Marcado para morrer
O ex-policial do BOPE e miliciano Adriano da Nóbrega, morto na Bahia, era acusado de participar do esquema da “rachadinha” do gabinete de Flávio Bolsonaro, tinha longa relação com a famíla do presidente da República e era suspeito de envolvimento com a morte de Marielle
Tudo indica que o ex-policial e miliciano Adriano da Nóbrega, conhecido como capitão Adriano, [ex- capitão do Bope] era um homem marcado para morrer. Fugitivo da polícia há mais de um ano, ele foi cercado e baleado na madrugada de domingo 9, em um sítio na zona rural da cidade de Esplanada, a 170 quilômetros de Salvador, onde estava escondido. A operação policial que o vitimou envolveu 75 homens das forças de segurança do Rio de Janeiro e da Bahia e não deu a mínima chance de sobrevivência ao procurado. Ele levou dois tiros, no pescoço e no tórax, e deixou mais perguntas do que respostas para a Justiça. [o que fortalece as suspeitas de que sua morte foi 'queima de arquivo' - especialmente tendo em conta que foi absolvido pela Justiça do Rio, em 2007, da única acusação de homicidio que pesava contra ele.Com isso, só restando acusações mais leves, se preso vivo poderia ser tentado a fazer 'delação premiada'.]
Chefe do chamado Escritório do Crime, milícia de Rio das Pedras, na zona Oeste do Rio de Janeiro, era suspeito de cometer ou ser o mandante de vários homicídios, estava envolvido com o esquema da “rachadinha”, investigado no gabinete do então deputado Flávio Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro, e integrava a lista de suspeitos de envolvimento no assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes. Tinha uma folha corrida extensa, marcada por crimes variados e violentos. A versão oficial de sua morte dá conta de que houve um tiroteio em que Nóbrega atirou primeiro – dois disparos de sua pistola Glock calibre 9mm atingiram o escudo usado por um dos guardas, e a policia reagiu. Mas o fato de haver tantos homens atuando em uma verdadeira operação de guerra para prender um único perseguido indica que as forças de segurança não atacaram o esconderijo apenas para dar voz de prisão. A morte de Adriano fica, por enquanto, como uma história mal contada em que vale considerar a possibilidade de execução.
Há motivos para se acreditar nisso. Uma semana antes da ação em Esplanada, houve outra operação policial de busca e captura de Nóbrega em uma mansão na Costa do Sauípe, onde ele ficou escondido por cinco dias. Quando a polícia chegou, ele conseguiu fugir nadando em um lago atrás da casa. Dias depois, já em um novo refúgio em Esplanada, Nóbrega conversou com seu advogado, Paulo Emílio Catta Preta, e explicitou a preocupação em ser morto. “Na ligação, ele falou que se fosse encontrado seria morto”, contou Catta Preta à ISTOÉ. O advogado tentou acalmar o cliente, que estava bastante nervoso com o fechamento do cerco policial, e disse que a melhor solução seria Nóbrega se entregar. Foi, então, que a expressão “queima de arquivo” apareceu entre os dois. Nóbrega era um homem que sabia demais. “Ele disse que essa Operação da Costa do Sauípe não teria sido feita para prendê-lo e sim para matá-lo”, confirmou o advogado. As autoridades, porém, insistem que a morte ocorreu porque houve resistência à prisão e troca de tiros. Se, de fato, reagiu, foi praticamente uma decisão suicida. Dadas as condições do enfrentamento, a morte do miliciano mostra excesso da polícia ou alguma premeditação. Na casa onde o miliciano foi morto, a polícia encontrou três armas e 13 telefones celulares. O criminoso temia ser interceptado e trocava constantemente os chips de seus aparelhos.
[o fato do ex-capitão ter sido absolvido, definitivamente, em 2007, pela Justiça, mostra o acerto do então deputado Jair Bolsonaro, ao defendê-lo em discurso, no Plenário da Câmara, em 2005.
Quanto a sua indicação pelo deputado Flávio Bolsonaro para ser agraciado com a Medalha Tiradentes, ocorreu em 2005, quando o ex-capitão era acusado de homicidio - acusação da qual foi inocentado pelo TJRJ em 2007. Imperioso ressaltar que todas as indicações são analisadas por um Conselho, que referenda ou rejeita.
