O atrapalhado governo Temer vai causando estragos
enquanto tenta se salvar. Além de focado na própria sobrevivência, não
tem rumo. Autoridades da economia batem cabeça em torno dos juros do
BNDES, o presidente do banco defende política ruinosa do governo Dilma, o
governo ataca de novo a Floresta de Jamanxim, a reforma trabalhista já
nasceu precisando ser reformada.
As contradições acontecem com espantosa frequência. Na sexta, o
governo mandou para o Congresso projeto de lei que reduz o tamanho da
Floresta de Jamanxim. É o segundo ataque à mesma floresta. No final do
ano passado, o governo baixou MP que reduzia em 37% o tamanho da área
preservada. Essa é uma região de conflito. Quando a autoridade mostra
fraqueza, aumenta a grilagem. Foi o que aconteceu. Um pouco antes de
viajar para a Noruega, Temer vetou o que havia proposto. Não enganou
norueguês e teve que ficar sabendo lá que o Brasil perdia parte do Fundo
Amazônia. Agora, mandou projeto de lei propondo de novo a redução da
mesma floresta em 350 mil hectares.
Nos últimos dias, houve um episódio incompreensível. O presidente do
BNDES, Paulo Rabello de Castro, anunciou pela imprensa que a nova taxa
de juros do banco, a TLP, não seguiria mais a NTN-B, mas sim a meta de
inflação. Significa fazer o oposto do que se pretendia. A TLP foi
pensada para diminuir lentamente o uso de dinheiro público para
subsidiar empresários. Se fosse pela meta de inflação, o subsídio
aumentaria. A declaração provocou a demissão de dois diretores e a
reação de dois ministros. Henrique Meirelles e Diogo Oliveira o
desautorizaram. [o Temer é realmente um pouco atrapalhado, tem hora que perde o rumo; mas, sua permanência significa o retorno do Brasil ao processo de crescimento.
Temer tem que ser mais incisivo, evitar contradições, e no caso do BNDES esse Rabello era para ter sido demitido na primeira bobagem: a confusão com a taxa TLP.
Inaceitável é a pretensão de demitir o presidente da República por uma acusação apresentada contra ele sem provas, baseada unicamente na palavra de um bandido.]
Na sexta-feira, ao divulgar o Livro Verde do BNDES, na rádio Jovem
Pan, Rabello parecia integrante dos governos petistas, porque no afã de
conquistar os funcionários passou a defender controversos empréstimos ao
JBS. Sua defesa se estendeu ao próprio grupo:
— Não posso recomendar que ninguém compre nem venda JBS, mas dá a
impressão, olhando tecnicamente, de que todos aqueles que estão na
posição nesta empresa confiam na robustez daquilo que foi feito, que é a
maior empresa de proteína animal do mundo. Se foi feito por pessoas que
têm um lado ético comprometido, isso eventualmente não compromete, por
exemplo, sua agressividade empresarial.
O país conhece a agressividade da empresa, inclusive na área
política. Digamos que Rabello de Castro tenha saído por aí a defender o
encrencado grupo porque o banco é sócio. Mas ele acabou sustentando as
decisões tomadas no governo Dilma. Disse que o banco seguiu diretrizes
de governos eleitos, que não houve concentração de empréstimos no JBS,
que o grupo tem lugar “modesto” entre os maiores tomadores e que as
operações deram lucro. Os advogados de Lula, Dilma e Mantega devem se
apressar e pegar as declarações, porque serão úteis nos tribunais, onde
terão que responder pela acusação de Joesley de que pagou propina aos
dois ex-presidentes através do ex-ministro em cada operação do banco. Em
seguida, Rabello defendeu a atuação do banco até no governo militar.
“Hoje se chama ditadura, naquele tempo chamava-se revolução.”
A reforma trabalhista foi sancionada exigindo nova reforma e causando
confusão até em especialista. Entrevistei dois dos melhores no meu
programa na Globonews: Naércio Menezes Filho, do Insper, e Gabriel
Ulyssea, da PUC. Os dois são a favor da reforma e acham que a CLT
precisa de atualização, mas fizeram críticas ao projeto aprovado. — Não houve debate com a sociedade, foi tudo muito rápido e agora
terá uma MP para corrigir o que está errado. É importante frisar que não
é isso que provocará a queda do desemprego — disse Naércio.
Gabriel definiu como “bizarra” a proposta de que gestantes e
lactantes possam trabalhar em local insalubre e lembrou outros defeitos: — Haverá cinco figuras contratuais possíveis dentro de uma mesma
empresa: contrato permanente, por tempo determinado, por tempo parcial,
intermitente e o terceirizado. Essas questões estão mal amarradas e
podem gerar mais desigualdades.
Há necessidade de reformar a vetusta CLT, mas sua aprovação virou
demonstração de força de um governo terminal. O que era para simplificar
complicou. Quanto estrago mais fará o governo Temer antes do fim? Eis a
questão.
Fonte: Coluna da Miriam Leitão - O Globo - Alvaro Gribel, de São Paulo
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