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sexta-feira, 28 de julho de 2017

Pink Floyd no Jaburu

The Wall precisa ser refilmado, com o piquenique da Gleisi no lugar da rebelião dos estudantes 

Roger Waters atacou Michel Temer. E os historiadores do futuro não terão dúvidas: o século XXI acaba aqui. Talvez venha a ser conhecido como “O Breve Século XXI”. Eric Hobsbawm e outros mestres do embelezamento narrativo ensinaram que o tempo é escravo dos símbolos. E não há século que possa prosseguir após um corte epistemológico dessa magnitude.

Contextualização para os mais jovens: Roger Waters é o ex-líder do Pink Floyd, autor da ópera catártica The wall, sobre a repressão a crianças e jovens na Inglaterra da primeira metade do século passado (agora retrasado, pois esta semana entramos no século XXII). Corta para o Palácio do Jaburu: Marcela não sabe se pendura o último disco do astro inglês na sala de estar ou logo na entrada, para que o visitante receba o impacto já ao chegar. Waters fez uma montagem com o rosto de Temer na capa – e poucos brasileiros chegaram tão longe.


Lula, por exemplo, não chegou lá. E olhem que se esforçou. Sabendo que não é fácil chamar a atenção de um ícone do pop mundial, o filho do Brasil pensou grande: regeu o maior assalto governamental da história do Ocidente, certo de que assim não passaria despercebido. É bem verdade que poderia ser discriminado por ser pobre e não ter diploma, mas resolveu isso também: enriqueceu e conseguiu finalmente ser diplomado por Sergio Moro – nove anos e meio de cadeia. Agora aguente firme, caro leitor, porque o final da história é trágico: provando que a injustiça e o preconceito contra os mais humildes não têm limite, Roger Waters mesmo assim não deu a menor bola para Lula.

A insensibilidade do astro inglês para com os heróis do povo sofrido das Américas também atingiu o companheiro Nicolás Maduro. Além de depenar a Venezuela, o grande revolucionário chavista escalpelou os venezuelanos – e você só está achando que isso é metáfora porque o sangue não era seu. Um trabalho formidável de aviltamento humano e dizimação institucional, mundialmente reconhecido, e... Pergunte se Maduro ganhou capa de disco? Nada! É muita humilhação.

Pois o obscuro mordomo brasuca não só foi alçado ao estrelato pelo compositor de “Another brick in the wall”, como ainda teve o topete de ligar para a Venezuela e oferecer apoio ao líder da oposição contra o carniceiro do bem. Aguardamos, urgente, um manifesto de artistas e intelectuais contra esse gesto elitista, verdadeiro atentado contra a ditadura boazinha do amigo de Lula e Dilma que jamais deixaram de prestar solidariedade às atrocidades libertárias do vizinho.

E por falar em destruição criadora (de caso), um grupo de senadoras amigas do filho do Brasil invadiu a mesa do Senado. Roger Waters precisa refilmar The wall substituindo a rebelião dos estudantes na escola pelo piquenique da turma da Gleisi no Parlamento brasileiro. Foi uma cena de pura poesia revolucionária, Roger. Você precisava ver. As quentinhas daquelas senhoras febris espalhadas sobre a mesa da presidência para impedir a reforma trabalhistamais um golpe do mordomo, querido Roger, contra o sagrado direito à mamata sindical. Um escândalo.

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A reforma passou assim mesmo, mas o mais chocante foi a notícia que veio depois: durante todo o motim – que durou várias horas –, as bravas senadoras lutavam pelos direitos da mulher trabalhadora obedecendo por telefone às instruções do presidente da CUT. Para um país que mal tinha superado o trauma de ter como primeira presidente uma mulher teleguiada pelo padrinho, o protesto feminista com controle remoto masculino foi um baque. Imagine quantos novos sutiãs precisarão ser queimados para compensar esse vexame, companheiro Roger?

Outro que deve estar chateado com você por não ter merecido capa de disco é Ollanta Humala. O ex-presidente peruano amigo de Dilma e de Lula, portanto seu amigo, Roger, acaba de ser preso no escândalo da Odebrecht, acusado de lavagem de dinheiro. Com tantos heróis terceiro-mundistas à mão, no auge de suas façanhas quadrilheiras, esse destaque mundial que você reservou ao mordomo branco e velho intrigará os historiadores de esquerda por décadas.  A não ser que você rasgue a fantasia, querido Pink, e esclareça que isso é just another brick in the wall, ou seja, só mais um tijolo no muro da demagogia milionária.

Fonte: Revista Época - Guilherme Fiuza

 

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