Para evitar um caos hospitalar, a semana que se inicia é crucial. O
governo federal, os estados e municípios precisam tomar medidas
imediatas que possam achatar a curva de contágio
Na última sexta-feira (20/03), o ministro da Saúde Luiz Henrique
Mandetta declarou que o período de pico de infecções por covid-19 no
Brasil será nos meses de abril, maio e junho. O ministro já admite que
ao final de abril nosso sistema de saúde entrará em colapso. Esse
cenário se apresenta como ainda mais severo que o vivido pelos
italianos. Para evitar um caos hospitalar dessa magnitude, a semana que
se inicia é crucial. O governo federal, os estados e municípios precisam
tomar medidas imediatas que possam achatar a curva de contágio e
organizar o fluxo de atendimento do sistema de saúde.
[Um registro se impõe:
UFA... finalmente, uma das raras matérias que busca oferecer sugestões, ideias, para combater a Covid-19, colocando a vida humana em primeiro lugar, deixando de lado a prática do esporte preferido: malhar o presidente da República.
A matéria tem presente que as eleições presidenciais são para 2022.
PARABÉNS!!! ao Estadão e autores do artigo.]
A matéria é uma das poucas, raras mesmo - há algumas, mas o número é mínimo - sugere manter vivo os eleique não esquece que as eleições são para 2022
O impacto da covid-19 em nossos hospitais será tremendo. O Brasil já não
tem capacidade hospitalar suficiente para atender o quadro sanitário
existente. Persistem em nosso território os desertos sanitários: são ao
todo cento e vinte três regiões sanitárias sem nenhum leito em UTI. O
aumento de demanda por leitos ocasionado pelo coronavírus agrava essa
situação e exigirá um aumento significativo da produção hospitalar. O
Instituto de Estudos de Políticas de Saúde (IEPS) estima que cada um por
cento de população infectada corresponderá a um bilhão de reais de
gastos em hospitalizações adicionais em unidades de tratamento
intensivo. Com a declaração do estado de calamidade, o Tesouro está
livre para fazer este investimento, sem dúvida de alto retorno social e
humanitário.
Existem outras e rápidas medidas que podem contribuir para limitar os
danos da pandemia. No topo da lista está o distanciamento social.
Evidências demonstram que tal medida é capaz de achatar a curva de
contágio da epidemia, o que minimizaria o número de casos graves
desatendidos.
No entanto, é ilusório acreditar que o terço mais pobre do Brasil,
composto de pessoas que ganham menos de meio salário mínimo, deixará de
circular nas cidades só com decretos impositivos, toques de recolher e
outras medidas de vigilância. É necessário garantir um mínimo de
assistência para compensar a extraordinária perda de renda causada pelo
distanciamento social. E é necessário fazer isso já. O governo federal
tem as condições de injetar recursos na economia ainda nesta semana,
diretamente a mais de setenta milhões de brasileiros. O Brasil dispõe de
uma base de dados organizada com informações que identificam esses
indivíduos – o Cadastro Único, que lista beneficiários de todos os
programas sociais focados nas famílias de baixa renda. Ao abarcar os
indivíduos listados no Cadastro Único, sem necessidade de triagem
adicional, o governo federal poderá evitar importantes custos e demoras
de implementação.
Essas medidas de apoio socioeconômico contribuirão imediatamente ao
controle do contágio. Mas elas não são suficientes: é fundamental que
sejam complementadas com esforços na triagem e organização do
atendimento hospitalar. Nesse sentido o SUS é fundamental, com sua rede
de Atenção Básica resolutiva, cuja responsabilidade compete aos
municípios. No momento, existe grande disparidade na capacidade de
resposta por parte das prefeituras.
É fundamental que elas comecem a trabalhar de maneira coordenada,
cumprindo um mínimo de repertório de ações. O IEPS preparou um check
list de enfrentamento à covid-19 direcionado aos municípios, prevendo
ações de rápida implementação em quatro dimensões essenciais.
O
protocolo indica como as prefeituras podem orientar suas ações a partir
dos dados e evidências existentes;
adaptar a organização dos serviços de
saúde;
fortalecer a prevenção através da comunicação com a população;
e,
por fim, reformular estratégias de gestão instaurando uma cadeia de
comando e controle eficiente durante o período de crise.
Não há tempo a
perder:
se quisermos evitar o total colapso do sistema hospitalar do
país dentro de um mês, é necessário que governo federal e as prefeituras
implementem essas ações esta semana.
O Estado de S.Paulo/Saúde - Armínio Fraga, Miguel Lago e Rudi Rocha, Presidente do
Conselho e diretores do Instituto de
Estudos para Políticas de Saúde.