Continuaram roubando - Achavam que não seriam apanhados e que, se por acaso o fossem, não iriam para a cadeia. Mesmo no auge da Lava-Jato
Você já ouviu: a Lava-Jato foi longe demais; a Lava-Jato destruiu empresas; o combate à corrupção atropela as leis e ameaça os direitos dos acusados.
Mas você terá lido apenas nos últimos sete dias: na terça passada foi deflagrada na Paraíba a Operação Calvário, para investigar políticos e empresários suspeitos de desviar R$ 134 milhões de recursos públicos; há uma semana, a Polícia Federal do Pará deflagrou a Vissaium, segunda fase da Operação Carta de Foral, cujo alvo é uma organização suspeita de fraudar recursos, licitações e contratos públicos em dez municípios do estado;
um dia antes, na quarta, 11, a Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União em Alagoas colocaram nas ruas a Operação Florence Dama da Lâmpada, em busca de políticos e funcionários públicos acusados de participar de fraude superior a R$ 30 milhões.
No Pará, foi cumprido um mandado de busca e apreensão no endereço do vice-governador Lúcio Vale. A PF também fez buscas no palácio do governo do estado. Na primeira manhã da operação, 11 pessoas estavam presas. Em Alagoas, foi presa a filha do vice-governador, Luciano Barbosa, que é Lívia Barbosa. Outras dez pessoas foram presas, incluindo Pedro Silva, o marido de Lívia, e gerentes de hospitais do estado em Arapiraca. A acusação é de fraudes na compra de materiais e na prestação de serviços de órtese, prótese e materiais especiais.
Tem mais coincidências.
Na Paraíba, o caso maior, R$ 120 milhões do dinheiro desviado teriam sido entregues para agentes políticos nas campanhas de 2010, 2014 e 2018. Em Alagoas, os R$ 30 milhões foram desviados nos últimos três anos, segundo as denúncias. E, finalmente, no Pará, a investigação visa fraudes praticadas de 2010 a 2017.
Muita gente continua pensando assim e achando que tem razão.
Não é verdade que o Supremo barrou a prisão após condenação em segunda instância?
Não é verdade que tentaram impor limites aos órgãos de investigação coordenada?
Resumo dessa primeira parte: não é que a Lava-Jato foi longe demais. A verdade é que demorou para começar e só agora os seus métodos se espalham pelo Brasil todo, com os resultados verificados a cada semana.
A segunda parte da ópera trata da destruição de empresas que se tornam alvo do combate à corrupção. Foram destruídas, diz o presidente do STF, Dias Toffoli. A resposta foi dada por Marcelo Odebrecht, em entrevista ao GLOBO. Segundo ele, a Lava-Jato foi um gatilho, mas a empresa se afundou porque, tomada por divergências e disputas internas, não soube reagir e se readequar.
O que falta mesmo? Duas coisas: um sistema legal mais simples e rápido para os acordos de leniência com as empresas e instrumentos mais fortes para o combate à corrupção.
Carlos Alberto Sardenberg, jornalista
Coluna publicada em O Globo - Economia 19 de dezembro de 2019
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