Vera Magalhães
Ao mesmo tempo que aumenta a rejeição graças a uma série de
posturas, o presidente fideliza um clube de convertidos graças
justamente a essas mesmas razões
Jair Bolsonaro termina 2019 com recorde de impopularidade para um
presidente em primeiro ano de mandato, mas também como favorito para as
eleições de 2022. Trata-se do presidente com a menor base parlamentar desde a
redemocratização. Por isso, recordista em vetos derrubados, medidas
provisórias caducadas e decretos derrotados. Mas também, apesar disso, o
único que conseguiu aprovar uma reforma da Previdência em dez meses.
Ao mesmo tempo que aumenta a rejeição graças a uma série de posturas,
ações e declarações voltadas contra minorias, chefes de Estados de
outros países, a esquerda e quem mais chegar, o presidente fideliza um
clube de convertidos graças justamente a essas mesmas razões. Para se entender o que foi o primeiro ano de Bolsonaro e tentar projetar
o que serão os próximos, bem como o cenário de 2022, é preciso aceitar
que, da mesma forma que sua vitória foi algo que contrariou os
compêndios de como se vencia uma eleição até aqui, sua Presidência
também não será analisada no futuro com base nas premissas anteriores,
cada vez menos aplicáveis para entendê-lo e prever quais serão os
resultados que vai entregar.
Por ora, a única variável constante, que valeu para os governos
anteriores e vai se mostrando poderosa para ele também, é o desempenho
da economia. Mesmo que devagar, quase parando, a recuperação dos
indicadores, da confiança no Brasil e na capacidade do governo de propor
reformas vai criando uma avenida em que a caravana do bolsonarismo
avança, a despeito de suas alas claramente autoritárias, incompetentes,
folclóricas ou todas as alternativas anteriores.
O ano acaba com o time do Planalto tendo experimentado todas as posições
e sem que nenhuma funcionasse. Onde está Onyx Lorenzoni, que tomou chá
de sumiço nos últimos meses? O general Luiz Ramos é um poço de simpatia,
empenho e boa vontade, os parlamentares o consideram gente boa, mas não
acreditam que ele resolva os problemas mais sérios. Na reta final do
ano, é o ex-subchefe de Assuntos Jurídicos, promovido a secretário-geral
da Presidência, Jorge Oliveira, quem está dando pitacos na articulação
política.
Ainda assim, os projetos avançam, graças a uma circunstância em que
Câmara e Senado elegeram agendas próprias e querem dar visibilidade a
elas. Ontem os deputados concluíram, com atraso de alguns meses, a
votação do novo marco do saneamento, abrindo o setor à iniciativa
privada. Mais um caso em que os ventos da economia enfunam as velas do
bolsonarismo, como também é o caso do boom das exportações, da boa
vontade das agências de risco e de outras notícias benfazejas da
economia.
Errarão os opositores e críticos do presidente, portanto, se forem
analisar só seus números carrancudos nas pesquisas e imaginar que será
fácil batê-lo no voto – eletrônico ou impresso, já que fora da economia
vivemos uma regressão diária e embaraçosa. Bolsonaro pode se beneficiar, além de todos os paradoxos aqui
enunciados, da repetição do filme ruim de 2018, quando se viu frente a
frente com o dragão da maldade do petismo e foi alçado à condição de
santo guerreiro por uma narrativa bem construída.
O centro termina o ano com uma profusão de pré-candidatos inversamente
proporcional à de projetos e estratégias. Na esquerda, Lula parecia que
ia sair causando barulho, mas parece viver o choque de realidade de que
não é mais sombra do que já foi. Ainda assim, se precisar arruinar as
chances de qualquer candidato de seu campo só para que ele e o PT não
percam a hegemonia, o fará, sob aplausos dos teleguiados de sempre. Nesse cenário, Bolsonaro terá razão se der de ombros para as pesquisas e
virar o ano pulando ondinha e fazendo gesto de arminha com a mão.
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