Pesquisa ignora que policiais também são assassinados
No Rio, polícia mata 30% a mais em 2014; em São Paulo, 28%
Pesquisa aponta que 11.197 pessoas foram mortas por agentes públicos, em todo o país, entre 2009 e 2013
A violência policial aumentou no Rio de Janeiro e em São Paulo em
2014. De acordo com levantamento feito por pesquisadores do Fórum
Brasileiro de Segurança Pública a pedido do GLOBO, o número de pessoas
mortas por policiais paulistas subiu 28,5%, e por policiais do Rio, 30%. As corporações dos dois estados afirmam rever constantemente os
procedimentos, mas seguem sendo as mais violentas do Brasil. De acordo
com dados do 8º anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública,
divulgado em novembro, a tropa mais letal do país está no Rio de
Janeiro, seguida por São Paulo e pela Bahia. Entre 2009 e 2013, 11.197
pessoas foram mortas por agentes públicos.
O documento chega a destacar uma tendência, até 2013, de queda na
letalidade policial no Rio. Depois de ter registrado 1.330 casos em
2007, o Rio fechou 2013 com 416 mortes. Contudo, dados ainda não
consolidados de 2014 revelam que o panorama mudou. Entre janeiro e
novembro do ano passado, 544 pessoas foram mortas por policias. Um dos
motivos apontados por especialistas é o desgaste da política de unidade
de polícias pacificadoras. — A aproximação inicial não se reverteu em uma real ocupação social
do estado. As lacunas ficaram abertas e as velhas práticas voltaram —
destacou o pesquisador e professor da FGV Rafael Alcadipani.
O coronel Paulo Augusto Teixeira, subchefe de Estado-Maior
Administrativo da PM do Rio, e ex-diretor-presidente do Instituto de
Segurança Pública do Rio (ISP-RJ), admitiu o problema nas polícias: — Estamos revendo os procedimentos. Começa na próxima semana um
treinamento com oficiais multiplicadores sobre abordagem e utilização da
arma de fogo. Precisamos rever nossos procedimentos.
Em São Paulo, a letalidade policial é a mais alta da década. Entre
janeiro e novembro do ano passado, 816 pessoas foram mortas por
policiais militares em serviço e fora de serviço. Diferentemente do Rio,
os números paulistas contabilizam todas as mortes por agentes públicos
de segurança. Após a posse, em sua primeira entrevista à frente da
Secretaria da Segurança Pública paulista, o secretário Alexandre de
Moraes prometeu mudar o quadro.
— Obviamente, uma de nossas metas é diminuição da letalidade, até
porque, nos embates, também morrem policiais. Então, com planejamento,
inteligência, operações previamente organizadas e um policiamento de
alta intensidade, nós temos absoluta convicção de que a letalidade
diminuirá.
Em nota, a secretaria afirmou que o estado contabiliza as mortes por
policiais em folga, inclusive as que não têm relação com a atividade
policial, como os assassinatos passionais, o que influencia nas
estatísticas. E que todos os casos são analisados pelas corregedorias da
Polícia Militar e da Polícia Civil. Os procedimentos são revistos e
novos protocolos são criados para evitar eventuais erros.
PESQUISADORA CRITICA PROCEDIMENTO DE PMs
Os
casos de pessoas mortas por policiais se repetem. Na quinta-feira,
Patrick Ferreira Queiroz, de 11 anos, foi atingido, no Rio, por um tiro
de fuzil na axila. O caso foi registrado na 25ª DP (Engenho Novo) como
morte em decorrência de intervenção policial Segundo os três policiais
envolvidos na ação, eles atiraram, pois o menino tinha uma arma na mão.
— É necessária a revisão dos procedimentos policiais. Em muitos dos
casos, a polícia atira antes de perguntar — afirma a pesquisadora da FGV
Samira Bueno.
A família nega que ele estivesse armado. À imprensa, a Coordenadoria
de Polícia Pacificadora (CPP) sustentou que Patrick integrava o tráfico
no local, mas não explicou se a ação policial era a mais adequada a
situação. Quatro dias antes, imagens sobre uma ação policial ocorrida em agosto
do ano passado colocaram novamente em xeque a conduta policial. Na
cena, dois policiais perseguem um carro. Após ligarem a sirene, os
policiais disparam contra o veículo. Haissa Vargas, de 22 anos, foi
atingida nas costas.
Em seguida, os policiais lotados no 39º BPM (Irajá) conversam com
duas amigas da jovem, que entraram no carro da polícia, e questionam o
motivo do grupo não ter parado o carro.
Um deles fala. — Não, não justifica, tá. Não justifica ter dado o tiro, tá bom? — admite o PM.
O coronel da PM Paulo Augusto Teixeira, subchefe de Estado-Maior
Administrativo, nega que a atitude dos policias seja uma prática comum
na corporação.
— O caso choca por ser excepcionalidade e não uma prática. Está fora dos protocolos de trabalho — explicou.
Fonte: O Globo
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