A crise começou no mensalão em 2005 e se agrava com descobertas diárias sobre a roubalheira na Petrobras
Começou há exatamente um
ano, com a polícia no rastro de Alberto Youssef. Na segunda-feira, 10 de
março de 2014, ele acordou com uma tarefa definida: viajar a São Luís,
transportando R$ 10 milhões, suborno para que agentes públicos do
Maranhão liberassem o pagamento de R$ 113 milhões ao grupo UTC/Constran.
Atravessou a semana em preparativos. Na segunda-feira seguinte, 17 de
março, saiu de São Paulo, fez escala em Brasília e seguiu para São Luís.
No hotel, ao perceber a vigilância, entregou a mala com o dinheiro e
voltou no quarto onde esperou a prisão. Foi a última missão de Youssef.
Doze meses depois, tem-se meia dúzia de senadores, duas dezenas de deputados federais e quatro dezenas empresas nacionais e estrangeiras enredadas em múltiplos inquéritos sobre um bilionário roubo na maior empresa estatal, a Petrobras. Três semanas atrás, no último de seus depoimentos sigilosos, Youssef resumiu o objetivo — um projeto de poder, cuja raiz foi o mensalão: “O parlamentar não recebia por uma votação específica, mas recebiam valores mensais e ficavam vinculados a votar (no Congresso) junto com a liderança, em favor do governo.”
A certeza de impunidade prevaleceu pelo menos até meados de novembro passado. Dissipou-se com as prisões de executivos e controladores de empreiteiras: “A gente não acreditava a investigação que fosse chegar a essa profundidade”, disse em juízo na semana passada um outro operador financeiro do grupo, Shinko Nakandakari. Antes mesmo de iniciar os 49 inquéritos autorizados pelo Supremo Tribunal Federal, a Procuradoria Geral da República afirma ter coletado “indícios sólidos de participação nas empreitadas criminosas” dos presidentes do Senado e da Câmara — ou seja, dois dos três personagens na linha sucessória da República —, e boa parte das bancadas do PT, PMDB e PP.
O procurador-geral sentiu-se confortável para afirmar, em petição ao Supremo, que uma das formas de lavagem do dinheiro roubado era a campanha eleitoral: “Adotada sobretudo em épocas de campanhas eleitorais, era a realização de doações ‘oficiais’, devidamente declaradas, pelas construtoras ou empresas coligadas, diretamente para os políticos ou para o diretório nacional ou estadual do partido respectivo, as quais, em verdade, consistiam em propinas pagas e disfarçadas do seu real propósito.”
Vai precisar demonstrar, individualmente, como o dinheiro roubado transitou dos cofres da Petrobras até as contas de campanhas eleitorais. As evidências acumuladas nos processos contra empresas, em Curitiba, indicam que acabou-se a era da corrupção anônima na política brasileira. A essa altura, é impossível visualizar um epílogo. O quadro sugere, no curto prazo, uma debilidade do Congresso, o que costuma favorecer o governo — especialmente numa conjuntura em que os presidentes do Senado e da Câmara sonhavam com a submissão da Presidência da República a uma espécie de parlamentarismo forçado.
É possível que para assegurar-se do enfraquecimento deles, o Executivo passe a jogar mais intensamente com seu próprio instrumental de investigações (Polícia Federal, Receita, Coaf, Banco Central) e, ao mesmo tempo, construa “pontes” legislativas com a oposição liderada pelo PSDB.
Vai depender de habilidade política, mercadoria escassa nos quatro anos de governo Dilma Rousseff e, mais rara ainda, na última década petista. Sobretudo porque o PT, alguns de seus líderes, apadrinhados, aliados e contas de campanha estão no epicentro. A crise começou no mensalão em 2005 e há 12 meses se agrava com descobertas diárias sobre a roubalheira nos cofres da Petrobras. Única certeza possível: é só o começo.
Doze meses depois, tem-se meia dúzia de senadores, duas dezenas de deputados federais e quatro dezenas empresas nacionais e estrangeiras enredadas em múltiplos inquéritos sobre um bilionário roubo na maior empresa estatal, a Petrobras. Três semanas atrás, no último de seus depoimentos sigilosos, Youssef resumiu o objetivo — um projeto de poder, cuja raiz foi o mensalão: “O parlamentar não recebia por uma votação específica, mas recebiam valores mensais e ficavam vinculados a votar (no Congresso) junto com a liderança, em favor do governo.”
A certeza de impunidade prevaleceu pelo menos até meados de novembro passado. Dissipou-se com as prisões de executivos e controladores de empreiteiras: “A gente não acreditava a investigação que fosse chegar a essa profundidade”, disse em juízo na semana passada um outro operador financeiro do grupo, Shinko Nakandakari. Antes mesmo de iniciar os 49 inquéritos autorizados pelo Supremo Tribunal Federal, a Procuradoria Geral da República afirma ter coletado “indícios sólidos de participação nas empreitadas criminosas” dos presidentes do Senado e da Câmara — ou seja, dois dos três personagens na linha sucessória da República —, e boa parte das bancadas do PT, PMDB e PP.
O procurador-geral sentiu-se confortável para afirmar, em petição ao Supremo, que uma das formas de lavagem do dinheiro roubado era a campanha eleitoral: “Adotada sobretudo em épocas de campanhas eleitorais, era a realização de doações ‘oficiais’, devidamente declaradas, pelas construtoras ou empresas coligadas, diretamente para os políticos ou para o diretório nacional ou estadual do partido respectivo, as quais, em verdade, consistiam em propinas pagas e disfarçadas do seu real propósito.”
Vai precisar demonstrar, individualmente, como o dinheiro roubado transitou dos cofres da Petrobras até as contas de campanhas eleitorais. As evidências acumuladas nos processos contra empresas, em Curitiba, indicam que acabou-se a era da corrupção anônima na política brasileira. A essa altura, é impossível visualizar um epílogo. O quadro sugere, no curto prazo, uma debilidade do Congresso, o que costuma favorecer o governo — especialmente numa conjuntura em que os presidentes do Senado e da Câmara sonhavam com a submissão da Presidência da República a uma espécie de parlamentarismo forçado.
É possível que para assegurar-se do enfraquecimento deles, o Executivo passe a jogar mais intensamente com seu próprio instrumental de investigações (Polícia Federal, Receita, Coaf, Banco Central) e, ao mesmo tempo, construa “pontes” legislativas com a oposição liderada pelo PSDB.
Vai depender de habilidade política, mercadoria escassa nos quatro anos de governo Dilma Rousseff e, mais rara ainda, na última década petista. Sobretudo porque o PT, alguns de seus líderes, apadrinhados, aliados e contas de campanha estão no epicentro. A crise começou no mensalão em 2005 e há 12 meses se agrava com descobertas diárias sobre a roubalheira nos cofres da Petrobras. Única certeza possível: é só o começo.
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