Não perca: no vídeo, a deputada Mara
Gabrilli interpela Gilberto Carvalho sobre o caso Celso Daniel e acusa ‘o homem do carro preto’ de repassar a José Dirceu o dinheiro
extorquido de empresários
“Faz muitos anos que eu queria olhar nos olhos
do senhor e fazer essas perguntas”, disse a deputada Mara Gabrilli em meio à
interpelação que interrompeu a procissão de platitudes que o ministro Gilberto
Carvalho desfiava, no fim da tarde desta quarta-feira, durante a sessão
da Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado.
Por mais de seis minutos, a
parlamentar do PSDB paulista acuou o secretário-geral da Presidência com a
evocação de perturbadoras agravantes que envolvem o assassinato do prefeito Celso Daniel, ocorrido
em janeiro de 2002. Tentando
controlar a emoção que em alguns momentos embargou a
voz sempre suave, a deputada que um acidente de carro imobilizou na cadeira de
rodas abriu a ofensiva com a história do pai, dono de uma empresa de
ônibus.
Vídeo: Mara Gabrilli
questiona Gilberto Carvalho sobre o caso Celso Daniel
Vítima do esquema corrupto
montado na prefeitura de Santo André para extorquir empresários do setor, e irrigar com boladas de bom tamanho as
campanhas eleitorais do PT, ele era pressionado todos os meses “por uma gangue” ─ liderada,
segundo Mara, por Klinger de Souza (subsecretário de Celso Daniel), Ronan Pinto
(hoje proprietário do Diário do Grande ABC) e Sérgio Gomes da Silva, o
“Sombra”, denunciado pelo Ministério Público como mandante do crime. “O senhor
sempre foi conhecido como o homem do carro preto”, disse a deputada ao
ministro. “Era a pessoa que realmente
pegava essa coleta de dinheiro extorquido de empresários e levava para o capo,
como era conhecido o José Dirceu. Isso eu não li. Isso eu vivenciei”.
Depois de invocar os testemunhos
dos irmãos de Celso Daniel e o depoimento de Romeu Tuma Junior, ex-secretário nacional de
Justiça, publicado no livro “Assassinato
de Reputações”, a deputada seguiu
alternando acusações e cobranças.
Quis
saber se Carvalho também acha que os fins justificam os meios e estranhou o
descaso do ministro pelo esclarecimento de um episódio que comoveu e continua
intrigando o país inteiro. “Por que o senhor não ajuda a apressar o julgamento do
Sombra?”, perguntou, identificando pelo apelido o réu Sérgio Gomes
da Silva, processado como mandante do assassinato. “O senhor não se incomoda com isso?”
Desconcertado, Carvalho
reprisou o palavrório que recita há mais de dez anos. Alegou que “foi a Polícia Civil de São Paulo
comandada pelo PSDB” que reduziu a crime comum uma
execução encomendada. Como fez há três meses, prometeu acionar
judicialmente Romeu Tuma Junior. E jurou que ninguém sofreu tanto quanto
ele com a morte do “amigo e mestre”
Celso Daniel. Caprichando na pose de quem acabou de chegar ao velório, declamou
mais de uma vez o mantra predileto: “Isso
dói”.
Certamente doeu mais a surra
verbal que levou de Mara Gabrilli.
Republicado na Coluna Augusto
Nunes
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