O PT realiza neste fim
de semana o seu 5º Congresso. As tendências mais à esquerda vão lá
disparar vitupérios contra Joaquim Levy, ministro da Fazenda. Os ditos
moderados do lulismo não vão atacar Levy, mas apresentarão um documento
defendendo que o partido faça a sua conversão à esquerda. Que coisa linda! Lula, o palestrante milionário, certamente terá a
chance de explicar como
é que o Brasil do petismo, no 13º ano de governo, consegue conciliar a taxa de juros mais alta
do mundo com uma inflação que chegou a 8,47% em maio, no acumulado de 12 meses, e 5,34% nos cinco
primeiros. As duas taxas são recordes
desde 2003. Ah, sim: tudo isso no quadro
de uma recessão que deve chegar perto de 2%.
É a isso que chamo
incompetência metódica. Não pensem que se chega a essa equação da noite
para o dia. É
preciso que um erro vá se somando a outro; que
cada um desses erros seja corrigido com um novo erro. E a tudo isso se deve
acrescentar o molho da arrogância, salpicando a estupidez com a discurseira da
justiça social. E pronto! Um governo obtém esse resultado quando incentiva o
consumo, forçando a mão, por exemplo, para que os salários cresçam acima
da produtividade, de sorte que haverá mais vontade de comprar e contratar serviços do
que a capacidade que tem o país de oferecer as duas coisas. Quando alguém acender o sinal vermelho e
disser que isso vai acabar em crise, basta adornar a barba com os
perdigotos da baba populista e proclamar, ciciando, enquanto espanca a
gramática: “Eles num gosta quando a classe
trabalhadora começa a consumir; eles num gosta quando a classe trabalhadora
anda de avião; eles num gosta quando a classe trabalhadora vai ao
cabeleireiro”.
Não! Eles “gosta”, sim! Ocorre que eles também acham que é
preciso criar as condições para que esse acesso ao consumo seja permanente; eles acham que é preciso fazer com
que o poder de compra seja mantido. E isso se consegue criando os marcos
para que o país aumente a produtividade, seja mais competitivo, cresça, em
suma, de forma sustentável e sustentada. Para tanto, é preciso atrair
investimento; é preciso que não se veja o Tesouro como um saco sem fundo. É
preciso que os gastos não cresçam a uma taxa muito superior à arrecadação. É preciso que uma guia
genial dos povos não tenha a ideia
iluminada pelas trevas de baixar, no
porrete, a
tarifa de energia sob o pretexto de que vai incentivar a economia.
Ah, sim, presidente Dilma: segundo o IBGE, o
brasileiro está pagando, em média, neste ano, 41,94% a mais de energia do que
no ano passado. Pior de tudo: houve, sim, uma tolerância descarada com a
inflação. Ora, meus caros, não precisamos ir muito longe. Nos debates do dia 15
de outubro (Jovem Pan-UOL-SBT) e do dia 20 do mesmo
mês (Band-UOL), a então candidata à reeleição
afirmou com todas as letras que seu adversário, Aécio Neves, pretendia levar a
inflação a 3%, sim, mas só o faria triplicando o desemprego e com um choque de juros… Pois é… Dilma escolheu outro caminho: já deu um choque de
juros, vai ao menos dobrar o desemprego, e a inflação está muito longe dos 3%.
Podemos, no entanto, ficar tranquilos.
Em seu congresso neste fim de semana, correntes petistas vão espancar Joaquim
Levy, que vem a ser o homem chamado para tentar arrumar a barafunda. Mais: a corrente lulista vai
incentivar as franjas do PT que são contrárias ao ajuste da economia e anunciar a sua
futura conversão à esquerda, deixando
claro que o partido não se conforma só com os erros cometidos até agora:
quer muito mais do que isso.
A presidente Dilma Rousseff tinha
decidido não participar da abertura do congresso. Eu a elogiei por isso. Mas agora
mudou de ideia. Sai de Bruxelas e volta
diretamente para Salvador, a tempo de participar, sim, do encontro.
Pergunta: o partido vai pagar o custo adicional que
implica essa paradinha na capital baiana?
Como se vê, não me
acusem, né?, de jamais fazer um elogio a Dilma. Até fiz. Mas o
motivo durou pouco. É claro que, dado o andar da carruagem, a presidente
deveria se manter distante daquele evento, cujo ideário ajudou a levar a
economia para o buraco. E mais distante ainda
deveria se manter quando se descobre que uma empreiteira
repassou R$ 3 milhões ao Instituto Lula e
mais R$ 1,527 milhão à empresa privada do
ex-presidente.
Mas fazer o quê? Dilma continua a não
ser senhora de sua agenda. Decidiu pacificar o petismo e vai contribuir para
espalhar incertezas entre os não petistas. Eis
a mulher. Eis a obra.
Fonte: Blog do
Reinaldo Azevedo – Revista Veja
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