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sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Não há garantia de os juros continuarem baixos


Com mais um corte feito pelo BC, a taxa básica chega a seu ponto mais baixo, porém a situação ficará insustentável se o Congresso não iniciar a reforma da Previdência 


O Banco Central, pelo seu Conselho de Política Monetária, cortou os juros básicos, a Selic, em mais 0,5 ponto, para 7%, e, com isso, a taxa atingiu a marca mais baixa em décadas ou, com alguma precisão, desde 1999, quando surgiu a política de metas de inflação. 

Merece as devidas comemorações, até pela forma com que a Selic tem caído. Recorde-se que, em 2012, a taxa chegou a 7,25%, mas apenas porque assim desejou a então presidente Dilma Rousseff, e, mesmo com a inflação fora das rédeas, o BC de Alexandre Tombini obedientemente fez o que o Planalto desejava. Como alertado, a inflação ganhou mais fôlego, e a Selic teve de voltar a subir, até chegar ao pico de 14,25%, em julho de 2015.

A queda foi rápida, mas, desta vez, porque a inflação permitiu, ao contrário do que aconteceu nos tempos de intervencionismo e do “novo marco econômico” de Dilma Rousseff e do lulopetismo. Ficou evidente que não basta vontade política para administrar uma economia. É preciso acionar os mecanismos certos.  Contribuíram para o atual quadro — em que a inflação está abaixo de 3%, quando a meta é de 4,5% —, o efeito de uma grande safra agrícola e mesmo a recessão. A economia emite sinais de recuperação, que, lenta, mantém a calmaria nos preços, também ajudada, até agora, pelo câmbio. Por isso, o relatório do BC sobre a decisão de quarta-feira admite mais um corte, menor, na próxima reunião do Copom.

Outro fato inédito é que a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), dos créditos a projetos de investimento, ficou igual à Selic, uma das prioridades do BC. Para isso a TJLP está em processo de extinção, a ser substituída por outra taxa, menos dependente do poder discricionário dos governos.  O aspecto positivo do nivelamento é que deixa de haver subsídios nesses financiamentos, uma conta pouco clara para a sociedade e fator de desequilíbrio fiscal. A queda da Selic também ajuda nas contas públicas, porque ela incide sobre a dívida interna.

Porém, não é possível prever quanto tempo mais haverá calmaria na inflação e nos juros. O imponderável é a reforma da Previdência, se o Congresso se disporá ou não a iniciá-la ainda este ano, o que é o ideal.  No lado da economia, há ingredientes necessários para que o PIB continue a se recuperar. Com inflação baixa e o mercado de trabalho em reativação, a renda da população volta a crescer, o consumo se eleva, e o setor produtivo, com grande capacidade ociosa, pode atender à demanda em alta sem maiores esforços de investimento.

Mas não há a certeza de que o Tesouro sairá da rota da insolvência. O que só acontecerá se e quando a reforma da Previdência for aprovada. Ou houver confiança de que isto acontecerá, sem a necessidade da eleição de um novo governo.  A sensação de conforto com a conjuntura benigna da economia pode ser efêmera. Tudo está nas mãos do Congresso.


Editorial - O Globo

 

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