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sábado, 21 de dezembro de 2019

O destino de Trump - IstoÉ

O Presidente americano pode escapar do impeachment no Senado mesmo após a aprovação expressiva na Câmara. O seu futuro, incluindo a reeleição, terá impactos para a democracia no mundo

O Donald Trump que o mundo viu até agora será outro em 2020. O presidente americano ainda será o empresário agressivo e falastrão convertido em presidente que ataca a imprensa e os parceiros comerciais tradicionais e difunde fake news. O que muda, no entanto, é que ele passará a carregar a mácula de ser o terceiro presidente a sofrer um processo de impeachment em 243 anos de democracia americana. Como disputará a reeleição, isso significa que a sua agressividade terá de ser temperada, afinal ele não pode correr o risco de se envolver em conflitos sensíveis politicamente e perder o apoio eleitoral, especialmente no seu partido.

A atual batalha está sendo dura para Trump. Numa sessão histórica, a Câmara aprovou na noite de quarta-feira 18 o impeachment por 230 votos a 197 na acusação de abuso de poder. O placar foi de 229 a 198 por obstrução do Congresso. Ele se recusou a colaborar na investigação que apurava sua ação para prejudicar o rival democrata, Joe Biden, solicitando a ajuda da Ucrânia.

Agora, o Senado retomará o processo em janeiro. Nesta Casa, os republicanos contam com a maioria. O processo precisa ser aprovado por dois terços, o que torna mais provável que seja absolvido, como ocorreu com o ex-presidente Bill Clinton, em 1998. Mesmo que Trump termine absolvido, não escapará ileso. O processo representa por si só uma derrota moral.

O instrumento político do impeachment foi criado nos EUA, e nunca tirou concretamente um presidente de seu cargo. O mais afetado foi Richard Nixon, em 1974, mas ele renunciou antes da votação da Câmara. Já o caso de Trump se assemelha ao de Clinton — não pelos crimes pelos quais é acusado, mas pela forma como, ao que tudo indica, será absolvido. Clinton foi acusado de perjúrio e obstrução à justiça no escândalo sexual com Monica Lewinsky.

Retrocesso democrático
O impeachment não é apenas um problema político doméstico. Reflete uma crise global das democracias, que sempre tiveram os Estados Unidos como parâmetro. Quando a autoridade máxima dos EUA pressiona um governo estrangeiro para investigar um opositor político, significa que os fundamentos do modelo político vão mal. E não é só isso. Trump ataca a imprensa, desqualifica órgãos de Estado e estudos que comprovam o aquecimento global, ataca os direitos das minorias, entre eles os imigrantes. Foi como aconteceu no repugnante episódio de prisão de crianças refugiadas separadas de seus pais. É um sinal ainda pior da força atual das medidas antidemocráticas o pπ de Trump continuar popular e ter tudo para ser reeleito. De acordo com pesquisas pré-eleitorais, o único candidato democrata capaz de derrotá-lo até o momento é o próprio Joe Biden. “O presidente Trump abusou de seu poder e traiu o nosso país”, afirmou o ex-vice presidente após a votação da Câmara. “Mas nos EUA ninguém está acima da lei.”

Trump tem estimulado uma geração de líderes populistas no mundo inteiro que se voltam contra a globalização, propagam mentiras, atacam a imprensa independente e minam as bases da democracia. Isso ocorre em vários países europeus e até no Brasil, onde é modelo para o presidente Jair Bolsonaro. As democracias liberais, responsáveis pela expansão mundial nos últimos 150 anos, nunca estiveram tão fragilizadas — e a conduta do americano é central para esse processo. É isso que está em jogo na política dos EUA em 2020.
Trump tem estimulado uma geração de líderes populistas que são contra a globalização. É isso que está em jogo na política americana

Economia
Ainda assim, as chances de recondução de Trump são concretas, especialmente pelos benefícios econômicos sentidos por boa parte do eleitorado americano. “As pessoas não votam em função de popularidade, e sim de seu próprio bolso”, diz o economista Claudio Roberto Frischtak, da Inter B.

O desemprego no país caiu para 3,5% em setembro, com 136 mil novas vagas criadas. Trata-se do índice mais baixo desde 1969. Além disso, o país vem crescendo ano a ano e deve fechar 2019 com um aumento do PIB em torno de 2,3%. Os resultados endossam o slogan “Make America Great Again” (torne a América grande novamente). Para fortalecer esse discurso, Trump acirrará o ataque a grupos que acusa de crescerem à custa dos EUA e de serem responsáveis por prejudicar seu crescimento. “Para favorecer a política interna, ele terá um discurso radical com a Europa, que tem um déficit de milhões. É um contencioso que usará para fins internos”, diz Rubens Barbosa, presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (IRICE).

Se por um lado o discurso em relação à Europa será mais acirrado, o mesmo não deve acontecer com a China. O presidente americano anunciou um grande acordo — pelo menos temporariamente — com o país asiático, em dezembro, amenizando a guerra comercial que vem empreendendo nos últimos anos. E assim deverá se manter em 2020. O documento pode ser considerado, ironicamente, uma abertura de sua campanha à reeleição, uma vez que é estrategicamente pensado para evitar desgastes entre os eleitores e produtores locais. O acordo permite que os EUA suspenda ou corte tarifas em alguns produtos chineses e que a China aceite comprar itens norte-americanos, principalmente os agrícolas — o que pode afetar as exportações do Brasil. O mesmo abrandamento deve ocorrer no posicionamento americano em relação aos conflitos no Oriente Médio, incluindo o Irã, e na Coreia do Norte.

IstoÉ - Perspectiva 2020

 




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