Um presidente com apenas 5% de aprovação e 70% de
rejeição normalmente cai, porque os políticos da coalizão se afastam de
governo impopular que pode prejudicar as intenções eleitorais futuras. O
presidente Temer chega às vésperas da votação da denúncia com chances
de vencer. Tem usado o cargo para ficar no cargo e conta com a união de
políticos contra o inimigo comum: a Lava-Jato.
Na quarta-feira, dia 2, está marcada a leitura em plenário da
denúncia do procurador-geral por corrupção passiva contra Temer. Quem
quer tirá-lo tem o ônus de mobilizar dois terços da Câmara para votar
pela aceitação da denúncia. A falta de manifestação de rua facilita a
vida de Temer, mas os parlamentares estão voltando de suas bases,
visitadas no recesso, onde ouviram dos seus eleitores o tamanho da
rejeição ao presidente. Terão que decidir entre ficar no pacto de
salvação dos investigados ou fazer um gesto em relação ao eleitor que
está cansado do governo e da corrupção.
Toda vez que ocorreu um aumento forte da impopularidade de um governo
houve movimentos para se tirar o presidente. Assim foi com Collor e
Dilma. A ex-presidente foi reeleita no segundo turno e estava com 40% de
ótimo e bom em dezembro de 2014. Teve queda brusca. Em março, havia
caído para 12%. Continuou definhando até 9% e acabou sendo afastada. A
lista dos erros de Dilma é enorme, mas o principal é que ela arruinou a
economia, mentiu na campanha e, fechadas as urnas, admitiu a crise que
ficou visível para todos, na escalada da inflação e no aumento do
desemprego ao longo de 2015 e começo de 2016.
Temer nunca teve popularidade. Seu máximo de ótimo e bom foi 14%. Mas
o ruim e péssimo estava, no começo, em 39%, bem abaixo dos 69% de
Dilma. Havia um número grande de regular. Esses indecisos migraram para a
rejeição após a divulgação da delação de Joesley Batista. Quem aposta no cenário “sarney”, um presidente impopular que
permanece, tem que lembrar dois pontos. Primeiro, em janeiro do último
ano do governo, Sarney ainda tentou enfrentar a hiperinflação, o grande
problema da época, com o Plano Verão. Quando ficou claro que a tentativa
havia falhado, o ano já estava quase na metade, e a campanha eleitoral,
na rua. Sobravam apenas alguns meses. Sarney submergiu, e o país passou
a ser governado, na prática, pela equipe econômica. Segundo, a crise
fiscal agora é mais grave, e o país pode viver cenas explícitas de
desgoverno, neste longo ano e meio que ainda resta.
Temer é um governo estranho. Ele escolheu administrar o país com um
núcleo de políticos atingidos pela Lava-Jato, ou vulneráveis às
denúncias, e blindar algumas áreas da máquina pública. Quando se diz que
a equipe econômica é boa, não é apenas do ministro da Fazenda que se
fala. Há no grupo pessoas de qualidade comprovada, nenhuma relação com o
atual presidente, e em postos-chave no Ministério, como o
secretário-executivo Eduardo Guardia, a secretária do Tesouro, Ana Paula
Vescovi, o secretário de acompanhamento econômico, Mansueto Almeida. Há
outros, menos visíveis.
Nas estatais, ele nomeou Pedro Parente para a Petrobras e deu a ele
autonomia. Quando Parente assumiu, falava-se que era inevitável uma
capitalização do Tesouro na empresa, e ela está sendo ajustada sem pedir
dinheiro ao governo. Na Eletrobrás, área onde sempre houve indicação
política, foi nomeado o gestor reconhecido no mercado privado Wilson
Ferreira. Ele tem tomado decisões para arrumar a estatal de energia,
violentamente atingida pela péssima gestão Dilma na área energética.
Ferreira quer vender ativos de subsidiárias e está reduzindo o número de
funcionários e os custos para que a empresa sobreviva ao passivo de R$
30 bilhões deixado pela MP 579.
Um dos acertos já foi desfeito. O BNDES sempre foi alvo dos mais
diversos lobbies empresariais. Maria Silvia iria mudar isso. Saiu e
parte da equipe se dispersou. Agora, o banco faz acenos fortes ao velho
patriciado. Mais do que isso, Paulo Rabello de Castro, homem de
confiança de Temer, foi colocado lá para ser o polo alternativo de poder
na área econômica e ser usado na vacância do cargo na Fazenda. Se essa
decisão for consumada, pode ser fatal. Temer vive um equilíbrio frágil e
permanece ameaçado pela maldição que atinge presidentes muito
impopulares.
Fonte: Coluna da Miriam Leitão - Com Alvaro Gribel
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