Governo acerta ao adotar pragmatismo nas negociações com o gigante asiático
O presidente Jair Bolsonaro tem adotado uma postura pragmática ao tratar com a China, felizmente. No encontro de cúpula do Brics, em Brasília,
intensificou negociações para aprofundar laços econômicos e se recusou a
tomar partido na disputa comercial entre o gigante asiático e os
Estados Unidos. Esse realismo nas relações com o maior parceiro comercial do país é
bem-vindo e pode abrir caminho para boas oportunidades em comércio e
investimento.
leilão de petróleo da camada do pré-sal. A
Em 2018, as compras chinesas chegaram a US$ 63,9 bilhões, 26,7% das
exportações totais do país, quase inteiramente em produtos primários
como soja e minério de ferro. Num momento em que as tensões comerciais
travam a importação de produtos agrícolas americanos, o Brasil pode se
consolidar como o maior fornecedor. A gripe suína, que dizimou 40% do rebanho chinês e fez disparar os
preços, também deve permitir sensível aumento das vendas. Às vésperas da
reunião do Brics, Pequim habilitou mais 13 frigoríficos brasileiros
para exportação.
Do lado dos investimentos, os chineses já são grandes participantes na
área de infraestrutura, principalmente em geração e transmissão de
energia. Os aportes devem crescer, conforme o programa de concessões
ganhe velocidade. Recorde-se ainda a participação minoritária de estatais chinesas que
evitou vexame ainda maior no leilão de petróleo da camada do pré-sal. As
relações vêm se intensificando com consistência.
A nota dissonante veio do ministro da Economia, Paulo Guedes. Em mais um
de seus já rotineiros exageros retóricos, afirmou durante o encontro
que estaria em conversas com a China para a celebração de um acordo de
livre-comércio, para logo em seguida recuar. Evidente que aprofundar relações é do interesse do Brasil. A busca por
vendas brasileiras de maior valor agregado também deve ser um objetivo. A
contrapartida será maior acesso de produtos chineses ao mercado
brasileiro.
Embora a abertura seja desejável para que o país possa incorporar
tecnologia, ainda há muito o que fazer para reforçar a competitividade
brasileira. Sem isso, o impacto inicial seria doloroso em excesso para
setores nacionais. Cumpre, por exemplo, avançar na reforma tributária, de modo a
simplificar a cobrança de impostos sobre bens e serviços e harmonizar as
regras brasileiras com a melhor prática internacional.
O Brasil, um dos países mais fechados do mundo, certamente tem a ganhar
com maior integração nas cadeias de produção e comércio globais. A
transformação requer coragem e implica custos, mas constitui estímulo
fundamental à produtividade da economia.
Editorial - Folha de S. Paulo
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