Alguns
dos maiores segredos da Petrobras vazaram numa operação de espionagem realizada
por brasileiros, entre
eles um diretor da estatal indicado por deputado do PMDB
Parece
formigueiro quando se observa da janela, no alto da torre desenhada como
plataforma de petróleo. A massa
serpenteia, quase atropelando vendedores de ilusões lotéricas, espertos do
carteado e ambulantes de afrodisíacos à volta dos prédios. Na paisagem se
destaca um paletó preto surrado. Bíblia na mão direita e “caixa-para-doações” na esquerda, ele bacoreja: “Irmãos, o apocalipse está chegando!”
Naquela
quinta-feira, 7 de abril de 2011, seu palpite ecoava numa cidade perplexa com a
carnificina de 12 estudantes em insano
ataque numa escola de Realengo, na Zona Norte. No alto da torre, porém, o
mundo era outro. Emoções oscilavam entre a euforia das renovadas promessas de
óleo fator sob a camada do pré-sal e a depressão com o rombo de caixa
bilionário provocado pelo “congelamento”
do preço da gasolina. Recém-chegada à Presidência, Dilma Rousseff culpava suspeitos de sempre, os anônimos “inimigos externos”.
No alto
da torre, de porta fechada e solitário
na sala refrigerada, ele apertou quatro teclas no computador: “SG9W”. Foi como
abrir um cofre: abriu-se o acesso a valiosos papéis da Petrobras. Procurou um documento específico (“E&P-PRESAL 21/2011”). Era novo e
dos mais sigilosos da empresa naqueles dias.
“Confidencial”, advertia a etiqueta na capa. Concluído três semanas antes,
consolidava o “Plano Diretor de
Desenvolvimento Integrado do Polo Pré-Sal da Bacia de Santos”. Descrevia,
em detalhes, a estratégia tecnológica e financeira da estatal para exploração
de “uma nova fronteira petrolífera com
elevado índice de sucesso exploratório, contendo grandes acumulações de
petróleo de boa qualidade para a geração de derivados”.
O relatório com dois anexos foi
copiado às 15:40:34. No dia
seguinte, começou a ser analisado por um grupo de especialistas em Amsterdã. Na
segunda-feira, 18 de abril, 11 dias depois, quando a diretoria da Petrobras se reuniu na sede da Avenida Chile,
no Centro, para aprovar o secreto plano
para o pré-sal, cópias já circulavam em Londres,
Mônaco e na holandesa Schiedam, onde está instalada a SBM, fornecedora
de quase um terço dos navios, sondas e plataformas alugados pela estatal
brasileira. Nos meses seguintes, vieram outros três documentos sigilosos.
Nessa operação de espionagem
vazaram alguns dos maiores segredos da Petrobras no governo Dilma Rousseff. Por trás, não havia nenhum serviço de informações estrangeiro, o
“inimigo externo”, embora naquele
abril de 2011 a americana Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) estivesse trabalhando com idêntico
objetivo.
Foi uma ação de brasileiros. A senha usada para copiar era
exclusiva — de uso pessoal — de Jorge Luiz Zelada, que há três anos ocupava a Diretoria
Internacional da Petrobras por indicação do deputado federal Fernando Diniz (PMDB-MG),
com a chancela amiga do governo Lula.
A remessa ao exterior foi realizada por Julio Faerman, agente da holandesa SBM
no Rio e responsável pela distribuição de US$ 102,2 milhões em propinas a “funcionários do governo brasileiro”,
como confessou a SBM à Justiça da Holanda e à dos EUA.
Há pelo menos oito meses o
governo e o comando da estatal sabem das ações de Zelada e Faerman, entre outros. Dilma Rousseff,
no entanto, continua na praça pregando contra anônimos “inimigos externos” da Petrobras.
Fonte: José Casado
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