O Brasil superou a pior fase, a economia ganha impulso e 2020 poderá ser
melhor do que têm previsto os economistas: esta foi a avaliação
dominante do novo balanço geral da atividade – produção, consumo,
poupança, investimento e comércio exterior. O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 0,6% do segundo trimestre para o
terceiro, na maior expansão registrada até agora em 2019, segundo os
números divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE).
Diante da boa novidade, por muitos classificada como surpresa, analistas
do setor financeiro e de consultorias já falam em rever suas projeções.
Temperando o otimismo com uma boa pitada de moderação, especulam sobre
um possível crescimento em torno de 1,1% neste ano e de 2,2% em 2020.
Mas o otimismo, embora contido, já será uma novidade positiva, se
contaminar o mundo real dos consumidores, produtores, comerciantes e
empregadores.
Há um amplo espaço, ainda, para a expansão da atividade em todos os
segmentos de negócios. Tendo crescido 0,6%, o PIB no terceiro trimestre
ainda ficou 3,6% abaixo do pico registrado nos primeiros três meses de
2014, pouco antes do mergulho na recessão. Fábricas ainda operam com
capacidade ociosa de 25% a 30%, de acordo com informações da
Confederação Nacional da Indústria (CNI). Segundo o IBGE, 12,4 milhões
de pessoas buscavam emprego no trimestre móvel encerrado em outubro. Mas
os disponíveis para trabalhar deveriam ser bem mais que 24 milhões,
considerando-se também os subempregados, os desalentados e uma fração
com certeza considerável dos novos trabalhadores por conta própria.
Apesar das condições ainda ruins do mercado de trabalho, no terceiro
trimestre o consumo das famílias foi 0,8% maior que no segundo e 1,9%
superior ao de um ano antes. Esse grupo de despesas permaneceu, no
entanto, ainda contido. Essa é uma das explicações, provavelmente a mais
importante, da inflação moderada e abaixo da meta anual de 4%. A
aceleração ocasional da inflação decorreu principalmente, em 2019, de
aumentos de preços administrados, como os da energia elétrica, do gás e
do transporte coletivo.
Inflação baixa e expectativas inflacionárias muito moderadas
proporcionaram espaço, nos últimos anos, a uma acentuada redução dos
juros básicos. Em menor proporção, esse corte chegou ao mercado de
crédito, barateando o capital de giro e parte dos demais financiamentos.
Esse foi o principal, quase único, estímulo oficial à reativação dos
negócios. O governo reivindica uma parte do mérito pela recente
aceleração da economia, mas nada ou quase nada fez, durante oito meses,
para intensificar a atividade. Seria um exagero atribuir qualquer
melhora econômica, nos últimos meses, a iniciativas como a da reforma
previdenciária. No máximo, a reafirmação do compromisso com a pauta
reformista deu alguma segurança ao Banco Central para avançar na redução
dos juros.
Mas nem tudo é claramente positivo no balanço econômico do terceiro
trimestre. O crescimento industrial de 0,8% dependeu da exploração
mineral, principalmente de petróleo, e da construção. A indústria de
transformação, a mais importante na caracterização de uma economia
emergente, recuou 1% em relação ao segundo semestre e perdeu 0,5% no
confronto com igual período de 2018. Em 12 meses sua produção diminuiu
0,5% em relação ao volume do período imediatamente anterior. As últimas
perdas são em parte atribuíveis à crise na Argentina, importante
compradora de bens industriais fabricados no Brasil. Mas a deterioração
da indústria começou pelo menos em 2012. Não há, ainda, sinal de
reversão desse longo processo de enfraquecimento.
Outro dado pouco brilhante é a taxa de investimento, medida com base na
aplicação de capital em máquinas, equipamentos e construções. Esse item cresceu 3% em 12 meses, mas o total investido ficou em 16,3%
do PIB. Foi a mesma taxa de um ano antes, muito inferior à necessária –
cerca de 25% – à ampliação e à modernização do potencial produtivo. Sem
isso, nenhuma retomada irá muito longe.
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