A economia está se recuperando. Há indicadores positivos mostrando
que o país saiu do fundo do poço, mas há ainda um grande caminho a andar
até chegar ao ponto do qual o país caiu na recessão. A produção
industrial em outubro ficou 5,3% maior do que a de outubro do ano
passado, mas ainda esta 17% abaixo do melhor momento, em 2013. A queda
já chegou a ser de 21%. O caminho de volta só está começando.
Nada será como em outras recuperações. A volta será trilhada passo a
passo e no meio do caminho haverá não apenas uma, mas várias pedras.
Esta recessão não foi provocada por uma crise externa, foi feita aqui
mesmo. Quando começou, o país já estava em desordem fiscal e ela se
aprofundou pela queda forte da arrecadação. A dívida bruta subiu 20
pontos percentuais do PIB, desde o começo do governo Dilma. O cenário
político é confuso, o governo não inspira confiança. Tudo isso é fator
desestabilizador que dificulta o crescimento. Mesmo assim, há dados
mostrando que a recuperação já começou.
No final de 2016, a economia estava 9,2% menor do que no final de
2014. Com os três trimestres consecutivos de alta este ano, ela está
5,8% menor, na mesma comparação. Ou seja, ainda não é o que era, mas
está reduzindo o PIB perdido. O consumo das famílias está em queda de
6,6%, e os investimentos, apesar de terem voltado a crescer, estão 22%
menores. No mercado de trabalho, a situação é mais preocupante. O Brasil
chegou a ter apenas 6 milhões de desempregados em 2013, mas viu o número
disparar para 14,1 milhões no pior momento deste ano, em março. Em
outubro, havia diminuído para 12,7 milhões. Mesmo assim, ainda é muita
alta a quantidade de brasileiros procurando empregos sem encontrar.
O mercado financeiro vem revisando para cima as projeções para o PIB
deste ano e do ano que vem. O chefe de economia e estratégia do Bank of
America no Brasil, David Beker, passou de 0,6% para 1% a estimativa para
2017 e prevê alta de 3% em 2018, puxada pelo consumo. Mas ele define a
recuperação como gradual e diz que há vários fatores impedindo uma
retomada mais forte. — Esta não é uma recuperação como as outras. Temos uma crise fiscal
ainda não solucionada, com endividamento crescente do governo,
desemprego alto, e muitas empresas também endividadas. Além disso, o
Brasil perdeu produtividade. Nossa capacidade de crescer hoje é menor —
explicou.
Ontem, o Bank of America lançou um relatório anual com perspectivas
para a economia mundial em 2018. De um lado, a expectativa é de mais um
ano de forte crescimento, o que ajudará o Brasil. Mas, por outro, o
banco espera condições financeiras mais apertadas, com aumento de juros
nos Estados Unidos e diminuição dos estímulos monetários na Europa. Com
isso, os mercados emergentes, e principalmente os países com risco
fiscal, como o Brasil, poderão ter mais dificuldades para atrair
investimentos.
— A reforma tributária de Trump vai pressionar os gastos do governo
americano. Com isso, o Banco Central dos EUA pode ter que elevar mais os
juros do que o mercado previa. Isso afetará os emergentes — disse.
Uma das mudanças favoráveis do quadro brasileiro é o ajuste externo. O
país chegou a ter um déficit em conta-corrente de 4% do PIB e hoje é de
0,4%. O Banco Central tem alto volume de reservas e o Investimento
Estrangeiro Direto continua forte. Por isso as oscilações externas
poderão ser enfrentadas. O Bank of America acredita que o Banco Central
poderá manter os juros baixos durante todo o ano que vem. A expectativa
dos economistas para hoje é que o Copom reduzirá a Selic para 7%, a
menor taxa da série histórica. Dependendo do comunicado, o Banco Central
poderá indicar novas quedas, para a casa de 6% no ano que vem. — O Brasil poderá ter juros menores do que os do México, que está com
a taxa em 7%. Isso vai ajudar na recuperação — explicou Beker.
A percepção da população é diferente da visão do mercado financeiro e
do que dizem os índices. Apesar da melhora nos indicadores, a sensação
de crise permanece porque o país melhorou mas está distante ainda do
ponto em que estava. Quando um indicador sobe, como a produção
industrial de outubro, divulgada ontem, consegue apenas reduzir a
dimensão da queda.
Coluna Miriam Leitão - O Globo
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