O que é visto e o
que não é visto no controle de armas
“O controle de armas dá
as costas a este simples fato: pessoas que usam armas para infringir a lei,
infringirão a lei para obter armas”.
Isto pode surpreender, por não ter nenhuma
publicidade, mas pessoas usam armas defensivamente (quase sempre sem
dispará-las) dois milhões e meio de vezes a cada ano.
O
número abominável de assassinatos por todo o país tem, previsivelmente, renovado o apelo pelo maior controle de armas. Defensores do banimento de armas caem na
falácia clássica que é usualmente associada às políticas econômicas. Mas
isto se aplica completamente a todas as políticas governamentais, incluindo
controle de armas.
No século
XIX, o economista francês Frederic Bastiat, explicou que para que compreendamos
as consequências de uma política devemos considerar tanto o que é visto como o
que não é visto. Esta foi também a lição ensinada por Henry Hazlitt, discípulo
intelectual de Bastiat, em seu famoso livro “Economia numa única lição”.
Hazlitt identificou a “persistente
tendência dos homens em ver apenas os efeitos imediatos de uma dada política ou
apenas seus efeitos num grupo em particular, e a negligenciar a pesquisa de que
os efeitos de longo prazo daquela política atingirão não apenas aquele grupo em
particular, mas todos os grupos. Esta é a falácia de omitir as consequências
secundárias”.
O famoso caso de negligenciar o que não
é visto, é claro, é o caso da vidraça quebrada (de Bastiat). Os observadores estão
propensos a notar que o vidraceiro obterá novas receitas. Não atentam em
que se a vidraça não tivesse sido quebrada, o proprietário da vidraça poderia
ter gasto seu dinheiro para melhorar sua situação ao invés de meramente
restaurá-la. Isto é o que não é visto.
Se você pensa que esta é uma falácia que
ocorre raramente, apenas leia os jornais após o
próximo furacão, terremoto ou desastre natural. Certamente alguém
enunciará o bordão: projetos de reconstrução.
Se observamos apenas as consequências óbvias imediatas, avaliaremos mal
e incorretamente as circunstâncias e qualquer política daí resultante será ruim.
Este é o problema com o controle de armas.
O não visto na venda de armas
Os defensores do banimento de armas reagem à notícia de
um tiroteio dizendo que se o assaltante/assassino não tivesse tido
acesso a armas de fogo aquele tiroteio não teria ocorrido. É claro, isto é verdade: o tiro requer uma arma. Mas isto prova muito menos do que pensam os controladores.
Isto não significa que se o assassino
não tivesse sido capaz de obter uma arma legalmente ele
não a obteria de algum outro modo. Defensores do controle de armas, (Brady Law, nos EUA) algo que requer um
período de espera e verificação de antecedentes para os compradores de armas,
exultam que dezenas de milhares de pessoas tenham tido seus pedidos de porte de
armas recusados. A maioria, com certeza,
não eram criminosos violentos. Mas este não é o fim
da estória. Um bandido que teve
sua aquisição de armas negado desistirá tão facilmente? Ou ele está apto a recorrer ao mercado negro para adquirir
uma arma? Ou pior, ele não pode
assaltar uma loja de armas ou a casa de alguém para roubar uma arma?
O controle de armas dá as costas a este
simples fato: pessoas que usam armas para infringir a lei, infringirão a
lei para obter armas. Os
controladores veem a diminuição da venda de armas. Eles
não veem, e consequentemente não levam em consideração, os meios alternativos para aquisição de armas.
As
vítimas não vistas
A falha em considerar o não visto não para aqui. Após cada assassinato, ouvimos a
enumeração de estatísticas de quantas pessoas são assassinadas por armas de
fogo a cada ano. A implicação é que sem armas a taxa de assassinatos
diminuiria. Somos lembrados também de como muitos acidentes com armas ocorrem (a taxa de acidentes com armas, entretanto,
tem caído), e somos levados a acreditar que se a posse legal de armas fosse
restringida severamente menos pessoas morreriam a cada ano por disparos. Não é verdade.