A propósito, sobram suspeitas contra o ex-capitão, suspeitas que as vezes são lançadas e depois desmentidas por quem as noticios - vide comentário, fundo vermelho, no gráfico.]
Personagem misterioso
Nóbrega é um personagem misterioso que ronda o clã Bolsonaro há pelo menos 17 anos. A relação entre o miliciano e a família presidencial nunca fui sigilosa. Ele era tratado como uma espécie de herói pelo presidente e seus filhos, embora desde sempre estivesse envolvido com atividades ilícitas e violentas. Em 2003, um ano depois de iniciar seu mandato de deputado, Flávio Bolsonaro homenageou e condecorou o miliciano com uma moção de louvor por seus serviços prestados à sociedade. Declarou que o policial desenvolvia a função “com dedicação, brilhantismo e galhardia”. “No decorrer de sua carreira, atuou direta e indiretamente em ações promotoras de segurança e tranqüilidade da sociedade”, declarou Flávio. Em 2005, o filho do presidente foi mais longe e concedeu a Nóbrega, por seu “êxito em prender doze criminosos e apreender armamentos e drogas na cidade”, a Medalha Tiradentes, principal honraria do poder legislativo do Rio. Adriano, que ainda era tenente do Bope, não apareceu na cerimônia, porque estava preso preventivamente acusado do assassinato do guardador de carros Leandro Silva, que havia denunciado policiais da cidade pelos crimes de extorsão e ameaça. O pai Jair Bolsonaro, na época deputado federal, também foi à tribuna da Câmara, em Brasília, defender o miliciano das acusações de que era alvo. Chamou Nóbrega de “brilhante oficial” e, posteriormente, esteve presente na audiência de julgamento do ex-PM, que acabou absolvido do homicídio de Leandro em 2006.
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Foragido da Justiça
Nóbrega se tornou foragido no começo do ano passado, depois que os milicianos do Escritório do Crime foram alvo de uma grande investigação do Ministério Público do Rio chamada de Operação Intocáveis. A operação desvendou um esquema de corrupção envolvendo arrecadação ilegal de aluguéis, extorsão, grilagem de terras e outros crimes ligados ao mercado imobiliário em Rio das Pedras e na localidade de Muzema. O destino de Nóbrega era investigado pelo setor de inteligência da Polícia Civil do Rio de Janeiro e pelo Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público. Seu exato paradeiro só foi conhecido há cerca de um mês, quando foi realizada a primeira operação frustrada de prendê-lo, no dia 31 de janeiro, na mansão de Costa do Sauípe, onde estava desde que deixou o Rio. Ele estava acompanhado da atual mulher, Julia Emilia Lotufo, e das filhas dela.
Do Sauípe, Nóbrega escapou para Esplanada e instalou-se, primeiro, numa fazenda pertencente ao pecuarista Leandro Guimarães. Em depoimento, Guimarães falou que Nóbrega chegou à propriedade dizendo que estava de férias e procurava um lote de terras em Esplanada para comprar. Disse também que conhecia Adriano de vaquejadas, festas famosas na região, e desconhecia o passado nebuloso do amigo. Descobriu-se, porém, que Guimarães foi testemunha de defesa em um processo em que Nóbrega era acusado de homicídio, grilagem de terras e agiotagem, em julho do ano passado.
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Nóbrega morreu em um contexto de investigações inconclusivas e sob suspeita de uma série de crimes em uma área isolada na Bahia. Segundo Alves, ele não estava em uma favela ou em um bunker, estava em uma zona rural e em desvantagem. “O que saísse da boca dele iria ser decisivo para várias investigações em andamento. Essa operação está muito mal contada, é muito estranha”, completa Alves. Outra frente de investigação que a morte de Nóbrega abafa é a possível ligação do miliciano com o assassinato de Marielle Franco. Quem também fazia parte do Escritório do Crime, grupo liderado por ele, era o ex-policial Ronnie Lessa, principal acusado de matar a vereadora, atualmente preso. Se não eram próximos, Nóbrega e Lessa certamente se conheciam e tinham alguma relação. Há quem fale que o Capitão Adriano era uma peça chave para descobrir os mandantes do crime ocorrido em março de 2018. É uma análise defendida pela própria Secretaria de Segurança Pública da Bahia.
Caso Marielle
Para o deputado federal, Marcelo Freixo (PSOL-RJ), porém, Nóbrega não teve nada a ver com a morte de Marielle e ele e Lessa podem nunca ter atuado juntos.
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