Dilma
admitiu corrigir erros, se ler o livro do advogado, verá que sua lei
anticorrupção é ‘para inglês ver’
O
ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse que a
Lei Anticorrupção sancionada pela doutora Dilma há 19 meses ainda não foi regulamentada porque exige
delicadas compatibilizações. Tudo bem, isso dá trabalho, mas a Constituição
de 1988 fez seu serviço em 20 meses. Durante a Constituinte os parlamentares
fizeram 19 mil intervenções. É difícil acreditar que
regulamentar uma lei pega-ladrão dê mais trabalho que redigir uma Constituição.
O comissário Miguel Rossetto certamente achará que cabe ao
povo esperar que os guias geniais de sua vanguarda trabalhem em paz pela
construção de uma nova sociedade mais justa (se
ele der um trato no cabelo antes de ir a uma entrevista coletiva, a aliança
operário-camponesa agradecerá).
Felizmente, tendo ouvido o ronco da rua, a doutora
Dilma disse que está pronta para reconhecer erros cometidos pelo governo e
fez isso numa entrevista em que mostrou inédito desembaraço. Poderia fazer
mais. O advogado Modesto Carvalhosa acaba de publicar um livro (“Considerações sobre a Lei Anticorrupção de
Pessoas Jurídicas”) com uma triste
conclusão: ela é produto da “malfadada
cultura de legislar para dissimular, ‘para inglês ver’”.
Como
a lei é para inglês ver, o seu artigo 9º diz que competirá à CGU a “apuração, o processo e o julgamento” quando as ladroagens forem praticadas “contra a administração pública estrangeira”.
Ou seja, se estiverem roubando dinheiro
da Petrobras, Barusco e Duque investigarão, cabendo à CGU apenas “competência concorrente”. Se estiverem roubando
do companheiro Teodoro Obiang, da Guiné Equatorial, a CGU entrará logo em cena, apurando, processando e julgando, sem
Baruscos nem Duques.
Por:
Elio Gaspari, jornalista – O Globo
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