Para ser claro, algumas pessoas que
foram mortas poderiam estar vivas hoje. Mas algumas que não foram mortas, teriam
sido. Como assim? Isto pode surpreender, por
não ter nenhuma publicidade, mas
pessoas usam armas defensivamente (quase
sempre sem dispará-las) dois milhões
e meio de vezes a cada ano. Como aponta John Lott, da Escola de Direito da
Universidade de Chicago, este número inclui os
incidentes em que massacres são prevenidos ou reduzidos e nos quais mães
impedem roubos quando suas crianças estão em seus carros.
Em um artigo para o The American Enterprise,
Lott escreveu: “Na superfície, os
tiroteios em escolas parecem um forte argumento para restrição da posse privada
de armas. Mas a verdade é que armas manejadas por cidadãos têm salvo vidas em
tais incidentes, incluindo alguns recentes”. Ele
nos lembra o tiroteio ocorrido recentemente numa escola em Pearl, Mississipi, que poderia ter alcançado um número maior
de vítimas caso um assistente
não tivesse pego sua arma no carro e a utilizado para conter o agressor até que
a polícia chegasse. Um caso similar ocorreu para acabar com um incidente de
tiroteio em Edinboro, Pennsylvania.
As mortes que não ocorrem devido a pessoas
decentes terem armas não podem ser vistas, e, portanto, não são introduzidas
na apuração do saldo de vítimas. Se
as armas forem banidas, as pessoas decentes, não os
criminosos, terão perdido um método chave de uso da
força para defenderem a si mesmas e a outros. Então, mais pessoas poderão
morrer nas mãos de criminosos do que hoje.
Podemos demonstrar isto negativamente com um incidente
real. Alguns anos atrás George Hennard Junior
entrou numa cafeteria em Killeen, Texas, e abriu fogo matando 23 usuários e
ferindo outros 28. Suzanne Gratia
Hupp estava lanchando lá com seus pais e os viu sendo assassinados. Acontece que esta mulher usualmente carregava uma pistola em
sua bolsa (o que naquela época era
ilegal). Mas neste dia, temendo a revogação de uma
licença ocupacional recentemente obtida, ela deixou a arma em seu carro quando
ela e seus pais entraram na cafeteria. Ela está convencida de que se ela tivesse a arma consigo poderia ter
parado o atirador. Seus pais, e outros, poderiam ter sido poupados. Eles
podem ser contabilizados entre as vítimas do controle de armas.
Há ainda um outro tipo de “não visto”
na questão do controle de armas. A maioria dos estados
tem agora legalizado o porte de armas para cidadãos que satisfazem a alguns
critérios. Formalmente, as autoridades locais têm ampla discrição na
outorga destas permissões. Onde o porte
é permitido, são os criminosos que são atormentados pelo que “não é visto”. Eles não podem
saber quem tem uma arma e quem não tem. Isto cria um problema para os bandidos. As
pessoas que escolhem não portar armas, não obstante, se beneficiam do fato de
que outros podem portá-las.
Criminosos, tipicamente, não gostam de atacar alvos
perigosos. Uma vez que os criminosos não
podem saber com antecedência quem está ou não portando uma arma, eles têm de assumir que qualquer um pode
estar, se não a vítima em potencial, alguém próximo. Isto é um modo de
criar segurança nas ruas.
Um mundo sem armas não seria um mundo
mais seguro do que um mundo em que pessoas decentes tenham permissão de
possuí-las. Sem
armas, os bandidos maiores e mais fortes teriam vantagem sobre as vítimas
menores e mais fracas. As
mulheres, especialmente, sofreriam. Num
mundo sem armas o “não visto” seriam as vítimas de espancamentos fatais e esfaqueados que
teriam permanecido vivas se possuíssem armas de fogo com as quais pudessem se
defender.
http://sheldonfreeassociation.blogspot.com.br/
Tradução:
Flávio Ghetti