Com mais um corte feito pelo BC, a taxa básica chega a seu ponto mais baixo, porém a situação ficará insustentável se o Congresso não iniciar a reforma da Previdência
O Banco
Central, pelo seu Conselho de Política Monetária, cortou os juros básicos, a
Selic, em mais 0,5 ponto, para 7%, e, com isso, a taxa atingiu a marca mais
baixa em décadas ou, com alguma precisão, desde 1999, quando surgiu a política
de metas de inflação.
Merece as
devidas comemorações, até pela forma com que a Selic tem caído. Recorde-se que,
em 2012, a taxa chegou a 7,25%, mas apenas porque assim desejou a então
presidente Dilma Rousseff, e, mesmo com a inflação fora das rédeas, o BC de
Alexandre Tombini obedientemente fez o que o Planalto desejava. Como alertado,
a inflação ganhou mais fôlego, e a Selic teve de voltar a subir, até chegar ao
pico de 14,25%, em julho de 2015.
A queda
foi rápida, mas, desta vez, porque a inflação permitiu, ao contrário do que
aconteceu nos tempos de intervencionismo e do “novo marco econômico” de Dilma
Rousseff e do lulopetismo. Ficou evidente que não basta vontade política para
administrar uma economia. É preciso acionar os mecanismos certos. Contribuíram
para o atual quadro — em que a inflação está abaixo de 3%, quando a meta é de
4,5% —, o efeito de uma grande safra agrícola e mesmo a recessão. A economia
emite sinais de recuperação, que, lenta, mantém a calmaria nos preços, também
ajudada, até agora, pelo câmbio. Por isso, o relatório do BC sobre a decisão de
quarta-feira admite mais um corte, menor, na próxima reunião do Copom.
Outro
fato inédito é que a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), dos créditos a
projetos de investimento, ficou igual à Selic, uma das prioridades do BC. Para
isso a TJLP está em processo de extinção, a ser substituída por outra taxa,
menos dependente do poder discricionário dos governos. O aspecto
positivo do nivelamento é que deixa de haver subsídios nesses financiamentos, uma
conta pouco clara para a sociedade e fator de desequilíbrio fiscal. A queda da
Selic também ajuda nas contas públicas, porque ela incide sobre a dívida
interna.
Porém,
não é possível prever quanto tempo mais haverá calmaria na inflação e nos
juros. O imponderável é a reforma da Previdência, se o Congresso se disporá ou
não a iniciá-la ainda este ano, o que é o ideal. No lado
da economia, há ingredientes necessários para que o PIB continue a se
recuperar. Com inflação baixa e o mercado de trabalho em reativação, a renda da
população volta a crescer, o consumo se eleva, e o setor produtivo, com grande
capacidade ociosa, pode atender à demanda em alta sem maiores esforços de
investimento.
Mas não
há a certeza de que o Tesouro sairá da rota da insolvência. O que só acontecerá
se e quando a reforma da Previdência for aprovada. Ou houver confiança de que
isto acontecerá, sem a necessidade da eleição de um novo governo. A
sensação de conforto com a conjuntura benigna da economia pode ser efêmera.
Tudo está nas mãos do Congresso.
Editorial - O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário