaram, aparentemente, que a palavra passou a descrever, com exatidão cada vez maior, Lula e tudo o que existe em volta dele. O presidente da República é hoje o maior reacionário em ação no Brasil; quer, acima de qualquer outra coisa, manter o país em retrocesso perpétuo.

Leia também “O Brasil sem lei”

MATÉRIA COMPLETA - Clique J. R.Guzzo, colunista - Revista Oeste


sábado, 8 de abril de 2023

O medo. - Percival Puggina

Ao saber da chacina ocorrida em Blumenau pensei naquela constatação proporcionada pela História: as sociedades dominadas por algum processo revolucionário foram, antes, submetidas pelo medo. Coagidas por ele, pelo terror, abrigaram-se sob seus algozes. Vale para cidadãos em relação ao Estado e vale para os moradores de áreas dominadas pelo tráfico em relação às respectivas facções criminosas.

A sociedade brasileira vive assim. A criminalidade atormenta nosso cotidiano. Bandidos, quando por azar são presos e levados à audiência de custódia, retornam dali para sua tenebrosa faina. Em muitos casos, nem a lei permite prendê-los porque protege melhor os fora-da-lei do que zela pelos cidadãos de bem. Estes, além de tungados pelo crime e achacados pelo Estado (vem aí mais um aumento de impostos), são vítimas de um tratamento discriminatório por parte dos intelectuais de foice, martelo e estrela, que o veem como causa de todos os males.

Os meios de comunicação fazem coro ao coitadismo do bandido-padrão da retórica hoje oficial no país: o “menino” que rouba um celular e “apanha da polícia”
 A polícia é maltratada nas manchetes. 
A situação, de tão recorrente, se tornou típica. Criminosos recebem polícia à bala. Após violenta troca de tiros, morrem dois policiais e dez bandidos. Pronto! As manchetes destacarão a injustiça do placar! Ora, bandido que atira contra a polícia só é visto como vítima por quem é tão bandido quanto ele.
 
O Brasil é o único país do mundo onde os réus só cumprem pena de prisão após “trânsito em julgado da sentença condenatória”. 
E os processos podem ser postergados até a prescrição. Por que? Porque o Congresso Nacional, em sucessivas legislaturas, incorpora em seu plenário congressistas com problemas na Justiça em número suficiente para barrar iniciativas que revertam qualquer dessas aberrações
.
Então, desarma-se a vítima. Propõe-se o desarmamento das polícias, sua desmilitarização e normas para inibir sua atuação. 
Propõem-se, insistentemente, políticas de desencarceramento e de liberação das drogas. O ambiente cultural romantiza a vida criminosa, rompem-se os laços familiares e, nas famílias (como nas escolas), os códigos de boa conduta. 
Ensina-se nas faculdades de Direito que o bandido é potencialmente bom, a sociedade objetivamente má e sua justiça, vingativa. 
Apaga-se na vida social a simples menção a Deus.
 
O medo prospera. Quando o terror se instala, os fracos clamam pelo Estado, vocacionado para a omissão e a leniência. E fecha-se o cerco. Pense comigo: quais os crimes que hoje, no Brasil, suscitam a mais obstinada e célere persecução penal judicial, sem contraditório, ampla defesa e devido processo? Pois é... São os voláteis e subjetivos crimes de opinião, típicos dos regimes revolucionários. Ou não?
[em nossa opinião, só a militarização das escolas, garantirá que tragédias como a de Blumenau e outras não se repitam.]

Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


domingo, 11 de setembro de 2022

O voto útil - Alon Feuerwerker

Análise Política

O apelo aos eleitores para que votem “útil” é bem conhecido na política brasileira, seu nascimento remonta ao início dos anos 80 do século passado, quando o regime militar acabou com o bipartidarismo que ele próprio havia implantado no Ato Institucional número 2, de 1965.

Revogada a bipolaridade restrita a Arena e MDB, surgiram o PDS, sucessor da Arena, o PMDB, continuidade do MDB, o PTB de Ivete Vargas, o PDT de Leonel Brizola e o PT de Luiz Inácio Lula da Silva.

Com a nova pluralidade partidária, o governo João Figueiredo implantou o voto vinculado. As eleições municipais haviam sido adiadas de 1980 para 1982. Nestas, portanto, o eleitor seria obrigado a votar em candidatos do mesmo partido de vereador a governador, passando por prefeito (onde houvesse eleição direta), deputado estadual, federal e senador.

O objetivo do regime em dificuldades políticas: melhorar o desempenho do PDS nas eleições de governador, pois o oficialismo poderia vencer mesmo onde não tivesse a maioria absoluta, desde que chegasse na frente, pois até então a eleição para cargo majoritário era em um turno só.

O PT foi um ferrenho defensor de introduzir na Constituição de 1988 os dois turnos para presidente, governador e prefeito, pois vinha desde 1982 sendo vítima do então batizado “voto útil”.

Lula foi alvo desse discurso quando se candidatou a governador de São Paulo em 1982, perdendo para Franco Montoro (PMDB). Depois, Eduardo Suplicy sofreu com o argumento quando tentou a prefeitura da capital em 1985 e o governo estadual em 1986.

Nos três momentos, o apelo pela “utilidade” do voto decorria de os grupos identificados com o combate ao regime militar enfrentarem nas urnas paulistanas e paulistas candidatos da direita. Reinaldo de Barros em 82, Jânio Quadros em 85 e Paulo Maluf em 86.

O PT chegou à Constituinte em 1987 escaldado e trabalhou duro pelo seu espaço político. O argumento era razoável. “Cada um lança seu candidato no primeiro turno, e as alianças mais amplas acontecem no segundo.” E o partido viu a tese dos dois turnos sair vitoriosa, abrindo caminho aos candidatos majoritários do PT nas eleições subsequentes.

O apelo maciço do PT ao voto útil neste primeiro turno da eleição presidencial provoca uma dúvida: por que desacreditar da possibilidade de alianças mais amplas num eventual segundo turno?

A hipótese rósea é o PT e Lula não desejarem dar sopa para o azar e não quererem dar a Jair Bolsonaro mais quatro semanas, e no mano a mano, para tentar fazer o antipetismo voltar a superar o antibolsonarismo.

A outra hipótese é o PT desejar ser retornado ao poder por uma onda de votos úteis sem precisar firmar compromissos programáticos e em torno de espaços políticos com outros grupos, além dos escassos acordos já firmados.

A hipótese mais realista é uma combinação das duas.

De qualquer modo, seria pouco inteligente o PT não fazer o que está fazendo, pois um segundo turno contra Bolsonaro reabrirá a disputa eleitoral em outro patamar, com os dois oponentes em mais paridade.[não haverá segundo turno e, se houver,o "capitão do povo" tritura o descondenado petista, que além da derrota voltará para a cadeia - cadeia mesmo, não 'resort'.]

Verdade que as projeções de segundo turno apontam vantagem, até algo confortável, para Lula. Mas em 2018 as projeções de segundo turno antes do primeiro estavam bem equilibradas, aí o candidato do PSL conseguiu um arranque na reta final do primeiro turno que lhe permitiu abrir grande diferença na largada do segundo.

Depois essa diferença foi caindo, mas a distância final acabou sendo boa, de uns dez pontos percentuais. 

Alon Feuerwerker, jornalista e analista politico


sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

A ESTÉTICA REVOLUCIONÁRIA, OU: POR QUE VIVEMOS PERIGOSAMENTE? - Percival Puggina

Parecia impossível, mas nos habituamos a viver perigosamente, contando com a sorte de não estarmos à hora errada, no lugar errado. O mundo do crime prospera como nenhum outro ramo de “negócios”, consolida-se compondo e fortificando estados paralelos, nos toma como presas e tem, da lei, proteção superior à de suas vítimas.

O bandido brasileiro, apoiado por uma retórica de conveniência e pela autoproteção dos corruptos, sabe que opera com baixíssimo risco de ser preso e pagar por sua ação. É uma espécie de “camarada em armas” de certa intelectualidade que anseia por uma revolução. Atua em ramo altamente rentável e de baixíssimo risco. Teme muito mais a duríssima lei que rege o submundo do que a lei que rege a sociedade. Aquela é eficaz; esta, mera hipótese.

Muito nos perguntamos sobre os motivos que levam tantas pessoas esclarecidas a se seduzir pelo pensamento revolucionário, marxista, apoiando ou difundindo ideias que acabarão por sufocar sua própria liberdade. Não sou eu quem o assegura. Esse é o centenário e constante grito da história.  Penso que a vida e a experiência permitem constatar um fator essencial a motivar adesão a caminho tão sinistro. Refiro-me à estética revolucionária, à glamorização da vida criminosa, operada pelos salões de beleza dos meios culturais e educacionais.

Neles, a realidade presente e os fatos passados entram de um jeito e saem de outro, inteiramente modificados. O que é feio por natureza sai formoso pela jeitosa manipulação dos detalhes e ocultações. Desse trabalho, nasce a suposta superioridade moral do pensamento revolucionário.

Eis aí, a meu ver, a principal causa da insegurança em que vivemos. Ela jamais será corrigida e nossa liberdade jamais recuperada, se continuar havendo mercado para a ideia de que o criminoso é vítima da sociedade e do sistema, é alguém de quem não se pode esperar outra conduta que não seja buscar, pela violência e pela organização criminosa, o que de direito lhe pertence.

Esse é um dos conceitos mais hediondos, mais falsos e corrosivos da ordem pública que se pode compartilhar. Retoquem o visual quanto quiserem, isso não mudará os fatos. 
O criminoso sabe que sua ação está errada, tem consciência moral sobre a natureza do ato que comete, mas planeja sua ação e a pondera numa perspectiva econômica. 
Coloca na balança o lucro e o risco. E sabe que, no Brasil, como regra geral, salvo azar, “não dá nada”.

Todo criminoso – com arma, caneta ou mandato – pensa exatamente assim.

Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

A sorte, o azar e o calendário - Alon Feuerwerker

Análise Política

Na política, às vezes a sorte ou o azar estão conectados ao calendário. Barack Obama teve sorte quando a crise financeira de 2008 estourou na véspera das eleições presidenciais. Azar do John McCain. Donald Trump teve azar quando a eleição do ano passado aconteceu já com uma montanha de mortos ali pela Covid-19 mas antes de as vacinas entrarem em campo. Sorte do Joe Biden.

Se as coisas no Congresso Nacional não desandarem antes para Jair Bolsonaro – um round fundamental será jogado na eleição para presidente da Câmara dos Deputados –, o ponto a monitorar serão as projeções para a situação do presidente e candidato à reeleição em meados do segundo semestre de 2022. 
Como estarão ali as três variáveis mais presentes hoje em qualquer análise prospectiva? 
São elas, não necessariamente na ordem de importância: 
1) a assim chamada guerra cultural, 2) a economia e 3) a Covid-19. Sobre a primeira, é visível que pelo menos no plano internacional a corrente a que o bolsonarismo se filia sofre revezes. O mais vistoso foi a derrota de Trump, porém não o único. 2022 ainda vai politicamente longe, mas não se enxergam por enquanto possibilidades que revertam essa tendência até lá.

Sobre a economia, os dados de atividade, emprego e confiança apontam recuperação. A dúvida é se o paciente continuará recuperando depois de extubado do auxílio emergencial e demais medidas extraordinárias. E ainda tem a inflação a acompanhar, com uma possível elevação de juros no horizonte. Os mercados andam otimistas, mesmo descontado o fator excesso de liquidez.

E a Covid-19? O cenário mais provável é chegarmos a meados do segundo semestre de 2022 com uma contabilidade estonteante de mortes, mas também com o grosso da população brasileira vacinado. 
O que vai prevalecer? 
A polêmica sobre quem foi o culpado pelos números trágicos? 
Ou o alívio pelo sucesso da imunização? Sempre supondo, é claro, que a vacina seja mesmo um sucesso. Mas não custa otimismo de vez em quando.
Por enquanto, o presidente leva a melhor na guerra das narrativas, como mostrou o Datafolha
Só 8% acham que ele é o principal culpado pelas mortes da pandemia. E 52% acreditam que ele não tem culpa nenhuma.[oito por cento é um número excessivo, visto que NÃO EXISTE um único fato que prove ser o presidente Bolsonaro o responsável  pelas mortes. 
Apontem uma ÚNICA MORTE causada por alguma ação do presidente, ou mesmo omissão. 
O presidente teve cassado seu poder de interferir nas ações de combate à pandemia. Uma decisão do STF determinou que tudo ficasse sob a tutela dos governadores e prefeitos, sem uma coordenação centralizada. Foram mais de 5.000 cabeças a pensar e deu no desastre agora notório.] Um aspecto intrigante nesses números é eles estarem descolados da clássica divisão do eleitorado em três terços: pró, contra e centristas. Ou seja, os números da pesquisa não foram capturados pela dita polarização.

