Vinicius Torres Freire
Faz seis anos, conjuntura não era tão favorável para retomada; política é risco
Aumentou a “probabilidade de aceleração” do crescimento nos próximos
meses, sugere uma medida combinada de indicadores financeiros, de
produção industrial, do comércio exterior e de expectativas empresariais
e do consumidor. Vai, racha ou ainda se arrasta? Uma aceleração pode ter também
consequências políticas mesmo em meados de 2020, ainda mais dada a
conformação gelatinosa dos pedaços da política brasileira recente.
“O cenário do Copom supõe que essa recuperação seguirá em ritmo
gradual”, escreveu a diretoria do Banco Central na exposição de motivos
da decisão de baixar a Selic na semana passada, no entanto (na Ata do
Copom). Isso parece significar que o crescimento do PIB deve passar aos
poucos do ritmo de crescimento de 1% ao ano para 2%. Mantido o ritmo do
segundo e terceiro trimestres até o final de 2020, a economia cresceria
2,2%, por exemplo.
Ainda assim, o pessoal do BC escreveu também na Ata que a economia pode
acelerar além da conta atual, dadas certas e novas condições da
economia: taxa básica de juros historicamente baixa, nova e crescente
fonte de financiamento da economia (mercado de capitais), menos crédito
público subsidiado, por exemplo. É uma hipótese, lá está claro, pois se
desconhece como funciona a economia neste novo regime (e, não está lá
escrito, depois de meia dúzia de anos de recessão e estagnação).
A medida que sugere a “probabilidade de aceleração nos próximos meses” é
o Indicador Antecedente Composto da Economia Brasileira (IACE),
publicado em parceria entre a FGV-Ibre e The Conference Board. É uma
combinação ponderada de taxa básica de juros no mercado para um ano, do
desempenho do Ibovespa, de expectativas de empresas da indústria e de
serviços, de confiança do consumidor, da produção de bens de consumo
duráveis e de preços relativos (termos de troca) e de quantidade de
exportações brasileiras.
Pelos números recentes e a julgar pelo resultado passado do efeito
conjunto de tais indicadores, a economia parece estar no caminho da
aceleração. Mas a gente não tem como prever que os efeitos continuem os
mesmos, como de costume. Para dificultar a estimativa, temos esses fatos
muito novos, como a taxa básica real de juro em torno de 0,6% ao ano,
ressalte-se, e a configuração da economia depois de anos de ruína.
Para o Banco Central, traços de respostas para essas questões vão
indicar se a taxa de juros (Selic) vai cair de novo em fevereiro de 2020
(próxima reunião para decidir sobre juros). Caso a economia cresça o
previsto ou até acelere, o clima político deve mudar, caso o governo de
Jair Bolsonaro não cause mais tumulto ou dê mais tiros no pé ou na
orelha.tiros no pé ou na
orelha. Não vai ser o “milagre do crescimento”. O desemprego continuará muito
alto. A distribuição do crescimento não deve ser favorável para os mais
pobres; não há dinheiro para fazer redistribuição, ao contrário. Mas
haverá beneficiados, mais gente vivendo algo melhor do que agora e menos
gente vivendo pior. Pode aparecer alguma percepção “pop” de que
reformas e despiora da economia têm algo a ver.
Seria uma situação que levaria um governo normal a atrair aliados e
fazer composições político-partidárias mais amplas. No caso de
Bolsonaro, difícil dizer, até porque em termos políticos o governo vive
voluntária ou involuntariamente no caos e do caos. Mas haveria condições
para o clima político mudar. Na direção de formação de alianças ou de
ênfase em “quebrar o sistema”?
Vinicius Torres Freire, colunista - Folha de S. Paulo
Vinicius Torres Freire, colunista - Folha de S. Paulo
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