Cada um que faça seu prognóstico. O meu é que a Covid-19, e quem foi o culpado pelas mortes por ela provocadas, talvez não venha a ser o filé mignon da campanha de 2022. E se a economia estiver razoável, tampouco esta será. É possível que a eleição aqui mimetize em algum grau a americana do ano passado, onde a chave foi a formação de uma frente sócio-política-cultural anti-Trump cujo único ponto de convergência era tirá-lo do poder.

Por isso, não basta ao presidente chegar forte e competitivo em 2022, com a economia bem e senhor da narrativa que coesiona seu campo. Trump chegou e perdeu, também pelo azar com o calendário. E apesar dos sucessos na economia. Bolsonaro precisará dar um jeito de evitar a convergência do oposicionismo. Por enquanto, ele vem trabalhando para fazer o contrário, para juntar os que a ele se opõem. O primeiro grande sinal é a ensaiada união do PT com os algozes de Dilma Rousseff no impeachment dela.[alguém acredita que o 'perda total' = PT vai se unir a alguma coisa?]

Alon Feuerwerker, jornalista e analista político 


domingo, 13 de dezembro de 2020

O que (ainda) não sabemos sobre a vacina - Laryssa Borges

Diário da Vacina - VEJA

Aprendemos muito nas últimas semanas de pandemia, mas existem outras inúmeras perguntas por ora sem respostas

13 de dezembro, 8h03: Faltam pouco mais de 48 horas para eu retornar à clínica onde recebi, ainda em novembro, uma dose da vacina experimental da Janssen-Cilag. Na tarde de terça-feira serei submetida a novos testes de sangue para detectar se já desenvolvi anticorpos contra a Covid-19 ou se, para azar meu, nada mudou e corro o risco de ter tomado placebo. Como voluntária em uma pesquisa científica em busca de um imunizante contra o novo coronavírus, assumi compromissos com os cientistas, como deixar que coletem 52,5 mililitros de sangue (cerca de quatro colheres de sopa) e utilizem essas informações também para pesquisas genéticas futuras – todas relacionadas à Covid.

Aprendemos muito nas últimas semanas de pandemia, e vacinas já estão sendo aplicadas em pessoas no Reino Unido, Rússia, China e, em breve, nos Estados Unidos. Mas existem outras inúmeras perguntas que, por ora, estão sem respostas. Vamos a algumas delas:

  1. A proteção das vacinas: Quando um imunizante anuncia a taxa de eficácia (acima dos 90% nos casos da Sputnik V, Pfizer e Moderna), isso significa que os pesquisadores atingiram um número estatístico (chamei de número mágico no Diário) para mostrar que a vacina é segura e funciona, mas não se sabe por quanto tempo o antígeno garante a imunização. Muitas das pesquisas em busca de vacina se contentam em conseguir que o produto pelo menos diminua a gravidade da doença, e não necessariamente previna que a pessoa seja infectada pelo novo coronavírus.
  2. Idosos e indígenas:    ...........                                               Outro grupo alvo de atenção especial são os idosos e, neste ponto, mais dúvidas: a vacina do consórcio Oxford/AstraZeneca, por exemplo, não conseguiu atestar ainda se o imunizante que desenvolveu é eficaz em outro grupo, o dos idosos.
  3. Tempo de imunização:
  4. Transmissão por vacinados:
  5. Crianças e adolescentes: As vacinas experimentais cujas pesquisas estão em desenvolvimento no Brasil (Oxford, Janssen, CoronaVac e Pfizer) recrutaram voluntários a partir de 18 anos, mas crianças e adolescentes, que são importantes vetores da doença, ainda não foram alvo de estudos aprofundados.
  6. Grávidas: “Se você engravidar terá de interromper o estudo em busca da vacina”, me disse o pesquisador do ensaio da Janssen no dia que iria receber a minha dose do imunizante em teste. A razão da ressalva é porque não existem estudos suficientes que descartem riscos ao feto e tampouco se sabe
  7. Risco mínimo de a vacina agravar a doença: “Há uma pequena possibilidade de você apresentar um efeito adverso à vacina ou de a vacina agravar a sua doença, caso você contraia a Covid-19”. O alerta está no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, documento que reúne o passo a passo da jornada do voluntário, e existe porque em pesquisas científicas passadas não relacionadas à Covid-19 houve casos de vacinados que depois de infectados pelo organismo causador da doença tiveram piora no quadro clínico. Não se sabe se isso vai acontecer agora também.

 Blog Diário da Vacina - VEJA - MATÉRIA COMPLETA


 

quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Supremo encosta rodízio de pizzas na Lava Jato



Nesta quarta-feira (2/10), o plenário do Supremo Tribunal Federal deve decidir com que amplitude será aplicada a nova jurisprudência sobre a ordem da manifestação dos réus na fase das alegações finais de processos com delatores e delatados. Iniciado na semana passada, o julgamento provocou um debate juridicamente intrincado. Mas a coisa pode ser traduzida para o português didático das ruas. 

Eis o essencial: a maioria dos ministros do Supremo decidiu servir pizza a larápios que tiveram o azar de ser alcançados pela Lava Jato. Por enquanto, serviram-se fatias apenas a dois condenados —uma na Segunda da Corte, outra no Plenário. Com isso, encostou-se na Lava Jato algo muito parecido com um rodízio de pizza.


Clique aqui e veja o vídeo: Rodízio de pizza no STF 


Flávio Bolsonaro já dispunha de liminar expedida em julho pelo presidente do Supremo, Dias Toffoli —aquela que suspendeu em todo país os processos fornidos com dados detalhados do Coaf. O Zero Um passou a dispor de um segundo escudo, fornecido dessa vez pelo supremo guardião dos direitos individuais Gilmar Mendes. O Supremo colocou uma trava adicional numa porta que já estava lacrada.... - Veja mais em https://josiasdesouza.blogosfera.uol.com.br/2019/10/02/bolsonarismo-ganha-novos-herois-toffoli-e-gilmar/?cmpid=copiaecola... - Veja mais em https://josiasdesouza.blogosfera.uol.com.br/2019/10/02/bolsonarismo-ganha-novos-herois-toffoli-e-gilmar/?cmpid=copiaecola... - Veja mais em http... - Veja mais em https://josiasdesouza.blogosfera.uol.com.br/2019/10/02/bolsonarismo-ganha-novos-herois-toffoli-e-gilmar/?cmpid=copiaecola


Bolsonarismo ganha novos heróis: Toffoli e Gilmar


Há uma enorme falta de sintonia entre o discurso de Jair Bolsonaro e a blindagem oferecida ao primogênito Flávio Bolsonaro. O pai diz representar a "nova política". Jura que não tolera a corrupção. O filho, acusado de peculato e lavagem de dinheiro, declara que é honesto. Mas não faz muita questão de demonstrar. É um virtuoso pouco convencional. Em vez de apressar o processo para provar rapidamente sua inocência, ... [importante: continua valendo um dos principios basilares do Direito: o ônus da prova cabe a quem acusa;
até o momento, as provas contra Flávio Bolsonaro são comunicações de movimentações atípicas de Queiroz, um ex-assessor do seu gabinete quando deputado estadual - atipicidade das movimentações não significa necessariamente ilegalidade.]

Flávio Bolsonaro já dispunha de liminar expedida em julho pelo presidente do Supremo, Dias Toffoli —aquela que suspendeu em todo país os processos fornidos com dados detalhados do Coaf. O Zero Um passou a dispor de um segundo escudo, fornecido dessa vez pelo supremo guardião dos direitos individuais Gilmar Mendes. O Supremo colocou uma trava adicional numa porta que já estava lacrada. [lembrete: o então Coaf, hoje UIF - Unidade de Inteligência Financeira, desobedeceu ao determinado pelo presidente do STF - continuou fornecendo dados, que só podem fornecidos mediante prévia autorização judicial, mediante solicitação por e-mail.
Diante do evidente descumprimento de decisão judicial, só restou ao ministro Gilmar Mendes reiterar a proibição - quer informação, consiga autorização judicial.]
 
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Blog do Josias/UOL - Josias de Souza